Prezadas leitoras, caros leitores —

Alguns pensadores vêm se dedicando, na última década, a decifrar o que leva cidadãos que vivem em democracias, ainda que imperfeitas, a optarem por eleger figuras autoritárias, antidemocráticas. Um dos que mais se aproximaram de uma formulação bem-acabada para esse fenômeno é Yascha Mounk, cientista político americano e professor da Universidade John Hopkins. Ele esteve no Brasil e concedeu uma entrevista a Pedro Doria, nosso diretor de Jornalismo.

Autor de “O Povo contra a Democracia”, Mounk reafirma que os três fatores que listou para interpretar esse momento político seguem válidos: a frustração econômica, o desencanto com a perda de status diante das mudanças socioculturais e a dinâmica polarizadora das redes sociais. Só que, agora, ele enxerga mais um vetor de descontentamento que leva maiorias a escolherem, democraticamente, populistas. Em seu livro mais recente, “A Armadilha Identitária”, a ser finalmente lançado no Brasil, Mounk aponta que o método que a esquerda vem adotando de lutar por injustiças históricas e reais tem segregado mais do que unido em torno dessas pautas. “Você vê isso muito claramente nos Estados Unidos, onde Donald Trump agora é favorito, em grande parte, porque eleitores não-brancos, latinos e afro-americanos se aproximaram dele, porque não gostam de ser estereotipados nessas formas de política de identidade.”

Na Edição de Sábado, oferecemos aos assinantes premium essa conversa fundamental em dois formatos: os principais trechos editados na nossa newsletter para quem quiser ler e a íntegra, em vídeo legendado, para quem prefere assistir.

Trazemos também uma crônica da inusitada união entre PSOL e Novo em várias votações ao longo dessa legislatura. E, para quem é fã da série “The Bear”, um testemunhal de Shima, nosso editor de Arte, sobre como é ser um chef.

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— Os editores.

‘Abin paralela’ espionou autoridades e beneficiou filhos de Bolsonaro, diz PF

O monitoramento ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) incluiu políticos, magistrados e jornalistas, segundo as investigações da Polícia Federal. A chamada “Abin paralela” também produzia dossiês e disseminava notícias falsas contra adversários. Na decisão que autorizou a Operação Última Milha da PF, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes diz que as investigações mostraram que a “utilização dos recursos da Abin” teve o objetivo de “obter vantagens políticas”. Entre as autoridades monitoradas estão o próprio Moraes, Arthur Lira (PP-AL), que preside a Câmara dos Deputados, e o senador Renan Calheiros (MDB-AL), assim como as jornalistas Mônica Bergamo e Vera Magalhães. A Abin utilizou um programa chamado FirstMile para monitorar a localização de alvos pré-determinados por meio dos aparelhos celulares. (Globo)

Veja a lista de pessoas espionadas. (CNN Brasil)

E a PF encontrou o áudio de uma reunião em que Bolsonaro, o general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional, ao qual a Abin é subordinada, e o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem discutem um plano para anular o inquérito das “rachadinhas” contra o senador Flávio Bolsonaro. Segundo aliados, o ex-presidente está furioso por Ramagem ter mantido no celular um áudio tão comprometedor. (Estadão e Globo)

A estrutura da “Abin paralela”, segundo a PF, mandava marcar o vereador Carlos Bolsonaro em postagens nas redes sociais com fake news que miravam adversários políticos. Também foi utilizada para produzir provas a favor de Jair Renan, que era alvo de um inquérito pela suspeita de tráfico de influência. (Globo)

Os detalhes do caso foram divulgados depois que Moraes levantou o sigilo da quarta fase da Operação Última Milha, realizada ontem. A PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo. (UOL)

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A chamada PEC da Anistia – que revoga a determinação de que negros recebam verba eleitoral proporcional ao número de candidatos, concede perdão a irregularidades e abre um programa de refinanciamento de débitos aos partidos políticos – foi aprovada ontem na Câmara dos Deputados com apoio de quase todos os partidos, com exceção de Novo e PSOL. O texto agora segue para o Senado, onde deve ser aprovado. Pelas novas regras, os partidos garantem 30% dos recursos nas candidaturas de pessoas negras — em 2022, pretos e pardos somaram 50,27% das candidaturas. O texto final acabou não tratando das mulheres e permanece a aplicação de recursos proporcionais ao número de candidatas, não inferior a 30%. A PEC coloca na Constituição que a imunidade tributária dos partidos se estende a todas as sanções de natureza tributária, exceto previdenciárias, abrangendo a prestação de contas eleitoral e anual. A PEC também abre um Programa de Recuperação Fiscal para regularização de débitos com isenção dos juros e multas acumulados. E autoriza o uso do Fundo Partidário para pagar penalidades. (Folha)

Antes da deliberação no plenário da Câmara, 38 organizações ligadas à transparência e garantia de direitos eleitorais divulgaram uma nota pública manifestando “extrema preocupação” com a PEC. (Estadão)

Um dia após a pesquisa Genial/Quaest revelar que a popularidade do presidente Lula subiu e sua rejeição caiu, o Ipec divulgou novo estudo de popularidade que vai na mesma direção. Os que aprovam o presidente passaram de 33% para 37%, os que o reprovam oscilaram de 32% para 31%, enquanto 31% consideram regular a gestão do petista e 2% não sabem ou não responderam. Na última pesquisa, em março, havia empate entre aprovação e rejeição. (g1)

Em uma rara e esperada coletiva de imprensa, a primeira sozinho desde novembro, o presidente americano, Joe Biden, reafirmou que ainda é a “pessoa mais qualificada” para derrotar Donald Trump e defendeu a sua capacidade de continuar na corrida à Casa Branca. “Vou continuar avançando”, disse Biden, acrescentando que “não é incomum” que os legisladores se preocupem com o topo da chapa. Mas em um deslize que chamou a atenção, errou ao se referir à vice-presidente Kamala Harris: “Eu não teria escolhido o vice-presidente Trump para ser vice-presidente”. O pigarro constante não ofuscou o domínio de Biden sobre a agenda internacional, falando de Ucrânia, China e Israel, além das conquistas internas, especialmente na economia. Mas, como esperado, várias das 19 perguntas foram sobre sua capacidade de liderar o país com o vigor físico e intelectual necessários. E ele respondeu de forma desafiadora e confiante. A importância desse momento para a campanha democrata foi marcada pela transmissão da coletiva ao vivo pelos principais canais americanos – uma raridade. (Politico)

Além de chamar Harris de Trump, pouco antes, em uma reunião da cúpula da Otan, em Washington, Biden chamou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, de Putin. (CNN Brasil)

A entrevista não aliviou a pressão pela saída de Biden da disputa. Chega a 19 o número de parlamentares democratas pedindo publicamente que ele abra mão da candidatura. (Washington Post)

E uma pesquisa ABC News-Washington Post-Ipsos mostra que 67% dos americanos consideram que Biden deveria renunciar à candidatura. Apesar disso, ele se mantém praticamente empatado com Trump: se as eleições fossem hoje, 46% optariam por Biden e 47% por Trump, resultado parecido com a pesquisa de abril (44%-46%). Se Kamala Harris substituísse Biden, ela teria 49% dos votos ante 46% para o republicano entre todos os adultos. A margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. (ABC News)

Assessores e conselheiros de longa data de Biden estão cada vez mais convencidos de que ele terá de se afastar da campanha e, nos últimos dias, têm tentado encontrar formas de persuadi-lo, segundo fontes. A Casa Branca negou e reiterou que “a equipe do presidente Biden o apoia fortemente”. (New York Times)

Já o Conselho Editorial do New York Times afirmou em artigo publicado ontem que Trump não está apto a liderar. Além disso, critica duramente o “outrora grande” Partido Republicano, que agora “serve aos interesses de um homem comprovadamente inadequado para o cargo de presidente”. (New York Times)

Meio em vídeo. Roger Waters disse ao jornalista britânico Piers Morgan que não há evidências de que mulheres foram estupradas no 7 de outubro em Israel. O que ele faz é reforçar uma narrativa nefasta que ganhou coro dos antissemitas de plantão de que o Hamas não cometeu as atrocidades que foram noticiadas. Por causa de gente como Waters, assisti a cenas que vão me aterrorizar para sempre. Confira a opinião de Mariliz Pereira Jorge em De Tédio a Gente Não Morre. (YouTube)

PM atira em jogador em GO

Marcelo Martinez

O Brasil ficou em último lugar em um ranking da OCDE que mediu a capacidade das pessoas distinguirem notícias falsas de verdadeiras. Nós, aqui deste Meio, fazemos o possível para levantar essa barra, distribuindo diariamente notícias bem apuradas. Dê uma força nesta batalha assinando o Meio Premium.

Viver

As famílias das vítimas das tragédias de Brumadinho, Mariana, Boate Kiss, Ninho do Urubu e do afundamento do solo em Maceió pela Braskem entraram com uma denúncia coletiva na Organização dos Estados Americanos. Uma audiência na sede da organização, em Washington, tratará do assunto hoje com o objetivo de apurar a responsabilidade do Estado brasileiro em violações dos direitos humanos nos cinco casos. Segundo a advogada que representará as vítimas, Tâmara Biolo Soares, as famílias vêm sofrendo ameaças, intimidações e retaliações. Somadas, são 544 vítimas fatais e milhares de pessoas afetadas. (Globo)

Aliás... a Braskem foi condenada a indenizar uma família afetada pela exploração de sal-gema em Maceió, que afundou o solo. (CNN Brasil)

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Às vésperas das Olimpíadas, o governo francês está tirando milhares de imigrantes sem-teto de Paris. Eles são colocados em ônibus e enviados a outras cidades, como Lyon e Marselha, com promessa de moradia, mas continuam sem casa ou ficam em abrigos temporários. O governo argumenta que se trata de uma ação voluntária e que pretende diminuir a escassez de habitação em Paris, mas há relatos de cerco da polícia, que obriga os sem-teto a entrar nos ônibus que os tiram da capital. (New York Times)

Pela primeira vez, uma equipe de cientistas reconstruiu o genoma em 3D de um mamute lanoso de 52 mil anos, que teve suas amostras conservadas pela natureza. Um estudo publicado na revista científica Cell revela uma nova maneira de observar o DNA de animais antigos. Para os autores, o mamute estava bem conservado graças aos invernos secos e frios da Sibéria, onde o animal foi encontrado. As células da pele atrás da orelha usadas na análise estavam intactas e seus cromossomos ainda estavam organizados. (Washington Post)

Cultura

A atriz Shelley Duvall morreu ontem, aos 75 anos, por complicações da diabetes, no Texas. Ela começou a carreira no longa Voar é com os Pássaros, do diretor Robert Altman, com quem trabalhou por diversas vezes, chegando a ganhar o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 1977 por sua atuação em Três Mulheres. Ficou mais conhecida pelo grande público no clássico de Stanley Kubrick O Iluminado, atuando com Jack Nicholson, em 1980, e como Olívia Palito no live action de Popeye. Com Woody Allen, fez parte do elenco de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa, vencedor do Oscar de melhor filme. Duvall também foi escritora, produtora e diretora de diversas séries infantis, incluindo Contos de Fada, exibido no Brasil pela TV Cultura. Veja sua carreira em fotos. (Deadline)

Após anunciar que se afastaria dos palcos em 2025, Gilberto Gil explicou que a decisão não deveria ser entendida como uma aposentadoria. “É uma diminuição do ritmo de trabalho muito exigente, com excursões muito intensivas e muito prolongadas, com muitas distâncias a percorrer e muitos voos a fazer”, esclareceu nos bastidores do programa Sinais Vitais, que deve ir ao ar amanhã na CNN Brasil. Ele avalia que seus 83 anos de vida exigem um ritmo mais moderado de apresentações. “Mas eu continuo querendo eventualmente cantar, ainda encontrar o público em situações mais tranquilas e tudo mais.” (Folha)

Divertida Mente 2 é o filme mais rápido da história a ultrapassar a marca de US$ 1 bilhão nas bilheterias globais. Meu Malvado Favorito 4 também se tornou um rolo compressor de bilheterias desde que estreou, na semana passada. O sucesso dos dois longas pode indicar que 2024 será o ano da animação nos cinemas. (Variety)

Cotidiano Digital

Com o objetivo de acompanhar seu progresso no sentido de criar uma inteligência artificial capaz de superar os humanos, a OpenAI criou um conjunto de cinco níveis de classificação que foi apresentado a seus funcionários em uma reunião geral nesta semana. Os níveis vão do atual estágio da tecnologia, que pode interagir em linguagem conversacional com as pessoas, ao nível 5, no qual a IA poderá fazer o trabalho de uma organização. Segundo os executivos da companhia, a OpenAI estaria prestes a chegar ao nível 2, no qual, os sistemas poderiam solucionar problemas tão bem quanto um humano com doutorado que não tenha acesso a nenhuma ferramenta. O terceiro estaria mais próximo de alcançar a IA geral (AGI), quando a máquina supera o humano, enquanto o quarto poderia gerar inovações. (Bloomberg Línea)

A Tesla não deve revelar seu robô-táxi totalmente autônomo até outubro para que a equipe de engenharia possa construir e testar mais protótipos. O lançamento estava previsto originalmente para 8 de agosto e tinha sido anunciado pelo próprio CEO, Elon Musk, mas fontes ouvidas pela Bloomberg afirmam que os funcionários foram informados do atraso em um comunicado interno. As previsões de Musk sobre veículos autônomos não se concretizaram. Os sistemas Autopilot e Full Self-Driving ainda exigem que os motoristas prestem atenção à estrada e estejam prontos para assumir o controle quando necessário. (The Verge)

A União Europeia finalizou o processo de investigação antitruste contra a Apple, aberto em junho de 2020, que apurava supostas práticas contrárias à livre concorrência com a ferramenta Apple Pay. Após a intimação da Comissão de Concorrência do bloco econômico, a empresa se comprometeu a permitir aplicativos e carteiras virtuais de rivais na ferramenta e tem até o próximo dia 25 para corrigir o sistema de seu modo de pagamento. O compromisso valerá por dez anos e abarcará todos os países do bloco europeu, além da Islândia, Liechtenstein e Noruega. (TechCrunch)

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