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São duas as coisas que estão acontecendo ao mesmo tempo na política. Uma é a articulação do futuro governo Lula com o Parlamento. Outra, simultânea, é a montagem do ministério, do conjunto de pessoas que comandarão o governo com Lula. Na primeira frente, Arthur Lira sofreu uma derrota inesperada. Agora, na segunda, Lula parece ter cometido um erro que vai assombrá-lo.

Duas decisões do Supremo, uma de ontem, outra de hoje, tiraram ao menos momentaneamente boa parte do poder de negociação que o presidente da Câmara, Arthur Lira, tem. Mas isso veio num momento chave para Lula. O futuro presidente terá mais folga para montar seu ministério.

Na cabeça conspiracionista dos bolsonaristas raiz, a toda hora estava rolando um xadrez 4D na política brasileira. Eles não conseguiam entender o caos reinante, a completa falta de decisões e as mentiras em sequência, então saíam inventando explicações mirabolantes. Agora é diferente, está mesmo rolando um xadrez 4D na política brasileira. E uma das diferenças é que esse, por não ser uma obra de ficção, dá para explicar.

A gente precisa aprender a conversar. Não somos, os democratas, gente em número o suficiente para garantir que o Brasil não possa enfrentar um momento de rompimento institucional. Então, dentro das nossas discordâncias, precisamos nos entender. O episódio de hoje é um de resposta a vocês, espectadores.

É muito mau sinal que a senadora Simone Tebet não tenha ido à diplomação de Lula. Isso quer dizer que o PT está ganhando a briga e fechando os espaços no governo para estrelas que não sejam da esquerda. É nessa hora que precisamos observar o exemplo de Israel. Porque, lá, os democratas tiveram uma chance. Não se entenderam, perderam o poder, e agora a democracia israelense está morrendo.

A esta altura, mesmo depois de quatro anos, ainda estamos conhecendo o presidente Jair Bolsonaro. E uma conclusão já dá para tirar com clareza. Ele é um covarde. Quer entender por quê?

Golpe de Estado no Peru. O presidente Pedro Castillo, de esquerda, tentou fechar o Congresso, terminou preso. E o que é que isso tem a ver com Bolsonaro? Muito. E com Lula? Também muito.

Este governo vai exigir de nós um reaprendizado. A imprensa vai precisar reaprender a cobrir política. Os políticos vão precisar reaprender a negociar. Os eleitores vão precisar reaprender a lidar com discordâncias. A democracia continua em jogo.

A equipe de transição mostra que o governo Lula vai começar com o ponto cego que a campanha Lula tinha. Eles ainda não perceberam o tamanho que o digital tem na vida das pessoas. 2022 não é 2002. A ficha precisa cair.

Neste momento do jogo, Arthur Lira é forte e Lula nem tanto. No Brasil, a gente sempre acha que o presidente pode tudo. Mas a missão de restaurar a democracia brasileira não poderá ser apenas de Lula. Vai precisar do Supremo e também do novo procurador-geral.