Bolsonaro: ‘E daí? Lamento.’
Ao voltar do Planalto para o Alvorada, ontem à noite, o presidente Jair Bolsonaro saltou do carro para conversar com militantes favoráveis ao governo e jornalistas. Um lhe perguntou sobre os números do coronavírus no país. O Brasil bateu seu recorde de mortes registradas num só dia nesta terça-feira, no total soma 5.017 que já perderam a vida, e ultrapassamos assim os números oficiais de mortos na China. “E daí?”, perguntou Bolsonaro aos repórteres. “Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre.” O presidente também foi questionado sobre a decisão judicial, ganha pelo diário O Estado de S. Paulo, que o obriga a apresentar o resultado de seu exame. “Vocês me viram rastejando aqui, com coriza?”, perguntou. “Eu não tive.” Ele se queixou da decisão, afirmando que tem direito à privacidade. Perguntaram, igualmente, a respeito de sua indicação de alguém próximo à família para o comando da Polícia Federal. “Vou escolher alguém que nunca vi na vida?” E então questionaram sobre o inquérito aberto no Supremo para investigar a denúncia, feita pelo ex-ministro Sérgio Moro, de que ele teria tentado intervir numa investigação da PF. “Ele é quem tem que provar que interferi. Não eu tenho que provar que sou inocente. Mudou o negócio agora. O que ele falou é lei, é verdade?” (Poder 360)
Em conversa também ontem com o governador da Flórida, Ron DeSantis, o presidente americano Donald Trump levantou a hipótese de suspender voos Brasil-EUA. Ele se queixou de que o Brasil, pela escalada no número de casos que vive, poderia trazer de volta o vírus. “Nós podemos estar indo bem na Flórida e aí as pessoas meio que vão entrando”, disse. Trump cogitou pedir às empresas aéreas que testem passageiros. “Acho que somos tecnologicamente mais avançados, então proponho isso.” DeSantis reagiu mal à ideia. “Não vamos cortar o Brasil. É só que, se você viajará para Miami, as empresas aéreas deveriam fazer um teste e só então deixá-lo entrar no avião.” (Politico)
A posse de Alexandre Ramagem no comando da Polícia Federal está marcada para hoje, às 15h. Pode não acontecer. Até o final da tarde de ontem, já havia seis ações judiciais pedindo para suspender sua nomeação — alegam ‘aparelhamento particular’ de órgão de Estado. O relator, no Supremo, é o ministro Alexandre de Moraes. (Conjur)
Bernardo Mello Franco: “A mistura de indiferença e deboche virou marca das declarações do presidente. No domingo, ele foi questionado por uma eleitora sobre a decisão de entregar o comando da Polícia Federal a um amigo dos filhos. Ele não se julgou obrigado a esclarecer o conflito de interesses. Bolsonaro quer transformar o Brasil na República do ‘E daí?’. Seu desejo é viver num país em que o governante pode ignorar as leis e não precisa prestar contas do que faz. Por isso, ele detesta a imprensa e incentiva ataques ao Congresso e ao Judiciário.” (Globo)
As negociações do Planalto com o Centrão estão a pleno vapor — e o custo do apoio está aumentando, conforme a crise se agrava. “Me ofereceram o comando do Porto de Santos, mas eu não vou aceitar”, afirmou o deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. (Estadão)
Cláudio Couto, cientista político: “Não custa lembrar, o Centrão não é o centro. Trata-se de um nome-fantasia, um eufemismo para denominar o que pode ser mais propriamente chamado de direita fisiológica adesista. Embora seja formado por partidos e políticos de direita, essa não é sua única característica. São fisiológicos porque seu principal intuito é obter ganhos relacionados a verbas e cargos públicos em contrapartida a apoio legislativo. São adesistas porque seu fisiologismo os leva a aderir a quaisquer governos, mesmo de campos ideológicos opostos, pragmaticamente. Portanto, relativizam e moderam suas posições ideológicas em prol dos ganhos fisiológicos, mediante adesão. Por isso se aliaram a governos tão distintos ideologicamente como Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer e, a se confirmarem os atuais acertos, Bolsonaro.” (BR Político)
Em 2014, o Brasil estabeleceu vinte metas a serem alcançadas em educação até 2024. De acordo com avaliação dos técnicos do Tribunal de Contas da União, informa Lauro Jardim, as possibilidades de não atingir 18 delas são muito altas. (Globo)
Viver
São 217.555 mil mortes no mundo segundo a Universidade Johns Hopkins (atualizado às 6h44, horário de Brasília).
Só os Estados Unidos registraram 2.207 mortes entre às 20h30 locais de segunda e a mesma hora de ontem. O número eleva o total de óbitos pela pandemia no país a 58.351, mais que os soldados americanos mortos durante duas décadas na guerra do Vietnã. (AFP)
Também pode ser pior. Novos dados do CDC (orgão de saúde americano) sugerem que o número de mortes por vírus é maior do que o relatado. O número total de mortes em sete estados afetados foi quase 50% maior do que o normal em um período de cinco semanas durante a pandemia, de acordo com as estatísticas — são nove mil mortes a mais do que sugerem as contagens oficiais. A diferença entre a mortalidade total e a contagem oficial por coronavírus provavelmente reflete tanto subnotificação quanto um aumento nas mortes por outras causas. Há evidências crescentes de que o estresse no sistema de saúde e o medo de contrair a doença fizeram com que alguns americanos morressem de doenças em geral tratáveis. (New York Times)
E o futebol não deve ser disputado até o início de setembro.
Michel D’Hooghe, diretor do comitê médico da Fifa: “Se há um momento onde prioridades absolutas deveriam ser dadas a assuntos médicos, é agora. Não é questão de dinheiro, mas de vida ou morte. Essa é a situação mais dramática que já vivemos desde a Segunda Guerra Mundial. Nós não deveríamos subestimá-la, precisamos ser realistas”.
Cultura
Por falar em streaming, mudanças no Oscar. Antes da pandemia, um filme precisava ser exibido em um cinema de Los Angeles por pelo menos sete dias consecutivos, com três sessões diárias, para ser elegível às categorias principais da premiação. Agora os longas lançados nas plataformas de streaming, enquanto os cinemas continuam fechados, terão a chance de concorrer. Somente aqueles lançados após o fim do isolamento social precisarão obedecer à antiga regra. A mudança foi anunciada ontem pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e valerá para sua próxima edição.
Aliás, o UOL, em parceria com a Watch Brasil, lançou o UOL Play. É conteúdo sob demanda de vários canais de TV por assinatura, como Fox Premium, ESPN e National Geographic.
Cotidiano Digital
A China se prepara para estar na linha de frente dos padrões globais da próxima geração de tecnologias. Após dois anos de planejamento, o governo chinês deve lançar até o final do ano o China Standards 2035 — um plano de 15 anos para criar especificações técnicas em como o mundo utilizará tecnologias como inteligência artificial, internet das coisas, computação na nuvem, big data e 5G. Essa função normalmente fica por conta de empresas como Qualcomm e Ericsson. Mas a China tem criado comitês com companhias locais como a Huawei e Tencent para liderar as normas. Inclusive, o governo apresentou a ONU um plano com a Huawei para criar um novo modelo de IP. O país precisará ainda aumentar muito a qualidade das suas empresas para conseguir competir com as americanas e europeias. Mesmo assim, o plano de longo prazo chinês têm gerado ainda mais preocupação entre os analistas sobre a concentração de dados que ficaria sobre domínio do governo.
O YouTube está expandindo sua ferramenta de verificação contra fake news. Agora, nos EUA, pesquisas mais relevantes virão acompanhadas de artigos de agências de fact-checking. A medida já existe há um ano no Brasil e Índia e segundo a empresa, está sendo ampliada para controlar a desinformação durante a pandemia.