Israel à beira de perder sua democracia

A despeito de imensos protestos em todo o país, o Knesset, o Parlamento de Israel, aprovou ontem o principal ponto da polêmica reforma do Judiciário, tirando da Suprema Corte o poder de anular decisões do governo que considere antidemocráticas — o país não possui uma Constituição escrita e a Corte toma suas decisões baseada em jurisprudência. O projeto foi aprovado por 64 votos a zero, após a oposição deixar o plenário em massa. Segundo o governo, a mudança é necessária para “corrigir o desequilíbrio” entre poderes, diante de uma série de anulações de leis pela Justiça nos últimos anos, mas não interfere na independência da Suprema Corte. Para os opositores, porém, a reforma compromete a própria democracia israelense ao tirar a possibilidade de serem revisadas leis que atentem contra o Estado de direito, especialmente diante da crescente presença de partidos ultra-religiosos no governo. No momento em que a Suprema Corte não tem mais voz sobre se o que o Knesset está dentro ou fora da democracia, deixam de haver dois Poderes independentes e equilibrados. (BBC)

Enquanto manifestantes acorreram às ruas da maioria das cidades israelenses, a presidente da Suprema Corte, Esther Hayut, e diversos outros ministros do tribunal encurtaram uma visita oficial à Alemanha, tratada como um golpe pela imprensa liberal israelense. O governo alemão lamentou que as negociações no Parlamento israelense tivessem fracassado e manifestou “grande preocupação” com a tensões no país. Mais tímida, como de praxe, foi a reação de Washington. O Departamento de Estado dos EUA disse apenas que vai debater a legislação com Israel nas próximas semanas. (Haaretz)

Yuval Noah Harari: “Como outras forças autoritárias, o governo israelense não compreende o que significa uma democracia. Acredita que é uma ditadura da maioria e que aqueles que vencem eleições democráticas recebem poder ilimitado. Mas a boa notícia é que nos últimos meses um poderoso movimento emergiu para salvar a democracia israelense. Um movimento que rejeita a ideologia do supremacismo judaico e se conecta às antigas tradições de tolerância judaica levou centenas de milhares de israelenses às ruas em protestos de resistência se utilizando de toda tática não-violenta conhecida. Desde a sexta-feira, mais de dez mil oficiais do Exército afirmaram que não servirão em uma ditadura. É possível que a Força Aérea já não tenha condições de atuar plenamente.” (Financial Times)

O desmanche da democracia israelense foi um dos temas principais da aula inaugural do curso de Pedro Doria, que ocorreu ontem e já pode ser assistida pelos assinantes premium.

Meio em vídeo. Entre protestos e repressão, Netanyahu aprovou sua remodelação do sistema judicial do país. Os críticos, que são muitos, apontam que a medida faz parte de uma escalada autoritária. No #MesaDoMeio de hoje, Pedro Doria, Mariliz Pereira Jorge e Andrea Freitas analisam as consequências para o futuro israelense e, também, nas relações do país com o mundo. Ao vivo, às 19h. Em seguida, os três continuam a conversa na área restrita a assinantes premium. Assine. (YouTube)

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É cada vez mais difícil a chance de o Partido Popular formar um governo na Espanha sem o apoio dos socialistas, atualmente no poder. O partido basco PNV avisou que não pretende nem mesmo abrir negociações com Alberto Núñez Feijóo, líder do PP, que foi o mais votado na eleição de domingo, mas não conseguiu maioria para governar. Feijóo pretendia formar uma coalizão com o Vox, de extrema direita, mas este perdeu 19 cadeiras no Parlamento. Ontem, o líder PP fez um mea culpa para o resultado abaixo do esperado e disse à cúpula da legenda que está em negociação com o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), do presidente do governo (primeiro-ministro) Pedro Sánchez, segundo colocado no pleito, em busca de temas comuns que permitam formar um governo. Sánchez, porém, não tem pressa. Ao evitar a derrota esmagadora que as pesquisas apontavam, ganhou cacife para travar a formação de uma maioria e, talvez, levar o país a novas eleições. (El País)

Meio em vídeo. A eleição domingo na Espanha foi incrivelmente importante para o Brasil. A derrota da extrema direita espanhola enfraquece seu movimento internacional e, por isso, enfraquece também o bolsonarismo. Quer entender como esse processo funciona? Confira a avaliação de Pedro Doria no Ponto de Partida. (YouTube)

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), quer deixar a discussão sobre a taxação de fundos exclusivos para depois da promulgação da reforma tributária, que deve ocorrer até o fim do ano. Só que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, planeja enviar a proposta para que esses fundos sejam tributados a cada seis meses em vez de apenas no resgate junto com o Projeto de Lei Orçamentária Anual, que precisa ser enviado à Comissão Mista Orçamentária até 31 de agosto. Os dois ainda não trataram do assunto, mas Lira diz que é “politicamente um risco grande abrir vários flancos de discussão”. O presidente da Câmara defende seguir antes com a reforma administrativa — “não mexe em direito adquirido, não terceiriza o Estado, não trata de privatizações, e vai dar regra para diminuição de despesas.” (Globo)

E por falar... Levantamento feito pelo Globo mostra que as dez maiores remunerações mensais do Judiciário neste ano, somadas, chegam a quase R$ 6 milhões. Em ao menos um mês de 2023, cada um deles recebeu no mínimo R$ 500 mil, mais de dez vezes o teto constitucional de R$ 41.650,92. O maior salário — pouco mais de R$ 887 mil — foi pago em maio a um magistrado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Nos dez casos, tais pagamentos ocorreram uma só vez no semestre, juntando salário regular com férias e 13°, além de pagamentos eventuais, como diárias e auxílio-moradia. (Globo)

Quem mandou matar Marielle e por quê? Cinco anos após o assassinato da vereadora (PSOL-RJ) e de seu motorista Anderson Gomes, respostas começam lentamente a aparecer. O crime teria sido contratado pelo então policial militar Edimilson Oliveira da Silva, conhecido como “Macalé”, assassinado em novembro de 2021. A afirmação faz parte da delação do ex-policial militar Élcio de Queiroz, que pela primeira vez confessou sua participação como motorista do carro de onde o também ex-policial militar Ronnie Lessa atirou. O depoimento de Queiroz abriu caminho para mais um passo da Polícia Federal, que prendeu ontem o ex-bombeiro Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel. Ele é acusado de ter dado sumiço nas armas do crime, além de ter acompanhado os passos da deputada meses antes do assassinato, juntamente com Lessa e Macalé — em agosto e setembro de 2017 — e participado de uma tentativa frustrada de executá-la, em dezembro daquele ano. Queiroz está preso desde 2019, assim como Lessa. Ele afirmou que a arma utilizada no crime, uma metralhadora MP5, foi desviada do Bope. Uma parte da delação segue em sigilo e, segundo o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino, vai levar a novos desdobramentos. (Estadão)

A PF e o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmam ter encontrado provas “precisas e incontestáveis” que “correspondem com exatidão” à delação. Segundo a PF, Queiroz foi convencido a fazer a delação por desconfiar de Lessa, que negava ter feito pesquisas prévias sobre Marielle, o que foi contestado nas investigações, já que, dois dias antes do crime, ele pesquisou o CPF da vereadora e de sua filha em um site. (g1)

Viver

Uma grande estreia. A Seleção Brasileira de futebol feminino abriu sua participação na Copa do Mundo 2023 com quatro gols — três de Ary Borges e um golaço de Bia Zaneratto, garantindo uma vitória contra o Panamá de 4 a 0. O Brasil já assumiu a liderança do Grupo F do torneio, onde também estão França e Jamaica. Maior da História, a rainha Marta entrou no segundo tempo e se tornou a terceira jogadora com mais participações no certame — com essa, são seis. A Canarinho volta a campo no sábado, às 7h (Brasília), quando enfrenta as francesas na esperança de vingar a eliminação na Copa de 2019. (Lance!)

Esvaziado durante o governo Bolsonaro, o programa federal para educação de jovens e adultos (EJA) voltará a ter uma política nacional, afirmou ao Globo Zara Figueiredo, responsável pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação. Para isso, a pasta contará com um orçamento de R$ 60 milhões. Para fins comparativos, em 2021, a gestão anterior gastou apenas R$ 6 milhões com o EJA. O projeto prevê pagamento de bolsas de estudos para os alunos e interlocução com ensino profissionalizante. Atualmente, o Brasil tem 9,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler e escrever. Foi somente em 2022 que o país passou a marca de metade da população com ao menos 25 anos que concluíram o Ensino Médio. (Globo)

Panelinha no Meio. Cozinhar no início da semana envolve em grande parte olhar o que sobrou do almoço de domingo. Uma ótima opção são os rolinhos grelhados de acelga, arroz e pernil. O preparo é muito rápido e serve tanto com prato principal quanto como tira-gosto com um chutney.

Cultura

A música brasileira perdeu ontem duas divas associadas, indireta e diretamente, à Bossa Nova. Doris Monteiro (Spotify), que tinha 88 anos, lançou-se no fim dos anos 1940, ainda na geração da “cantoras do rádio”, embora sua interpretação contida e sua voz macia destoassem do estilo de peito aberto das colegas. Para muitos, foi uma precursora da Bossa e viveu o auge da carreira nos anos 1960 e 70. Já Leny Andrade (Spotify), a “cantora dos músicos”, era expoente da linha mais jazzística da Bossa Nova, embora transitasse com maestria por outros gêneros. Lançou 34 álbuns entre 1961 e 2016 e foi sucesso no Brasil e no exterior. Ela tinha 80 anos e estava internada no Rio com pneumonia. (g1)

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Em um movimento mais que polêmico, Roger Waters lançou nas plataformas a regravação de Money (Spotify e YouTube), primeiro single de seu projeto The Dark Side of the Moon Redux, que será lançado no dia 6 de outubro. O cantor e baixista está revendo o disco clássico (Spotify) do Pink Floyd, lançado há 50 anos, mas diz não se tratar de uma substituição, sim de uma releitura. Por exemplo, ele praticamente declama sua letra, antes cantada por David Gilmour. Os solos guitarra deste e de sax de Dick Parry foram substituídos por uma fala de Waters. O resultado é elaborado e bem-produzido, mas soa um tanto perturbador para os fãs tradicionais. (Rolling Stone)

Cotidiano Digital

O ChatGPT deve ganhar sua versão para celulares Android nos próximos dias. Segundo a OpenAI, empresa responsável pelo chatbot de inteligência artificial (IA) generativa, o aplicativo poderá ser baixado de forma gratuita nos dispositivos por meio da Google Play Store. O serviço ganhou uma versão para o sistema iOS em maio. A chegada do ChatGPT ao Android ainda não tem data exata, mas os usuários já podem fazer o pré-registro ao buscar o aplicativo na loja do Google. (TechTudo)

Enquanto o Twitter anuncia mudanças e o Threads enfrenta baixo engajamento, o TikTok quer ir além de ser um aplicativo de “dancinhas” e fornecer uma alternativa para usuários que desejam postar conteúdo baseado em texto frente às duas plataformas. A rede social chinesa anunciou ontem que também terá publicações em texto. A nova opção de compartilhamento de conteúdo vai possibilitar que os usuários publiquem poemas, letras e outros conteúdos escritos. Para usar a atualização, é preciso escolher a opção “texto” entre as três alternativas de publicação. O recurso também vai contar com diversas opções de personalização, como cores de fundo, figurinhas, sons, localização, tags e hashtags. (Época Negócios)

Da noite para o dia, o Twitter abandonou o passarinho azul se tornou X. O objetivo é transformar o antigo Twitter em um “superaplicativo”, com inúmeras funcionalidades como pagamentos online e compras, além da rede social. Especialistas, no entanto, consideram o movimento sem grandes mudanças na plataforma como “impulsivo” e “uma aposta desnecessária em um futuro nebuloso”. Além de problemas de pronúncia por usuários do mundo todo e dificuldade para encontrar a X em buscadores na internet, a decisão de jogar fora a marca Twitter é errada, dizem os analistas, pois desconsidera mais de 17 anos de história da empresa, fundada em 2006 como um “microblog”. (Estadão e Washington Post)

E os fãs do agora extinto passarinho azul usaram as redes sociais para criar memes com o novo símbolo. (g1)

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