Edição de Sábado: O que sabemos hoje sobre Covid-19 e seu vírus
No momento em que o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, os sintomas de alerta foram estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde. A esta altura, todos são bem conhecidos. Febre, tosse seca e fôlego curto. Eram dados ainda baseados na experiência de Wuhan, o local na China onde o surto explodiu primeiro. Mas o número de casos aumentou, tantos outros países viveram e vivem suas crises desde então. Há um conhecimento mais amplo a respeito de sintomas.
O trio principal continua importante, mas nem todos os que ficam doentes os sentem. Há outras marcas que podem ser indicadores relevantes de que alguém tem Covid-19. Cada paciente é único e tem seu próprio mix destes sintomas. Alguns desta lista são particularmente típicos da doença, outros comuns em males causados por vírus. Por isso, ter alguns deles pode indicar uma virose não relacionada com a epidemia.
Calafrios em geral chegam antes da febre ou aparecem mesmo sem febre. Podem ser acompanhados de tremores.
Fadiga é um dos primeiros sintomas a aparecer. Um cansaço generalizado, falta de vontade de se mexer.
Dores musculares, embora estas costumem ser bastante comuns em doenças provocadas por vírus.
Perde de olfato ou paladar é bem típico de Covid-19. Quando presente, é um indicador concreto de que possivelmente a doença está lá.
Problemas gastrointestinais, que podem se mostrar de muitas formas. Desde uma dor abdominal, mas também como náusea ou mesmo diarreia. Tem sido mais visto em pessoas idosas e, nelas, é um sinal importante de alerta.
Confusão mental, desorientação, delírios — igualmente mais comums em pessoas mais velhas. Mas não apenas.
Dedos do pé vermelhos. Muitas vezes acompanhado de inchaço, acontece nos dedos das mãos também, embora seja muito mais raro. É também um dos sintomas iniciais e outro forte indicador da doença. Estes sintomas da pele às vezes aparecem em outras partes do corpo, na forma de lesões ou coceiras.
Perda da habilidade de fala ou movimento também ocorrem, embora esteja entre as características menos comuns.
Pressão ou dor no peito, que é uma sensação às vezes difícil de detectar. É como se fosse uma compressão em algum ponto na altura do esterno, o osso que sustenta as costelas na frente.
Quando procurar cuidados médicos?
O mal provocado pelo novo coronavírus atinge a capacidade de oxigenação do corpo. Uma das descobertas mais recentes é de que o nível de oxigênio circulando no sangue pode cair bem antes de os pulmões serem atingidos. Isto quer dizer que o paciente pode já estar numa situação em que deveria buscar ajuda imediata mesmo que não esteja sentindo algo demais. É um dos detalhes mais traiçoeiros desta doença. Quem tem motivos para se preocupar provavelmente deveria comprar um oxímetro caseiro e acompanhar. Uma pessoa em condições normais deve marcar entre 95 e 100% de oxigenação, de acordo com a Mayo Clinic. Quem estiver abaixo de 90% precisa procurar um médico imediatamente. Outra marca de que a oxigenação pode estar baixa a um ponto em que é grave são lábios azulados.
Os outros sintomas graves para os quais a Organização Mundial de Saúde recomenda busca imediata de atendimento médicos são: a pressão ou dor no peito constante; perda de fala ou movimento; fôlego curto demais; e confusão mental.
A imprecisão dos testes
Os testes generalizados são importantes para obter informações sobre a sua disseminação nos EUA. Mas um segundo aspecto merece atenção: precisão. Segundo Maureen Ferran, professora associada de biologia no Rochester Institute of Technology, é difícil determinar a precisão de um teste de coronavírus e entender como isto afeta os dados que as autoridades de saúde pública usam para tomar decisões.
Hoje, há dois tipos principais de teste em uso. O primeiro é um de reação em cadeia da polimerase com transcrição reversa, ou RT-PCR. Este é o de diagnóstico mais comum usado para identificar pessoas atualmente infectadas com SARS-CoV-2. Ele funciona detectando o RNA viral nas células de uma pessoa — geralmente coletadas pelo nariz. O segundo teste usado é o sorológico ou de anticorpos, que analisa o sangue de para ver se houve produção anticorpos para o coronavírus. Se um teste encontrar esses anticorpos, significa que uma pessoa foi infectada.
A precisão de um exame médico é determinada pela medição de duas aspectos: sensibilidade e especificidade. Se um teste for 90% sensível, ele identificará corretamente 90% das pessoas infectadas. No entanto, 10% dos infectados obteriam um resultado falso negativo — têm o vírus, mas o teste diz que não. Um teste específico identificará com precisão as pessoas sem a doença. A especificidade mede os negativos corretos. Se um teste for 90% específico, identificará corretamente 90% das pessoas que não estão infectadas, registrando um verdadeiro negativo. Para reiterar: a sensibilidade mede a precisão positiva; a especificidade mede a precisão negativa.
Os testes de RT-PCR são excelentes em condições ideais, considerados o padrão-ouro para a detecção de muitos vírus. Na Suíça, pesquisadores avaliaram cinco testes Covid-19 RT-PCR e descobriram que todos atingiam 100% de sensibilidade em amostras positivas e pelo menos 96% de especificidade em amostras negativas. Mas, no mundo real, as condições e o processo de teste estão longe de perfeitos. Ainda não sabemos qual é a taxa real de falsos positivos, mas a sensibilidade clínica dos testes de RT-PCR varia de 66 a 80%. Isso significa que quase uma em cada três pessoas infectadas testadas receberá resultados falsos negativos.
Coletar boas amostras não é fácil e é nisto que a maioria dos especialistas considera que está o problema. Provavelmente, resultados falsos negativos estão ocorrendo porque os prestadores de serviços de saúde não estão coletando amostras suficientes com o vírus. Isso pode acontecer porque alguém não insere um cotonete com profundidade no nariz. Falsos negativos também podem ocorrer se uma pessoa for testada muito cedo ou muito tarde durante a infecção e não houver muitos vírus em suas células. E, finalmente, erros podem ocorrer se uma amostra ficar muito tempo esperando antes de ser testada, o que permite que o RNA viral se quebre.
O risco relativamente alto de falsos negativos é o motivo pelo qual os médicos não confiam apenas em um teste para determinar se uma pessoa tem o coronavírus. Quando alguém apresenta sintomas e está em uma área de surto, médicos fazem o diagnóstico mesmo com testes negativos.
Já a maioria dos testes de anticorpos procura evidências da reação de “primeira resposta” — IgM (imunoglobulina-M) —, que aparecem cerca de uma semana após a infecção, bem como anticorpos IgG (imunoglobulina-G) de maior duração, produzidos entre duas e quatro semanas após a infecção. Recentemente, pesquisadores da Universidade da Califórnia compararam 10 testes sorológicos. A sensibilidade dos testes estava acima de 90%, mas a especificidade é mais importante ao verificar evidências de uma infecção passada. Outro ponto importante: leva de uma a duas semanas para que um paciente produza anticorpos para um vírus. Isso também significa que esses testes não devem ser o principal meio usado para diagnosticar uma infecção atual.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, é possível que os testes atuais de anticorpos reajam de maneira cruzada com outros coronavírus humanos, resultando em falsos positivos. Outra questão em potencial é que pessoas assintomáticas e com sintomas leves podem produzir menos anticorpos contra o vírus do que pessoas doentes. Portanto, um teste sorológico que pode detectar com precisão anticorpos em pacientes graves pode ser menos capaz de identificar pacientes com menos anticorpos no sangue. Assim como os testes de RT-PCR, isso resultaria em falsos negativos.
Nem a PCR nem os testes sorológicos são perfeitos, mas são muito melhores do que nada e oferecem informações valiosas. E mesmo com as incertezas atuais, no momento, o principal desafio não é a precisão dos testes, mas o fato de que não há pessoas suficientes sendo testadas. No Brasil a situação é bem pior.
A busca pela vacina
E a vacina?
O vírus SARS-CoV-2 foi geneticamente mapeado faz já quatro meses. É o primeiro passo para que uma vacina apareça — e já há três opções diferentes e promissoras sendo avaliadas.
Vacinas em geral passam por três fases antes de distribuição em massa. Na primeira, são testadas em algumas dezenas de pessoas. Daí em algumas centenas e, tudo dando certo, em algumas milhares.
O Instituto Jenner da Universidade de Oxford começou a segunda fase de testes da sua. Como os pesquisadores já haviam trabalhado com um ‘irmão’ do novo coronavírus, aquele que causa a MERS, saíram na frente. Mas, nos EUA, a farmacêutica Moderna também foi autorizada a iniciar a fase dois da sua vacina e começa a busca por voluntários. São pessoas que a tomarão e serão expostas à doença. Enquanto isso, a chinesa CanSino Biologics também já está na segunda fase de testes de uma terceira versão.
Não são as únicas opções. Há ainda três vacinas distintas, uma da mesma CanSino, outra da Pfizer alemã, e uma terceira da americana Inovio, todas passando pela primeira fase.
Nesta história há uma questão delicada. O padrão é que vacinas sejam testadas por pelo menos dois anos para ter certeza de que não provocam efeitos colaterais graves. A maioria dos danos possíveis costuma surgir logo, mas não todos. Tanto a OMS como os órgãos regulatórios de EUA, China e Europa estão dispostos a acelerar este processo.
Ainda assim, o processo é lento. Na terceira fase, além dos pacientes vacinados há também um grupo de controle — pessoas que recebem placebos. A avaliação dos resultados é lenta, dura meses. Dificilmente, portanto, uma vencedora poderia aparecer em menos de um ano. Para não falar da questão logística — produção e distribuição.
Até os tubos onde a vacina é depositada, um vidro especial, são gargalos.
Enquanto BCs afrouxam, o Bitcoin aperta
No dia 3 de janeiro de 2009 nasceu o Bitcoin, com Satoshi Nakamoto, o pseudônimo de seu misterioso criador, minerando o primeiro bloco da criptomoeda, que gerou uma recompensa de 50 Bitcoins. Inscrito neste bloco estava o seguinte texto: ‘The Times 03/Jan/2009 O Chanceler está prestes a iniciar o segundo resgate dos bancos’. Era uma referência a um artigo publicado naquele dia no jornal Inglês The Times, uma pontada de ironia à instabilidade causada pelo sistema bancário. Uma das principais motivações por trás da criação do Bitcoin foi uma resposta ao excesso de dinheiro novo que os bancos centrais do mundo derramaram na economia para tentar salvar o sistema bancário da crise de 2008. Como resposta a isso, o Bitcoin foi criado de forma que sua base monetária não pudesse ser controlada por nenhum governo ou instituição, mas sim um algoritmo. Servidores chamados de mineradores ficam autenticando cada transação da moeda. Para remunerar esse trabalho, a rede, de tempos em tempos, emite um bloco novo como recompensa para um dos mineradores. Quando o total de Bitcoins existentes ultrapassa um certo volume, a quantidade de novas Bitcoins emitidas como recompensa em um bloco cai pela metade. Isso já ocorreu duas vezes desde que a moeda passou a existir. A projeção é que na próxima terça feira o fenômeno ocorrerá pela terceira vez.
O momento não poderia ser mais curioso. Justo quando os bancos centrais de todo o mundo estão novamente praticando afrouxamento monetário, o Bitcoin está prestes a passar por um aperto monetário. Para explicar as implicações dessa mudança a Grayscale Investments, uma gestora especializada em moedas digitais, publicou um longo relatório com sua visão sobre o assunto:
“Enquanto o mundo lida com o Covid-19, é importante para investidores entenderem os efeitos das intervenções fiscais e monetárias dos governos. Especialmente no contexto de moedas digitais como o Bitcoin. Enquanto governos praticam afrouxamento monetário, aumentando a quantidade de dinheiro em circulação, o valor das moedas fiduciárias tende a se depreciar. Na direção oposta, um ativo como o Bitcoin está para experimentar um aperto monetário causado pela redução programada da emissão de novos Bitcoins. Para tentar evitar a queda de preço de ativos e salvar empresas que estão à beira da falência, bancos centrais estão injetando imensos volumes de estímulos monetários e fiscais no sistema. Com a dívida global em torno de US$ 255 trilhões, é pouco provável que essas políticas de acomodação sejam revertidas em algum momento. Como comparação, em um período de 16 meses, entre novembro de 2008 e março de 2010, o FED adicionou US$ 1.5 trilhão de dólares em seu balanço. Em apenas 2 meses este ano, o FED adicionou outros US$ 2 trilhões. Um afrouxamento monetário como este não tem como ser revertido sem causar a deflação que o afrouxamento deveria combater. Apesar de a impressão de dinheiro ter a intenção de recuperar a economia, essa política não tem como se manter de forma perpétua sem repercussões negativas para as moedas. Já vimos diversos exemplos de como esse tipo de processo se desenvolve em hiperinflação, tanto nos EUA, como ocorreu com o Dólar Confederado na época da Guerra Civil, como em exemplos mais recentes como o Peso Argentino, o Bolívar Venezuelano e o Dólar de Zimbabwe.”
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“O ambiente macroeconômico atual continua a reforçar que uma moeda digital escassa, não soberana, pode vir a ser uma forma atrativa de se preservar valor e se proteger da impressão ilimitada de dinheiro enquanto bancos centrais do mundo inteiro praticam afrouxamento monetário. O Bitcoin vai passar em breve por um aperto monetário. Após esse evento, a quantidade de novos Bitcoins emitidos vai ser cortada pela metade. Embora os efeitos de curto prazo dessa mudança não estejam claros, ela tem historicamente servido como ponto focal da comunidade de investimento. Mineradores são os vendedores naturais do mercado e após a redução na emissão, eles passarão a ter apenas metade do volume de moeda para vender. Este desequilíbrio entre uma demanda crescente com uma oferta decrescente pode servir como um catalizador positivo para o preço do Bitcoin.”
Volta da indústria do entretenimento
A indústria do entretenimento é uma das mais requisitadas no momento. Mas também é uma das que mais tem sentido os impactos da pandemia. Suas produções dependem de grandes equipes ou públicos, viagens e contato entre os atores. Apresentações por videoconferências têm quebrado o galho. Só que sem previsão para o fim do distanciamento social, as produtoras estão começando a pensar na volta ao trabalho respeitando esse novo cenário.
Em artigo ao LA Times, o diretor de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, dá uma ideia de como essa indústria pode voltar a ativa. Na Coreia do Sul, Japão e Islândia, a empresa voltou suas produções com checagem diária da temperatura da equipe e apenas um maquiador usando aplicadores descartáveis. Durante as filmagens, o elenco faz pausas recorrentes para lavar as mãos e desinfetar as superfícies. Mas ele deixa claro que nem tudo dá para ser como antes. Cenas que envolvem multidões ou momentos íntimos precisariam ser adiadas até que a crise diminua. Os roteiros podem precisar ser rescritos, ou os produtores teriam que usar a tecnologia para recriar uma cena que, de outra forma, seria filmada ao vivo.
A BBC propôs um plano semelhante: colocar atores e diretores em quarentena e remover o público de programas de audiência. Também está considerando adotar como exemplo o que está sendo feito na Austrália. Elenco e equipe de uma novela foram divididos em grupos, restringindo seus movimentos a uma das quatro zonas diferentes no set. Para o público, algumas dessas mudanças vão aparecer nas telas: sem atores extras e atores cumprindo o distanciamento social em cena.
O entretenimento ao vivo também têm encontrado uma alternativa: os drive-ins. Populares nos EUA nos anos 50 a 70, eles se tornaram uma boa — e segura — opção para quem procura filmes em telas de cinema em tempos de pandemia. Nos EUA, os cerca de 300 drive-ins do país viram suas vendas de ingressos dobrarem nas últimas semanas. E a saída não tem ficado só por lá. No Brasil, o cine drive-in de Brasília, um dos únicos do país, voltou a funcionar. O Rio vai ganhar um até o final de maio e o Allianz Parque, em São Paulo, deve inaugurar outro em até dois meses. Na Europa, os drive-ins ainda têm funcionado para shows e até raves. Com os carros respeitando o distanciamento social.
E fechando uma semana, daquelas inacreditáveis, os mais clicados por nossos leitores:
1. Reuters: O novo Banksy – Menino larga Batman e brinca com boneco de enfermeira.
2. G1: Entenda o que significa Lockdown.
3. Twitter: General Paulo Sérgio sobre o envolvimento do Exército no combate à Covid-19.
4. Folha: Veja como seu estado está preparado para o coronavírus.
5. Fantástico: Bolsonaro volta a apoiar ato antidemocrático contra o STF e o Congresso.