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Os símbolos do Signalgate

Pete Hegseth
We are clean on OPSEC. Godspeed to our warriors.

Michael Waltz
The first target — their top missile guy — we had positive ID of him walking into his girlfriend’s building and it’s now collapsed.

JD Vance
Excellent!

Michael Waltz

👊🇺🇸🔥

Steve Witkoff

🙏🙏💪🇺🇸🇺🇸

É, os vazamentos de informações confidenciais de Estado estão diferentes. Sai o frenesi de encontros sigilosos em garagens, de sobretudos e pastas amarelas, de espiões super treinados com suas táticas de sedução e conquista. Entram os emojis 🕵.

O diálogo acima é apenas um pedaço, entrecortado, da extensa troca entre autoridades de segurança nacional dos Estados Unidos que aconteceu no aplicativo Signal em um grupo chamado Houthi PC Small Group — e que de small, hoje, não tem nada. Para quem não acompanhou: o jornalista Jeffrey Goldberg, editor-chefe da revista The Atlantic, foi convidado por Michael Waltz, conselheiro de Segurança Nacional de Donald Trump, para entrar nesse grupo no Signal. Ou por um usuário com esse nome 📝.

Goldberg lá entrou e, cumprindo seu dever jornalístico, duvidou que aquilo tudo fosse verdade. Que aqueles outros 18 membros — incluindo, entre outros, o vice-presidente da República, JD Vance; a chefe de gabinete do governo Trump, Susan Wiles; o secretário de Defesa, Pete Hegseth; o secretário de Estado, Marco Rubio; a diretora nacional de Inteligência, Tulsi Gabbard; e o enviado especial para Oriente Médio e Ucrânia, Steve Witkoff — estivessem mesmo discutindo planos de ataque militar a outro país num grupo extra-oficial de um aplicativo 🤯.

Quando, depois de receber detalhes da hora e do local do ataque, pôde confirmar no noticiário que realmente os EUA haviam atacado os houthis, levando a 53 mortes, exatamente como os planos descreviam, teve certeza. Havia sido incluído ali por engano e isso tinha passado despercebido por toda a cúpula militar e de segurança da maior potência nuclear do planeta. Então, novamente seguindo seu dever jornalístico, publicou uma reportagem narrando a patacoada 💣.

Se na campanha, os democratas tentaram colar nos trumpistas a pecha de “esquisitos”, agora estão insistindo que eles são burros. Claro que dar um ar de burrice, estupidez, incompetência ao que é essencialmente diabólico, como o governo Trump, pode ser uma armadilha. Transformar o episódio numa “grande confusão da turminha do barulho” é minimizar a gravidade de um vazamento desse naipe, que poderia ter colocado (mais) vidas em risco. Mas quem resistirá à tentação de apontar o duplo ato falho desse show de horror? Eu é que não. E muito menos Hillary Clinton 🤐.

A começar por ela, então. Não há muita dúvida entre analistas políticos: Hillary perdeu para Donald Trump, em 2016, em boa medida por conta do escândalo envolvendo seus emails. Ela foi secretária de Estado entre 2009 e 2013. Montou em sua residência um servidor e o usou tanto para correspondências eletrônicas pessoais quanto profissionais ao longo dos quatro anos. Argumentou que era para facilitar sua vida, mas críticos diziam que ela queria mesmo é ter total controle do que a Casa Branca saberia de sua atuação. Fato é que a legislação sobre o tema era um quê nebulosa e, portanto, seus atos não eram necessariamente ilegais e a punição deveria ter caráter administrativo. O caso foi revelado pelo New York Times em 2015, mas ressuscitado estrategicamente às vésperas da eleição de 2016, quando o FBI anunciou que reabriria a investigação. Trumpistas passaram a gritar “Lock her up!” (“Prendam-na!”) em todos os comícios. Ainda gritam. A CNN ainda nos fez o favor de compilar momentos em que aqueles que estavam no grupo do Signal insistiam que Hillary deveria responder criminalmente pelo caso 🗣.

“Não é a hipocrisia que me incomoda; é a estupidez.” É assim que ela abre seu artigo no mesmo New York Times sobre o Signalgate. “Estamos todos chocados —chocados!— ao descobrir que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e sua equipe não se importam de verdade com a proteção de informações confidenciais ou com as leis de retenção de registros federais. Mas isso já sabíamos. O que é muito pior é que altos funcionários do governo Trump colocaram nossas tropas em perigo ao compartilhar planos militares em um aplicativo de mensagens comercial e, sem querer, convidaram um jornalista para o bate-papo. Isso é perigoso. E é simplesmente burrice.” Quando Hillary diz que já se sabia do descaso de Trump com documentos oficiais e sensíveis, ela certamente está se referindo àquelas fotos sensacionais de caixas e mais caixas de papéis sigilosos no banheiro do presidente 🚽.

Os envolvidos inicialmente negaram que as informações compartilhadas no grupo fossem sigilosas — mas não se deram ao trabalho de negar a autenticidade do grupo. Por isso, a Atlantic tomou a decisão de divulgar as mensagens na íntegra. Uma a uma. E ali havia coisas do tipo “TIME NOW (1144 et): Weather is FAVORABLE. Just CONFIRMED w/ CENTCOM we are a GO for mission launch. 1215et: F-18s LAUNCH (1st strike package)”. Olha, não é preciso nem falar inglês nem militarês pra entender que esses são dados sobre um ataque. E que, muito provavelmente, não deveriam estar sendo discutidos num aplicativo não aprovado pelo governo americano como comunicação oficial. Ainda mais com um penetra 👀.

Esse é o ato falho número 1. O número 2 (sem emoji) é que este é o autoproclamado governo da meritocracia. Da eficiência — tem até departamento com esse nome. E da segurança dos Estados Unidos acima de tudo. E então toda a cúpula da Segurança Nacional, que cuida do Pentágono ao FBI, das relações internacionais para além da diplomacia à política de fronteiras, está trocando emojis sobre uma ação armada de seus militares num ambiente que, embora criptografado, claramente não tem os requisitos mínimos de proteção. Ainda por cima, num grupo cujo nome tem a sigla PC — que quer dizer principals comittee, algo como diretoria. E com uma mensagem do secretário da Defesa, Hegseth, garantindo que estava tudo certo com a OPSEC do papo, ou seja, com a segurança operacional da troca de informações 🤦🏻‍♀️.

Não estão claros o estrago que esse caso vai causar no trumpismo ou as consequências jurídicas que os envolvidos vão (ou não) sofrer. Um dos efeitos até aqui foi dar uma reanimada nos democratas, que vinham apaticamente assistindo ao desmonte dos Estados Unidos diante de seus olhos. O que não vai dar para evitar é que se comente tudo isso da forma que eles merecem. 🤡

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