Prezadas leitoras, caros leitores —
Há uma tradição na política dos Estados Unidos de que o presidente usa a decoração de seu gabinete, o célebre Salão Oval, como uma declaração de princípios, com pinturas e esculturas retratando seus antecessores ou outras figuras políticas em um sinal de quem os inspira. Sob Joe Biden, por exemplo, o retrato do presidente Franklin Roosevelt tinha lugar de destaque, enquanto Barack Obama sempre aparecia em fotos com um busto de Abraham Lincoln ao fundo.
Ao se mudar novamente para a Casa Branca em 20 de janeiro, Donald Trump fez uma escolha inusitada: colocou como figura central William McKinley, que governou o país entre 1897 e 1901. Em geral pouco lembrado, foi o último chefe do Executivo a acrescentar territórios ao país e não hesitou em lançar mão de tarifas comerciais para conter uma crise econômica, inspiração para o atual governo. Mas a errática guerra comercial declarada por Trump e os riscos que ela representa para a economia dos EUA e do mundo têm feito surgir a lembrança de outro ocupante do imóvel, Herbert Hoover, que entrou para a História como o presidente da Grande Depressão – comparação que Trump odeia, por sinal.
Na Edição de Sábado do Meio, exclusiva para assinantes premium, vamos mergulhar na vida e, principalmente, nos governos desses dois presidentes e avaliar se as comparações com Trump são possíveis ou mesmo justas (para eles).
Isso não é tudo. Nesta semana, o presidente Lula afirmou que o déficit habitacional do Brasil é o mesmo há mais de 50 anos. Ouvimos especialistas para entender o que faz o país empacar na oferta de moradia adequada. E abrindo nossa nova sessão de entrevistas aos sábados, Tati Bernardi fala de seu novo livro, “A Boba da Corte”, que traz uma crítica ácida às elites de São Paulo.
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China e EUA intensificam guerra comercial

Para temor do resto do mundo, Estados Unidos e China seguem disputando quem vai piscar primeiro na guerra comercial aberta por Donald Trump. Na quinta-feira, a Casa Branca esclareceu que todas as importações do gigante asiático agora enfrentam tarifa mínima de 145% para entrar nos EUA, e não 125% como fora noticiado na véspera. O número combina a taxa de 125%, última a ser divulgada por Trump, com outra anterior, de 20%, imposta sob a justificativa de que o governo chinês não combate o envio de fentanil para os EUA. Em resposta, Beijing anunciou nesta madrugada que as tarifas sobre produtos americanos vão subir de 84% para 125%, mas que, por outro lado, o país vai ignorar novos aumentos de taxação que forem anunciados pelo presidente dos EUA, avaliando que o movimento já se transformou em “uma piada”. Enquanto o mercado despencava na quinta-feira após a recuperação do dia anterior, Trump disse em uma reunião de gabinete, diante de jornalistas, que “tudo vai dar muito certo”. Na mesma ocasião, chamou o presidente Xi Jinping de “amigo” e afirmou que adoraria evoluir em sua negociação com os chineses. (New York Times e Bloomberg)
Ainda não é um acordo – longe disso –, mas a União Europeia suspendeu suas tarifas retaliatórias sobre produtos americanos pelo mesmo período da pausa anunciada por Trump: 90 dias. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que a UE recuaria em suas contramedidas – tarifas de 25% sobre € 21 bilhões em importações – para “dar uma chance às negociações”. A alemã alertou que o bloco está pronto para expandir a guerra comercial para serviços e até mesmo incluir um imposto sobre receitas de publicidade digital – o que atingiria em cheio as big tech americanas. (Guardian e Financial Times)
Mesmo com a reviravolta em Washington, as tarifas líquidas aplicadas pelos Estados Unidos ainda são muito mais altas do que antes das eleições. Os mercados inicialmente se recuperaram, e o pior cenário foi (por enquanto) evitado. Mas tarifas significativas permanecem em vigor, e o efeito é um aumento de dez vezes nas taxas sobre produtos importados pelos EUA. No início do ano, a tarifa geral média do país era de 2,5%. Com as mudanças desta semana, subiu para 27% — a mais alta em mais de um século. (Politico)
E a revista Economist analisa que 90 dias de pausa são um “piscar de olhos na escala de tempo das negociações comerciais”. Quando a negociação séria começar, “alguns países podem não se esforçar o suficiente para o gosto de Trump”. “A escala do choque no comércio global ainda é, mesmo agora, diferente de tudo já visto na história. Trump substituiu relações comerciais estáveis, construídas em mais de meio século, por uma formulação de políticas caprichosas e arbitrárias na qual as decisões são publicadas nas redes sociais e nem mesmo seus assessores sabem o que está por vir.” (The Economist)
Larry Summers: “O mercado compartilha minha visão de 60% [de chance de recessão]. Os riscos aumentaram muito desde a posse [de Trump], com grande crescimento após o ‘Dia da Libertação’. E o risco agora é tão grande quanto era antes do recuo de Trump nas tarifas. A situação não está sob controle”. (X)
Selina Wang: “Xi Jinping está jogando duro. Quer mostrar ao seu povo que o país pode suportar o sofrimento econômico causado pelas tarifas. A guerra comercial de Trump também alimenta sua estratégia de tornar-se menos dependente dos americanos. Embora o republicano o tenha chamado Xi de ‘amigo’, o cálculo não é simples. Se o chinês desligar o telefone sem um acordo, Trump parecerá fraco”. (ABC News)
O PL anunciou ter chegado ao número mínimo de 257 assinaturas para que o projeto de lei que anistia os envolvidos no 8 de Janeiro seja votado com urgência pelo Plenário da Câmara, sem passar por comissões, conta Lauro Jardim. O partido agora pressiona o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB) para que paute a matéria. De acordo com Bela Megale, causou indignação no Palácio do Planalto o fato de mais de 100 deputados da base aliada terem assinado o pedido de urgência. (Globo)
Demorou, mas aconteceu. O presidente Lula sancionou o Orçamento de 2025. O ato confirma a alta do salário mínimo para R$ 1.518, um aumento real (acima da inflação) de 2,5%. As despesas com o Bolsa Família somam R$ 158,6 bilhões no novo Orçamento. O Congresso aprovou apenas em março a proposta por causa do impasse em relação à liberação de emendas parlamentares. O presidente tinha até o dia 15 de abril para sancionar o texto, mas decidiu antecipar a assinatura, garantindo o adiantamento do 13º a aposentados e pensionistas do INSS. O Orçamento estima que as contas públicas fecharão o ano no azul – com superávit primário, após compensações, de R$ 14,5 bilhões. (CNN Brasil)
E o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA) foi confirmado como próximo ministro das Comunicações, substituindo seu colega de partido Juscelino Filho, denunciado por corrupção pela Procuradoria-Geral da República. O martelo foi batido após um encontro entre o presidente Lula e Fernandes, que pediu para assumir a pasta após o feriado da Páscoa. Até lá, a cadeira será da secretária executiva do ministério, Sônia Faustino Mendes. (Folha)
Viver
Cientistas criaram o maior e mais detalhado diagrama de fiação cerebral de um mamífero já produzido. O mapa 3D de alta resolução contém mais de 200 mil células de um camundongo, das quais cerca de 82 mil são neurônios. A inovação também detalha a atividade neuronal individual em larga escala, incluindo dezenas de milhares de neurônios disparando sinais e interagindo entre si para processar informações visuais. O projeto foi desenvolvido por uma equipe com mais de 150 pesquisadores que descreveram o trabalho em um conjunto de oito artigos publicados na Nature. O mapa combinado com o diagrama representa um marco importante em um campo que visa mostrar como o cérebro processa e organiza informações. (Nature)
Pesquisadores japoneses do Centro RIKEN para Ciência da Matéria Emergente desenvolveram um tipo de plástico que se dissolve completamente no oceano. Com a mesma resistência do plástico comum, o material se diferencia por não deixar resíduos de microplásticos, representando um grande avanço no combate à poluição marinha. A combinação de compostos acessíveis, como hexametafosfato de sódio (um aditivo alimentar bastante comum) e íons de guanidínio (utilizados em fertilizantes) forma pontes salinas que garantem a resistência do produto. Os experimentos mostraram que essas folhas se desintegraram em água salgada após oito horas e meia. (UOL)
Para ler com calma. Nenhum filho, pela lei, pode ser punido por crimes cometidos por seus pais. Mas o sobrenome carrega um estigma em casos de repercussão nacional. A Justiça tem recebido pedidos de anulação de paternidade ou maternidade de pessoas que não querem mais ser associadas a seus genitores. É o caso do filho de Cristian Cravinhos – um dos assassinos do casal Von Richthofen –, que conseguiu o direito de manter na certidão de nascimento e na carteira de identidade apenas o nome da mãe. Também removeram o sobrenome paterno os dois filhos de Alexandre Nardoni, condenado pelo assassinato de sua filha Isabella, de 5 anos. (Globo)
Cultura
Sextou, finalmente, e trazemos de volta as dicas de cultura para curtir o fim de semana em São Paulo e no Rio. Há programas para todos os gostos, do ultra alternativo Festival Marginália, no Espaço um55, em SP, à exposição Afrobrasilidade, no FGV Arte, no Rio. Confira. As dicas de cultura são uma parceria do Meio com a newsletter Ladrilho Hidráulico.
O diretor Kleber Mendonça Filho vai disputar a Palma de Ouro no Festival de Cannes com seu novo longa, O Agente Secreto. Estrelado por Wagner Moura, o thriller é ambientado em 1977, durante a ditadura militar. Na trama, Marcelo é um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz, mas logo entende que não encontrará a tranquilidade que busca. O elenco ainda tem nomes como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone e Udo Kier. (UOL)
Fora da competição em Cannes, a estreia mundial do novo filme de Spike Lee, Highest 2 Lowest, foi confirmada para o festival em 19 de maio. O longa, que tem Denzel Washington como protagonista, é uma releitura de High and Low, thriller policial de Akira Kurosawa lançado em 1963. A produção foi anunciada por Thierry Frémaux depois do evento de divulgação da programação, após confirmar que Denzel estaria pela primeira vez no tapete vermelho de Cannes. (Variety)
Ao menos dez obras da artista plástica mexicana Frida Kahlo (1907-1954) e 12 páginas de seu diário pessoal foram roubadas e vendidas ilegalmente, denunciou Hilda Trujillo, ex-diretora dos museus Diego Rivera Anahuacalli e Frida Kahlo Casa Azul. Ela acusa as autoridades da área cultural do México de “gestão irregular e contratação de pessoal não qualificado”, que teriam facilitado o roubo. O Instituto Nacional de Belas Artes e Literatura (INBAL) respondeu dizendo ter solicitado à direção dos museus o inventário do acervo. (Globo)
Meio em vídeo. Shows do Ira! são cancelados depois que o vocalista se posicionou contra a anistia para os golpistas do 8 de janeiro. Pelo jeito os fãs não entenderam as músicas da banda. Confira a análise de Mariliz Pereira Jorge em De Tédio A Gente Não Morre. (YouTube)
Cotidiano Digital
O WhatsApp anunciou uma série de atualizações em conversas, chamadas e canais, com foco em aumentar a interatividade. Entre os destaques está o novo indicador “online” que aparece no topo de grupos, mostrando quantas pessoas estão ativas para conversar. Outra novidade é a possibilidade de personalizar as notificações em grupos, para ser possível receber alertas apenas de menções, respostas e mensagens de contatos salvos. Para usuários de iPhone, o app liberou o envio de documentos digitalizados diretamente pelo anexo e agora permite definir o WhatsApp como app padrão de mensagens e chamadas. (TechCrunch)
A OpenAI se prepara para lançar novos modelos de inteligência artificial já na próxima semana. Segundo fontes ouvidas pelo Verge, o destaque será o GPT-4.1, uma versão reformulada do GPT-4o, modelo multimodal capaz de processar texto, áudio e imagens em tempo real. Além dele, devem ser apresentados os modelos mini e nano do GPT-4.1, versões mais leves da mesma arquitetura. Também está para sair o modelo de raciocínio o3. Mas Sam Altman, CEO da OpenAI, alertou que os usuários devem esperar atrasos, falhas e lentidão no início, pois, segundo ele, as GPUs da empresa estão no limite. (The Verge)
E a plataforma de design Canva anunciou um novo pacote de ferramentas baseado em inteligência artificial. O destaque é o Canva AI, um assistente que ajuda a criar imagens, textos, documentos e até miniaplicativos por comando de texto. Também há recursos de edição de fotos por IA, como remoção de objetos e inclusão de planos de fundo, e o Canva Sheets, uma nova solução de planilhas com suporte e geração automática de gráficos. (TechCrunch)
Meio em vídeo. Pedro Doria e Cora Rónai debatem o tarifaço de Trump e o possível impacto no valor do iPhone mundialmente. Também falam sobre o Brasil vender o celular da Apple pelo preço mais caro do mundo, os impactos das tarifas no Vale do Silício e o que a Samsung ganha com a guerra comercial. Não perca. (YouTube)
Você sabe por que seu dinheiro parece valer menos a cada mês? A resposta pode estar em decisões tomadas há mais de uma década. O documentário A Era do Dinheiro Fácil conecta os pontos entre a crise de 2008 e a inflação atual — e está disponível para assinantes do Meio Premium. Mais do que informação, é contexto para entender o presente. Junte-se a quem busca conteúdo de qualidade, direto ao ponto e sem ruído. Assine agora.