Prezadas leitoras, caros leitores —

Na Edição de Sábado, Guilherme Werneck, editor-executivo do Meio, discute o impacto da decisão do Supremo Tribunal Federal que descriminaliza o porte de maconha, definindo critérios objetivos para diferenciar usuário e traficante. Em um país desigual, os critérios serão objetivos para todos? É possível pensar em estratégias duradouras para tirar os usuários do domínio do tráfico?

Ainda na onda togada, vamos dar uma espiada no “Gilmarpalooza”, festival do mundo jurídico promovido pelo ministro Gilmar Mendes em Portugal. E a partir da Ocupação Artacho Jurado, em cartaz no Itaú Cultural, em São Paulo, ouvimos moradores e arquitetos para contar a história desse construtor autodidata que fez alguns dos edifícios mais icônicos da cidade.

Análise, curadoria e boas histórias são três elementos fundamentais do jornalismo feito pelo Meio. Quer curtir as matérias caprichadas da Edição de Sábado e os artigos do Meio Político, toda quarta? Não deixe de assinar.

Os editores.

O debate que Donald Trump queria

Quando decidiu antecipar o primeiro debate dos Estados Unidos no qual um presidente e um ex-presidente se enfrentam, a campanha de Joe Biden tinha uma estratégia: fazer o democrata passar à frente de Donald Trump nas pesquisas antes de ser oficialmente nomeado. Após o confronto na CNN, ontem à noite, o que o partido se pergunta é se seria o caso de substituir Biden — e por quem — antes da convenção democrata em agosto. Se Trump foi afiado, porém profundamente desonesto, um Biden vencido pela rouquidão teve performance desajeitada, hesitante e, em alguns momentos, desconexa. Mais do que confundir palavras, como trocar trilionários por bilionários, Biden não completou frases e raciocínios enquanto tentava se lembrar de estatísticas e informações sobre seus próprios feitos. A dificuldade para concluir suas ideias foi tamanha que ele acabou falando quase cinco minutos a menos do que o republicano, embora o tempo fosse igual para os dois. Trump usou a palavra durante 41 minutos e 2 segundos; Biden falou durante 36 minutos e 12 segundos. “Eu realmente não sei o que ele disse no final daquela frase. Eu não acho que ele saiba o que disse também”, disse Trump após o adversário responder uma pergunta sobre imigração. (New York Times)

Nenhum presidente em exercício desistiu da disputa a essa altura de uma campanha, e há pouco consenso entre os democratas sobre como fazer uma eventual troca. Em sua primeira declaração após o debate, logo após a meia-noite em Atlanta, quando foi parar com sua equipe em uma lanchonete especializada em waffles, Biden disse aos repórteres que o seguiram: “Acho que nos saímos bem”. Questionado sobre as preocupações com sua exibição e os apelos para que considerasse abandonar a corrida, respondeu: “Não. É difícil debater com um mentiroso”. Ele indicou que sua voz rouca era consequência de uma “dor de garganta”. Mais cedo, seus assessores disseram que ele estava lutando contra um resfriado. (Politico)

Não são recentes os questionamentos sobre a saúde e a capacidade cognitiva de Biden. No ano passado, um importante estrategista democrata, David Axelrod, sugeriu que ele deveria desistir da reeleição. Há poucas semanas, viralizou nas redes um vídeo em que o presidente parecia congelado durante um concerto na Casa Branca. Ao mesmo tempo, em seu discurso no aniversário de 80 anos do Dia D, na Normandia, em 6 de junho, sua fala lembrando a vitória dos aliados sobre o nazismo foi considerada eloquente e tocante. Havia esperança de que, frente a frente com Trump — que também tem tido sua saúde e condições cognitivas questionadas —, ele poderia ter bom desempenho. Passou longe disso. (Semafor e Forbes)

O formato do debate, em que os moderadores faziam poucas intervenções, permitiu que Trump mentisse ao vivo, sem checagem de fatos na transmissão — o que desagradou analistas e público. A CNN promoveu uma checagem das falas em suas mídias digitais e detectou 30 mentiras de Trump, contra 9 de Biden. (Axios, NYTimes e CNN)

Uma pesquisa rápida feita pela CNN logo após o debate com 565 pessoas que assistiram à transmissão, previamente cadastradas pela emissora, trouxe os seguintes dados: oito em cada dez eleitores (81%) disseram que ele não teve qualquer efeito na sua escolha. Apenas 5% responderam que mudaram de candidato. (CNN)

Kamala Harris, vice-presidente da República: “Algumas pessoas podem discutir sobre estilo, mas esta eleição tem que ser sobre substância, e o contraste é claro. Trump mentiu do início ao fim, como ele queria. Joe Biden é extraordinariamente forte. Sim, teve um começo lento, isso é óbvio para todos. Mas foi um final forte. Não temos que falar sobre 90 minutos de debate, mas sobre os três anos e meio de performance”. (CNN)

Thomas L. Friedman: “Não me lembro de um momento mais doloroso em campanhas presidenciais durante a minha vida — precisamente por causa do que revelou: Joe Biden, um bom homem e um bom presidente, não devia manter a candidatura à reeleição”. (NYTimes)

Meio em vídeo. Pedro Doria virou a noite preparando um vídeo especial em que reage aos melhores (e piores) momentos do debate. Assista aqui. Está imperdível. (YouTube)

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O rombo de cerca de R$ 25 bilhões na Americanas levou a Polícia Federal a deflagrar a Operação Disclosure, na manhã de ontem, para cumprir dois mandados de prisão preventiva e 15 de busca e apreensão contra 14 ex-diretores das Americanas. O ex-CEO Miguel Gutierrez, que tem cidadania espanhola, vive fora do Brasil, já Anna Christina Ramos Saicali, uma de suas diretoras, teria deixado o país no último dia 15. Os dois, que seriam presos, são considerados foragidos e seus nomes foram incluídos na lista da InterpolBaseada nas delações premiadas dos ex-diretores Marcelo Nunes e Flávia Carneiro, a PF pretende esclarecer a participação dos executivos nas fraudes contábeis, que aconteceriam em duas fases, segundo o Ministério Público. A Justiça autorizou o sequestro de R$ 500 milhões em bens e valores. A operação não envolve o trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, sócios de referência da empresa. (Globo)

Os crimes investigados são manipulação de mercado, uso de informação privilegiada, associação criminosa e lavagem de dinheiro. O escândalo explodiu em 11 de janeiro de 2023, quando a companhia anunciou “inconsistências em lançamentos contábeis” nos balanços corporativos. O recém-chegado presidente da varejista Sergio Rial deixou então o comando da Americanas, que entrou em crise, levando a um pedido de recuperação judicial e a R$ 43 bilhões em dívidas com 16,3 mil credores. (g1)

Saiu a primeira pesquisa de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo feita pela Quaest, com todos os pré-candidatos. E três deles aparecem empatados tecnicamente, dentro da margem de erro: Ricardo Nunes (PMDB), com 22%, Guilherme Boulos (PSOL), 21%, e José Luiz Datena (PSDB), 17%. Pablo Marçal (PRTB) está em quarto com 10%, seguido por Tábata Amaral (PSB), que tem 6%. Indecisos são 7%, e quem respondeu branco, nulo ou que não vai votar, 8%. Embora tenha surgido com força no cenário, Datena é o candidato mais rejeitado, além de mais conhecido entre os pré-candidatos. “Isso pode desincentivá-lo, pois tende a ter uma chegada mais difícil. Nunes e Boulos aparecem com potencial de voto (conhece e votaria) e rejeição (conhece e não votaria) muito parecidos, com uma pequena vantagem para o atual prefeito”, analisou no X o diretor da Quaest, Felipe Nunes. (Meio)

Nacionalismo e Democracia na Europa e no Brasil é o novo livro organizado e publicado pela Plataforma Democrática (Fundação FHC e Centro Edelstein de Pesquisas Sociais). Com seis artigos inéditos, entre eles Nacionalismo de Direita no Brasil, escrito pela cientista política Maria Celina D’Araujo e antecipado no Meio Político para assinantes premium, a publicação já pode ser baixada de graça.

Los patriotas bolivianos

Marcelo Martinez

O STF deu um passo na descriminalização da maconha e o Congresso brasileiro se prepara para dar dois para trás, acelerando o trâmite da chamada PEC das Drogas e tirando do baú a ideia de um plebiscito sobre maioridade penal. Esse é o tema do episódio de hoje do Foro de Teresina, o podcast da revista piauí, que também vai falar de taxação de grandes fortunas e do impacto das queimadas no centro-oeste. Acompanhe os comentários perspicazes e pertinentes de Fernando de Barros e Silva, Ana Clara Costa, Celso Rocha de Barros e Bernardo Esteves sobre esses e outros assuntos. O Foro de Teresina vai ao ar às 11h, sempre às sextas-feiras em todos os tocadores de podcast.

Viver

Após o Supremo Tribunal Federal fixar 40 gramas de maconha ou seis plantas fêmeas para diferenciar usuário de traficante, o Conselho Nacional de Justiça vai fazer um mutirão em presídios de todo o país para reavaliar os casos de pessoas encarceradas pelo porte da droga. Segundo o CNJ, há 6.343 processos suspensos de forma temporária, aguardando definição judicial. Os mutirões foram determinados pelo STF. (Folha)

Juristas que observam como o Brasil e outros países tratam a questão das drogas avaliam que a decisão do STF foi um avanço tímido, recuado e quase contraditório. O advogado Cristiano Avila Maronna, diretor da Plataforma Justa, diz que, embora o Supremo tenha acertado no diagnóstico de que a legislação tem de mudar, a Corte não foi capaz de apresentar uma solução eficiente. (Meio)

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Cultura

Os Titãs lançaram ontem o projeto audiovisual Microfonado (Spotify), após o sucesso da turnê Encontro, que celebrou os 40 anos da banda. Produzido por Rick Bonadio, o álbum com nove faixas traz novas versões para músicas consagradas, além de uma levada mais acústica. O projeto também conta com participações especiais, como as de Ney Matogrosso em Apocalipse Só, Lenine, com o rock baião Raul, e Preta Gil em Como É Bom Ser Simples. A nova turnê deve começar no próximo dia 19, no Vivo Rio. (Estadão)

E a Variety divulgou uma lista com os melhores álbuns da primeira metade de 2024. Dominada por mulheres, a lista traz trabalhos memoráveis como Cowboy Carter, no qual Beyoncé dedica seu talento à música country. Também foi escolhido What a Devastating Turn of Events, álbum de estreia da britânica Rachel Chinouriri, em que a cantora de 25 anos expõe de meditações sombrias sobre automutilação e aborto a reflexões sobre a morte e distúrbios alimentares. O terceiro lançamento de Billie Eilish, Hit Me Hard and Soft, também foi lembrado. Veja a lista completa. (Variety)

Cotidiano Digital

A OpenAI e a Time anunciaram um acordo que permitirá ao ChatGPT acessar novos artigos da revista, além de seu acervo de mais de um século. O chatbot poderá exibir o conteúdo dos textos em respostas aos usuários e treinar seu modelo de inteligência artificial. Ao utilizar o material do veículo, o ChatGPT incluirá um link para a fonte original, enquanto a revista terá acesso à tecnologia de IA para desenvolver novos produtos para os leitores. A parceria é mais uma da OpenAI com veículos de imprensa. Em maio, a companhia firmou uma colaboração com a News Corp., permitindo o acesso a artigos de jornais como The Wall Street Journal e The New York Post. (CNBC)

Parceira da Microsoft desde 2019, a OpenAI passou a ter receita com a venda de acesso a modelos de IA, como o GPT-4, maior do que a Microsoft obtém com produto equivalente. Até meados do ano passado, a startup não chegava aos pés, em poder de venda, da empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen, maior vendedora mundial de software empresarial e em nuvem. As coisas mudaram e a OpenAI atingiu em março US$ 1 bilhão em receita anualizada. Já o Azure OpenAI Service, oferecido pela Microsoft, só atingiu a mesma marca três meses depois. (The Information)

Já a Meta está lançando um novo recurso no Instagram que permite a criadores de conteúdo gerarem versões de si mesmos em chatbots de IA. A novidade foi divulgada ontem pelo CEO Mark Zuckerberg e está disponível apenas nos EUA como um teste inicial. Segundo ele, os chatbots “aparecerão principalmente em mensagens e serão claramente rotulados como IA”. Também será incluído “IA” antes do nome da pessoa. (The Verge)

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