Edição de sábado: Entre a comunhão e o cisma

A sucessão do papa Francisco vai capturar a atenção de fiéis e leigos até que a fumaça branca transborde da chaminé do Vaticano após o conclave. O imaginário em torno dos interesses políticos de cada candidato a papa — e seus cabos eleitorais — está alimentado seja pela ficção, em filmes como Conclave, seja pela realidade de clérigos sempre atuantes nas capitais do poder. Mais do que a escolha do novo líder da fé católica, o que está em jogo nessa decisão é a capacidade da Igreja de reencontrar o caminho da comunhão e superar o da divisão. É a sintonia da cúpula da Igreja com as diferentes demandas e os anseios, espirituais e políticos, de seu rebanho. Há um consenso entre especialistas de que os católicos estão sedentos por um senso de comunidade e espiritualidade. Enquanto parte deles enxerga essa convergência num ambiente de tradição, outra quer congregar num espaço de progressão.
Para compreender o quanto os cardeais estão afinados com as aspirações dos fiéis, e quais são elas, ouvimos dois grandes especialistas em catolicismo. O primeiro oferece uma visão dos bastidores do Vaticano. A outra, das fileiras de devotos e convertidos. Em comum, eles apontam para um caminho de mudanças, ainda que lentíssimas, na religião de 1,4 bilhão de pessoas — desde que a espiritualidade prevaleça.
O VATICANO
Roberto Cipriani não assistiu ao Conclave. O filme, no caso. Alguns de seus colegas até recomendaram, embora tenham concordado que a surpresa e a solução apresentadas no final sejam um tanto irrealistas. Mas o professor não precisa da versão ficcional do que acontece no Vaticano. O sociólogo italiano é frequentador dos corredores marmorizados, na condição de pesquisador e interlocutor de cardeais. Professor emérito de Sociologia na Universidade Roma Tre, Cipriani também já lecionou na Universidade de Berkeley, na USP, na Universidade Federal de Pernambuco, na Universidade de Buenos Aires e na Renmin University of Beijing — além de ter feito pesquisa de campo na Itália, na Grécia, no México e em Israel, investigando as relações entre solidariedade e comunidade. Mencionar esse pequeno trecho de seu vasto currículo não é uma escolha aleatória. É apenas prova material de seu contato com o catolicismo em suas mais diferentes expressões.
Poderia se esperar de Cipriani uma análise um tanto cínica do que é a reunião do Colégio Cardinalício para escolher o próximo papa. Algo muito mais político, de disputa entre facções de poder, de sussurros traiçoeiros pelos corredores. O sociólogo não nega esse aspecto mundano da eleição. Mas insiste que são o intangível, a fé e a religiosidade os principais critérios da escolha. E que o espírito de conciliação, que vem do mesmo latim de que deriva concílio, deve prevalecer sobre o da cisão — tanto no Vaticano quanto nas paróquias.
Nesta primeira parte da reportagem, estão os principais trechos da entrevista com Cipriani.
O eleitorado
“Como sabemos, a Igreja é uma sociedade, e numa sociedade há muitos tipos de pessoas: conservadoras, progressistas, indecisas. O mesmo acontece no conclave. Se considerarmos que a maioria desses cardeais foi nomeada pelo papa Francisco, supomos que seja parecida com ele, mas não é o caso. No início de seu papado, Bergoglio não considerou essa perspectiva e nomeou pessoas nem sempre alinhadas a ele. Depois disso, talvez alguém tenha sugerido que ele mudasse, e Francisco começou a nomear pessoas mais ou menos com a mesma visão que a sua. Assim, mais de 100 cardeais estão na linha que ele preparou, sugeriu e desenhou.
Como você sabe, dizem que o Espírito Santo é a entidade divina que guia esse pleito. Só que o Espírito Santo precisa dos cardeais, porque são eles que votam.
A Igreja é uma instituição conservadora. Alguém sugeriu há algum tempo que a solução seria alternar um papa mais ou menos progressista com outro conservador. Se pensarmos, por exemplo, em Bento XVI e Francisco, isso funcionou. Mas a história mostra que nem sempre foi assim. Portanto, não podemos esperar um novo papa necessariamente conservador. Talvez ele seja alguém no meio-termo. A pessoa certa para esse tipo de solução é o cardeal Parolin [Pietro Parolin, italiano]. Ele é o secretário de Estado e conhece a maioria dos cardeais pessoalmente devido ao seu papel na Igreja. Alguns criticam o papa Francisco por não ter organizado muitos encontros entre os cardeais. Esses eleitores estão em uma situação difícil, precisam de muitas reuniões para se conhecer, conversar, discutir e apresentar propostas. O jogo apenas começou. Veremos.
Em geral, os cardeais são, antes de tudo, pessoas religiosas. Eles avaliam muito a espiritualidade de quem vão eleger. Outras motivações – como pertencimento político, ideologia ou posição teológica – vêm depois. Pela minha experiência, o que eles colocam em primeiro lugar é a espiritualidade: a capacidade de ser uma pessoa religiosa, que reza, que é confiável e um ponto de referência para os fiéis. Isso é o mais importante. Avaliar quem é o mais religioso é exatamente a dificuldade que temos como sociólogos.”
Desigrejados
“Existe demanda por uma versão mais tradicionalista da Igreja. A tradição está dentro da religião, é a continuidade de uma crença. Mas o mundo é complexo. Nos EUA, por exemplo, a influência conservadora é forte, mas os cardeais americanos não são muitos e não devem ter um impacto decisivo. Nem a presença de Donald Trump no funeral do papa muda isso. No entanto, enquanto há uma demanda por continuidade de valores e tradições, sabemos que há outra perspectiva que insiste em ter novas modalidades, novos estilos, novos comportamentos. A busca por uma nova espiritualidade se baseia exatamente nisso: ir em frente sem a Igreja e as instituições.
Na Itália, até duas ou três décadas atrás, a maioria era de praticantes, pessoas que frequentavam a missa toda semana. Agora, a maioria é constituída por pessoas que não estão tão envolvidas na Igreja. Não participam da missa. Elas estão em uma situação de instabilidade, de incerteza. Têm algum sentimento sobre sua fé, sobre Deus, sobre a oração. Só que não estão nas paróquias, trabalhando para a Igreja. Isso é um tipo de religião vicária. É uma ideia que eu tive muitos anos atrás, e que Grace Davie, socióloga britânica, desenvolveu. ‘Eu não vou ao templo. Eu delego a outras pessoas fazerem isso por mim.’ É o caso da fé incerta.
Há uma nova tendência consistindo nessa presença-ausência em relação à Igreja como instituição. As pessoas seguem procurando soluções, um significado para a vida. Mas aí entra a ideia da regra de ouro, aquela do ‘não faça aos outros o que você não quer que façam para você’. A regra de ouro foi desenvolvida em termos teóricos por duas sociólogas nos EUA, Nancy Ammerman e Meredith Mcguire, e pode ser usada por católicos, protestantes, budistas e assim por diante, porque é o respeito pelos outros. Prescinde da Igreja.”
Que Deus te conserve!
“Ao se refletir sobre conservadores na Igreja, vale considerar que qualquer conversão significa se tornar conservador, porque, ao aceitar um tipo de religião, você entra nela graças aos principais valores que ela tem. Mas há algo que antecede isso: as pessoas que estão dentro dessa igreja ou religião há muito tempo. Nesse contexto, você, convertido, é conservador, mas também tem pessoas progressistas que já estavam ali, e elas continuam a agir, a lutar pela mudança. Muitas vezes, deixam aquela instituição e criam uma nova solução. Só que, em geral, mesmo que deixem a instituição, mantêm alguns laços com ela. É exatamente o que eu chamo de religião difusa.
Se você recebeu uma socialização religiosa — em qualquer tipo de religião: catolicismo, budismo, hinduísmo — e ela é dominante em um país, essa religião tem uma influência muito grande na política, no ensino nas escolas, no esporte, no entretenimento, na mídia. Pegue o caso da Índia: 90% são hindus porque o hinduísmo está em todo lugar. Mesmo que na juventude você deixe a igreja, algo permanece. Se você chega à velhice, em geral, volta a ela. É por isso que, mesmo que você tenha experiências de outras soluções, de outras espiritualidades, você mantém um pequeno elo com o pertencimento anterior, com a instituição anterior.
É o que justifica o fato de que uma religião não morre. A religião continua em todo lugar. Continua porque há uma história. Há uma presença.”
Todos os santos
“Atualmente, especialmente na Igreja Católica, mas no Islã também, em todo o mundo, há uma escolha a favor do diálogo. A situação não é tão boa se você pensar em Israel ou outros lugares em conflito. Mas quando duas religiões estão em contato, em geral, há uma mudança em direção a um tipo de sincretismo. Como no Brasil: a presença dos terreiros até maior do que a das paróquias, há católicos que frequentam o candomblé, a umbanda, o Kardecismo. Depende daquele ambiente e contexto específico. As pessoas são influenciadas por isso. Então, se eu conheço pessoas que frequentam o terreiro, eu as sigo, vou com elas, fico com elas. Eu fico feliz em estar em uma comunidade. Em ter voz e ser um protagonista. Frequentemente, essa mudança da instituição para modalidades religiosas externas depende do fato de que em uma paróquia eu não sou tão importante. Eu sou apenas mais uma pessoa, sem poder, sem voz.
E isso não é só no Brasil. No Japão, você pode ter um batismo em uma igreja católica, pode se casar em um templo budista e ter seu funeral em um ritual xintoísta. Mesmo que haja pessoas que sejam contra outros tipos de fé, em geral, vejo que o futuro será uma busca pela coexistência de diferentes pertencimentos.
Claro que o momento é de polarização e às vezes ela é a vencedora. Mas, se analisarmos o passado, encontramos coisa muito pior. Estou trabalhando nos arquivos do Vaticano, e vejo coisas de épocas anteriores que são terríveis. ‘Oh, mas a Idade Média foi a era a Cristandade’. Não é verdade. Você não pode imaginar os homicídios, as coisas ruins que aconteceram naquela época.
Agora, falando tanto como sociólogo quanto como crente, porque sou católico, mesmo que seja muito crítico da instituição católica, vejo que há pessoas más e boas também. E às vezes a mesma pessoa pode ser má e boa. Nem tudo pode ser bom como queremos. Caso contrário, não há vida. Não há luta para ser salvo, não há a famosa ideia de vocação de Weber, o ‘Beruf’.”
Todo-poderoso
“Esse par de conceitos, o poder e a espiritualidade, poderia ser o título de um livro. O que está mais em evidência nas disputas internas do Vaticano? Vejamos: a Igreja é uma instituição vertical. No topo, você tem o papa, depois os cardeais, os bispos, as paróquias, os párocos e assim por diante. No final, o povo. Como você sabe, Francisco organizou muitos sínodos, mas os resultados não são tão bons. Agora, de um ponto de vista sociológico, não posso evitar a coexistência desses dois polos: a espiritualidade e o poder. Por quê? Porque a espiritualidade em si é um tipo de poder.
Pense numa pessoa carismática como João Paulo II. Ele não tinha tanto dinheiro. Não tinha a capacidade de obrigar, por exemplo, a política russa a permitir que o povo polonês acreditasse na fé católica e assim por diante. Mas ele era um bom exemplo de pessoa carismática, porque, graças à sua experiência anterior no teatro, ele era capaz de conquistar pessoas, especialmente jovens. Portanto, na espiritualidade, há poder.
E no poder também temos algo de espiritualidade. O poder tem muitas faces. Uma delas é a ideia de que fulano é uma boa pessoa porque dá o que outros precisam, seja um emprego, uma promoção, dinheiro, espaço. Combinar poder e espiritualidade pode produzir resultados ruins, mas bons resultados também. Esse é o caso de alguns papas, como João XXIII ou Paulo VI. E é a longa tradição da instituição que permite isso.
Os cardeais entendem o papel específico de estar em Roma, de estar no centro de uma longa história. É por isso que não vemos uma luta tão acirrada como nos tempos medievais. Eles sabem que o jogo é muito importante e que o resultado terá consequência sobre eles também.
Se sou um clérigo a favor da teologia da libertação e o papa eleito é contra, eu estarei em apuros. Gustavo Gutierrez, o frade dominicano inventor da teologia da libertação, estava em apuros com João Paulo II. Não foi o caso com Ratzinger [Bento XVI]. Quando conheci Gutierrez, ele me disse: ‘Ratzinger escuta. Me entende. Me deixa falar’.
Ratzinger estava aberto para descobrir as posições teológicas, mesmo que fosse muito firme em suas ideias e em sua perspectiva. Francisco foi absolutamente a favor de Gustavo Gutierrez.
Portanto, há diferentes correntes em relação à religião e à maneira de acreditar, de pertencer e de ser. Mas elas convivem.”
Diante da tentação
“Pode existir uma tentação de ceder mais espaço aos radicais para conquistar mais fiéis. Isso faz parte da vida, faz parte do jogo. Na Igreja Católica, tivemos na história recente alguns casos, por exemplo, o movimento lefebvrista [seguidor do arcebispo francês ultraconservador Marcel Lefebvre (1905-1991), que rejeitava as modernizações adotadas pelo Concílio Vaticano II]. Os papas lidaram com essa solução conservadora de maneiras diferentes: João Paulo II era mais contra, Ratzinger era mais a favor. Dois tipos diferentes de decisões e soluções. Mas, em um certo ponto, um acordo foi alcançado.
Não vejo hoje o mesmo contraste que tínhamos no início do movimento lefebvrista. Em Roma, há igrejas que celebram missa de acordo com o rito antigo, mas há outras comunidades que celebram ritos de uma maneira que não é litúrgica, que não é aprovada.
Como você sabe, o papa Francisco ajudou muito o mundo feminino a ter um papel na Igreja. Ele nomeou algumas — não tantas — mulheres como chefes de ministérios que ele criou de acordo com um novo documento para a Cúria Romana. Mas as mulheres que têm poder real são três ou quatro. Talvez Francisco tenha iniciado processos. Os processos continuarão. Há mulheres que aceitam a situação como está agora. E há mulheres que lutam e propõem novas soluções. Como sabemos pela história, mudanças levam muito tempo.
Como Francisco disse: ‘Passo a passo, pouco a pouco’.”
O REBANHO
Brenna Moore também não assistiu ao Conclave. Formando há quase duas décadas jovens jesuítas, doutorandos em teologia, mestrandos, mas também estudantes de outras áreas de atuação, ela observa a escolha do novo líder católico de um ângulo diferente, dos demandantes da fé, dos que estão na ponta de serem pastoreados por ele. E testemunha da primeira fila o que chama de renascimento católico — seja pelo lado mais tradicionalista, com vínculos um tanto perigosos com extremistas à direita, seja pelo lado dos que buscam laços comunitários fortes, que revelam complexidades da vida real muito além dos dogmas.
Ex-presidente da American Catholic Historical Association e atual chefe do departamento de teologia da Universidade de Fordham, nos EUA, o foco da pesquisa de Brenna, tanto em seu país quanto na Europa, são as reações da Igreja aos desafios sociais e políticos da modernidade, em especial o secularismo, a ascensão do fascismo e as questões de gênero. Na sala de aula, tem testemunhado como seus alunos entendem o papel de influenciadores e de suas visões contemporâneas da fé. Mas, em convergência com Cipriani, embora note que muitos deles queiram forçar uma guinada do Vaticano ao radicalismo, Brenna crê que a convivência social, além das telas, e a troca de experiências reais alimente mais a congregação do que a divisão.
Acompanhe os principais trechos da entrevista nesta segunda metade da reportagem.
A estética e a ética
“A igreja está muito dividida agora, mas, por outro lado, ela está passando por um grande renascimento, surpreendentemente. Há um interesse real no catolicismo romano, principalmente entre os jovens, a partir dos millennials. Um estudo da National Catholic Register nos Estados Unidos mostra que algumas dioceses vêm relatando um aumento de 30 a 70% nos convertidos ao catolicismo. A diocese de Fort Worth, Texas, por exemplo, teve, apenas de 2023 para 2024, um aumento de 72%. O mesmo aconteceu numa igreja em Nova York, em Morningside Heights, um dos bairros da moda de Manhattan, onde muitos jovens moram. No verão passado, em Paris, eu estava fazendo pesquisa e vi uma missa das 17h lotada de jovens. Isso era realmente impensável dez anos atrás, mesmo cinco anos atrás.
Nós, estudiosos, ainda estamos tentando entender o que é esse movimento. Parece que há algo acontecendo, e conectado à pandemia, como resposta a um sentimento generalizado de solidão, de falta de propósito, essa insatisfação existencial do liberalismo secular. É uma grande reação psicológica, um anseio por algo um pouco mais profundo, mais rígido, mais emblemático de transcendência, de propósito.
Essa conversão não é necessariamente uma conversão política conservadora, mas é muito interessada em estética, em liturgia, em uma espiritualidade profunda. Nos Estados Unidos, são as missas em latim, as missas tradicionais, as devoções tradicionais que estão em ascensão. Agora, infelizmente, muitas vezes, esse catolicismo altamente litúrgico, que é tão atraente para os jovens que buscam profundidade, beleza, raízes, está atrelado a uma política conservadora. Mas não precisa ser assim.
Há tradições na igreja de um catolicismo altamente devocional, ricamente litúrgico, espiritualmente profundo, que poderia estar conectado a uma política democrática aberta que reafirma, na minha ideia, a verdade do Evangelho, o cuidado com os doentes, os famintos, os órfãos. Mas essa é uma tradição que o Ocidente não viu muito.”
Santo algoritmo
“Estou aprendendo com meus próprios alunos. Perguntei a eles, e tenho uma variedade de formações ali, e todos estão dizendo a mesma coisa sobre por que os mais jovens estão se convertendo, por quais caminhos. Há esses influenciadores nas redes que estão promovendo e tornando muito atraente esse tipo de catolicismo tradicional. Há um podcast chamado Pints with Aquinas, por exemplo. São esses dois caras bebendo cerveja, enquanto promovem a ideia de que ‘ei, Tomás de Aquino não é apenas algum santo medieval morto. Ele foi um filósofo inteligente, relevante, que oferece recursos para pensarmos de maneiras muito mais ricas os desafios do mundo moderno’. Só que, ao mesmo tempo, eles promovem uma ideologia de gênero super tradicional, a estética da masculinidade.
Há também o bispo Robert Barron. Ele tem um conglomerado de mídia chamado Word on Fire que é muito popular. Dois anos atrás, ele foi a Harvard, e o auditório estava lotado, havia fila do lado de fora. Isso em Harvard, que não é uma universidade católica.
É muito fácil apenas descartar esse movimento como parte da reação conservadora ao liberalismo secular. Claro que tem esse lado. Mas também é algo que os católicos progressistas precisam levar mais a sério. Há uma busca genuína por profundidade, significado, propósito, e há uma epidemia genuína de solidão e uma crise de significado nos Estados Unidos e na Europa para os jovens.
Obviamente, há um mundo online de extrema direita assustador, que está radicalizando jovens rapazes em todo o mundo e pode ser muito misógino, racista. São ideias horríveis, tóxicas, que têm de ser combatidas. Às vezes, esse universo se sobrepõe ao mundo católico, mas não é exatamente a mesma coisa.
E os estudiosos de teologia têm de reconhecer que não são apenas esses caras de direita, envolvidos na retórica superficial de ódio, que têm esse apelo ao catolicismo. Uma das questões em que considero que o papa Francisco se precipitou foi ao condenar a missa em latim. Essa turma viu essa condenação da sua forma de liturgia como uma condenação de todo aquele mundo. Acho que pode ter sido prematuro.”
Em carne e osso
“Agora, tem um livro que acabou de sair e que meus alunos dizem ser a completa tradução do que pensam. É um livro chamado Rethinking Sex, da jornalista Christine Emba. Sim. Ela é afro-americana. Mas não é sobre raça. E ela é formada pela Universidade Princeton. Então, é uma intelectual negra nos Estados Unidos, jovem. E uma convertida ao catolicismo.
Esse livro é sobre por que os ensinamentos sobre sexualidade foram principalmente o que a atraiu para a Igreja Católica. Surpreendente, né? Mas ela fala sobre como, para ela e seus amigos em Princeton, a única ética em torno do sexo era o consentimento. Se seu parceiro concordar, vocês podem fazer o que quiserem. Sadomasoquismo, poliamor, sexo em qualquer idade, vale tudo. Mas ela e suas amigas achavam isso muito pouco satisfatório. Mais do que isso: a noção de não haver nenhuma regra poderia eliminar o desejo. É quase como se o desejo sexual pudesse vir das regras. Parte dos jovens gosta disso, de alguém lhes dando normas, limites, propósito.
Agora, as pessoas podem primeiro se sentir atraídas pelo catolicismo por alguma celebridade do YouTube. Isso pode trazê-las. Mas, se elas permanecerem apenas online com seu catolicismo, há o potencial de serem radicalizadas para a extrema direita. Estudos já mostraram como até mesmo uma pesquisa por uma determinada palavra pode levar você a um buraco que é cada vez mais ideologicamente radical.
A minha esperança é que, ao se conectarem com uma paróquia, com uma comunidade viva, elas vão ter contato com pessoas diferentes. Na maioria das paróquias há alguma diversidade, ao menos a geracional. E dentro da paróquia esse jovem pode ser confrontado com a realidade radical da experiência humana. Apenas a comunidade humana real pode combater as ideologias simplistas que nos são alimentadas online.
Eu estive em uma reunião com uma comunidade bastante grande de bispos americanos nomeados pelo papa Francisco, com afinidade com sua visão. E muitos deles falaram sobre como é difícil alcançar pessoas que recentemente se converteram ao catolicismo porque elas foram atraídas por esses influenciadores católicos que não têm nenhum treinamento em teologia, que têm uma interpretação muito superficial do Evangelho.
Enquanto pastores, seminaristas, bispos, teólogos, nós trazemos uma década ou mais de treinamento em línguas, de compreensão da história e tradição da igreja, de um entendimento muito mais profundo do que é o catolicismo. Isso está alcançando os jovens? Alguns padres em Manhattan, dos jesuítas mais bem educados, estão em contato com alguns desses jovens e conseguindo atraí-los para a Igreja, fora das redes.
Isso é muito Papa Francisco e muito jesuíta. A ideia de que você deve encontrar pessoas reais em vez de conceitos. E como você pode pensar que a Igreja é apenas sobre uma ideologia de gênero rígida quando você está conversando com uma mãe solo que é migrante? Hoje, há mais de 200 universidades jesuítas em todo o mundo. E elas realmente investem recursos para ajudar os jovens a encontrar pessoas reais como uma forma de expressar, encontrar e aprofundar sua fé católica.
Aliás, eu tenho um orgulho tremendo de que todas as universidades jesuítas estão respondendo ao aumento do autoritarismo nos Estados Unidos, ao colapso de nossa democracia. As universidades jesuítas se uniram e emitiram uma declaração, reafirmando o compromisso com a justiça racial, a inclusão, o pertencimento, e não sobre acompanhar a política ‘woke’. É sobre nosso compromisso com o Evangelho, liberdade religiosa e sobre amar, cuidar e servir os pobres e marginalizados.
Alguns católicos ficaram desapontados com Francisco porque achavam que ele podia fazer mais, por exemplo, na inclusão de mulheres. Mas houve muita conversa. Um paralelo possível é com o que era a Igreja Católica nos anos em torno do Vaticano II, na década de 1960, uma de minhas áreas de pesquisa. Vamos pensar em algo que parece básico. Foi ali que a Igreja reafirmou a democracia, declarou que não deveria mais haver monarquias com a Igreja e o Estado combinados. As conversas sobre isso vinham desde os anos 1910, com Jacques Maritain. Foram décadas de conferências, grupos de estudo, livros, preparando o terreno, plantando a semente.
Me pergunto se todas as conversas sobre mulheres e gênero que foram geradas à luz do Sínodo e as conversas que o papa Francisco gerou sobre mudanças climáticas, por exemplo, não são sementes que pode dar frutos em algumas décadas.”
Do Sagrado à telona: o espaço do cinema católico
No último dia 12 de dezembro, data consagrada a Nossa Senhora de Guadalupe, Ângela Morais, CEO da Kolbe Arte, esteve em Brasília. Naquela manhã, participou de uma audiência pública no Plenário 11 do Anexo II da Câmara, convocada pela deputada Simone Marquetto (MDB-SP), com o objetivo de discutir os percalços e as possibilidades da produção e divulgação do audiovisual católico no Brasil. Na linha de frente desse segmento, Morais conhece bem os dois lados da moeda. Sua empresa, com 15 anos de trajetória, nasceu para colocar de pé um musical regional com cantoras católicas em São Bernardo do Campo: Uma Nota que Elas Notam. Cresceu como produtora de eventos — até que o cinema católico cruzou seu caminho. E não foi em terras tupiniquins.
Integrante da Milícia da Imaculada — organização internacional mariana fundada por São Maximiliano Maria Kolbe em 1917 —, ela percorreu países como Espanha, Polônia e Estados Unidos, onde teve contato com cineastas católicos. “Foi ali que a gente deu o primeiro passo para entender como o cinema católico poderia ser trazido ao Brasil”, conta.
O nome da distribuidora, inclusive, é uma homenagem ao Padre Kolbe, frade franciscano polonês que morreu em 1941, no campo de concentração de Auschwitz, ao oferecer sua vida no lugar de outro prisioneiro, pai de família, sendo canonizado como mártir. A transição da Kolbe Arte de produtora para distribuidora ocorreu em 2019, mas os planos foram paralisados devido à pandemia. Com os cinemas fechados e o país em reclusão, aquele período acabou sendo crucial para que Morais mergulhasse no estudo do setor.
Desde a reabertura das salas, em 2022, até 2024, os filmes que distribuiu já ultrapassaram 600 mil ingressos vendidos. A marca coincidiu com o crescimento da população católica mundial, que passou de 1,390 bilhão para 1,406 bilhão entre 2022 e 2023. Embora o aumento de 1,15% tenha sido impulsionado principalmente pelo continente africano, o Brasil segue como o país com o maior número de fiéis dessa denominação no mundo — um terreno fértil para a expansão da cinematografia religiosa. Entre os títulos lançados estão documentários, docudramas e até animações que resgatam figuras e elementos centrais da fé católica, abordando temáticas como as aparições do Sagrado Coração de Jesus, a compreensão do purgatório e as trajetórias de Madre Teresa de Calcutá, São José, entre outros. Dos 18 títulos cujos direitos já foram adquiridos para exibição no Brasil, apenas dois são produções nacionais, o que não é por acaso.
“Provocamos a audiência pública justamente para jogar luz sobre a falta de incentivo e mostrar ao poder público que há demanda, que podemos gerar trabalho e renda. Muitas vezes, quando procurávamos um produtor, ele dizia: ‘Ah, questão religiosa... o Estado é laico. As leis são truncadas’”, lembra Morais.
Embora seja uma protagonista nesse campo, a Kolbe Arte é apenas um exemplo dentro de um setor que enfrenta grandes desafios, não apenas para se estabelecer no mercado, mas para superar a falta de incentivos estruturais e fiscais. A produção e o consumo de filmes religiosos no Brasil ainda são limitados por um ecossistema cinematográfico que prioriza outras formas de conteúdo, e o setor católico, em particular, tem lutado para encontrar espaço.
Outro desafio vem da própria Ancine (Agência Nacional do Cinema), que utiliza um sistema de pontuação para avaliar o desempenho de produtoras e distribuidoras. Essa pontuação é crucial para determinar a elegibilidade para recursos em editais de financiamento. No entanto, para distribuidoras que adquirem os direitos de filmes estrangeiros, a tarefa de pontuar é mais complexa. É necessário ter um número considerável de lançamentos nacionais para acumular pontos, e com o limitado incentivo à produção nacional, a Kolbe Arte, que só lançou dois filmes brasileiros até hoje, não consegue pontuar no sistema.
Apesar dessa limitação, o setor se mantém otimista — 2024 foi um ano e tanto, não apenas por causa da audiência pública. Em 16 de setembro, o governo federal sancionou a Lei 14.969/2024, reconhecendo as expressões artísticas cristãs como parte da cultura brasileira. Essa nova legislação abriu portas essenciais. “Com ela, produtores têm conseguido aprovação via Ancine ou Lei Rouanet para tirar suas obras do papel. Já temos dois filmes nacionais programados para estrear em agosto e outubro. Estamos recebendo uma quantidade crescente de roteiros e sugestões, e várias produtoras estão entrando em contato. Existe um grupo de profissionais ansiosos por oportunidades”, afirma Morais. Para ela, o verdadeiro impacto ainda está por vir, especialmente em 2026 — não só do lado da produção e distribuição, mas também no comportamento do público, que começa a se acostumar com a ideia de consumir conteúdo religioso nas salas de cinema.
Estratégia de distribuição
É uma linha tênue entre o mercado cinematográfico, os grandes exibidores e a Igreja. E a relação com cada uma dessas partes deve ser estreita, mesmo. “Quando falo da aliança com a Igreja, é realmente ir na ponta e falar com os padres. Alguns ainda não entendem a missão do cinema, mas nossos maiores parceiros são eles. Se eles falam do filme na missa, passam um trailer ou colocam um banner na paróquia, aumenta muito o desejo do fiel de ir ao cinema”, afirma.
Do lado do mercado, a escassez é a chave. As grandes redes de cinema, como UCI, Kinoplex e Cinemark, têm um custo operacional alto. Precisam da garantia de um mínimo de ingressos vendidos. “Por isso, preferimos diminuir o número de lançamentos e focar melhor em cada um, ao invés de abrir um circuito grande. Assim, ajudamos nosso público a adquirir o hábito de ir ao cinema. Não adianta chegar pedindo cem salas se não temos a segurança de que vamos lotá-las. Sempre trabalhamos com escassez. É melhor começar com dois dias na semana e, se der certo, ampliar. Assim vamos educando o público”, explica.
Foi só depois desse processo que o streaming entrou na equação. “O católico brasileiro não tem a cultura de ir ao cinema. Tínhamos muito medo de que, se a janela fosse curta, a pessoa pensasse: ‘Ah, não vou assistir no cinema porque logo vai estar na Netflix’. Por isso, só no ano passado começamos a liberar os filmes para as plataformas.” Ainda assim, nem todos os espectadores dos filmes distribuídos pela Kolbe Arte se identificam com a fé católica. “O mercado cinematográfico secular, o da indústria comum, pensando no lado comercial, muitas vezes busca polemizar, aposta na ficção, na exploração da imaginação. Mas nós, com nossos documentários, contamos histórias reais, de superação. Isso também atrai o público em geral”, analisa Morais.
Para ela, essa é justamente uma das grandes diferenças dos filmes religiosos produzidos e distribuídos por pessoas ligadas à própria fé. “O que mais diferencia um filme com temática religiosa feito por grandes estúdios, com muitos recursos, são os efeitos especiais. Já as películas feitas por católicos costumam se aprofundar nos documentos da Igreja, justamente por terem familiaridade e conhecimento para fazer essa pesquisa.” E isso, segundo Morais, é essencial para dialogar com uma geração que, muitas vezes, já não conhece tão bem os santos, os ritos e os símbolos do catolicismo.
O voo profundo de Josyara
Baiana de Juazeiro, terra de João Gilberto, muito cedo Josyara se mudou para Salvador e depois para São Paulo. Mas da infância e da adolescência no interior da Bahia ficou uma vivência da música brasileira que está impressa em sua maneira única de tocar violão e compor.
Josyara faz parte de uma geração baiana que trouxe novos ares para a música brasileira, relendo a tradição e incorporando novos elementos, tanto no uso da tecnologia para viabilizar suas ideias como em seu universo temático. Ela virou um nome nacional com o lançamento do ótimo Mansa Fúria, de 2018, com composições centradas no violão e que mesclavam um desejo de interferência no coletivo com uma política dos afetos. Seu disco seguinte, ÀdeusdarÁ, de 2022, já traz uma pesquisa bem diferente, ao incorporar elementos do pop em arranjos arrojados e exuberantes.
Depois de passear com voz e violão pelo som da Timbalada no EP Mandinga Multiplicação, ela volta agora com Avia. O álbum recém-lançado traz uma nova leva de canções mais íntimas, muitas delas compostas durante a pandemia. São músicas que pensam o amor de uma perspectiva bastante feminina, o que é sublinhado por uma série de parcerias com autoras como Iara Rennó, Liniker, Pitty e Juliana Linhares, além da regravação de composições de Anelis Assumpção e Cátia de França. Sem perder a centralidade de seu violão do sertão, Josyara multiplica seu tocar e arrisca arranjos grandiosos de cordas e sopros.
Conversamos sobre o novo disco e também sobre ser uma artista que se aprofunda tanto em seu ofício – e valoriza o tocar – justamente em um momento do mundo em que a tecnologia parece acelerar o tempo e dar mais valor ao efêmero. Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
A sua música tem muito uma toada de um violão do Sertão. Como é o seu começo musical?
Comecei a tocar ainda criança, tinha uns 10 anos de idade em Juazeiro, sempre estudando música brasileira, a MPB da canção. Foi tudo muito natural, muito espontâneo. Eu saí de Juazeiro para Salvador com 15 anos. Então, há na minha musicalidade essa memória de infância. E o violão tem essas influências diretas de Chico César, que toca muito o sertanejo, de Geraldo Azevedo, que é um quase conterrâneo ali de Petrolina [PE], e de Xangai também. Mas tudo a partir dessas memórias afetivas e de um percurso de vida mesmo.
Em ÀdeusdarÁ você vai para uma produção mais ousada e moderna. E agora você retorna, como em Mansa Fúria, à centralidade do violão. Como ele é tratado no novo disco?
Quando eu estava na pré-produção, em casa, tudo partia do violão. Quis muito trazer arranjos grandiosos, mas em que o violão cantasse junto. Então o disco tem cordas, sopro, mas se você tirar tudo e deixar só a voz e o violão, a canção acontece. E existe o desejo de experimentar esse violão em vários outros lugares. Ao contrário de Mansa Fúria, que gravei apenas um violão, nesse eu chego a gravar três, quatro violões, como na música Ensacado, em que eles são orquestrados.
Mansa Fúria tem uma pegada política muito forte. Já esse disco é mais feminino e intimista. É um percurso que sai da rua e olha mais para você?
Mansa Fúria fala justamente dessa minha saída de Juazeiro a Salvador e, depois, a São Paulo, com várias músicas que contam essa história. ÀdeusdarÁ também tem uma coisa bem política diferente, que se mistura com um desejo de futuro. Esse realmente tem um conceito mais focado nas relações humanas. Principalmente no amor, de como é começar a se entregar para o outro, como é se desencantar, sentir raiva. Claro, nessa perspectiva de compositora e com muitas parceiras. Esse é de fato um disco feminino, mas ele é sobretudo humano. Fala dessa coisa de gostar de não gostar.
Você abre o disco com Eu Gosto Assim, da Anelis Assumpção, que fala justamente sobre isso. A outra música que você gravou que não é sua é Ensacado, da Cátia de França. Você também cresceu ouvindo?
Conheci a obra da Cátia aqui em São Paulo, há uns dez anos. Foi de um jeito muito espontâneo. Eu estava ouvindo um disco, aí de repente entrou o disco dela e fiquei completamente obcecada. Ouvia diariamente. Desde então eu bebo da fonte de Cátia de França, e canto há muito tempo nos meus shows, e também no show com a Juliana Linhares.
A música mais curtinha do disco, inclusive, é uma parceria com a Juliana. Todo o disco é feito de músicas curtas, tem uma razão para essa brevidade?
Não tem motivo, não. Na verdade, eu deixo a música rolar do jeito que é, com o que cada canção pede, sem muitas regras. Só depois me dei conta que realmente é um disco um pouco mais curto, de 29 minutos. Mas tem de entender que a música se dá o tamanho que tem de ser.
Como a vivência de São Paulo influencia seu trabalho?
Nessa coisa do trabalho, de estar na ativa toda hora, atenta, de ter acesso à cultura, a shows, a pessoas de outros lugares. São Paulo é essa encruzilhada, mesmo quem não mora aqui passa em algum momento. Já são dez anos aqui e já tem uma outra relação, mais amena. Estou mais caseira hoje, mas sempre tem shows, trocas, saraus. Você vai conhecendo muita gente, e tem esse lado mais profissional do mercado da música.
Falando em trocas, você fez várias parcerias nesse disco. Elas foram acontecendo naturalmente, ou foi planejado? Como foi o processo de composição?
Não foi planejado, foi super ao longo de cinco anos mais ou menos. A música que eu fiz com Liniker foi em 2019, sem pretensão de gravar. A gente estava conversando, se divertindo e surgiu a música. Com Iara Rennó foi durante a pandemia, tinha a melodia e passei pra ela. Avia começou a surgir quando fiz uma demo com seis faixas. Entendi que um disco estava vindo. Aí comecei a olhar meus arquivos, ver o que tinha, se havia ideia legal para terminar, para construir. Fui reunindo músicas como Peixe Coração, Seiva. A com Pity [Sobre Nós] foi um pouco mais recente e a com Juliana Linhares [Prova de Amor] também, quando o disco já estava em andamento.
Você é produtora do disco junto com o Rafael Ramos. O quanto você põe a mão nos arranjos, na construção da sonoridade?
Quando eu fiz essa pré-produção, eu construí todos os arranjos. Foi a primeira vez que desenvolvi arranjos mais elaborados, para sopro, para cordas. Claro que a gente teve a colaboração de Diogo Gomes nos sopros e de Felipe Ventura nas cordas. Mas de fato eu botei a mão e fiz tudo. Quando eu chamei Rafa, foi justamente para pegar essas ideias iniciais e transformar em um disco de estúdio, humanizar aquilo que eu tinha feito sozinha, porque muita coisa eu fiz no computador, com midi. Então foi para trazer essas ideias todas para uma tocada humana, de músicos excelentes de quem sou muito fã.
Como você vai levar esse disco para o palco?
O lançamento será aqui em São Paulo, em 9 de maio no Sesc Vila Mariana. Vai ser um quarteto, com Bruno Marques [bateria], Lucas Martins [baixo] e Charles Tixier [samples e synth], além da minha voz e meu violão, claro.
Você faz álbuns coesos, mas hoje vemos cada vez mais as pessoas ouvindo apenas faixas. Os adolescentes ouvindo música acelerada no Tio Tok. O que você pensa da influência da tecnologia na música hoje?
O desafio dessa na geração mais nova, que não tem esse hábito de ouvir algo mais longo, que muda a velocidade das músicas, é entender a importância de ser artista, de estudar, de praticar. Porque às vezes as coisas são muito rápidas. E mesmo para os artistas dessa geração. É preciso também entender a importância de ser artista. Porque às vezes as carreiras são muito rápidas. A pessoa lança uma música, ela viraliza e já fica famosa. Isso também vai condicionando esse artista e o que ele pensa sobre o que é ser artista. Que, para mim, é uma coisa que requer tempo, dedicação. Se continuar assim, uma hora isso vai ruir, vai saturar.
E o que pensa do uso de inteligência artificial na música??
Tento trabalhar nas minhas construções de uma forma muito profunda, com muito pensamento, muita referência. Mas essa construção com inteligência artificial é um caminho sem volta. A gente que cria música vai ter de ficar muito esperto, entender de que maneira usar essa ferramenta para realizar nosso trabalho sem sufocá-lo, tomando cuidado para não ser dominado.
A morte de um papa é um acontecimento histórico, um fato que atinge não apenas os católicos, mas repercute em todo o planeta. Cientes disso, os assinantes do Meio deram atenção especial à cobertura da perda de Francisco. Outro assunto – mais mundano, porém muito relevante – a atrair os leitores foi a fraude bilionária descoberta pela Polícia Federal no INSS. Confira os links mais clicados:
1. BBC: As primeiras imagens divulgadas pelo Vaticano do corpo do papa Francisco no caixão, antes do início da visitação pública.
2. CNN Brasil: Carros, obras de arte, joias e outros itens de luxo apreendidos pela Polícia Federal na operação contra a fraude no INSS.
3. UOL: Como descobrir se você foi vítima de descontos indevidos nos benefícios da Previdência.
4. Meio: Historiador italiano explica ao Meio Político, excepcionalmente aberto a todos os assinantes, qual era a visão política do falecido papa.
5. Poder360: Vídeo mostra o momento em que uma oficial de Justiça intima o ex-presidente Jair Bolsonaro após ele ter feito uma live na UTI onde deveria estar em repouso.