Edição de Sábado: Yamaki siomou maprario

A entrevista estava marcada para a manhã de quarta-feira. Foi atravessada por uma reunião com a Defensoria Pública da União (DPU). Em meio a uma das piores crises humanitárias da história do Brasil, Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e da Urihi Associação Yanomami, está sob forte demanda. E tem muito a dizer. A conversa foi reagendada para o fim da tarde, mas também não aconteceu. Sua voz começou a falhar aos cinco minutos de ligação. O sinal caiu quando Hekurari estava a caminho do novo hospital de campanha instalado na comunidade de Surucucu, em Roraima, no centro da área indígena. Já tarde da noite, esgotado e entre silêncios angustiantes, Hekurari desabou ao contar como seu povo tem vivido e sucumbido aos últimos tempos.

"Tenho várias marcas. Lembranças. Eu não consigo dormir direito. Já parei de contar quantas crianças entreguei para as mães. Entreguei mais de cem corpos. Eu entregava chorando, falava que não conseguia, calmava o pessoal e dizia que infelizmente a equipe de saúde não conseguiram salvar. Mês de setembro, eu tava na comunidade, vieram três crianças graves e, no mesmo dia, duas morrem. Na mesma semana, morre mais um e depois mais um, e mais um no meu braço. E eu entregando os corpos. O pessoal da saúde no hospital: ‘olha, infelizmente, vai lá entregar de helicóptero’. Eu dizer para as mães: ‘olha, a gente trabalhamos, fizemos de tudo, mas infelizmente não tinha medicamento’.

Dia 18, agora mesmo, teve uma criança de 17 dias. A mãe saiu cinco horas da manhã para andar três horas, três horas e meia, e pedir socorro. Quando a gente encontra a mãe vindo chorando, pergunto o que aconteceu, e ela: ‘acho que minha criança morreu’. Toda a equipe de saúde lutando para voltar a respiração. Uma bebezinha com desnutrição grave e pneumonia, teve cinco paradas cardíacas. Perguntei: ‘como aconteceu isso?’. Ela disse: ‘piorou muito à noite, por isso saí no escuro ainda’. Ela saiu de madrugada no meio da chuva, com o bebê, e chegou 7h30 no atendimento. A gente pegamos a roupa, e troca a roupa molhada, e coloca oxigênio, e o oxigênio no corpo da bebê subindo e baixando, e a comunidade toda tensa porque o desespero não é só da mãe.

Quando morre uma criança, os ianomâmis fica de luto. A comunidade toda. Todos os dias, dia seguido do outro. Seis hora da manhã, meio dia, seis hora da tarde, dez hora da noite ou meia noite. Qualquer hora a gente ouve choro. Dói ouvir o choro das mulheres, dos homens. Da comunidade. E cada uma que vai, é mais uma que o antigo presidente matou.

Todas as reuniões que eu faz para a comunidade, explico: ‘eu, como representante de vocês, estou lutando, estou fazendo. Vários documentos eu encaminhei. O governo não quer ajudar nois. Tá mandando muitos garimpeiros para extinguir nois, mas a gente tem que resistir muito, muito. Mesmo assim, vocês não podem confrontar os garimpeiros porque eles são muito armados, se vocês confrontar e os garimpeiros vier, eles vão matar. Crianças, adultos, mulheres. A gente não tem arma. Não tem como enfrentar, é uma flecha contra sub metralhadora, fuzil’. Isso toda vez eu dizia. Mas é difícil falar para não enfrentar porque os pais também tinha raiva, a criança bebeu água suja e morreu, culpa dos garimpeiros.

E nos últimos anos piorou muito. A gente tá falando de 20, 22 mil garimpeiros na terra indígena ianomâmi. Acabaram nossos rios, destruíram a floresta, contaminaram as águas que as comunidades bebia. Hoje não tem água. Por isso, crianças, adultos e mulheres estão muito fraco, estão bebendo água sujo. Essas fotos do meu povo é como as fotos que eu via do pessoal de outro mundo, da África, de países onde tem guerras. A gente não tá com guerra, mas o governo fez essa guerra para extinguir meu povo ianomâmi. As crianças não sobreviveram, morreram. O número de óbitos dos adultos, mulheres, idosos e crianças é muito alto. Quantas vezes eu recebi: ‘ah, esse mês, morreram 27 crianças numa comunidade’, ‘em outra comunidade, matou 13’. Como é que eu não fico desesperado? Eu fazia: ‘Olha, Ministério Público Federal, por favor, morreram tudo isso. É muito sério. Tão morrendo porque não tem atendimento, não tem remédio, não tem profissionais de saúde, estamos sem assistência nas comunidades’.

O mais triste é que o povo ianomâmi somos brasileiros. Moramos dentro do Brasil, no município de Alto Alegre, em Roraima. Somos cidadãos brasileiros e a gente tá sofrendo de falta de assistência, de crise de malária, de desnutrição… tudo isso, dentro do Brasil. O que o antigo presidente fez dói muito. Essa é a realidade que estamos convivendo dentro da Floresta. Nesses anos, senti revolta, fiquei triste, raiva do governo. Fui ameaçado várias vezes. Representantes do Ministério da Saúde vieram a Roraima, disseram que eu tava atrapalhando o serviço deles, fizeram documento para extinguir o Conselho Distrital de Saúde porque eu fiscalizava e me tiraram o acesso à senha que eu acompanhava os dados. Fui ameaçado pelos garimpeiros também. Diz que era snipe, que vai chegar minha hora, que são treinados para atirar. Mas eu sou ianomâmi, nasci e cresci na comunidade. Tinha 25 anos quando decidi aprender o português para defender meu povo que não conseguia escrever e mandar documentos. Então, o meu trabalho é lutar pelo futuro das comunidades. Eu entregar corpos, chorar com as mães, eu ver os corpos dos homens caídos. Eu tem que ser muito forte para lutar. Mesmo sendo ameaçado, nunca desisti. Se eu desistir, muitas crianças vai morrer.

E as que já foram… as crianças não vão voltar, as crianças já morreram. Mas como eu sempre diz para as comunidades: ‘Yamaki simou maprario’. É palavra para o amanhã. Significa que ainda vai chegar um tempo que a gente vai parar de chorar, onde não vamos mais ficar de luto. E agora, a gente tá com esperança no futuro. Se um governo não faz, o outro faz. Se esse não faz, a gente continua lutando. Eu sei que é obrigação do Estado brasileiro, mas mesmo assim somos gratos ao que vem sendo feito. Também somos gratos à sociedade brasileira que mobilizou para doar alimentos, água e higiene para a terra ianomâmi. Essas ajudas vão salvar vidas. A situação não vai ser fácil de recuperar, mas agora a gente tem que construir novos caminhos para não morrer mais crianças, não morrer o povo ianomâmi."

Uma história de perversidades

“Depois que os garimpeiros que cobiçam o ouro estragaram as vaginas das mulheres, fizeram elas adoecer. Por isso, agora, as mulheres estão acabando.”

“O casal Alcida-Taylor encontrou três casos de prostituição de moças índias da região do Ajarani. Duas contraíram doenças venéreas e foram atendidas em um hospital de Boa Vista. Mas, depois de curadas, foram removidas pelo chefe da Funai para outra área, dos índios makuxi. Foi 'um castigo', disse o delegado regional ao casal de antropólogos.”

O local é o mesmo. O povo é o mesmo. Os abusos são os mesmos. Mas quase 50 anos separam os dois depoimentos.

O lamento de desesperança da primeira fala é apenas uma pequena parte dos relatos das mulheres ianomâmis elencados no relatório Yanomami sob Ataque, publicado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) em abril de 2022, que escancara a miserável situação dos indígenas no governo de Jair Bolsonaro. Já a constatação do casal de antropólogos Alcida Rita Ramos e Keneth Taylor é de 1973 e está no livro Os Fuzis e as Flechas — História de Sangue e Resistência Indígena na Ditadura (Companhia das Letras), do jornalista Rubens Valente. Em uma zona de conflito, as mulheres sofrem de maneira particular. A elas, a guerra reserva a violação sexual que corrói seus corpos e almas, além do horror da fome, doenças, mortes e sequestros de seus filhos e do sofrimento de seus antepassados. Mas os ianomâmis não estão em guerra com ninguém.

A década de 1970 era o tempo do lema militar “Integrar para não entregar”. As imagens que agora chocam o Brasil e o mundo, muitas captadas durante a visita feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma casa de saúde indígena em Boa Vista, têm um gosto amargo de déjà vu para quem viu de perto a “descoberta” dos “civilizados” em Roraima. “O Lula fez em 5 minutos o que nós não conseguimos fazer em quatro décadas, que foi chamar a atenção”. Quem lamenta é a própria antropóloga Alcida Rita Ramos, doutora pela Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), que, com seu ex-marido e também antropólogo Keneth Taylor, realizou estudos que serviram de base para o processo de demarcação da Terra Indígena Ianomâmi.

Se hoje a morte chega a esse povo por toda sorte de crimes, garimpo ilegal à frente, nos anos mais duros da ditadura, o terror percorria a BR-210, que ficou conhecida como Perimetral Norte. Originalmente, a estrada ligaria o Amapá ao resto da Amazônia e aos países sul-americanos. Em 2023, liga o nada a lugar nenhum. A rodovia serviu de atalho para uma variedade de violações das populações indígenas do caminho. E de avenida para atividades ilegais de todo tipo. As semelhanças com os incentivos dados no passado e hoje para garimpeiros da região não são coincidência.

Em 1973, a BR -210 representou a primeira entrada maciça de brancos no território. A construção da estrada foi abandonada, como tantas outras, em 1976. Desde então, nunca houve um intervalo em que a terra dos ianomâmis estivesse livre de invasores. O antropólogo Rogério Duarte do Pateo foi o responsável por relatar para a Comissão Nacional da Verdade (CNV) as violações contra os ianomâmis. Em conversa com o Meio, ele conta que no início, havia até uma espécie de turismo de final de semana para “ver os índios”. “O impacto da estrada é gigante. Cria-se um vetor direto da cidade para as aldeias. Essas comunidades mais da borda da terra indígena nunca conseguiram se reestruturar completamente”, explica o antropólogo. Ele conta que, conforme os brancos começaram a abrir as estradas, foram encontrando aldeias e mais aldeias na parte da fronteira leste. A maior densidade demográfica é mais no meio do estado, em cima das montanhas. "Nessa época, havia os primeiros garimpos, de cassiterita. Rapidamente isso evoluiu para o garimpo de ouro e o grande fomentador dessa corrida foi o projeto Radam Brasil e Radam Amazônia, que fez o levantamento fotométrico dos recursos naturais”, diz do Pateo, referindo-se às incursões patrocinadas pelos militares para a exploração dos recursos minerais. A partir daí, não houve quem segurasse a invasão.

Método de ataque

Cinco décadas depois, estamos aqui. Com claros sinais de que, agora, a tentativa de destruição do povo ianomâmi foi intencional, sistematizada e planejada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tanto para membros das comunidades indígenas quanto para estudiosos ligados à causa, não é possível falar de surpresa diante do desastre sanitário pelo qual as populações ianomâmis passam. Talvez dê para falar em mudança de método de ataque, uso de outras armas, de outro tipo de crueldade. No governo Bolsonaro, a violência do Estado se tornou ainda mais atroz, escancarando as marcas aparentes nas costelas de crianças e idosos, principalmente.

“O que antes se atribuía a aventureiros cegos pelo luzir do ouro, agora são ações de um governo que quer matar sem sujar as mãos. Basta que um flagelo humano no posto de presidente abra uma porteira e a boiada passa e o massacre começa”, escreveu a antropóloga Alcida Ramos, no recente artigo “A tragédia ianomâmi”, publicado no informativo da Associação Brasileira de Antropologia (ABA).

Por medo de ter de responder pelo crime de genocídio, Bolsonaro atribui as imagens ultrajantes divulgadas a uma “farsa da esquerda”. Membros do seu governo se esforçam para se esquivar da responsabilidade pelo descaso. Mas o próprio ex-presidente nunca escondeu suas intenções destrutivas. Quando colocou os pés na Câmara dos Deputados, na década de 1990, entre discursos pela volta do regime militar, Bolsonaro, deputado que passaria quase três décadas com uma carreira parlamentar bastante medíocre, empreendeu uma saga para conter a demarcação de terras ianomâmis. Primeiro, tentou barrar uma portaria do Ministério da Justiça, assinada em 1991 pelo então ministro Jarbas Passarinho.

Mas em 1992, em um contexto de pressão internacional durante a realização da ECO 92, no Rio, o então presidente Fernando Collor de Mello assinou o decreto que homologou a demarcação das terras ianomâmis. Collor também já havia feito demonstrações pirotécnicas para o mundo mandando explodir pistas de pouso usadas por garimpeiros em terras ianomâmis. Apesar do curto período em que ficou no poder, em um mandato marcado por escândalos de corrupção, o alagoano era o primeiro presidente eleito pelo voto popular, depois de 25 anos de regime de exceção. Nessa época, círculos militares ainda se ressentiam de terem sido apeados do poder. Jair Bolsonaro, por sua vez, agradava esses militares, levando a pauta autoritária ao Congresso.

Bolsonaro apresentou, em abril de 1992, uma proposta para cassar o decreto. Ela foi arquivada, mas Bolsonaro não desistiu. Entrou com recurso e conseguiu manter a proposta em tramitação, com apoio de boa parte dos deputados. Em 2003, já em seu quarto mandato como deputado, solicitou mais um desarquivamento de seu projeto, que só foi arquivado definitivamente no final de 2007. “A faixa de fronteira está comprometida face a sua entrega aos índios, permitindo livre circulação de venezuelanos e brasileiros ianomâmis”, alertava Bolsonaro na justificativa da proposta. “Criou-se distinção entre brasileiros.”

Enquanto Bolsonaro insistia na Câmara para conter a demarcação, em 1993 garimpeiros mataram a tiros e golpes de facão 12 indígenas (um homem adulto, duas idosas, uma mulher, três adolescentes, quatro crianças e um bebê), no episódio ficou conhecido como Massacre de Haximu. A tragédia ocorreu justamente na região da fronteira do Brasil com a Venezuela. Em setembro de 2020, pela primeira vez no Brasil, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a ocorrência de genocídio que exterminou a aldeia Haximu, povo que faz parte da etnia indígena ianomâmi, e condenou cinco garimpeiros por esse crime.

A antropóloga Alcida Rita Ramos chegou a morar na mesma região onde ocorreu o primeiro genocídio brasileiro reconhecido pela Justiça. Ela relata o horror vivido em 1993 pelos indígenas: “Os habitantes de Haximu, os adultos, tinham ido para outra aldeia para uma grande cerimônia mortuária, que é a maior cerimônia que os ianomâmis têm. Eles deixaram quem tinha problema de locomoção em um acampamento de caça, com a certeza absoluta de que nenhum ser humano, que merece o nome de humano, mata velhos, crianças e mulheres. Eles estavam seguros do bom senso da humanidade. Não contavam com a índole dos garimpeiros, que não obedece a essa norma”, lamenta. “Os garimpeiros chegaram, viram as pessoas lá e, não importa quem seja, eram ianomâmis. Então, mata! Simplesmente foram matando, matando, matando. Pegaram um terçado, um facão de mato, e vazaram o corpo de um bebê que estava em uma rede”, relembra um dos depoimentos colhidos na época.

Mesmo Jarbas Passarinho, partícipe dos governos autoritários, chegou a admitir, em 1993, que não eram injustas as acusações de genocídio contra os militares. O relatório final da Comissão Nacional da Verdade registrou a análise que Passarinho fez sobre o Projeto Radam da Amazônia, de 1970 e, posteriormente, Radam Brasil, Essas incursões mapearam áreas promissoras de recursos minerais e serviram para dar início às corridas minerais na Amazônia. “Logo que o Projeto Radam evidenciou a presença de ouro no subsolo, e a Perimetral Norte levou o acesso até a terra milenarmente ocupada pelos ianomâmis, que aconteceu? A morte de mais de 50% da tribo de Catrimani, causada por gripe e doenças, que não são mortais para nós, mas o são para índios não-aculturados. Não foi só nessa tribo, mas em várias outras, onde se deu a presença dos garimpeiros. Eles poluíram os rios com mercúrio, afastaram a caça pelo barulho, provocaram a fome e a desnutrição dos índios, enquanto contra nós avolumava-se a acusação de que praticávamos o genocídio. Não era exagerada a denúncia”, confessou o ex-ministro.

Ainda não está dado se Bolsonaro pagará ou não pelo crime de genocídio, mas pesquisadores da causa indígena já enxergam um delito continuado por parte do ex-presidente. “Enquanto Bolsonaro era deputado, ele tentou acabar com os ianomâmis por via legal. Não deu certo. Sabendo disso, quando eleito presidente, adotou um método de ‘omissão ativa’. É assim que estou chamando a postura dele. Ele abriu os portões e ficou atrás do portão. Deu a ordem e se escondeu. Não é só ficar calado, quieto. É ficar cutucando por trás. Essa foi a tática dele como presidente, já tendo a experiência de que pela via legal não ia dar certo porque é inconstitucional”, define Alcida. Do Pateo concorda: “Existe uma ação intencional, coordenada, para a liberação da mineração dentro da terra indígena e para que os indígenas desapareçam. Ou eles se tornam garimpeiros ou eles morrem”.

O pensamento de Bolsonaro que incentivou a ida de garimpeiros para a terra ianomâmi mimetiza o velho conceito do “inimigo interno” dos quartéis. No relatório da Comissão Nacional da Verdade, um dos trechos aponta que, mesmo após a redemocratização, as suspeitas sobre os indígenas e seus apoiadores não arrefeceu. “Em documento do Conselho de Segurança Nacional, datado de 1986, uma série de organizações não governamentais que defendem direitos indígenas são colocadas sob suspeita, ao lado dos bispos e padres estrangeiros do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) que já vinham sendo assim considerados”, relata o documento. Tudo a ver com o que Bolsonaro defendera na Câmara para reverter a demarcação das terras.

As armas

Como se não bastassem as mortes violentas, os estupros e a contaminação por mercúrio usado nos garimpos, outra velha conhecida voltou com força total à casa ianomâmi no governo de Bolsonaro: a malária. Para se ter uma ideia, no ano passado, dos 123.151 casos da doença registrados em todo país pelo Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Malária (Sivep-Malária), quase 9,3% foram entre os ianomâmis: 11.530 indígenas, segundo dados do Ministério da Saúde.

O total desmonte da estrutura sanitária, a falta de vacinas e atendimentos médicos também remetem ao que se viu em Roraima nos governos militares. Os relatos registrados pela Comissão Nacional da Verdade indicam o descaso. “Em 1975, uma campanha de vacinação de três semanas é reduzida a dois dias e meio. A Divisão de Saúde da Funai é acusada de se negar a vacinar os índios da região de Surucucus. Ao todo, apenas 230 índios da área da Perimetral e da missão Mucajaí foram vacinados. A história se repete 12 anos mais tarde. Em 1987, em plena epidemia de malária e gripe, trazida pela invasão de garimpeiros, o então presidente da Funai, Romero Jucá, alegando razões de segurança nacional, retira as equipes de saúde da área Yanomami”, descreve o documento em um trecho. Em mais dois, com referência a outros povos indígenas, há o caso insondável de aviões lançando brinquedos contaminados com o vírus da varíola sobre populações de Cinta-Larga, nos anos 1950, exterminando cerca de 5 mil indígenas. E, também em 1975, de um helicóptero que sobrevoou aldeias de Waimiri-Atroari e “derramou um pó”, contaminando e matando 33 pessoas.

Diante do que ocorre hoje em Roraima, Rogério Do Pateo faz a relação entre as duas pontas de atuação do Estado no extermínio. “Existe sempre um parzinho: o relaxamento intencional da fiscalização para permitir essa entrada maciça de invasores e, por outro lado, se faz o desmonte completo da estrutura de assistência sanitária. Não é à toa que essa coisas caminham junto e, por isso, a discussão sobre o cometimento de genocídio. Porque é uma ação intencional. Tem pessoas dizendo que sempre foi assim. Não foi”, diz o pesquisador, apontando que os distritos sanitários instalados nos anos de 1990 e 2000 conseguiram ter um controle das endemias.

A semelhança com o governo Bolsonaro assusta principalmente quando se compara o boicote explícito de ajuda às aldeias durante a pandemia. Bolsonaro vetou um projeto de lei aprovado pelo Congresso que previa medidas de proteção a comunidades indígenas no auge da crise sanitária, em 2020, com oferta de leitos de UTI, produtos de limpeza e água potável. As suspeitas recaem inclusive sobre a ex-ministra Damares Alves, titular da pasta de Mulher, Família e Direitos Humanos que teria alegado que os povos não haviam sido “diretamente consultados pelo Congresso”. O veto presidencial foi derrubado pelo Congresso, mas deixou inequívocas as intenções do antigo governo com relação aos ianomâmis. Era a de exterminar.

O cinquentenário de Sucupira, cidade dos bem-amados

É tarde da noite. O som do bater das teclas de uma máquina de escrever e vozes distantes ecoam por entre as paredes de um longo corredor cheio de salas. As luzes cintilam. Há cheiro e fumaça de cigarro. Os sons continuam. Papel sendo amassado, carimbos sendo batidos, e algumas tossidas secas.

Seguindo pelo corredor, dentro de alguma sala, vemos alguém de costas e o descobrimos martelando furiosamente as teclas da máquina de escrever. O som das vozes vem do aparelho à sua frente, uma televisão transmitindo imagens pouco nítidas, tremidas, com um colorido disforme e irreal. De repente o diálogo dos personagens na tela chama a atenção do homem:

“Ontem fui visitar a cadeia. Nas celas, onde devia prender criminosos, o delegado cria galinhas, até papagaio. Só havia um preso: um jegue.”

“O jegue que deu um coice no filho do Zé Peixeiro. Foi julgado e condenado a seis meses de prisão.”

Uma gargalhada rompe o ar seco e esfumaçado, estremecendo a sala. Tosse, murros na mesa e risadas contorcem o homem da máquina de escrever tentando se recompor segurando a barriga. Ainda balbucia: “Baiano janota, sacripanta, cambalacheiro! Só mesmo teu padroeiro Padim Ciço pra segurar minha mão e não deixar censurar essa parte…na próxima não me escapa…”

O acontecido pratrasmente

Afora os diálogos dos personagens na TV (que realmente foram interpretados), a cena acima é fictícia. Mas bem que poderia ter acontecido em algum prédio militar em meio ao período de ditadura no Brasil, mais precisamente dentro da divisão de censura de diversões públicas do DPF, em 1973.

O Baiano a quem nosso escalafobético militar censurador se referia é Alfredo de Freitas Dias Gomes, ou simplesmente Dias Gomes, dramaturgo e escritor de telenovelas. O programa de TV, um folhetim televisivo — O Bem-Amado —, que teve sua estreia naquele ano de 73, completando em 2023 50 anos.

Submetida a sinopse do programa aos órgãos de censura, os militares impedem a Rede Globo de fazer a estreia em horário mais nobre, deixando a transmissão para as 22 horas e com classificação de proibida para menores de 16 anos. O Bem-Amado seria a primeira telenovela totalmente em cores no Brasil e o enredo já gozava de algum sucesso vindo das páginas da revista Cláudia e depois dos palcos teatrais, de onde saiu a adaptação televisiva. Também foi a primeira telenovela exportada e dublada, dando o pontapé inicial ao consumo internacional para mais de 30 países desse legítimo produto com gostinho brasileiro.

Os capitães, coronéis e os meganhas

Alguns motivos para a censura, segundo as vistas dos militares, encontramos em documentos do regime.

“Finalmente, 'capitão' e 'coronel' não podem continuar paralelamente identificando os personagens Zeca Diabo e Odorico, objetivando evitar qualquer analogia com patentes das forças armadas. Os termos 'meganha' e 'macaco' devem ser abolidos, quando se referirem à Polícia Militar.”

E ainda: “As recomendações expressas do Exmo Sr. Diretor Geral do DPF é no sentido de não se permitir qualquer alusão desrespeitosa à autoridade constituída, preservando-se, por outro lado, os valores família, sociedade e bons costumes.”

Família, sociedade e bons costumes, vejam só! Do roteiro de Dias Gomes, passando pelos textos dos militares, parece que vemos e vivemos situações entre a ficção e a realidade se repetirem num Brasil bem real e atual.

Apesar de a novela ter sido transmitida com vários cortes em diálogos e ou cenas inteiras, Dias Gomes, culto, profundo e inteligente, sabia como ninguém contornar a censura, deixando rastros compreensíveis para o telespectador mais atento. A novela, evidentemente, era uma crítica ferrenha ao regime militar e, fazendo uso de personagens caricatos e outros muito fiéis ao perfil do cidadão comum, foi capaz de marcar uma época com imenso sucesso.

Um grande (des)serviço à municipalidade sucupirana

Há quem diga que a inspiração para o roteiro de O Bem-Amado tenha chegado a Dias Gomes ao pé do ouvido, vinda de um amigo — a fonte não me recordo, muito menos a aba do navegador onde essa informação se esconde. A história era de um prefeito cuja promessa de campanha foi de inaugurar o primeiro cemitério numa cidade interiorana.

O enredo de O Bem-Amado transcorre numa hipotética cidade baiana de nome Sucupira. Na cidade, Odorico Paraguaçu (interpretado magistralmente por Paulo Gracindo) tenta sua eleição para prefeito prometendo melhorias dispendiosas para a pacata e pequena cidade.

Eleito, tem como inimigo Neco, o editor do jornal da cidade, A Trombeta. Na trama, Odorico se refere à imprensa como “patifenta, esquerdista, comunista, marronzista e badernenta", sempre pronta a atacá-lo enquanto oposição. “Odorico, o pastor de urubus” foi uma das manchetes do jornal.

Odorico é do tipo “coronel”, um clássico personagem demagogo muito conhecido em cidades do interior do país. Além de roupa social impecavelmente branca em muitas ocasiões, de suas falas brotam abusados jargões, palavras inventadas ou fora de contexto tentando transparecer uma erudição que não dominava. Não bastasse, também é mulherengo e truculento, mas não corajoso o suficiente para resolver seus problemas com base nas leis ou, ainda, com as próprias mãos. Quando precisa acabar com pendências e dissabores contra a oposição, contrata um jagunço, Zeca Diabo (vivido por Lima Duarte, em seu primeiro papel em telenovela), a quem nomeia como delegado de Sucupira e o incumbe de dar uma coça ou até mesmo exterminar Neco Pedreira. O diálogo:

ODORICO — É o dono do jornal. Elemento perigoso. Sua primeira missão como delegado é dar uma batida na redação dessa gazeta subversiva e sacudir. Amarreta em nome da lei e da democracia.

ODORICO — Se quiser, pode levar toda a Força Pública.
ZECA — Força Pública?
ODORICO – Um cabo e dois meganhas. (censurado)

Um cabo e dois meganhas. Novamente uma sensação dejavusquezada (como talvez dissesse Odorico).

Odorico só não contava com a vontade de Zeca Diabo de mudar de vida. Deixar o crime e esquecer os acontecidos pratrasmente. Temente a Deus e fiel a Padim Ciço, rogava o nome do padre e contava até 10 antes de decidir apertar o gatilho.

Não bastasse, toda a municipalidade já estava farta dos mandos e desmandos de Odorico, além da péssima administração dos recursos públicos. Na pequena Sucupira ninguém morria, para que um cemitério inaugurado tinha mais de um ano? Onde estava a verba para a saúde e outras necessidades?

Odorico Paraguaçu, filho de Eleutério e neto de Firmino Paraguaçu

De acordo com a Memória Globo, o personagem Odorico Paraguaçu foi originalmente baseado no jornalista e deputado Carlos Lacerda, que era visto como um inimigo por Dias Gomes e alegava ser perseguido por ele.

“Odorico era um Lacerda exagerado. Mas depois reescrevi a peça e o Lacerda já estava cassado, na oposição, enfim, por baixo, então, não faria mais nenhum sentido aquela sátira que eu fazia dele”, disse no livro Odorico Paraguaçu, o Bem-Amado de Dias Gomes: História de um Personagem Larapista e Maquiavelento, de José Dias, como cita o Observatório da TV. E continua: “Trabalhei o personagem daí no sentido de mais um protótipo de um político demagogo do interior. Ele cresceu e se distanciou do Lacerda: adquiriu uma paisagem mais ampla. Desenvolvi um trabalho mais em cima do seu linguajar, o que lhe rendeu uma fisionomia muito forte”.

Segundo o ator Gracindo Júnior, filho de Paulo Gracindo e intérprete do personagem Jairo (vigarista que aplica golpes na população) da novela, seu pai tinha a liberdade de interferir no texto de Dias Gomes, criando muitos cacos, como algumas pérolas do linguajar do prefeito.

Lima Duarte também lembra: “A composição do Zeca Diabo foi gostosa. Foi feito de forma visceral. O Dias Gomes disse: ‘Olha, você vai fazer um papelzinho aí. É um cangaceiro que vem para matar e não mata’. Um cangaceiro que não mata? Como realizar isso, como expor isso com o meu corpo? O matador que não mata é uma vítima de uma estrutura social viciada”.

Prafrentemente, e por fim aos anais textuais

Agora vocês me desculpem, sou apenas um rapaz terceiromundista. Depois de tudo isso escrito, percebo que posso ter errado alguns diálogos, ter colocado informação onde não existia ou encaixe, ter sido traído por uma memória afetiva que nem sabia que tinha, mesmo porque eu nem era nascido à época da estreia da novela. Posso também ter caído em uma fake news do prefeito. O que vi foram trechos, reprises, remake e, quanto mais pesquisava e lia, mais informações encontrava e um novo universo se abria diante dessa obra-prima. Talvez eu tenha criado minha própria Sucupira. Talvez Odorico seja a persona non grata de minha árvore genealógica, talvez eu tenha escrito um texto para o jornal A Trombeta do Meio e agora precise fugir de Zeca Patriota Diabo. O jegue eu não sou!

Você está sendo retumbantementeredudantetário, vociferaria Odorico se dirigindo a mim (e criando aí uma das maiores palavras já utilizadas em minha própria Sucupira), depois de eu lhes perguntar mais uma vez: o lema da campanha de Odorico que se segue não lhes parece com alguma recente situação?

ODORICO — Cidadãos sucupiranos! Se eleito nas próximas eleições, meu primeiro ato como prefeito será ordenar a construção imediata do cemitério municipal.
TODOS — (Aplausos) Muito bem! Muito bem!
(Uma faixa surge no meio do povo)
VOTE NUM HOMEM SÉRIO
E GANHE SEU CEMITÉRIO

Os dividendos da Indústria da Multa

Neste sábado a prefeitura de Amsterdam inaugura um novo monumento. O curioso é que ele foi feito justamente para não ser visto pelos 200 mil viajantes que passam todos os dias pela central ferroviária. A construção fica submersa no canal da frente da estação: um estacionamento para 7.000 bicicletas. Custou 60 milhões de euros e precisou de quatro anos para ficar pronto. Para os fãs de engenharia, o vídeo da obra é uma obra-prima. Maravilha da mobilidade urbana, financiada pela indústria da multa para beneficiar um bando de ciclistas maconheiros. Um escândalo!

Acabou a Mamata

O centro de Amsterdam é entremeado por uma rede de 100 quilômetros de canais, formando 90 ilhas interligadas por mais de 1.200 pontes. Com tão pouco espaço, uma vaga para automóvel é só para pouquíssimos privilegiados.

No século 18, tudo era feito por barco. Os canais viabilizavam um transporte conveniente até a porta dos comércios e mansões, que tinham suas entradas voltadas para a água. No século 19, a transformação veio pelo transporte ferroviário e o centro de Amsterdam perdeu a sua natureza fluvial. O trem se impôs ao porto e virou o grande meio de acesso à cidade. Os trilhos dos bondes completavam o circuito para levar os viajantes até a quadra de suas casas.

O automóvel aparece como novidade na vida burguesa no século 20, mas logo se tornou um problema entupindo as finas artérias da capital holandesa. Os imóveis não tinham garagem e as vagas nas ruas não eram suficientes para todos. Houve quem sugerisse aterrar os canais para dar mais espaço aos carros, mas o bom senso prevaleceu e Amsterdam começou a implementar políticas de incentivo ao uso da bicicleta, além da expansão e integração da rede de transporte público.

A escassez de estacionamentos se tornou a principal ferramenta para financiar essas políticas. A municipalidade passou a cobrar pelo espaço nas vias públicas que era ocupado pelos proprietários de automóvel. Mesmo em áreas estritamente residenciais, as regras de zoneamento são minuciosas e os preços variam de acordo com os interesses da autoridade de trânsito. Aumentar as tarifas de noite para evitar que as pessoas venham de cidades vizinhas para o happy hour, congestionando o trânsito no final da tarde. Ou oferecer descontos de até 90% para quem optar chegar depois das 10h em bolsões periféricos de estacionamento interligados com o transporte público, aliviando o pico da manhã. O jogo de preços é fundamental para fornecer os incentivos corretos e promover mudanças nos hábitos.

Essa forma de extrair valor do espaço público logo se tornou uma importante fonte de receitas do município e hoje corresponde a 10% de toda a arrecadação. E não há como sonegar. A fiscalização, feita por carros com câmeras acopladas em seu teto, fotografam automaticamente as placas e verificam em tempo real se a vaga foi paga. Se a situação for irregular, a multa é emitida na hora. Sem conversa, sem oferta de cervejinha. O fiscal não precisa desacelerar ou sequer tirar as mãos do volante para soltar a dolorosa canetada.

Mobilidade de Classes

A visão capitalista de deixar a escassez de vagas regular o preço de mercado vale para o lado da arrecadação. Mas na hora de distribuir os dividendos, uma mentalidade mais socialista se torna dominante. O dinheiro pago pelos poucos que usufruem do transporte particular é redistribuído em projetos que beneficiam a grande massa carente de mobilidade.

Mais do que isso. O sistema interconectando todos os modais não rotula as pessoas, tratando-as unicamente como motoristas, passageiros, ciclistas ou pedestres. Até mesmo um motorista abastado, com vaga cativa no centro, precisa virar pedestre para chegar ao seu destino final. Há pessoas que chegam a ter duas bicicletas. Uma na estação de trem perto de casa, a outra na estação perto do trabalho. Quem precisa vir de um subúrbio não conectado, dirige até um estacionamento nos arredores e entra na cidade via metrô.

Quem mais lucra é o pedestre. O incômodo de dividir espaço com veículos espaçosos, barulhentos e poluentes é compensado por calçadas mais livres, ruas exclusivas, semáforos inteligentes que diminuem a espera em travessias… Tudo é imaginado para incentivar a mais natural dentre todas as formas de locomoção: as pernas. Também se gasta muito em asfalto novo, viadutos, edifícios garagem, túneis e outras obras de infraestrutura que tornam a vida dos motoristas mais prática. Mas quando um investimento é decidido, uma filosofia que contempla todos os impactos, diretos e indiretos, resultam em um sistema que muitos consideram o grande paraíso da mobilidade urbana.

Elefante branco enterrado

Há quem possa achar um exagero investir o equivalente a um quarto do que se gastou com a reforma do Maracanã em um mero espaço para guardar bicicletas. E que tal obra nunca seria feita no Brasil, porque investimento público embaixo da terra não traz voto. Mas a questão aqui na Holanda não é apenas a de mobilidade, também envolve acessibilidade e estética.

Como eu disse, aqui o pedestre é rei (e o Rei pilota aviões). Os bicicletários tradicionais nunca deram vazão ao fluxo de ciclistas em Amsterdam e as pilhas de bicicletas amontoadas nos arredores da estação central ocupam muito espaço nas calçadas, dificultando o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção. Além de serem feridas visuais que contrastam com a opulenta arquitetura do século 19, era de ouro do império mercantil dos holandeses.

O vídeo do trajeto de entrada mostra o “padrão Fifa” das novas instalações. Esteiras rolantes e controle de acesso com cartões, garantindo a segurança em uma das áreas com mais registros de roubos de bicicleta em todo o mundo. Luzes indicando onde há espaços livres e ocupados. E saída com conexão subterrânea direta para as plataformas de embarque, sem precisar passar pela rua. A comparação com o estacionamento para carros, uma quadra mais distante, é desleal. Planejamento não apenas para que o ciclista gaste menos tempo entrando e saindo, mas também para remover algo feio de uma das paisagens urbanas mais icônicas do planeta. Em uma eventual passagem pelos Países Baixos, fica a dica de turismo: experimente a bicicleta, mas aproveite também os barcos, bondes, trens e, sobretudo, as caminhadas.

E, no último sábado desse janeiro de 654.638.394 dias, aqui estão os mais clicados pelos leitores:

1. Estadão: Câmera de policial capta depoimento de vítima de Daniel Alves.

2. GShow: Onde assistir aos indicados ao Oscar.

3. NYTimes: O ocaso das empresas de tecnologia.

4. O Globo: O caminho do ouro que sai de terras ianomâmis e vai para joalherias.

5. YouTube: Ponto de Partida — Lula perante o genocídio.

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