Prezadas leitoras, caros leitores —
Não foi um comunicado meramente tecnológico. Foi político. Quando Mark Zuckerberg usou uma de suas próprias plataformas para anunciar que eliminaria os mecanismos de checagem de fatos da Meta, salpicou sua fala de recados nada discretos — tanto de alinhamento a Donald Trump quanto de confrontação a reguladores e autoridades de diversos países.
As Notas de Comunidade que a Meta pretende adotar têm peculiaridades e dinâmicas que podem ser interessantes, conforme revelam alguns estudos recentes — embora haja indícios fortes de que elas sejam insuficientes para conter a desinformação.
Para explicar mais detidamente esse movimento de Zuckerberg e essa ferramenta, a Edição de Sábado apresenta uma reportagem de Sérgio Spagnuolo e Alexandre Orrico, cofundadores do Núcleo Jornalismo, criado para investigar o impacto da tecnologia na vida das pessoas. Esse é o começo de uma parceria em que o Núcleo vai trazer ao Meio, sempre que o mundo digital for notícia, seu jornalismo inovador e analítico — tanto em reportagens premium, como essa, quanto em participações em vídeo.
Por aqui, uma cerimônia esvaziada marcou o aniversário de dois anos do 8 de Janeiro. O que podemos esperar da Justiça em relação a quem idealizou, financiou, facilitou e perpetrou os atos golpistas? E trazemos ainda os impressionantes avanços dos últimos meses nas ferramentas de criação de vídeo usando inteligência artificial.
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Os Editores.
Oposição acusa Maduro de prender María Corina na véspera da posse
A véspera da posse de Nicolás Maduro para seu terceiro mandato presidencial foi marcada por uma guerra de versões envolvendo a detenção temporária da líder da oposição María Corina Machado, que foi negada pelo governo. Após quase seis meses na clandestinidade, ela reapareceu ontem em uma manifestação contra um novo mandato do ditador venezuelano diante das denúncias de fraude até hoje não esclarecidas. “Estou aqui”, publicou no X, com um vídeo em meio à multidão. Horas depois, aliados denunciaram que ela foi “violentamente interceptada” e detida após deixar o protesto em Caracas. A mensagem afirmava que agentes “dispararam contra as motocicletas que a transportavam”. Cerca de duas horas depois, os aliados de María Corina disseram que ela foi solta após ser obrigada a gravar uma série de vídeos. Paralelamente, em Petare, maior bairro de Caracas, apoiadores do presidente se reuniram no que chamam de “marcha pela paz e alegria”. Maduro foi proclamado vencedor da eleição presidencial em julho pelas autoridades eleitorais, apesar dos indícios de fraude. Ele prometeu apresentar as atas de votação, mas nunca o fez. A cerimônia de posse está marcada para hoje. (CNN)
Diante da denúncia de detenção, Edmundo González Urrutia, ex-candidato da oposição à presidência, disse que os órgãos de segurança “não devem brincar com fogo” e prometeu chegar hoje ao país para assumir o poder. Mas, até ontem, o hermetismo entre dirigentes da oposição era total. Nos últimos dias, ele visitou vários países do continente, entre eles os Estados Unidos, para pedir apoio da comunidade internacional. Panamá, Argentina e Chile se manifestaram condenando a detenção de María Corina. Donald Trump também enviou mensagem de apoio aos opositores na qual trata González como presidente eleito. (Folha)
Já o ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, número dois do regime, classificou a suposta detenção como “uma invenção, uma mentira”. “Eles queriam alarmar toda a Venezuela e, no final, acabaram com o ridículo do ridículo, mentindo, dizendo que o governo havia capturado María Corina”, afirmou Cabello no canal estatal VTV. “Ela está louca para que o governo a capture, e esse era seu plano: dizer que foi pega, para ver o que ela pode fazer.” O caso ocorre em meio a uma ação militar ativada há dois dias por Maduro sob a alegação de que havia planos para impedir sua posse. (Globo)
A situação levou o governo brasileiro, que ainda não reconheceu oficialmente a vitória de Maduro, a reavaliar o envio da embaixadora em Caracas, Glivânia Oliveira, à posse. Segundo fontes diplomáticas, o Itamaraty busca informações para entender o que houve antes de se posicionar oficialmente. (CNN Brasil)
Eliane Cantanhêde: “Até fazia sentido a aproximação de Fernando Henrique e depois de Lula com Hugo Chávez, que virou de costas para os Estados Unidos e de frente para a América do Sul. Olhar para o Sul é olhar para o Brasil, suas indústrias, sua agricultura, seu imenso mercado. Mas foi um absurdo Lula ignorar a tragédia venezuelana e abrir o terceiro mandato com salamaleques para o ditador. Como foi um escândalo o PT ‘reconhecer’ a vitória de Maduro numa eleição flagrantemente fraudada. E agora, José? Como agirá o Brasil se confirmado o banho de sangue na posse?”. (Estadão)
O presidente Lula mandou um recado ontem ao CEO da Meta, Mark Zuckerberg, ao afirmar que um cidadão não pode achar que tem condição de ferir a soberania de uma nação. Ao anunciar o fim do programa de checagem de fatos, o criador do Facebook disse que trabalhará com o presidente eleito Donald Trump “para resistir a governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando por mais censura”. “Vou fazer reunião hoje para discutir a questão da Meta. Acho extremamente grave as pessoas quererem que a comunicação digital não tenha a mesma responsabilidade do cara que comete crime na imprensa escrita”, disse Lula a jornalistas. “O que nós queremos é que cada país tenha sua soberania resguardada.” (Folha)
Dona do Instagram, Facebook e Threads, a Meta já atualizou a versão em português de suas novas diretrizes sobre discurso de ódio. O texto permite que usuários associem doenças mentais a gênero ou orientação sexual, em contextos de debates religiosos ou políticos. Também flexibiliza restrições a discursos que defendem a limitação de gêneros em determinadas profissões. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal reconheceu, em 2023, que atos ofensivos praticados contra pessoas da comunidade LGBTQIA+ podem ser enquadrados como injúria racial. Em 2019, a Corte já havia determinado o enquadramento da homotransfobia no tipo penal definido na Lei do Racismo. (Globo)
E como efeito prático das mudanças anunciadas por Zuckerberg, as redes sociais da Meta começaram a mostrar conteúdos políticos de perfis não seguidos pelos usuários, postou o presidente do Instagram, Adam Mosseri. “Se você ainda não reparou nas mudanças, deve começar a percebê-las nas próximas semanas.” Em fevereiro de 2021, logo após a posse de Joe Biden, a Meta anunciou que reduziria a exposição dos usuários a publicações relacionadas a debates considerados ideológicos ou eleitorais. Às vésperas da posse de Trump, mudou as diretrizes e se alinhou ao republicano. (Folha)
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou à GloboNews que o presidente Lula pode fazer mudanças nos ministérios já neste mês para dar aos novos escolhidos “mais tempo para trabalhar”. “Teremos uma reunião ministerial em 21 [de janeiro] e eventualmente alterações, se o presidente assim decidir, podem ser feitas antes dessa reunião”, disse, acrescentando que Lula está avaliando e ainda não decidiu sobre quais serão as mudanças. “É uma nova fase da gestão, como se estivesse terminando o primeiro tempo e começando o segundo.” (g1)
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Viver
Com dez vítimas fatais confirmadas nos incêndios florestais em Los Angeles, as autoridades não sabem o que esperar em relação ao número final de mortos, com algumas áreas parecendo ter sido atingidas por uma bomba. Quase 180 mil moradores ainda estão sob ordens de evacuação, e outros 200 mil sob alerta. As perdas econômicas causadas pelas queimadas já chegam a quase US$ 50 bilhões, segundo estimativa do JPMorgan Chase. O presidente Joe Biden enviou mais 400 bombeiros federais, 30 helicópteros e aviões de combate a incêndio e oito C-130s do Departamento de Defesa para o Sul da Califórnia. Imagens aéreas e um vídeo feito por drone mostram a devastação causada pelos incêndios. (CNN)
E o ano de 2024 foi o mais quente já registrado e o primeiro a ultrapassar a marca de 1,5°C de aumento na temperatura média global em relação aos níveis pré-industriais. O recorde foi acompanhado por tragédias ao redor do mundo, como megaincêndios na América do Sul e Europa, secas na Amazônia e Pantanal, e furacões nos Estados Unidos. O relatório atribui o calor extremo a uma combinação de ação humana e ao fenômeno El Niño. Embora 2025 deva ser ligeiramente mais ameno devido à possível influência de La Niña, o aquecimento ligado às atividades humanas continuará a elevar as temperaturas. (Globo)
Considerado o “Oscar das fotos esportivas”, o World Sports Photography Awards premiou Jerome Brouillet pela imagem que correu o mundo mostrando o surfista Gabriel Medina saindo de uma onda em Teahupoo, no Tahiti, onde a modalidade foi disputada pelas Olimpíadas de Paris em 2024. Brouillet ficou com a medalha de ouro na classificação geral. Mais de 13 mil imagens foram inscritas na premiação – veja as vencedoras nas 24 categorias do concurso, que analisou trabalhos de mais de 2,2 mil fotógrafos de 96 países. (Meio)
Cultura
A exibição de Ainda Estou Aqui nos cinemas cresceu 113% depois que Fernanda Torres venceu o Globo de Ouro de melhor atriz em filme de drama no último domingo. Se antes da premiação o longa de Walter Salles estava disponível em 187 salas (após estrear em 610), agora é possível vê-lo em 400. O número de cinemas com a obra em cartaz também aumentou de 145 para 350, equivalente a 141%. Desde que foi lançada, em 7 de novembro, a produção superou os 3,1 milhões de espectadores no Brasil, melhor marca para um filme nacional no pós-pandemia. (Folha)
Em uma previsão da revista americana Variety, Fernanda aparece entre as cinco atrizes favoritas ao prêmio de melhor atriz na corrida pelo Oscar 2025. O editor sênior Clayton Davis lembra que a brasileira “surpreendeu ao levar para casa o prêmio por sua atuação no drama de língua não inglesa Ainda Estou Aqui”, quando celebridades como Angelina Jolie, com Maria, e Nicole Kidman, por Babygirl, eram favoritas. Outra vencedora do Globo de Ouro, na categoria comédia/musical com A Substância, Demi Moore aparece como a nova favorita ao Oscar, seguida por Cynthia Erivo (Wicked), Mikey Madison (Anora) e Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez). As indicadas serão anunciadas no dia 19. (Variety)
Dirigido por James Mangold, A Complete Unknown mostra o início de Bob Dylan após chegar em Nova York aos 19 anos. Com estreia prevista no Brasil em 27 de fevereiro, o filme teve uma de suas primeiras cenas exibidas pelo New York Times e comentadas pelo diretor, que participou da série do jornal Anatomia de uma Cena, na qual cineastas revelam segredos e bastidores por trás de seus filmes. Na cena em questão, o astro Timothée Chalamet, de 28 anos, canta e toca I Was Young When I Left Home. “Senti que o estilo de Bob era tão profundo que eu queria relaxar e apenas observar”, disse Mangold, “e permitir que o poder da música deixasse a canção se comunicar”. Veja a cena de três minutos. (New York Times)
Cotidiano Digital
A Consumer Electronics Show (CES 2025) em Las Vegas apresentou algumas novidades da indústria de robótica, como Nylo, o androide da californiana IntBot, desenvolvido para transitar em um ambiente povoado por humanos e robôs. A companhia criou seu modelo para permitir que ele se expresse criativamente e coloquialmente, parecendo às vezes um pouco sarcástico, quase como um adolescente. “Você claramente é o mais bonito… De nada, amigo. É sempre um prazer ouvir a verdade”, disse Nylo a um visitante do CES. Já a francesa Pollen Robotics lançou o Reachy 2, seu robô humanoide transformado em uma plataforma facilmente adaptável para IA, podendo ser personalizado por pesquisadores e outros desenvolvedores, como adicionar mãos com dedos em vez das garras e pernas e no lugar de rodas. (CNN Brasil)
No mesmo evento, a Samsung revelou o Ballie, um robô assistente pessoal em formato de bola, com cor amarela e equipado com IA. Após anos de estudo e protótipos testados, a empresa anunciou que o dispositivo atua como assistente de voz, controla eletrodomésticos, projeta vídeos, acende lâmpadas e auxilia em tarefas como exercícios, refeições e reuniões de trabalho. Com previsão de lançamento no primeiro semestre nos EUA e na Coreia do Sul, a empresa estuda expandir a comercialização para a América Latina, incluindo o Brasil. (Globo)
Elon Musk declarou que a indústria de inteligência artificial atingiu um limite no uso de dados reais para treinamento de modelos, e foi esgotada “a soma cumulativa do conhecimento humano”. Durante uma transmissão ao vivo no X, Musk apontou que essa barreira foi alcançada no último ano e destacou que o futuro da IA está nos dados sintéticos — informações geradas pelos próprios modelos para ampliar seus processos de aprendizado. Segundo a consultoria Gartner, em 2024, cerca de 60% dos dados utilizados em projetos de IA e análise foram sintéticos. Os benefícios incluem redução de custos. No entanto, o uso desse recurso pode causar “colapso de modelo”, tornando os sistemas menos criativos e mais suscetíveis a vieses. (TechCrunch)
