Prezadas leitoras, caros leitores —
Coisa de um mês e meio atrás, o jornalista Yan Boechat, repórter veterano de coberturas de conflitos por todos os cantos do mundo, estava na Síria e sentiu que havia algo diferente da tensão que testemunhara tantas vezes no passado. Num veículo de guerra cruzando o deserto, percebia que os soldados buscavam emanar alguma calma, mas o nível de alerta era máximo. Eles sabiam que uma grande guerra se aproximava.
O Estado Islâmico e o HTS tomaram Aleppo e anunciaram que dominaram Hama, outra cidade fundamental síria, pressionando o governo de Bashar al-Assad. A grande guerra chegou — e a escala que ela pode tomar é incerta, considerando o alto grau de instabilidade em toda a região desde o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro do ano passado. Sim, está tudo conectado. Na Edição de Sábado, Boechat narra, analisa e explica o que Síria e Oriente Médio podem testemunhar nos próximos meses.
Vamos olhar também para como governos começaram a se mexer para regular as redes sociais, especialmente na Austrália e na Europa. E, no coração do Planalto Central, damos um tempo da política tradicional para falar do peso do Festival de Brasília para a produção nacional de cinema.
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Os editores.
Pressionado, Tarcísio admite erro sobre câmeras da PM
Após uma série de flagrantes de violência policial seguidos de pressão contra a política de segurança do estado de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que errou ao criticar o uso de câmeras corporais pela Polícia Militar desde o período em que era candidato. “Eu admito, estava errado. Eu me enganei, e não tem nenhum problema eu chegar aqui e dizer para vocês que eu me enganei, que tinha uma visão equivocada sobre a importância das câmeras”, disse, acrescentando estar convencido de que os equipamentos são importantes para proteger tanto a sociedade quanto policiais. “O discurso de segurança jurídica que a gente precisa dar para os profissionais de segurança pública para combater de forma firme o crime não pode ser confundido com salvo conduto para fazer qualquer coisa.” Tarcísio disse que não deve substituir as câmeras corporais atualmente usadas pela PM, que têm gravação ininterrupta sem que o usuário a acione, até que o governo esteja seguro de que o novo modelo, que depende do policial para ser ligado, é eficaz. (Folha)
Ao comentar os casos registrados em São Paulo, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, disse que o governo federal pode impor regras sobre as polícias para regular o uso da força durante abordagens. As novas regras devem ser apresentadas como um ato normativo do ministério sobre “uso progressivo da força” em ações policiais. Para o ministro, as armas letais representam “o último instrumento” a ser adotado pelos agentes de segurança. (Veja)
O Tribunal de Justiça Militar de São Paulo manteve a prisão do soldado Luan Felipe Alves Pereira, que jogou um homem de uma ponte na Zona Sul de São Paulo na madrugada de segunda-feira. Preso preventivamente desde quarta-feira, a audiência de custódia do militar foi realizada na tarde de ontem. (Globo)
E o PM Vinicius de Lima Britto, que executou pelas costas um jovem negro de 26 anos em frente a um mercado no bairro Jardim Prudência, também na Zona Sul da cidade, teve sua prisão preventiva decretada. Câmeras de segurança registraram o momento em que ele fez os disparos enquanto Gabriel da Silva Soares roubava quatro pacotes de sabão. A vítima morreu com 11 perfurações. (g1)
Josias de Souza: “Deve-se celebrar a autocrítica de Tarcísio. Mas quem não quiser fazer papel de bobo precisa constatar que a meia-volta, além de tardia, é cenográfica. O governador faz por pressão o que deixou de fazer por opção”. (UOL)
Djamila Ribeiro: “De chacinas em operações desastrosas a abordagens que se transformam em execuções sumárias, a cultura da morte foi normalizada. Tudo revoltante e que, num país decente, levaria governador, secretário de Segurança e demais responsáveis para o banco dos réus”. (Folha)
Flávia Oliveira: “A brutalidade da política de segurança de Tarcísio e Derrite afeta os paulistas, mas também brasileiros de outras unidades da Federação, cujas autoridades têm São Paulo como farol. A barbárie precisa de freio lá para que outras regiões não sucumbam em sangue, luto e abuso”. (Globo)
Uma portaria que deve ser apresentada na próxima semana pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai proibir, em mestrados e doutorados de todo o país, aulas gravadas e assistidas pelos alunos em qualquer horário. As novas normas que vão regulamentar o ensino híbrido na pós-graduação devem permitir que aulas no modelo presencial sejam realizadas com o professor ou orientador utilizando ferramentas como Google Meet e Zoom. Já as aulas que são gravadas e disponibilizadas aos alunos para serem vistas a qualquer momento podem ser distribuídas, mas não contam na carga horária. (Estadão)
Política
A PEC 45 de 2024 é uma das três propostas do pacote fiscal do governo. E seu primeiro artigo prevê a necessidade de uma lei complementar para autorizar pagamentos “de caráter indenizatório” acima do teto das remunerações do setor público, que equivale ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal, de R$ 44 mil. Para derrubar esse dispositivo que pretende fechar brechas para o pagamento de supersalários no funcionalismo público, representantes de entidades ligadas à magistratura, ao Ministério Público e à Defensoria Pública já iniciaram articulação no Congresso. Já o PT apresentou um requerimento para que a PEC de corte de gastos iniciasse sua tramitação na Comissão de Constituição e Justiça, mas recuou diante do risco de que opositores da matéria conseguissem frear seu andamento. (Folha)
Meio em vídeo. Christian Lynch e Ana Carolina Evangelista analisam os principais assuntos do dia no Central Meio desta sexta-feira. Ao vivo, às 12h45. (YouTube)
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), prestou novo depoimento à Polícia Federal sobre a trama golpista. Por cerca de uma hora, ele foi questionado sobre o teor de algumas mensagens de militares que participaram do plano Punhal Verde e Amarelo, que pretendia assassinar o presidente Lula, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Segundo fontes, ele negou ter conhecimento do planejamento de matar autoridades, reforçando o que já havia dito a Moraes. (Folha)
Todos os países do Mercosul concordaram com o texto do acordo de livre comércio com a União Europeia. A afirmação é do chanceler do Uruguai, Omar Paganini, país que recebe a reunião dos líderes dos dois blocos na cúpula do Mercosul. A confirmação oficial, disse, será hoje. O chanceler também expressou o desejo do Uruguai de flexibilidade em relação a acordos comerciais fora do bloco ou em conjunto. França e Polônia se opõem ao acordo, mas não têm votos suficientes para barrar sua aprovação. Os dois países tentam convencer a Itália a mudar de lado. (UOL)
A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, vai participar pessoalmente da reunião, em mais um sinal de que o acordo negociado há 25 anos será finalizado. O acordo teve uma rodada decisiva de negociações na semana passada, em Brasília, na qual divergências foram reduzidas. (CNN Brasil)
O presidente da França, Emmanuel Macron, reiterou ontem que o atual teor do acordo entre a UE-Mercosul é inaceitável. “Continuaremos a defender incansavelmente a nossa soberania agrícola”, disse na conta oficial da presidência francesa no X. (Estadão)
Enquanto isso... O presidente Lula visitou o ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica em sua tradicional chácara em Montevidéu, no Uruguai. E se emocionou ao encontrar o amigo, a quem concedeu a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, mais alta condecoração oferecida pelo Brasil a estrangeiros. “A pessoa mais extraordinária que conheci”, disse Lula. (g1)
Em pronunciamento à nação após a aprovação da moção de censura que derrubou o premiê Michel Barnier, o presidente da França, Emmanuel Macron, descartou a hipótese de uma renúncia antecipada, como pedem alguns de seus opositores. “Meu mandato é de cinco anos e eu o exercerei até o fim”, afirmou. Macron não anunciou o nome de um novo chefe do governo, mas disse que o novo primeiro-ministro será escolhido “nos próximos dias”. O chefe de Estado também prometeu que um “projeto de lei especial” será apresentado para “aplicar em 2025 as escolhas (orçamentárias) de 2024”. Além disso, afirmou que sua decisão de dissolver a Assembleia Nacional em junho, “não foi compreendida” e assumiu a responsabilidade pela decisão. Mas criticou os deputados que votaram na véspera pela saída de Barnier, especialmente a extrema direita, acusando-os de pensarem “em uma única coisa, a eleição presidencial”. (RFI)
Em um relatório de 296 páginas, a Anistia Internacional se tornou a primeira grande organização internacional de direitos humanos a acusar Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza. “Israel cometeu e está cometendo genocídio contra palestinos em Gaza”, afirma o texto. O genocídio está entre os crimes mais difíceis de se provar no direito internacional porque requer a demonstração da intenção específica de destruir um grupo, “no todo ou em parte”, algo que os líderes israelenses negam. Em um movimento raro, a representação israelense da Anistia Internacional protestou contra as conclusões do relatório, mas disse estar preocupada com “crimes sérios” perpetrados em Gaza. (New York Times)
Cotidiano Digital
Uma comissão especial do Senado aprovou ontem um projeto de lei que estabelece as regras para o uso de inteligência artificial no Brasil. O texto segue para votação no plenário da Casa. Segundo a proposta, a tecnologia deverá seguir princípios como a proteção de grupos vulneráveis e da democracia. Também está prevista a adoção de mecanismos contra discriminação e ferramentas de supervisão humana. Caso seja aprovada, a lei criará o Sistema Nacional de Regulação e Governança de Inteligência Artificial, coordenado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados. (g1)
Já o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli votou pela inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet, que estabelece que as plataformas só podem ser responsabilizadas civilmente caso não removam o conteúdo ilícito após ordem judicial. Ele concluiu seu voto pelo aumento da responsabilidade por conteúdos postados pelos usuários. E propôs a adoção de um dever de monitoramento de conteúdos ilícitos pelas companhias. O julgamento será retomado na quarta-feira com o voto de Luiz Fux. (Jota)
A OpenAI lançou o ChatGPT Pro com uma assinatura de US$ 200 por mês, que inclui a versão completa do seu modelo de “raciocínio” o1, que substitui o o1-preview. Comparado à prévia lançada em setembro, a nova versão é considerada mais rápida, poderosa e precisa, além de raciocinar sobre uploads de imagens. O novo modelo já está disponível para usuários do ChatGPT Plus e Team, enquanto usuários Enterprise e Edu terão acesso a partir da semana que vem. (TechCrunch)
Meio em vídeo. O caso da moça do avião que não cedeu o lugar a uma criança birrenta pode servir de pontapé para discussões importantes, mas acaba só servindo para transformar pessoas comuns em celebridades irrelevantes. Confira o De Tédio A Gente Não Morre, com Mariliz Pereira Jorge. (YouTube)
Cultura
Saiu a lista de melhores filmes do ano da National Board of Review, a mais tradicional associação de críticos de cinema dos Estados Unidos. E Ainda Estou Aqui foi apontado como um dos cinco melhores longas internacionais ao lado de Tudo que Imaginamos Como Luz, A Garota da Agulha, Santosh e Universal Language. A lista de melhores filmes americanos traz Anora, Babygirl, A Complete Unknown, Conclave, Furiosa: Uma Saga Mad Max, Gladiador 2, Queer e Sing Sing, com Wicked à frente de todos. Na escolha de melhor atriz de 2024, Fernanda Torres não foi lembrada e a NBR destacou Nicole Kidman por Babygirl. Veja a lista completa. (Deadline)
Por falar nisso... A Complete Unknown, que narra os primeiros anos da carreira de Bob Dylan, já ganhou um fã importante: o próprio Dylan. O cantor e compositor escreveu, em sua conta no X, sobre o longa e a atuação do ator Timothée Chalamet, que o interpreta. “Timmy é um ator brilhante, por isso tenho certeza de que ele será totalmente crível como eu. Ou um eu mais jovem. Ou algum outro eu. É uma história fantástica dos eventos do início dos anos 1960”, postou. O longa (trailer) estreará em 27 de fevereiro. (Meio)
Com uma edição considerada mais modesta, a décima Comic Con Experience (CCXP) começou ontem e vai até domingo no São Paulo Expo. Sem nomes com o mesmo peso de Zendaya ou Chris Hemsworth, que já passaram pelo festival, a lista de convidados conta com Matt Smith, Ana de Armas, Vincent Martella, Giancarlo Esposito e Norman Reedus. Homenageado do ano, Wagner Moura é uma das principais atrações de hoje. Os ingressos ainda podem ser adquiridos pelo site oficial. (g1)