Edição de Sábado: O nascimento do cinema — e dos Oscars

Na noite de 3 de março, em 1915, David Wark Griffith vestia um fraque quando entrou no Liberty Theater de Nova York, no lado oeste da rua 42, para assistir à estreia de sua obra prima. O Liberty tinha espaço para mil pessoas e, em geral, servia a atores sobre o palco, coisa muito mais nobre do que cinema. Mas aquele seria um filme diferente. Ao invés dos dez centavos habituais, o ingresso saía por dois dólares. A nata da sociedade estava presente, e uma orquestra de quarenta músicos acompanharia a exibição de um filme como ninguém jamais havia assistido. Ao todo, duas horas, quarenta minutos de cinema. A produção havia custado uma fortuna — US$ 100 mil. Mas arrecadaria, nos anos seguintes, US$ 18 milhões — o equivalente a US$ 1,8 bilhões, hoje. Atraiu tantos espectadores que só em 1939, com ...E o Vento Levou, o recorde seria batido. Corrigindo pela inflação apenas três filmes foram mais rentáveis na história: Vingadores Ultimato, Avatar e Titanic. Mas nenhum tem a mesma marca de inovação. Aos 40 anos, com pouco mais de dez de carreira fazendo filmes, Griffith havia juntado em O Nascimento de Uma Nação toda a experiência angariada até ali para, em essência, inventar o cinema. Jogos de câmera, cortes entre cenas, movimentos, closes, toda uma estrutura que serve à narrativa cinematográfica com a qual estamos habituados estava sendo criada ali. Naquele que é, também, lembrado como um dos filmes mais racistas da história.

Um século depois, talvez sequer seja óbvio. Mas o cinema é, assim como a do Vale do Silício, uma indústria que nasce do encontro entre tecnologia, criatividade — e marketing. Neste fim de semana de Oscar, vale a lembrança. Esta é uma história do princípio da indústria cinematográfica, e de como ela levou à premiação mais conhecida do mundo.

O cinema não só nasceu como uma tecnologia como nasceu no próprio Vale do Silício. Em 1878, um ex-governador da Califórnia chamado Leland Stanford contratou o fotógrafo Eadweard Muybridge por conta de uma aposta com amigos. Luxo de milionário. Ele garantiu que cavalos, mesmo que por instantes, tiravam as quatro patas do chão. Mas precisava prova-lo, e foi este o desafio pelo qual pagou ao fotógrafo inglês: registrar um de seus cavalos de corrida em movimento para descobrir. Foi na fazenda da pequena cidade de Palo Alto, em que Stanford tinha seu haras, que Muybridge enfileirou uma série de câmeras, fez cruzar pela pista fios atados ao gatilho das máquinas, de forma que conforme o cavalo passava, rompia os fios batendo fotos. E, sim, há momentos em que, quatro patas contra a barriga, cavalos se sustentam no ar por frações de segundo. As fotos sequenciais, dentre as primeiras a registrar movimento, foram batidas onde hoje é o campus da Universidade de Stanford, lugar de nascimento do Google, do Instagram, e ao redor da qual se ergueu o Vale que, na época, era mais conhecido por seus laranjais.

Tecnologicamente, o cinema não tem um inventor — tem muitos. Um destes foi Muybridge, que financiado por Stanford construiu um projetor que batizou Zoogyroscope, para exibir as fotos dos cavalos sequencialmente. Na mesma época, em Paris, um fisiologista chamado Etienne-Jules Marey, também preocupado em compreender movimento dos seres vivos, construiu uma câmera capaz de tirar doze fotos por segundo — uma técnica que batizou chronofotografia. Assim como, dez anos depois, Thomas Edison criou a Kinetógrafo, uma câmera de cinema primitiva e, após, o Kinetoscópio, um projetor para os filmetes registrados. Em 1895 foram os irmãos Auguste e Louis Lumière que apresentaram seu Cinematógrafo, um outro projetor, capaz de exibir 16 quadros por segundo.

O equipamento existia — a indústria, não. Por um tempo, os irmãos Lumière fizeram dinheiro exibindo filmes curtos com cenas cotidianas. O mais famoso deles, que registra a chegada de um trem à estação La Ciotat, foi reapresentado esta semana após restauração por um algoritmo de inteligência artificial. Assista. O resultado impressiona e abre as portas para revermos com outros olhos aquele cinema inicial. Nos EUA, por sua vez, Edison fazia algo diferente. Contratava dançarinas, lutadores de boxe, registrou a dança de indígenas. A um momento chegou até a filmar uma briga de gatos com luvas de boxe — era o sensacionalismo do tempo. Filmes, todos, que duravam segundos. Foram o princípio da indústria: as pessoas pagavam para assistir a estes flagrantes nos kinetoscópios — máquinas distribuídas por lojas ou parques de diversão nas quais se encaixava o olho para, em essência, se maravilhar com uma nova invenção.

(Assista aos primeiros filmes de Edison.)

Um dos primeiríssimos a usar a tecnologia da imagem em movimento para contar histórias foi um ilusionista francês — Marie-Georges-Jean Méliès. Para ele, era uma extensão de seu trabalho como mágico. Chegou a tentar comprar uma das máquinas dos irmãos Lumière, que se recusaram a vender para manter um monopólio inexistente. Na França, alguns outros exploravam máquinas similares. Méliès, cujo filme mais conhecido é Uma Viagem à Lua, desejava contar histórias e causar espanto. Alguns dos insights que teve duraram por décadas. A ideia, por exemplo, de fazer com que objetos sumissem de cena porque houve um corte, os atores ficaram parados, o objeto foi retirado e a filmagem, retomada. Mas também a própria ideia de cenas sequenciais para narrar uma história. Seus filmes raramente tinham mais do que vinte minutos e, em alguns casos, Méliès e seu grupo pintavam um por um os fotogramas. Ele fez imenso sucesso na virada do século 19 para o 20, mas quebrou. Seus filmes foram pirateados no mundo inteiro e ele não conseguiu controlar.

(Uma versão colorizada na época de Viagem à Lua foi descoberta faz pouco tempo e restaurada. Assista.)

A marca dos primeiros anos do novencentismo é o surgimento, nos EUA, dos Nickelodeons. Os primeiros cinemas, que custavam um níquel — ou cinco centavos de dólar. Ainda era, a coisa toda, vista como uma indústria de tecnologia que atiçava uma graça, provocava uma surpresa, distraía por não mais que meia hora. Um contar de histórias muito primitivo, quase sempre com a imagem capturada por uma câmera fixa olhando para os atores de corpo inteiro. Ainda assim, conforme histórias curtas começavam a se tornar a norma, o negócio cresceu.

Edison era uma espécie de Steve Jobs de seu tempo, um gestor de insights tecnológicos e engenheiros competentes, que construía indústrias baseadas em eletricidade e patentes. Como o negócio das imagens em movimento cresceu, concluiu que poderia monopolizá-lo pelo caminho das patentes. (No Vale, a prática persiste.) Pois em 1908, o inventor reuniu algumas poucas empresas que detinham patentes relacionadas à tecnologia para fincar monopólio e concentrar o negócio.

Thomas Alva Edison cometeu dois erros crassos. O primeiro foi acreditar que patentes e muitos processos contra empresas nascentes e pobres poderia impedir o avanço de uma indústria com múltiplos inventores. (Gente demais havia inventado a coisa.) O segundo foi típico de qualquer indústria ligada a tecnologia. Nas redes sociais, houve Friendster, houve MySpace, houve SixDegrees. Foram Facebook e Twitter, que vieram depois, que dominaram o negócio por terem insights mais precisos sobre a expectativa do público. Aí é que está. Edison pensava num negócio ancorado na tecnologia. Uns outros tantos enxergavam uma indústria baseada em conteúdo. A tecnologia era detalhe.

Hollywood surgiu por dois motivos essenciais. O primeiro é que em Los Angeles não neva, a paisagem nos arredores vai do deserto à mata, faz sol o ano inteiro. Não bastasse, a Costa Oeste dos EUA ainda era pobre — e barata — comparada com a Costa Leste. Lá era possível construir estúdios grandes a menor custo, aproveitar o ambiente para cenários diversos, e a luz era garantida por muitas horas de filmagem. Mas havia outra razão. Num tempo de comunicação precária, estar do outro lado do país permitia ficar longe da pressão monopolista de Edison.

Não é trivial tocar uma startup, e quando um mercado está apenas surgindo ninguém sabe qual a cara que aquela indústria nascente terá. Foi assim com o cinema. Uma das convicções de Thomas Edison, talvez o maior gênio de princípios do século 20, era de que gastar dinheiro demais com atores era colocar em risco a rentabilidade. Mas ele detinha o monopólio. Em Los Angeles começava a surgir uma indústria pirata — usava a tecnologia sem licenciar, para fazer filmes de toda sorte. Experimentar era a regra. E uma das experiências feitas foi fazer dos atores e atrizes protagonistas estrelas. Exigiria pagamentos melhores, por um lado. Mas, se tudo desse certo, também venderia mais ingressos se acaso o público começasse a procurar filmes daquelas pessoas.

Transformar atores e atrizes em destaques que pudessem vender filmes foi a decisão chave para o nascimento de Hollywood.

Na década de 1910, explodiram o comediante inglês Charles Chaplin, o galã americano Douglas Fairbanks, e a atriz virginal Lilian Gish. Envolvidos naquela aventura que era essencialmente pirata, por violar teóricas patentes, tiveram de inventar um cinema que era completamente distinto daquilo que jamais havia existido. Foi o momento no qual surgiu David Wark Griffith. Ou, como se tornaria conhecido, D. W. Griffith. Griffith jamais quis dirigir cinema. Filho de um coronel do exército Confederado, o lado perdedor da Guerra Civil americana, cresceu pobre mas leu muito. Sonhou ser um grande autor de teatro — a arte nobre. Para sobreviver, após uma curta carreira como ator, teve de se contentar com a labuta de diretor. Ele, que se considerava um southern gentleman, via aquilo como coisa menor. Mas foi incapaz de olhar para câmera, roteiro e atores seguindo o padrão habitual. Cada um de seus curtas parecia um quê mais extraordinário. Até o momento em que, reunindo investidores o suficiente, decidiu tocar seu projeto de coração: a adaptação de The Klansman, um romance do sul pós-Guerra Civil, que narrava um ambiente pós-abolição de negros violentos nos quais a Ku Klux Klan nascera para garantir a integridade do homem comum oprimido.

Era o mundo no qual Griffith se criara.

“A pior coisa a respeito de O Nascimento de Uma Nação”, escreveu um crítico contemporâneo, “é quão bom o filme é.” Na cena final, a cavalaria avança para salvar os inocentes. A cavalaria é a Ku Klux Klan — da maneira como foi filmado, os homens marchando a cavalo de frente, a câmera se movia no mesmo ritmo. Os cavalos andavam à frente, a câmera ia junto. A câmera se movia. (Assista.) Alguém falava, a câmera focaliza seu rosto. Um fade, degradê de uma cena para a outra, indicava passagem de tempo. Nos momentos de tensão, de conflito, cortes sequenciais fixavam num ponto da ação, e depois no outro, dos antagonistas, de um ao outro e de volta muito rápido. Não é apenas que tenham sido duas horas e quarenta de filme. Griffith inventou, ali, a língua pela qual se organiza um longa metragem.

Foi um espetáculo marcante, inventou o cinema moderno e, no mesmo lance, fez de um filme um fenômeno cultural. A KKK, esquecida desde o pós-Guerra Civil, renasceu. O movimento negro, para protestar o racismo, se impôs para nunca mais calar.

Mas tudo eram experiências com uma nova tecnologia, uma tentativa de criar negócios em cima de possibilidades técnicas. Hollywood poderia ter morrido ali. Como a trupe de Edison, inovou, mas aí passou. Em 1914, porém, explodiu a Primeira Guerra e toda a produção cinematográfica europeia congelou. Num tempo de cinema mudo, exportar filmes dependia apenas da tradução de meia dúzia de intertítulos. No jogo de dados da história, naquele momento específico, toda a produção de cinema do mundo estava concentrada em Los Angeles. E como exportaram para o velho continente. Hollywood dominou o negócio para além das fronteiras do país.

Os estúdios nasceram, longas como os de Griffith se tornaram comuns, e sua linguagem, assim como a lógica de estrelas bem pagas e muito reconhecidas se tornou norma.

A Academy of Motion Picture Arts and Sciences nasceu como uma tentativa dos estúdios de reunir num ambiente controlável todos que trabalhavam num negócio. Era, no ano de 1929, uma maneira de tentar driblar os sindicatos, manter salários baixos e evitar greves. Mas já que o grupo estava formado, alguém teve a ideia de juntar todos para uma votação e escolher os melhores do ano em cinema.

Àquela altura, uma indústria havia se formado ao redor do star system, as estrelas de Hollywood. Revistas de fofoca, biografias curtas, vendas de fotografias e pôsteres. O prêmio anual da Academia, em essência, era mais uma ferramenta para incentivar o público a se apaixonar por cinema.

Naquele ano de 1929, o escolhido para melhor filme foi Wings (trailer), dirigido por William Wellman.

Neste domingo ocorrerá a 92ª cerimônia.

Extra: D. W. Griffith fala sobre O Nascimento de Uma Nação.

Um novo contrato social para o século 21

É um dos grandes dramas sociais: o impacto da transição da era industrial para o digital no mercado de trabalho. Fechando postos em fábricas, ‘uberizando’ uma série de trabalhos, mas também criando novas profissões bem remuneradas. O dilema político de hoje é: que novo contrato social podemos construir para esta nova era? A McKinsey publicou essa semana um estudo sobre a questão. Mergulha profundamente no diagnóstico, apontando alguns dos principais desafios a serem atacados, mas não chega a sugerir uma solução ou caminho. O estudo foi feito com dados de 22 países desenvolvidos. Nem o Brasil, nem nenhum dos membros dos BRICs, entraram na pesquisa.

Do estudo: “O custo de produtos e serviços caiu de forma considerável, mas necessidades básicas como moradia, saúde e educação absorvem uma parte cada vez maior da renda. Combinado com o efeito da estagnação dos salários, está erodindo o bem estar dos três quintos mais pobres da população. Enquanto isso, aposentadorias estão sendo reduzidas. Mantendo todo o resto constante, consumidores de dez dos países de nossa amostra teriam que trabalhar quatro semanas a mais por ano para manter o mesmo nível de moradia, educação e saúde do que duas décadas atrás. Estas mudanças apontam para uma evolução do ‘contrato social’. Os indivíduos estão tendo que assumir cada vez mais responsabilidades por sua situação econômica. Enquanto alguns se beneficiaram desta evolução, para um número significativo de indivíduos as mudanças estão gerando incerteza, pessimismo e uma quebra de confiança nas instituições.”

O estudo destaca uma série de dados interessantes. A grande maioria dos países viu um aumento expressivo de trabalho temporário e uma redução no trabalho de tempo integral. As novas oportunidades de trabalho beneficiaram os mais qualificados, com as vagas melhor remuneradas. O trabalhador médio ficou espremido no meio. Dos 45 milhões de novos empregos criados desde 2000, 31 milhões foram para as mulheres. A taxa de emprego feminino subiu 6.3% neste período. Este crescimento foi observado em todos os países da pesquisa, com excessão dos Estados Unidos e Noruega, onde caiu 2.2% e 1.3% respectivamente. Custos de roupas caíram 31%, móveis 33%, recreação 30% e comunicações 43%. Enquanto isso, custos com saúde subiram 19%, moradia 21% e educação 52%. Com tudo isso, o percentual de pessoas com patrimônio negativo está aumentando. Nos Estados Unidos, por exemplo, subiu de 16% em 2001 para 23% em 2017.

E por falar... O professor Daniel Markovitz, da escola de direito de Yale, publicou na Atlantic um artigo intitulado Como a McKinsey destruiu a classe média. O alvo do artigo, na verdade, é o candidato à presidência Pete Buttigieg, que trabalhou na consultoria após se formar em Harvard e Oxford, antes de entrar para o serviço militar. O artigo traz uma crítica à esquerda, da gestão tecnocrática, que segundo o autor não consegue resolver o problema da desigualdade estrutural.

Daniel Markovitz: “Consultorias aconselham gestores sobre como gerenciar empresas; a McKinsey atende 90 das 100 maiores empresas do mundo. Gestores não produzem bens ou entregam serviços. Eles planejam e coordenam os trabalhadores que fazem os produtos. Uma boa gestão adiciona muito valor para a empresa. Isso torna a questão sobre quem pode ser um gestor extremamente importante. Na década de 40, gerentes de nível médio, que operavam com grande independência da direção das empresas, compartilhavam não apenas a responsabilidade pela gestão, mas também o salário e o status de executivo. Um estudo da própria McKinsey mostrou que entre 1939 e 1950, a remuneração de trabalhadores do chão de fábrica subiu cerca de três vezes mais rápido do que a da elite executiva. Nos anos 70 e acelerando nas décadas de 80 e 90, os consultores apontaram para os gerentes de nível médio que dominavam as empresas na metade do século. GTE, Apple e Pacific Bell citaram a reengenharia como responsável pela redução de cargos. Empresas de consultoria implementaram e racionalizaram uma transformação das corporações americanas. O pico do downsizing ocorreu na década de 90. No geral, cargos de média gerência foram reduzidas numa taxa duas vezes maior do que a de cargos não gerenciais. A transição do emprego de permanente para precário continua de forma acelerada. A função gerencial não desapareceu, mas foi concentrada em uma pequeno grupo de executivos. Enquanto no meio do século passado um CEO ganhava cerca de 20 vezes o salário de um operário, hoje um CEO ganha quase 300 vezes mais. Enquanto, no século passado, menos de um em cinco líderes de empresas dos EUA possuíam formação superior, do típico executivo, hoje é esperado que possua um diploma e MBA de universidades de elite, além de ligações profundas com empresas de consultoria. Hoje 70 CEOs das empresas do Fortune 500 já trabalharam na McKinsey em algum momento de suas carreiras - entre eles os atuais CEOs ou COOs de Google, Facebook e Morgan Stanley. A associação de Buttigieg com a McKinsey exacerba o ceticismo da esquerda com sua candidatura. A preocupação é com o papel central que a revolução dos consultores teve no aumento das desigualdades econômicas que ameaçam transformar os EUA em uma sociedade de castas.”

Mulheres na Nasa

Esta semana foi marcada por um feito histórico. A astronauta americana Christina Koch quebrou o recorde feminino de permanência no espaço: 328 dias na Estação Espacial Internacional (ISS). A marca anterior era da também americana Peggy Whitson, que ficou 288 dias. Aliás, Whitson ainda é a única astronauta da Nasa a somar mais dias no espaço, com 665. Enquanto, Koch ingressou no corpo de astronautas em 2013, a primeira turma na história da Nasa a ter o mesmo número de homens e mulheres. A sua marca histórica é resultado de um plano maior da Nasa de se reestruturar para destacar as contribuições femininas.

A agência espacial americana já anunciou que quer levar novamente o homem à Lua até 2024. Só que dessa vez, quer que uma mulher também faça a viagem. O seu programa até ganhou um nome especial para evidenciar essa meta: Artemis, que na mitologia grega é irmã de Apollo — nome dado a missão que levou Neil Armstrong e Buzz Aldrin ao solo lunar em 1969. A Nasa tem trabalhado para isso. Em outubro, Koch e Jessica Meir fizeram a primeira caminhada espacial feminina quando saíram da estação para consertar um carregador de bateria com defeito.

Mas, claro, que essa mudança esbarra em comportamentos e práticas ainda bem masculinos. A Nasa, por exemplo, teve que adiar essa primeira caminhada quando percebeu que só tinha um traje que cabia nas astronautas mulheres. E a Nasa tem um histórico desse tipo. Em 1969, Poppy Northcutt, a única mulher na sala de controle das missões Apollo, descobriu que seus colegas a vigiavam por uma câmera escondida. Anos depois, em 1983, Sally Ride, a primeira astronauta americana a ir para o espaço, foi perguntada pelos seus colegas se 100 absorventes seriam suficientes para uma viagem de uma semana. Para evitar esses tipos de constrangimentos, a Nasa tem se empenhado em mudar suas regras e cultura interna. O seu guia de práticas, por exemplo, foi atualizado com termos sem gênero. Mas, voo espacial tripulado ainda é dito como manned spaceflight, algo como homens à bordo.

Os números mostram que o caminho é longo. Das 564 pessoas que já foram ao espaço, apenas 65 são mulheres. As mulheres representam apenas 24% da indústria aeroespacial. Na Nasa, as mulheres são um terço da força de trabalho. Apenas 28% ocupam cargos de liderança executiva e 16% são funcionárias científicas, de acordo com pesquisa da agência. Trazer mais mulheres não é só importante para melhorar os índices, mas também aprimorar as pesquisas. A base de dados da Nasa foi toda compilada a partir de viagens espaciais majoritariamente masculinas. Com o recorde de Koch é possível entender melhor como o corpo feminino se comporta em viagens espaciais longas. Até hoje, os dados usados sobre o efeito da radiação nas mulheres vem de sobreviventes de Hiroshima. E cientistas ainda não sabem explicar porque a radiação afeta mais significativamente elas do que eles.

Agora, elas se destacam na linha de frente, mas mesmo em minoria, as mulheres fizeram parte dos bastidores da Nasa. Margaret Hamilton foi a programadora que salvou a missão Apollo 11 e previu um bug. Ela ainda é a responsável por criar o termo engenharia de software. Chamadas de computadores humanos, durante anos até a década de 70, grupos de mulheres negras estavam por trás das equações que descreviam todas as funções das aeronaves e das missões espaciais da Nasa, incluindo a Apollo. Suas histórias foram retratadas no livro Estrelas Além do Tempo (Amazon), que depois virou filme. E muitas outras marcaram a história da Nasa, como a astrônoma responsável pelo telescópio Hubble e a engenheira que ajudou a definir a aeronáutica moderna.

Curiosidade. A primeira vez que uma mulher foi ao espaço foi em 1963. Em meio a corrida espacial com os EUA, a União Soviética enviou Valentina Tereshkova. Aos 26 anos, a astronauta ficou três dias em órbita.

Assista: reportagens em vídeos sobre as mulheres que ajudaram a levar o homem à Lua.

E… um livro (Amazon) de histórias de 50 pioneiras no espaço.

Uma criatura misteriosa, um vídeo clássico, agora em alta definição, fotos, cursos e anúncios. Os mais clicados da semana.

1. Mashable: Uma foto, um ângulo inusitado, uma estranha criatura? Ou apenas um adorável cachorro?

2. Youtube: O histórico filme do trem, dos irmãos Lumière, convertido para 4K com o uso de inteligência artificial.

3. Estadão: Uma seleção de cursos para quem quer se aprimorar nas áreas de arquitetura e decoração.

4. CNN: 24 fotos de esportes que marcaram a semana.

5. Techcrunch: Os anúncios de tecnologia veiculados no Super Bowl deste ano.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Já é assinante premium? Clique aqui.

Este é um conteúdo Premium do Meio.

Escolha um dos nossos planos para ter acesso!

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual

*Acesso a todos os cursos publicados até o semestre anterior a data de aquisição do plano. Não inclui cursos em andamento.

Quer saber mais sobre os benefícios da assinatura Premium? Clique aqui.