Edição de Sábado: A Maratona de João
No início, a oposição na Câmara Municipal de Recife sabia como irritar o prefeito João Campos. Apelava regularmente ao apelido de “príncipe”. A alcunha não agradava o herdeiro de Eduardo Campos, membro da dinastia política que remonta ao bisavô do prefeito, Miguel Arraes, governador de Pernambuco por três mandatos, deputado federal, estadual e que também já sentou na cadeira ocupada hoje pelo neto no Palácio Capibaribe, sede do governo municipal. A linhagem política cruza fronteiras. Da região do Crato, no Ceará, veio Bárbara de Alencar, heroína da Revolução Pernambucana e da Confederação do Equador, primeira mulher presa política do Brasil. A irmã dela, Inácia Pereira de Alencar, era tataravó de Arraes.
O prefeito do PSB, que assumiu o cargo com 27 anos, optou pela única saída possível quando se detesta muito um apelido: abraçá-lo desavergonhadamente. Sua abordagem mudou quando viu eleitoras o chamando de príncipe em suas andanças pela capital pernambucana. Ele foi convencido por sua equipe a usar o título de nobreza nas redes sociais, aproveitando o lançamento do filme Barbie, em abril 2023. Aceitar a “fuleiragem”, no bom pernambucanês, fez João Campos reinar nas redes.
Mas os sonhos de João Campos têm ares mais modernos que a realeza. Interlocutores do prefeito já o viram falar sobre o desejo se ser um IronMan, acrescentando o nado e o ciclismo na sua prática esportiva, que já inclui a corrida. Até agora, percorreu uma meia maratona e não são raras as vezes em que vai correndo de seu apartamento, localizado no bairro Ilha do Retiro, até a prefeitura. Na política, a linha final vislumbrada por ele desemboca no traçado de Oscar Niemeyer em Brasília.
Na última terça, João Campos e quase toda a família apearam de uma van entre as colunas do Palácio do Planalto. A deputada Tabata Amaral (PSB-SP), namorada de João, também o acompanhava. Enquanto caminhavam para a entrada de autoridades, a mãe dele, Renata Campos, e a irmã, Maria Eduarda, tratavam de enfileirar as crianças, arrumando suas roupas, e de ajeitar a pequena Maria Helena, ainda de colo, no carrinho de bebê. A família participaria ali de um ato solene: a inclusão do nome de Eduardo Campos, morto em um acidente de avião em plena campanha presidencial de 2014, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. O bisavô, Miguel Arraes, já figura nesse panteão.
Na cerimônia de sanção, o presidente Lula fez um discurso emocionado. Contou ter aprendido a admirar Miguel Arraes por meio do irmão, Frei Chico, e lembrou ter ido recepcionar o bisavô de João no aeroporto de Recife em 1979. “Foi o único político que eu fui receber no aeroporto na volta do exílio”, disse o presidente, na cerimônia fechada. Lula estendeu a mesma generosidade a Eduardo. Político sagaz que é, ocupou-se de incluir entre as virtudes do homenageado a criação dos filhos. “A gente não pode deixar que a sociedade reconheça o político pela quantidade de agressividade, mentira. Nós temos que mostrar que o político pode ser humano, pode construir uma família extraordinária como o Eduardo construiu”.
Ao final da cerimônia, Lula pediu para tirar uma foto com a família real pernambucana e, enquanto todos se aprontavam, se levantou para arrancar sorrisos da pequena Maria Helena, dando as costas para o seu lugar. João e Tabata fixaram o olhar na cadeira presidencial. A deputada chegou a cochichar algumas palavras no ouvido do namorado, que mantinha a mirada. O momento em que uma nova geração promissora da política, no campo da centro-esquerda, aspira tão candidamente chegar ao poder, mas ainda reverenciando o atual líder, foi flagrado pelas lentes do repórter fotográfico Sérgio Lima e ilustra esta reportagem.
João só ficou sabendo do flagrante de seu olhar quando chegou a Fortaleza, no fim do dia. Com o capital político de uma reeleição em primeiro turno com 78,11% (foi a primeira vez que um candidato recebeu mais de 725 mil votos na cidade), foi dar uma força à candidatura de Evandro Leitão (PT) na disputa do segundo turno e, tão logo desembarcou do avião, recebeu pelo WhatsApp a foto que havia sido divulgada pelas redes sociais. A mensagem veio acompanhada de várias figurinhas de olhinhos atentos. Diante da brincadeira feita por seus auxiliares, o prefeito deu uma risada comedida. Nada falou.
O PSB é cioso dos planos políticos de João Campos e encara o desafio de construir sua imagem na esfera nacional como uma maratona. “As lideranças políticas se constroem nos embates. Ele começou muito cedo, primeiro como o deputado federal mais votado do estado e depois como prefeito. Agora foi reeleito com esse percentual alto de votos. Então, para o PSB ele é uma grande aposta. Nós vamos investir tudo que for possível no crescimento dele”, disse ao Meio o presidente da legenda, Carlos Siqueira. Próximo à família, Siqueira viu João crescer em meio a reuniões que ocorriam na casa da família Campos, no bairro Dois Irmãos, em Recife. Ele percebia João como um menino sóbrio, sério, a todo tempo de olho no gestual do pai, que sempre o preparou para entrar na política. A personalidade de João contrastava com a de seu irmão, Pedro, hoje deputado federal, a vida toda mais extrovertido e sorridente.
Segundo pessoas próximas da família, Renata Campos, a mãe, ainda conseguiu segurar um pouco a entrada precoce de João na política, colocando como condição a formatura dele no curso de engenharia civil na Universidade Federal de Pernambuco. Aos 21 anos, com o diploma na mão, João assumiu seu primeiro emprego. Não como engenheiro, mas como secretário de Organização do PSB estadual. Era 2014 e o pai, Eduardo, já havia concluído seu segundo mandato como governador de Pernambuco. Com 49 anos, a trajetória de Eduardo Campos foi interrompida pela queda do avião sobre um bairro residencial de Santos, no litoral paulista. Do portão para dentro de casa, o comando da política fica nas mãos de Renata e essa fama vem desde quando Eduardo era vivo e desempenhava os cargos de deputado federal, ministro de Lula e governador de Pernambuco.
Meu pai falava...
Se no gabinete presidencial o olhar de João se deixou levar pelo encantamento pela cadeira de presidente, havia ali também a admiração pelo político Lula. “Eu o vejo como o maior presidente do Brasil. Não vejo nenhum outro com o tamanho dele”, disse João Campos ao Meio. O prefeito recebeu a reportagem em Brasília enquanto se dividia entre a reunião da comissão executiva do PSB e muitas gravações em vídeo que tem feito para diversos candidatos aliados e correligionários. Usava camisa clara e blazer azul, que deixava alinhado para as gravações. O celular ficou ao lado, em cima da mesa, ao alcance dos olhos, que vigiavam os chamados vindos de dentro do auditório, lotado de dirigentes partidários. A deferência a Lula é herança paterna. Segundo João, seu pai sabia respeitar as contribuições de cada governo, de Fernando Henrique Cardoso a Dilma Rousseff. “Lembro o que meu pai falava, quando ele estava se preparando para a disputa presidencial em 2014. Ele enxergava que, até aquele momento, cada governo, a seu modo, havia ajudado o país na estabilização econômica, no combate à inflação, na criação do tecido de proteção social, na nova industrialização.” O problema na política brasileira, para João, começou com as manifestações de 2013.
Ao falar do crescimento do pensamento antipetista, ele aponta uma crise de representatividade que gerou um vazio político que poderia ter sido ocupado pelo seu pai, mas que acabou “loucamente” caindo nas mãos de Jair Bolsonaro (PL), a quem rechaça como político. “Era um pouco do que meu pai enxergava. Havia uma fragilidade no tecido político. Havia um cansaço. Meu pai enxergou que havia um vácuo, havia um espaço. Havia uma falta de representatividade e também um cansaço na polarização que na época era entre PT e PSDB. Ele enxergou que ocuparia isso. Ele não pôde, enfim, faleceu e não pôde ocupar isso e esse espaço acabou sendo ocupado por coisas muito ruins.” João fala sem se emocionar. Como alguém que há 10 anos precisa recitar o que aprendeu com o pai na política. Mantém a voz firme ao frisar o ideário paterno, espécie de aval para o pensamento que ele divulga hoje. “Loucamente, esse vácuo foi ocupado por Bolsonaro, uma pessoa que, sendo do sistema com 28 anos na Câmara, se vendia como antissistema, com um discurso outsider. Esse vazio poderia ter sido ocupado por outra pessoa, inclusive por um democrata.”
Não é simples para um jovem político cujas raízes da árvore genealógica vão fundo na política do país construir um ideário próprio. Ainda mais para um rapaz com os olhos verdes carismáticos do pai. Em vez de se debater com isso, João escolhe abraçar o espólio. As referências a Eduardo dão o tom de como João pensa a política. Ele se diz um “progressista, de centro-esquerda” e tem a pretensão de ocupar mais o intervalo existente entre o que chama de extrema-direita, encarnada hoje pelo bolsonarismo, e pela esquerda mais radical que, a seu ver, foi representada pela candidatura de Dani Portela (PSOL) na disputa pela capital pernambucana. João demonstra ter aversão a radicalismos, mesmo que as polarizações favoreçam as entregas nas redes sociais. “Eu sou da centro-esquerda, mas não conte comigo para o que divide. A política, para mim, é o lugar de convergência, e faço nas minhas redes sociais uma comunicação não violenta e não separatista. Eu não estou ali para gerar discordâncias, eu estou ali para o que une as pessoas.” Recorre novamente a uma frase que aprendeu com o pai. “Tem que ganhar a eleição e desmontar palanque.”
Ao se candidatar à reeleição, João estava certo da vitória e, na primeira pesquisa do primeiro turno, apareceu com 75% das intenções de voto, mesmo em uma capital que não tem tradição de grandes votações. No primeiro turno de 2020, ele recebeu 29% dos votos e no segundo turno, venceu a prima, Marília Arraes, com 56,27%. Na época no PT, Marília ficou com 43,73%.
Na régua
João Campos parece aficionado por números, percentuais e resultados. Ao detalhar sua trajetória, talvez justamente para provar por A+B que é mais que um nepo-político, tenta sempre colocar tudo na medida. Quantifica até a reconexão que espera ter com o população em suas saídas quase que diárias da prefeitura em agendas para ouvir demandas, visitar comunidades ou inaugurar obras. Aprendeu com o pai a não ficar encastelado e, no auge dos seus 30 anos, tem disposição de sobra para isso. “A presença é muito importante. O limite de inauguração de obra foi em junho e até aquele período eu tive 1.250 dias desde a posse. Depois disso, a lei eleitoral proíbe. Do momento em que assumi o mandato até o dia que podia inaugurar, eu tinha feito mais de 1.350 agendas na rua. Tive mais agendas que dias corridos”, calculou o engenheiro, que se orgulha de chegar na obra e poder dar pitaco sobre a granulação do asfalto utilizado.
Para tanta inauguração, João Campos precisou gastar. Ele se gaba de ter conseguido bater recordes de investimentos e diz que procurou distribuir obras nas periferias. “Eu tive muita obra de pequeno porte. Eu digo sempre que faço uma gestão territorializada.” Além disso, João alega ter aplicado recursos para expandir a rede de educação e de saúde da prefeitura e de assistência social nas áreas mais pobres da capital. Nas áreas mais nobres, Campos investiu na criação de espaços públicos de convivência. A abertura da orla do Rio Capibaribe, com a implantação de parques e calçadão ao longo do rio, inicialmente irritou famílias mais ricas, que obstruíam o acesso ao principal rio da capital pernambucana. Depois, a obra foi bem aceita porque valorizou os imóveis.
Apesar de seu apreço por Lula, João não nutre a melhor relação com o PT local. Dois anos antes de lançar seu nome à reeleição, ele obteve medições sobre o tamanho do antipetismo na capital pernambucana. Não era pequeno. Coisa de duas vezes e meia o tamanho do bolsonarismo. Com base nisso, começou a se articular para não ter na chapa um vice do PT. João Campos incentivou seu ex-chefe de gabinete Victor Marques a se filiar ao PCdoB, partido que acabava de ingressar na federação com o PT e com a Rede. João não deu importância a conversas com o PT e buscou costurar a aliança nas cúpulas, em Brasília, comunicando sua decisão de tê-lo como vice à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e a Lula. Para um membro do PSB nacional, que preferiu falar em reservado, o drible no petismo local, sem alarde e costurado por cima, lembra a forma de articular de Eduardo Campos. “Essa é uma volta política digna do pai dele. Em vez de escancarar a divergência ou partir para a negociação local, Eduardo faria a mesma coisa, não dando chances a reclamações. Afinal, o vice é da federação. Como reclamar?”, disse o socialista. Marques não tem histórico de militância ou envolvimento com partidos de esquerda e não representaria, portanto, um ponto sensível na busca pelo voto antipetista.
Dois mundos
A manobra lembra o que há de mais antigo na política e João demonstra que sabe operar esse sistema. Mas o que ele traz de novo? Em conversas com figurões do partido, o entusiasmo de torná-lo uma liderança nacional é sempre impulsionado pelo domínio das redes sociais. Sua interação nas periferias da cidade também indica que o herdeiro João tenta incorporar hábitos que não são de sua criação e fazer disso um ativo de imagem. O fato de João ter topado platinar os cabelos no carnaval deste ano em referência aos movimentos culturais de rappers da periferia da cidade rendeu a ele 700 mil seguidores no Instagram. O post teve 982 mil curtidas e 113 mil comentários. Um salto importante para se chegar aos 2,7 milhões de seguidores que ele tem hoje. Até hoje, nenhuma postagem dele teve um desempenho que superasse a do “prefeito platinado”. A equipe até tentou repetir o feito, com João tomando banho na fonte na entrega do Parque da Tamarineira, em um bairro nobre de Recife, mas não conseguiu equiparar a façanha.
Mas o sóbrio João aderiu à diversão de uma forma bastante medida. Meses antes, ele havia sido desafiado pelo MC Anderson Neiff, em uma visita a um bairro da periferia de Recife, a “nevar” o cabelo. A partir daí, em suas atividades da prefeitura, João passou a receber tinta para cabelo, a tirar fotos com donas de pequenos salões de beleza e até a receber receitas de como descolorir as madeixas de forma rápida e econômica. O problema de João era que, na semana seguinte ao Carnaval, ele teria que estar na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para receber o prêmio de Serviço Público concedido pelo Departamento para Assuntos Econômicos e Sociais (Desa) ao projeto Centro Comunitário da Paz (Compaz). João só “nevou” diante da promessa de um cabeleireiro de sua confiança dando 100% de chance de retornar à cor original no dia seguinte. Um sangue azul precisa transitar entre o pagão e o sagrado da política com figurino adequado para cada cerimônia.
Michelle Bolsonaro triunfa nos aplicativos de mensagem
Michelle Bolsonaro é um fenômeno. Na reta final da campanha eleitoral, mesmo sem ter concorrido e sem nunca ter sido eleita para ocupar um cargo no Executivo, Legislativo ou Judiciário, a ex-primeira-dama apareceu em 170 mensagens únicas que circularam por 105 grupos de WhatsApp e Telegram nos últimos sete dias. Juntos, esses espaços digitais reúnem cerca de 130 mil pessoas, segundo dados da Palver.
No mesmo período, seu marido, o ex-presidente Jair Bolsonaro, foi mencionado em 500 grupos nessas mesmas plataformas. Ou seja, a cada cinco menções feitas a Jair, uma foi feita a Michelle. Isso é significativo. Basta lembrar que ele é um político de longa data que conquistou mais de 58 milhões de votos em 2022.
O boom de popularidade da ex-primeira-dama nesta semana deriva de suas visitas a Manaus, Porto Alegre, Campo Grande e Cuiabá, entre outros municípios do país, para fazer campanha para os candidatos de direita que disputam o segundo turno da eleição municipal. Ao que tudo indica, Michelle foi posta na posição de cabo eleitoral. E curtiu.
Entre os dias 11 e 18 deste mês, a ex-primeira-dama mobilizou conversas iniciadas por 34 dos 67 DDDs do país – ou seja, mais da metade. Mas há outro feito que Michelle conseguiu e que dá inveja a muitos políticos em campanha: entre a terça e a quarta-feira (15 e 16 de outubro) nenhuma menção feita a ela foi classificada como “negativa”. Segundo a Palver, que usa um processo de linguagem natural para analisar o sentimento das mensagens que circulam em grupos públicos de WhatsApp e Telegram, todos os conteúdos que falaram de Michelle nesses dois dias foram considerados “neutros” ou “positivos”.
Um mergulho nas mensagens que mais viralizaram nessas plataformas mostra que o perfil público da Michele política vive um cuidadoso processo de construção. A ideia é transformar a ex-primeira-dama numa beldade que, misturando diplomacia, inclusão e religião, seria capaz de falar duras verdades ao povo. Comparações com a primeira-dama Janja da Silva são comuns, sempre colocando a mulher do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em desvantagem – física ou política.
Num dos vídeos que mais circularam pelo Telegram, por exemplo, uma voz convida o espectador a ver o “atropelo dado por Michelle, com todo o charme de uma verdadeira primeira dama” no casal presidencial. Na gravação, que reproduz um dos discursos da turnê que Michelle fez nesta semana, ela aparece criticando a tentativa do governo federal de regular as mídias sociais e impedir que ”a verdade chegue até o povo“. É aplaudida de pé. Nos apps, a gravação circula sob o título ”Bomba“.
Em outro conteúdo viral no Telegram, um deputado do partido de Michelle pontua sua generosidade política. ”Ela [Michelle] fez as suas escolhas para apoiar candidatos a vereadores e vereadoras. Muitas candidatas a vereadoras. A Janja fez diferente (...) A Janja escolheu apenas uma candidata para apoiar.“
No WhatsApp, bombou o vídeo em que a ex-primeira-dama aparece chamando o Partidos dos Trabalhadores de ”facção“ e sugerindo que seus seguidores são, na verdade, mentalmente insanos. A fala ocorreu num palco de Porto Alegre e teve tanta repercussão que o PT anunciou que moverá uma ação contra Michelle por conta disso.
A ida da ex-primeira-dama a municípios que terão segundo turno em 27 de outubro gerou dezenas de ”santinhos digitais". Na maioria deles, Michelle aparece bem no centro da imagem, como se ela mesma fosse a candidata.
Pesquisas publicadas recentemente revelam que a nacionalização do nome de Pablo Marçal, candidato do PRTB que chamou a atenção do Brasil enquanto disputava a Prefeitura de São Paulo, teve grande impacto nas intenções de voto em Michelle como possível presidenciável em 2026. A ex-primeira-dama, que chegou a alcançar 24% nas pesquisas em maio, apareceu em setembro com apenas 12% – o que pode explicar sua generosidade e sua posição de cabo eleitoral do segundo turno.
Curioso, no entanto, é ver que os aplicativos de mensagem também acompanham de perto o que Jair Bolsonaro pensa dos voos políticos da mulher. Na sexta-feira (18), o fato de o ex-presidente ter dito em entrevista que não gostaria de ver sua esposa em campanha foi comentado por dezenas de grupos. Muitos acreditam que ela obedecerá o marido e tentará, no máximo, uma vaga no Senado.
Batalhas épicas
Você já jogou Fortnite? Em seu modo Battle Royale (mata-mata, em bom português) uma centena de jogadores compartilha um mundo virtual se digladiando até sobrar apenas um vencedor. É você contra todos os inimigos, não importa o tamanho deles. Aparentemente, o CEO da Epic Games, que desenvolve o game, decidiu replicar sua jogabilidade na vida real. A Epic se encontra em uma batalha judicial épica contra as gigantes Apple e Google. Não contente, está pé de guerra também contra a Valve, dona da plataforma de venda de games Steam e decidiu processar a Samsung também. Alguém mais? Alguém mais?
O motivo para essas disputas é um só: a fatia que as donas de lojas de aplicativos comem do faturamento dos desenvolvedores. Para Tim Sweeney, CEO e fundador da Epic, a taxa de 30% cobrada por elas é abusiva e prejudicial ao mercado. Inicialmente a briga era com a Steam, popular loja virtual de games para computadores. Sweeney dizia que não havia sentido em replicar a taxa cobrada por consoles como xBox e Playstation, que têm um alto custo de desenvolvimento de hardware, enquanto a Valve só precisa manter um e-commerce. Em 2018, lançou sua própria loja, a Epic Game Store, que hoje já possui mais de 270 milhões de usuários ante 130 milhões da Steam (mas com faturamento bem menor, obviamente). Round 1: Epic wins.
O sucesso estrondoso de Fortnite levou sua expansão para o mercado mobile. Foi aí que o barraco desabou. A Apple é conhecida por impor regras rígidas para quem quer brincar no jardim murado do iOS. Ninguém pode vender uma espadinha virtual dentro do seu aplicativo para iPhone sem dar à Apple o seu quinhão. Em 2020, Sweeney fez que não entendeu e criou uma lojinha paralela dentro do Fortnite, que imediatamente foi bloqueado na App Store por infringir as normas da casa. A Epic abriu um processo contra a Apple, mas perdeu. Conseguiu, entretanto, que os juízes obrigassem a Apple a permitir que os desenvolvedores direcionassem os usuários para suas lojas online fora do ecossistema do iOS. Round 2: Apple Wins? Talvez por pontos.
No início de 2024 a União Européia obrigou a Apple a aceitar lojas de terceiros dentro da App Store. Adivinha quem aproveitou a brecha? Graças aos parlamentares europeus, a Epic Game Store pode ser acessada em iPhones na Europa e, a partir de 2025, no Reino Unido. Nos Estados Unidos ela continua fora do iOS.
A Epic pode ter perdido a batalha, mas ganhou no quesito bom humor com uma paródia do vídeo de lançamento do Macintosh intitulada Nineteen-eighty-fortnite.
No mesmo dia em que processou a Apple, a Epic abriu um processo contra a Google. A acusação era de que a criadora do sistema Android tinha práticas anticompetitivas. Dessa vez, a Epic levou a melhor. Pode parecer estranho ela perder a briga para um fabricante de um sistema totalmente fechado como a Apple e ganhar o processo contra uma empresa que licencia seu sistema para vários fabricantes e permite a instalação “de ladinho” de programas não autorizados. Mas, aparentemente, os advogados da Apple são melhores. E algumas maracutaias foram encontradas no relacionamento entre Google e seus desenvolvedores, alguns mais favorecidos que outros, fazendo os juizes do caso considerarem a Android Store um monopólio ilegal. Round 3: Epic wins!
Mas a guerra continua. A Apple foi obrigada a permitir a instalação da loja da Epic no iOS na Europa, mas não foi obrigada a tornar essa tarefa fácil para o usuário, que precisa percorrer um caminho com várias etapas e alertas intimidadores até conseguir jogar Fortnite no iPhone. A Google não pode proibir a loja da Epic na Android Store, mas seu acesso pode ser dificultado por fabricantes de celulares, como a Samsung, que foi processada pela Epic, em setembro deste ano. A coreana colocou uma função padrão em seus celulares que dificulta que seus usuários instalem aplicativos de terceiros, o chamado sideloading. Sweeney, da Epic, disse que suspeita que a mão da Google esteja por trás disso, mas que não tem provas, só convicções.
Toda essa disputa legal pesou financeiramente nos balanços da Epic, que dispensou 16% de seus funcionários em 2023. Mas a empresa já se recuperou e se prepara para mais uma guerra. Mas dessa vez o inimigo é apenas tecnológico, não legal.
Lembra do Metaverso?
2021 foi o ano em que a Realidade Virtual finalmente se popularizou, graças ao advento do Metaverso. A empresa Facebook mudou seu nome para Meta para consolidar sua posição nessa nova revolucão tecnológica. Milhões de óculos de Realidade Virtual (RV) foram vendidos para multidões ávidas por jogar, dançar e paquerar no Metaverso. Bancos, agências de publicidade e redes de fastfood criaram suas metafiliais, onde avatares podiam gastar seu dinheiro de verdade comprando um punhado de pixels. Um terreno na periferia do Metaverso podia custar até 30 mil reais.
Só que não.
Três anos – e uma queda de US$ 230 bilhões em valor de mercado – depois, Mark Zuckerberg não quer nem ouvir falar de Metaverso, demitiu alguns milhares de funcionários que trabalhavam com isso e está totalmente focado na Inteligência Artificial, a bola da vez. Mas quando um CEO obsessivo larga um brinquedo, outro aparece para pegá-lo.
Tim Sweeney se enquadra bem nessa categoria. A Epic começou em 1991 como uma startup de um homem só, com o nome de Potomac Computer Systems, em homenagem ao rio que passava ao lado da universidade onde seu jovem CEO estudava. Tim achava os processadores de texto disponíveis para o MS-DOS muito chatos, então decidiu criar o seu próprio. Colocou uma carinha de Smile no cursor, depois viu que conseguia criar com ele um labirinto, armas e inimigos só utilizando caracteres ASCII. Em algumas semanas, o processador virou um game shareware de aventura chamado ZZT (disponível na Epic Game Store). O game estourou graças a uma obsessão de seu criador: permitir que os usuários criassem seus próprios jogos. Rapidamente ele mudou o nome da empresa para Epic MegaGames tentando aparentar que era uma grande empresa e não uma startup com três funcionários trabalhando no porão de sua casa.
A mesma ideia persistiu no segundo sucesso de Sweeney: o game Unreal (1998), um jogo de tiro em primeira pessoa que deu origem ao Unreal Engine, uma plataforma de criação de games (e posteriormente, utilizado na produção de filmes e séries de TV, como The Mandalorian).
O terceiro grande sucesso da Epic, o jogo Fortnite, pode ser considerado um metaverso de sucesso. Um jogo multiusuário de final aberto, onde você pode lutar, correr de carro, brincar de Lego ou assistir a um show do Eminem, do Travis Scott e de outros artistas. A estratégia atual da Epic é unir seu metaverso a outros games multijogadores imersivos como Roblox e Minecraft, começando por uma espécie de “meta open banking”, uma interoperabilidade das moedas virtuais utilizadas nessas plataformas e culminando em um “multimetaverso” onde o jogador vai poder ter um único avatar para todos os jogos. Sempre seguindo a mesma ideia do ZZT: criar um ambiente para que outros criem seus jogos.
No campo das propriedades intelectuais, Sweeney já fechou acordo com a Lego e recebeu um aporte de US$ 1,5 bilhão da Disney, o que vai garantir um tsunami de personagens, skins e parafernália digital para vender para os jogadores.
O marco zero do metaverso da Epic será o lançamento do Unreal Engine 6, previsto para dezembro próximo, que promete unir as capacidades gráficas do Unreal Engine com a facilidade de uso do editor de Fortnite em uma única ferramenta.
Ou seja, sem capacete de RV, sem rede social, a Epic conseguiu montar a plataforma mais próxima de Jogador n.º 1 que já se viu. A única diferença para a ficção é que, no caso da Epic, o nerd criador e o CEO durão são o mesmo personagem. Além de obsessivo, Sweeney tem a vantagem de saber que uma boa história precisa de vilões. E que vilão melhor que as gigantescas e monopolistas empresas de tecnologia?
Nesta semana, o que fez mais sucesso foi o resultado da pesquisa que mostrou o perfil do leitor do Meio, que tem interesses bastante diversos, como confirma a lista dos mais clicados desta semana, com assuntos que vão da política à culinária, passando por propagandas emblemáticas.
1. Meio: Nossa pesquisa, respondida por mais de 2 mil leitores, mostra o perfil de quem acompanha o Meio.
2. X: A postagem irônica de Kamala Harris sobre Donald Trump congelado no palco enquanto uma série de canções é tocada.
3. g1: As propagandas icônicas criadas por Washigton Olivetto, publicitário que morreu no último fim de semana.
4. Panelinha: A receita da cuca de banana, criação gaúcha que fica entre um bolo e uma torta.
5. Lupa: A newsletter Ebulição, dos nossos parceiros, que agora passa a cobrir também as eleições em Belo Horizonte, Fortaleza e Porto Alegre