As pessoas tinham que lembrar da ‘fruta estranha’
No dia 20 de abril de 1939, a cantora de jazz Billie Holiday entrou em um estúdio com uma banda de oito integrantes para gravar Strange Fruit. A música sobre os horrores do linchamento não foi apenas o maior sucesso de Holiday. Ela se tornou uma das canções de protesto contra a violência racial mais influentes da História dos EUA. Em 1999, Strange Fruit foi nomeada a canção do século pela revista Time.
A letra, originalmente um poema, foi uma resposta ao linchamento de afro-americanos no Sul dos Estados Unidos. “Escrevi porque detesto linchamentos, odeio injustiça e as pessoas que a perpetuam”, disse Abel Meeropol, escritor e compositor americano mais conhecido por seu pseudônimo Lewis Allan. Ele nunca testemunhou um, mas possivelmente escreveu a letra após ter visto a fotografia de Lawrence Beitler do linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith em Marion, Indiana (1930). Pendurados pelos pescoços em árvores, seus corpos, quais frutos, provocavam horror.
William Dufty, co-autor da autobiografia Lady Sings the Blues, disse certa vez: “Holiday não canta canções; ela as transforma”. E foi assim que a cantora e seus músicos, Sonny White e Danny Mendelsohn, trabalharam solidamente durante três semanas antes de apresentarem Strange Fruit, pela primeira vez, no Café Society.
No livro Strange Fruit: The Biography of a Song, o escritor David Margolick diz que o clube, a primeira casa noturna integrada de Nova York, era “provavelmente o único lugar na América onde a música poderia ter sido apreciada”. E, para garantir isso, Holiday e Josephson, dono do espaço, criaram condições específicas. Seria a última música do set, haveria silêncio absoluto, nenhum serviço de bar e as luzes seriam apagadas, exceto por um único holofote no rosto de Holiday. Tudo para que ‘as pessoas lembrassem da fruta estranha queimando entranhas’.