A cizânia de Ciro na casa de Brizola
De Brasília
Na terça-feira passada, a 20 dias da votação em primeiro turno, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, postou-se diante de uma bandeira nacional para gravar um vídeo. Ele estava bastante sério. “O PDT tem 42 anos de história, estou na presidência do partido há 18. Estamos desde 2018 com a candidatura de Ciro colocada com um projeto nacional. A eleição é em dois turnos, nós vamos estar no segundo turno.” Na parede ou na mesa, nada que fizesse lembrar a “mão segurando a rosa”, símbolo do PDT que evoca valores do trabalhismo e da social-democracia. Também não havia qualquer referência à campanha de Ciro Gomes no cenário. “Nos vençam no voto, isso é da democracia. Mas, se a gente vencer no voto, vão ter que nos aturar. É pra valer, do começo ao fim, doa a quem doer”, acrescentou Lupi ao apelo. Na legenda do vídeo nas redes sociais do partido, lia-se: “A candidatura de Ciro Gomes é irreversível”. A 20 dias da eleição.
Estava inaugurada a ofensiva para conter o abandono da candidatura de Ciro Gomes (PDT-CE) ao Palácio do Planalto. Ou seria a defensiva? A essa altura da corrida presidencial, o presidente do PDT parecia justificar a própria existência da campanha cirista. Um claro sinal de que algo havia dado errado no projeto autocentrado, depois “puro sangue”, de levar o cearense à Presidência da República. Na fase de pré-campanha, o PDT poderia ter optado por integrar uma frente ampla tanto com partidos de centro-direita como de centro-esquerda para tirar Jair Bolsonaro (PL) do poder. O fato de que o nome de Ciro estava sacramentado desde 2018 impediu as negociações fosse com o movimento de terceira via, que nascia com múltiplas faces em 2020, fosse com o campo progressista, que discutia desde o ano passado a formação de federações e já incluía algumas legendas que hoje estão na frente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Por que tanta gente trabalhando para nos minar?”, questionou Lupi, acrescentando que a marcação homem a homem do PT era motivada porque todos sabiam que Ciro era o único capaz de derrotar Bolsonaro no 2º turno deste ano — o que as pesquisas desmentem. O estático terceiro lugar de Ciro em todas as sondagens, a distância de, pelo menos, 27 pontos do segundo colocado, Bolsonaro, e o fato de que o próprio Lula aparece como vencedor num eventual segundo turno faziam os argumentos de Lupi soarem desonestos. E os primeiros a sinalizar isso explicitamente foram os sindicalistas, ligados ou não ao PT.
No mesmo dia da divulgação do vídeo de Lupi, uma central sindical, a Intersindical, decidiu escancarar a contradição. Lançou uma “carta aberta” aos eleitores de Ciro, com a pergunta “A quem interessa um 2º turno?”. “Devemos responder de forma honesta essa pergunta, sem meias verdades. E a resposta é: apenas um candidato será beneficiado caso aconteça um 2° turno nessas eleições, e o nome dele é Bolsonaro. Não adianta se iludir com outras possibilidades, com todo respeito às outras candidaturas à presidência”, destaca o documento, que evoca a tradição do trabalhismo para convocar voto útil em Lula no 1º turno. O tom pragmático dominou a convocação: “É preciso que se diga a verdade, o voto em Ciro não é mais para elegê-lo como presidente, é um voto para que se tenha 2° turno”. Mais do que simplesmente apoiar Lula, centrais sindicais deram início a um desmonte da candidatura de Ciro, usando referências a Getúlio Vargas e a Leonel Brizola. O apoio de sindicalistas é disputado mais claramente por três legendas: o próprio PDT, o PT e o Solidariedade. As categorias — e seus diretores — alternam-se entre eles a cada ciclo eleitoral e de acordo com necessidades locais.
No dia seguinte, foi a vez de mais cinco centrais lançarem um manifesto para “reunir o campo progressista” por uma vitória de Lula em 1º turno. O texto das centrais recobra Vargas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) — embora ignore a inspiração fascista na Constituição de 1937, que legitimou o Estado Novo. “Não podemos correr riscos dividindo votos no campo daqueles que querem desenvolvimento com justiça social. Dirigimo-nos especialmente aos eleitores do PDT de Ciro Gomes. O PDT é um partido próximo de todos nós. Um partido trabalhista que mantém o legado das transformações sociais e democráticas desde Getúlio Vargas, que representou um dos mais aguerridos focos de resistência contra a ditadura militar, principalmente na pessoa do saudoso Leonel Brizola, que teve importante participação na redemocratização e na Constituinte e, também, na construção dos governos de Lula e Dilma, entre 2002 e 2016”, destaca o texto. “Reconhecemos também o valor de Ciro como pessoa e como político. Muitos de nós já o apoiamos em outras oportunidades. Neste momento, no entanto, entendemos que é mais importante apoiar e pedir para que todos apoiem o candidato e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, aponta o documento, assinado pelos presidentes da Força Sindical, Miguel Torres; da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah; da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Oswaldo Augusto de Barros; da Pública Central dos Servidores, José Avelino Pereira; e pelo vice-presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB).
A adesão da CSB ao movimento pelo voto útil merece um parágrafo pela forma como exemplifica a cizânia. A entidade, uma das maiores do país, resistiu em dar apoio a Lula, seguindo a orientação de seu presidente, hoje licenciado, Antonio Neto. Ele também comanda o PDT na capital paulista e é aliado de primeira hora de Ciro. Tanto é que a CSB não aceitou participar do movimento unificado de 1º de Maio, realizado na praça Charles Miller, em São Paulo, com a participação de Lula. A central preferiu realizar um ato próprio em Itatiba, no interior de São Paulo. Ciro e Lupi trataram de ficar longe de São Paulo. Com o 1º de Maio das centrais tomado por lulistas, optaram por organizar na sede do partido em Brasília uma comemoração pelos 100 anos de nascimento de Brizola, líder histórico e fundador da legenda. Antonio Neto, candidato a deputado federal, garante que, apesar de a CSB constar no endosso ao manifesto, trata-se de um “ato individual” de José Avelino Pereira, filiado ao PSB, partido que abriga o vice na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin. Em conversa com o Meio, Antonio Neto chamou o manifesto de “assédio” e “burrice” de sindicalistas. “Estamos denunciando empresários que estão aí pressionando trabalhadores a votarem no Bolsonaro e aí querem fazer a mesma coisa no movimento sindical?”, equiparou. “Isso é uma burrice, principalmente sabendo que no dia 3 de outubro começa uma nova vida. Ficam nos colocando em uma situação difícil e quando nos procurarem no 2º turno, só restará o constrangimento por toda essa pressão.” Ele ainda nega que haja nessa reta final uma debandada da candidatura de Ciro. “O Ciro está crescendo”, disse.
O PT não parece estar muito preocupado com o constrangimento. A palavra de comando foi do próprio Lula, que passou a tratar da luta pela vitória em primeiro turno abertamente. Entre as estratégias para convencer sindicalistas está o envio de emissários da campanha petista, que admitem a ação de “comer pelas beiradas” as bases do PDT. “Estamos conversando com deputados e candidatos mais chegados. O melhor é liquidar agora”, diz o deputado Paulinho da Força, líder do Solidariedade e referência da Força Sindical. Durante 10 anos, Paulinho integrou o PDT e deixou o partido para criar o Solidariedade, em 2012. No início da campanha de Lula, Paulinho levou o apoio da Força Sindical ao petista. Foi alvo de vaias e chamado de traidor por parte dos sindicalistas que já estavam com Lula, mas ainda não tinham digerido o fato de Paulinho ter sido um dos articuladores e votado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Agora, Paulinho tem feito a abordagem considerada fundamental para o PT: a de trazer lideranças mais miúdas, já que a cúpula do PDT ainda está fechada com Ciro. “Candidatos que a gente tem relação já estão colocando Lula em suas propagandas. Neste momento, o voto que a gente pode procurar é aquele que está com Ciro. Acho que falta pouco”, contou. “Não falamos com Lupi. Ele está muito cercado pela candidatura do Ciro. Está muito comprometido. Lupi vai ter que ficar nessa situação de ficar junto com o Ciro”, ponderou.
Sintomas domésticos de que o assédio está dando certo começam a surgir. Em Osasco (SP), saíram do forno de uma gráfica santinhos com a imagem de uma candidata pedetista, sem a foto de Ciro. Pior, com a foto de Lula. Ligada ao Sindimetal, Mônica Veloso, candidata a deputada federal pelo PDT, aparece em um panfleto ao lado do petista e de Carlão, candidato do Solidariedade a deputado estadual, conforme noticiou a agência Brasília Alta Frequência. A sindicalista se apressou em justificar, por meio de nota, que não era de seu conhecimento a produção do “santinho”, que teria sido bancado pelo candidato do Solidariedade. A retratação de Mônica pode, inclusive, prevenir punições. No dia 5 de setembro, prevendo a possível debandada, a cúpula do PDT editou uma resolução na qual estabelecia nada menos que expulsão e cancelamento de filiação partidária e de registro de candidatura para quem fizesse, entre outras ações, propaganda para outros candidatos, praticasse ato desfavorável à candidatura de Ciro, e praticasse “dupla militância em movimentos de renovação e em organizações de formação política”. O Meio entrou em contato com a assessoria de Ciro Gomes para ouvi-lo sobre todos os assuntos presentes na reportagem. Não obteve resposta do candidato. A assessoria alegou agenda pesada de campanha em estados no Norte e Nordeste do país.
Herança brizolista
No Rio de Janeiro, somou-se à onda pelo voto útil um Leonel Brizola Neto. Em 2015, ele deixou o PDT e foi para o PSOL. No ano passado, filiou-se ao PT. Brizola Neto se apressou para reclamar sua herança trabalhista. “Leonel Brizola nos ensinou que a política não se faz com vaidades, ressentimentos e ódios”, iniciou o candidato a deputado federal, em um vídeo divulgado nas redes sociais. “Dizia também que, se a esquerda não se unisse, seríamos degraus de uma escada para a direita chegar ao poder. O que estamos enfrentando agora é o fascismo e a extrema-direita”, argumentou o neto do maior líder do PDT. “Nós, brizolistas, no ano de seu centenário, temos a obrigação de não deixar o legado do ex-governador cair no esquecimento. Somos seus herdeiros políticos”, enfatizou.
O ponto que mais irritou ciristas foi a cobrança de Neto por um “gesto de grandeza” como o próprio Brizola teria feito em 2002 em favor de Lula — e em detrimento de Ciro. É uma história que se repete. Vinte anos atrás, o PDT formalizou apoio a Lula no segundo turno. Mas antes Brizola defendeu para correligionários que Ciro, então filiado ao PPS e candidato pela Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT), renunciasse a sua candidatura em favor de Lula ainda no primeiro turno. Brizola disse na época que não conseguiu expressar sua vontade diretamente a Ciro, mas confessou ter repassado a ideia ao filósofo Mangabeira Unger, também filiado ao partido. Não houve renúncia de Ciro, que acabou em quarto lugar, e Lula e Serra disputaram o segundo turno, vencido pelo petista. Na montagem de seu ministério, Lula deu ao PDT a pasta das Comunicações, assumida por Miro Teixeira (RJ). Durante a campanha, Miro já havia abandonado Ciro e declarado apoio a Lula.
Desde sua fundação, o PDT, Partido Democrático Trabalhista, disputa a tradição trabalhista de Vargas. A sigla nasceu do embate entre Leonel Brizola e Ivete Vargas, sobrinha-neta do ex-presidente. Após perder para a herdeira o registro do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Brizola decidiu lançar a legenda, acrescentando o caráter de democracia, desejo proeminente no país no tempo da Lei da Anistia. Em junho de 1979, ainda exilado em Portugal, Brizola juntou em Lisboa socialistas ligados a Mário Soares, então ex-primeiro-ministro do país, políticos refugiados, e trabalhistas brasileiros. Do encontro saiu a Carta de Lisboa, documento que continha as bases programáticas do partido. Brizola voltou ao Brasil em setembro do mesmo ano, beneficiado pela anistia decretada em agosto. A batalha jurídica pelo PTB só terminou em maio de 1980, quando o TSE decidiu que caberia ao grupo de Ivete Vargas a posse da legenda.
“Achamos então que poderíamos defender o trabalhismo de Alberto Pasqualini, de João Goulart e de Darcy Ribeiro em outra sigla”, contou ao Meio João Vicente Goulart, filho de Jango, ex-presidente deposto pelo golpe militar de 1964. Hoje no PCdoB, partido federado com o PT, João Vicente é também fundador do PDT. Além de trabalhista, a nova sigla se declarava socialista, e anunciava a “defesa da democracia, do nacionalismo e do socialismo”. O registro definitivo do PDT foi concedido pelo TSE em novembro de 1981. A nova legenda elegia sete pontos prioritários: assistência à infância e aos jovens; defesa dos interesses dos trabalhadores, das mulheres, das populações negras, das populações indígenas e da natureza brasileira, e recuperação de concessões feitas a grupos estrangeiros, consideradas “lesivas ao patrimônio e à economia nacionais”.
Goulart chama a atual situação do país de “apocalipse político brasileiro” e também sai na defesa do “voto consciente” em Lula. O filho de Jango cobra ainda uma postura menos beligerante de Ciro em relação a Lula e ressalta que não vê no cearense os valores do partido de compromisso com o trabalhismo. “Ciro não tem essa história no trabalhismo e isso não é uma crítica. Ele está no PDT, mas não tenho visto ele usar a história de Jango, do trabalhismo, a história da evolução brasileira através da relação justa no trabalho. Eu, como trabalhista histórico e fundador do PDT, com o amor que eu tenho ao PDT, sinto a necessidade de dizer que não se trata de voto útil, se trata de voto consciente.” Ciro Gomes chegou ao PDT em 2015, depois de ter passado por PDS, PMDB, PSDB, PPS, PSB e Pros.
“Triplo ressentimento”
Ciro Gomes mantém o investimento em equiparações de Lula com Bolsonaro e no tom ainda cada vez mais beligerante contra o petista. O cearense, que havia aberto a semana com um ato no Largo da Batata, em São Paulo, já andava por Irecê e Salvador, na Bahia, quando os manifestos foram divulgados. Ele intercalou comícios e entrevistas, ao lado de sua candidata a vice, Ana Paula de Matos, escolhida no limite do registro de candidatura, depois de o PDT não ter conseguido fechar aliança com nenhuma legenda. O cearense fazia o possível para reagir às tentativas da campanha petista de incentivar o voto útil contra Bolsonaro. “O voto útil é tornar seu sonho inútil”, comparou Ciro. Em suas redes sociais, lançou um “teste” para que seguidores pudessem “descobrir” com que candidato mais se identificavam e turbinou a expressão: “Deu Ciro”. “Não querem deixar sequer as pessoas terem autonomia e serenidade de escolher o candidato numa eleição de dois turnos”, reclamou, classificando Lula como “autoritário e covarde”.
Na opinião de cientistas políticos e especialistas em pesquisas eleitorais, a agressividade contra Lula é a maior responsável pelo não crescimento do cearense nas consultas realizadas até o momento. “Ciro tem se mostrado muito agressivo em relação a Lula e isso tem explicações. Primeiro, tem um ressentimento acumulado desde 2018, quando o PT vivia um mau momento, com Lula preso, e não apoiou a candidatura cirista“, diz Antonio Lavareda, cientista político especialista em comportamento eleitoral e marketing político. O tamanho dessa mágoa ficou bastante explícito no segundo turno daquele ano, quando Ciro embarcou para Paris em vez de manifestar apoio a Fernando Haddad (PT). ”A segunda explicação: soma-se a essa mágoa o ressentimento de seu marqueteiro, João Santana, que viveu momentos difíceis em função do pagamento irregular feitos nas campanhas petistas. Eu ainda acrescentaria um novo ressentimento, que tem a ver com seu estado natal, o Ceará.”
Pesquisa do instituto Real Time Big Data divulgada na fatídica terça-feira 13 de Ciro foi a primeira a posicionar o deputado estadual Elmano de Freitas (PT), apoiado pelo ex-governador Camilo Santana e por Lula, à frente do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (PDT), apoiado por Ciro. A disputa, segundo a consulta, é liderada pelo Capitão Wagner (União Brasil), com 36%. Elmano aparece com 26% das intenções de votos totais, e Cláudio com 22%. Prevalecendo esse cenário, o petista poderá tirar o candidato de Ciro do segundo turno. “O somatório desses ressentimentos seria a explicação para a postura que Ciro tem demonstrado. Isso é a explicação no plano emocional”, explica Lavareda, pioneiro no Brasil nos estudos teóricos e na utilização de ferramentas de “neuropolítica”.
Lavareda ainda analisa a agressividade como uma aposta de Ciro no “campo da negatividade”, um fator que não tem rendido votos nesta eleição. Um efeito colateral desse discurso pode ser o de gerar “afinidade” com Bolsonaro. “Na medida em que Ciro desenvolve um discurso sobre Lula parecido com o do presidente Bolsonaro, ele pode estar desenvolvendo uma afinidade de seus eleitores com o atual presidente que, eventualmente, pode conduzir a um voto útil em Bolsonaro. Isso pode ocorrer com aqueles eleitores de Ciro que são visceralmente anti-Lula. O dado do Datafolha indica que pode ter saído voto útil do Ciro para Bolsonaro”, destaca Lavareda, referindo-se à oscilação negativa de dois pontos para Ciro e a consequente oscilação positiva de Bolsonaro no Datafolha do dia 9 de setembro. “Se Ciro é tão anti-Lula e, para o eleitor, esse é o problema principal dessa eleição, ele diz: bom, vou votar no candidato que tem melhores condições de enfrentar o Lula, que é o Bolsonaro.”
Maurício Moura, CEO do instituto Ideia Big Data e pesquisador da Universidade George Washington, concorda com essa possibilidade. “A forma agressiva e beligerante adotada por Ciro em relação a Lula e Bolsonaro fez com que parte dos votos dele migrassem. Ainda mais quando se compara com 2018, a tendência é que ele tenha uma votação menor neste ano, justamente por causa dessa migração”, destacou. Moura aponta, no entanto, a falta de caminhos para Ciro após a volta de Lula ao jogo eleitoral. “Lula representa a melhor opção em relação a Bolsonaro e Bolsonaro é a melhor opção para o antipetismo. Dessa forma, Ciro perdeu espaço para crescer nessa eleição. Roubar voto do Lula não é trivial e roubar voto do segmento que é mais anti-Lula ou antipetista também não é. ”
Moura considera que a condição de polarização das eleições deste ano já estava dada há bastante tempo e não acredita que havia outro caminho a ser tomado por Ciro que o fizesse decolar em votos. “Essa não era uma eleição para ele. Ciro não percebeu que o eleitor ‘nem, nem’, ou seja, o que não quer Lula nem Bolsonaro, foi diminuindo ao longo do tempo. Tivemos várias pesquisas que demostraram isso. A eleição se mostrou como uma batalha de rejeições.“ O que acontece agora é que há um percentil de eleitores de Ciro que são bastante fiéis e resilientes. ”Eu acho que ele ficará abaixo dos 10% de votos válidos. Mas isso é o suficiente para garantir o segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Esse está sendo o grande papel de Ciro nessa eleição: garantidor do segundo turno.”
Se assim for, alguns integrantes do PDT já indicaram uma provável adoção de neutralidade. “O PT nunca fez um gesto em direção ao PDT e não esperava que isso ocorresse agora. Já o PDT fez mil gestos em direção ao PT. Mas, com o que está acontecendo, fica difícil subir no palanque do PT em um segundo turno”, disse do Meio o deputado Pompeu de Mattos, presidente do diretório do partido no Rio Grande do Sul. Quanto aos ataques de Ciro a Lula, Mattos disse que são naturais em uma campanha “Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos.” Nem ovos poché.
*A reportagem foi alterada para corrigir duas informações. A primeira versão dizia que Ivete Vargas era filha de Getúlio Vargas, mas ela era sobrinha-neta de Getúlio. Também dizia que João Vicente Goulart está hoje no PT — ele é filiado ao PCdoB, partido federado ao PT.