Prezadas leitoras, caros leitores —

A Convenção dos Democratas incendiou Chicago — e não à la 1968, como se temia. O partido, que estava acuado pela fraca performance de Joe Biden, revigorou-se com a entrada energética de Kamala Harris na corrida presidencial e a escolha acertada de um bonachão Tim Walz para ser seu vice na chapa.

Mas quais as reais chances de Kamala vencer e o que ela tem a oferecer aos eleitores? Com as peculiaridades do sistema eleitoral dos Estados Unidos, o caminho pode ter mais obstáculos do que as pesquisas parecem sugerir no momento. A seu favor, além do entusiasmo injetado na parcela que rejeita Donald Trump, Kamala tem o fato de ser o oposto de tudo que ele emula e que já cansou boa parte dos americanos. Pedro Doria e Flávia Tavares analisam esse cenário na Edição de Sábado.

Na parceria com a Lupa, Cristina Tardáguila fala de um personagem que, mesmo sem concorrer a cargo eletivo, aparece diariamente nos grupos de WhatsApp e Telegram monitorados: Silas Malafaia. Para terminar, investigamos o punk rock brega psicolésbico de Roberta de Razão, um convite à libertação de preconceitos rítmicos e de amarras estéticas e comportamentais.

Três personagens distintos que protagonizam histórias muito interessantes. Faz parte do jornalismo do Meio explorar diferentes perfis. E você pode ajudar a manter essa diversidade pujante, basta fazer uma assinatura premium.

— Os editores.

Kamala prega união, liberdade e patriotismo contra o ‘risco de Trump’

“Não vamos voltar para trás!” Com essas palavras, Kamala Harris, vice-presidente dos Estados Unidos, viveu seu maior momento político (até agora) na noite de quinta-feira ao aceitar a candidatura democrata à Casa Branca. Seu discurso, que encerrou a convenção do partido em Chicago, teve como pontos-chaves liberdade, patriotismo e união. Além, claro, dos ataques ao republicano Donald Trump. “Na luta permanente entre a democracia e a tirania, eu sei onde estou. E sei qual é o lugar dos Estados Unidos”, afirmou. Liberdade foi uma das expressões mais repetidas, com ênfase na liberdade de viver a salvo da violência das armas, de ter um país mais sustentável e de cada um amar quem quiser — uma referência às questões de gênero. “E a liberdade que garante todas as outras: a de votar”, disse. Usando a experiência em oratória de anos como promotora pública na Califórnia, ela destacou os problemas de Trump com a Justiça e o responsabilizou pela onda de leis antiaborto em estados republicanos. “Sob muitos aspectos, Trump não é uma pessoa séria, mas as consequências de reconduzi-lo à Casa Branca são.” Kamala também abordou um tema espinhoso para os democratas, a guerra na Faixa de Gaza, motivo de protestos na ala mais à esquerda do partido. Na linha do presidente Joe Biden, ela afirmou que “o derramamento de sangue precisa parar” e defendeu um cessar-fogo e a libertação dos reféns israelenses em poder do Hamas. Por outro lado, a direção da convenção negou o pedido para que um representante dos grupos pró-palestinos discursasse. (CNN)

Veja a íntegra do discurso de Kamala Harris na convenção democrata. (Youtube)

Lisa Lerer e Erica L. Green: “No discurso mais importante de sua carreira, Harris pediu aos americanos que a vejam como a encarnação dos valores tradicionais do país, não como a rejeição a eles. Foi uma mensagem para garantir aos eleitores que, por mais que sua origem e sua identidade representem a mudança, ela também representa uma linha reta para os ideais que fundaram a nação”. (New York Times)

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Controlado pelo chavismo, o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela validou ontem os resultados das eleições de 28 de julho que deram a reeleição a Nicolás Maduro, ratificando após uma auditoria o que já havia sido anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral. “Esta câmara declara, com base na perícia realizada, e com base no relatório elaborado por peritos nacionais e internacionais, de forma inquestionável, a validade do material eleitoral examinado e valida os resultados das eleições presidenciais”, afirmou o presidente da Corte, Caryslia Rodríguez. O tribunal, no entanto, não apresentou as atas de votação, conforme solicitado pela oposição, que contesta o resultado, e pela comunidade internacional. A juíza também acusou o candidato presidencial Edmundo González Urrutia de desacato por não responder a uma intimação como testemunha. Ele reagiu à decisão judicial afirmando que o governo “não usurpará a verdade” porque “a soberania reside de forma intransferível no povo”. Já o Conselho de Direitos Humanos da ONU alertou sobre a falta de imparcialidade e independência do Supremo e do CNE, ambos controlados pelo chavismo. (El País)

Nova pesquisa do Datafolha, divulgada ontem, mostra que, na disputa pela Prefeitura de São Paulo, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) cresceu sete pontos em duas semanas, chegando a 21% e empatando com o deputado Guilherme Boulos (PSOL), que passou de 22% para 23%, e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que caiu de 23% para 19%. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para cima ou para baixo. Por isso, os três estão tecnicamente empatados. Já o apresentador José Luiz Datena (PSDB) recuou de 14% para 10%. A deputada Tabata Amaral (PSB) oscilou de 7% para 8%, e a empresária Marina Helena (Novo) se manteve em 4%. Marçal também divide a liderança da rejeição aos candidatos na capital. Dizem não votar no influenciador 34%, ante 37% que não apoiariam de forma alguma Guilherme Boulos e outros 32% que rejeitam Datena. Já a rejeição de Nunes é de 25%. (Folha)

A campanha de Nunes foi pega de surpresa. Um interlocutor do prefeito afirmou que o resultado do Datafolha colocou toda a estratégia em estado de alerta, conta Gerson Camarotti. A avaliação é que Nunes terá de se associar, ainda no primeiro turno, a Jair Bolsonaro (PL). Até então, havia um cuidado para evitar essa ligação excessiva, visando não herdar a rejeição ao ex-presidente e, assim, dificultar a disputa no segundo turno. (g1)

Já no Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) mantém a liderança com folga. Ele apare com 56% das intenções de voto, acima dos 53% registrados no início de julho. O deputado federal Alexandre Ramagem (PL) aparece com 9% das intenções de voto, enquanto o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL) tem 7% — os dois trocaram de posição, mas dentro da margem de erro de três pontos percentuais. (Folha)

Política e fama se misturam de novo na política do Rio. Nesta semana, grupos públicos de WhatsApp e Telegram entraram em ebulição com a direita carioca promovendo uma triangulação de supostos apoios entre Silvio Santos, Jair Bolsonaro e o candidato do PL à prefeitura, Delegado Ramagem. De olho no voto religioso, fãs de Eduardo Paes viralizaram, por sua vez, vídeo com o pastor ultrapop Cláudio Duarte. Em São Paulo, Marta Suplicy apareceu, e cada campanha entendeu os resultados da última pesquisa da Atlas Intel à sua maneira. Assine a Ebulição, da Lupa.

Em depoimento à Polícia Federal, o perito criminal Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação, do Tribunal Superior Eleitoral, negou ter negociado o vazamento das mensagens publicadas pela Folha de S. Paulo sobre o uso do seu setor de forma não oficial pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes. Ele disse que nunca foi procurado e que não procurou ninguém para negociar o material em troca de dinheiro. E afirmou ter entregado seu celular desbloqueado durante as investigações de um processo que responde por violência doméstica em Caieiras (SP). O aparelho teria sido devolvido seis dias depois, sem lacre. Aberto por Moraes, o inquérito cita a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) como suspeita de participação no vazamento, o que configuraria obstrução da Justiça. A deputada nega envolvimento com o caso. (CNN Brasil)

Com base em parecer da Procuradoria-Geral da República, Moraes determinou a apreensão do celular de Tagliaferro após o depoimento. (g1)

Viver

Já se sabia que a população do Brasil iria atingir um pico e começar a decrescer. A novidade, revela o IBGE, é que isso deve acontecer antes do previsto. Segundo dados do instituto, o país chegará a 220 milhões de habitantes em 2041, mas esse número começará a decair já no ano seguinte, recuando em 2070 para 199,2 milhões – menos que os atuais 202 milhões. A estimativa anterior, feita em 2018, previa que o encolhimento da população só fosse começar em 2048. A taxa de fecundidade continuará a cair até 2040, e, portanto, a população envelhecerá, com a idade média subindo para 48,4 anos em 2070, sendo os idosos 37,8% da população no ano em questão. Já a mortalidade infantil cairá pela metade para 5,8 óbitos por mil nascimentos até 2070. (g1 e IBGE)

Meio em vídeo. Na segunda parte do programa Pedro+Cora, o escritor Fabricio Carpinejar fala da passagem do tempo, das dificuldades e vantagens de envelhecer. Saiba como lidar com as visitas, como ser um anfitrião, o silêncio e os afetos. (YouTube)

A vacina brasileira contra mpox, desenvolvida pelo CTVacinas da UFMG, está prestes a avançar para a fase de testes em humanos. Segundo a instituição, a equipe está finalizando um dossiê para envio à Anvisa. A doença foi declarada emergência de saúde pública internacional pela OMS, aumentando a relevância do imunizante brasileiro. Em pesquisa há dois anos, a vacina utiliza um vírus atenuado e não replicativo, o que, segundo a UFMG, a torna extremamente segura, inclusive para grupos vulneráveis como imunossuprimidos e gestantes. Em paralelo, o Brasil continua negociando a compra de vacinas já disponíveis no mercado, como a dinamarquesa Jynneos. (UOL)

Um diamante bruto de 2.492 quilates foi descoberto na mina Karowe, em Botsuana, pela mineradora canadense Lucara Diamond. A descoberta é a maior desde o diamante Cullinan, de 3.106 quilates, em 1905, na África do Sul. A mineradora, que já encontrou seis dos dez maiores diamantes do mundo, vai avaliar a pedra nas próximas semanas e entregá-la ao presidente de Botsuana, Mokgweetsi Masisi. Recentemente, o país africano, maior produtor mundial de diamantes em valor, propôs uma lei para que empresas de mineração vendam 24% de participação em minas a investidores locais. (CNN)

Cultura

A 27ª Bienal do Livro de São Paulo só acontece no mês que vem, entre os dias 6 e 15, no pavilhão de exposições do Anhembi. As filas, no entanto, já começaram. A distribuição de senhas online para sessões de autógrafos, implementada para evitar filas presenciais, tem provocado críticas. A primeira tentativa, no último dia 9, foi marcada por falhas técnicas no site, levando uma suspensão temporária. A distribuição foi retomada em um novo sistema no dia 13, mas novamente houve problemas de instabilidade. A organização então migrou a retirada de senhas para a plataforma Fever. Os leitores, porém, reclamam da limitação de senhas para diferentes dias, questão ainda não esclarecida pela organização. (Folha)

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Para reassumir o papel de Cibele na segunda temporada de Os Outros – que estreou no dia 15 na Globoplay –, Adriana Esteves decidiu fazer um exercício penoso: conversar com famílias de pessoas desaparecidas. Na trama, sua personagem tenta descobrir o que aconteceu com o filho Marcinho (Antonio Haddad) e desabafa sua dor com mães da vida real que integram a ONG FIA – SOS Crianças Desaparecidas. “Como mulher e cidadã, tenho empatia com as causas e as dores das pessoas. É assim que acontece o meu trabalho, mas esse é um assunto extremamente delicado... A série é muito importante e densa e, infelizmente, representa a história de várias mães, não só brasileiras como do mundo todo”, conta Adriana, que tem dois filhos. (UOL)

O possível mau uso da inteligência artificial fez um dos maiores estúdios de Hollywood passar vergonha. A Lionsgate retirou das plataformas o trailer, lançado na quarta-feira, de Megalopolis, novo filme de Francis Ford Coppola, devido a citações falsas atribuídas a críticos famosos comentando trabalhos anteriores do cineasta, especialmente O Poderoso Chefão e Apocalypse Now. O estúdio não explicou a causa do erro, mas, segundo especialistas, aparentemente, os responsáveis pelo trailer pediram ao ChatGPT que selecionasse trechos de críticas sobre esses filmes, mas todas as respostas eram falsas. Em nota, a Lionsgate pediu desculpas aos críticos e ao cineasta. (Variety)

Cotidiano Digital

A Cruise, subsidiária de veículos autônomos da General Motors, anunciou uma parceria com a Uber para incorporar seus robotáxis à plataforma de transporte a partir de 2025. A colaboração marca um passo importante para a reintrodução dos serviços autônomos da Cruise, suspensos após um de seus veículos atingir um pedestre em outubro passado. A parceria também reflete a estratégia da Uber de escalar operações com esse tipo de veículo, como já faz com a Waymo em Phoenix. (TechCrunch)

Em iniciativa inédita nos Estados Unidos, o Google e a Califórnia anunciaram um acordo de US$ 250 milhões para fortalecer redações de jornalismo no estado por cinco anos. A parceria, que envolve financiamento do Google, de contribuintes e outras fontes privadas, tem o objetivo de preservar o jornalismo local, mas também de evitar a aprovação de um projeto de lei estadual que obrigaria empresas de tecnologia a pagar por anúncios vinculados a conteúdos noticiosos. O sindicato de trabalhadores da mídia criticou a falta de transparência do acordo. (New York Times)

Ondas de areia no deserto do Saara, um garoto encantado com um tubarão em um aquário, uma noite estrelada na Nova Zelândia, uma criança se balançando em uma rede azul em Búzios. Essas são algumas das fotos feitas com iPhone que venceram o 17º Ippawards, concurso anual que recebeu nesta edição imagens de mais de 140 países. Única do Brasil entre as escolhidas, No Balanço da Infância, de Daniel de Cerqueira, ficou em primeiro lugar na categoria Crianças. (Guardian)

Está preocupado com o crescimento de Pablo Marçal nas pesquisas para prefeito de São Paulo? Tem medo de falar seu nome três vezes e ele aparecer na sua porta vendendo um curso de empreendedorismo messiânico? Então assista ao Cá entre Nós, onde Flávia Tavares traça um perfil do candidato coach e mostra como ele sai ganhando, mesmo se perder a eleição.

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