O Meio no Google, dia 2: Quem está inventando a internet do futuro

Somos, no planeta Terra, 7,7 bilhões de humanos. Até o final deste 2019, 4 bi estarão online. E, em algum ponto entre 2020 e 21, seremos 5 bi convivendo no mundo digital. Um dos principais focos do Google é justamente esta turma. O esforço, liderado pelo indiano Caesar Sengupta, é para descobrir quem são este próximo bilhão de usuários e que tipo de necessidades eles têm. O que é que facilitará o acesso destas pessoas à internet. A equipe do NBU — Next Billion Users — é formada por engenheiros, gestores com experiência em produto e sociólogos que, espalhados pelo mundo, aprendem sobre essa nova gente e constroem máquinas e aplicativos que possam usar.

Este é o segundo relato do Meio feito a partir do Google IO, a conferência anual da empresa para desenvolvedores, que ocorre esta semana em Mountain View, no Vale do Silício.

O Brasil é, junto com Índia, Indonésia e Nigéria, o foco primeiro deste time. Aos quatro foram juntados, depois, México, Quênia, Paquistão, Tailândia, Bangladesh, Vietnã, Filipinas e Egito. Quase metade do próximo bilhão de usuários virá daí. Mas não se trata de um conjunto uniforme de pessoas. São jovens urbanos, por exemplo, que ganharão ou comprarão seu primeiro smartphone. São pessoas pobres que, conforme caem preços e amplia-se a infraestrutura, têm chance de, enfim, entrar na rede. E são mulheres. Porque na internet entram bem mais homens do que mulheres, principalmente em países onde a barreira cultural faz parecer que o mundo digital não é para elas - muitas são donas de casa e mães, algumas vezes analfabetas, com relações de amizade dificultadas fora do núcleo familiar e sem acesso a trabalho.

“A primeira coisa que descobrimos”, conta Sengupta, “é que quando fazemos produtos para este próximo bilhão de usuários, estamos na verdade construindo o que será o futuro da tecnologia.” Foi, inicialmente, uma surpresa. Quem usa aparelhos digitais há muito vem construindo certas expectativas. Um teclado mesmo que virtual, na tela, por exemplo, não deixa de ser uma herança dos tempos das máquinas de escrever. Quem entra online pela primeira vez hoje não tem qualquer expectativa a respeito de como interagir com o maquinário. “Interagir por meio da voz, por exemplo, é muito mais natural para estas pessoas.” Com meios de pagamento é o mesmo — transferências digitais podem ocorrer de qualquer forma para quem nunca usou um banco antes.

Há pequenas — grandes — vitórias. Uma senhora do interior indiano, por exemplo, descobriu o quanto poderia aprender na internet, de lá tirou técnicas, no quintal plantou erva-cidreira que sequer conhecia e criou um pequeno negócio cujo dinheiro faz grande diferença. Outra, também de lá, descobriu que o celular pode ler em voz alta o que está escrito nos pacotes, nos jornais, nas placas. E, de analfabeta, descobriu-se capaz de circular pelo mundo com outra percepção. Criado a pedido de brasileiros, o app Files ajuda a selecionar o que, num celular Android, pode ser apagado. Imagens engraçadas que vêm por WhatsApp, vídeos pelo email, tudo o que é descartável, vai se acumulando, e nos celulares baratos esgota rapidamente a memória exígua. Criado para brasileiros pobres, o app se tornou popularíssimo até nos EUA e na Europa ocidental.

Através destes olhos virgens, que não guardam expectativas, o Google está aprendendo quais os potenciais futuros da tecnologia. E, aí, há o que apelidaram de três Vs: voz, vídeo, vernáculo. A internet que um dia foi principalmente escrita está se distanciando de seu passado. A interação será por comandos de voz, boa parte do conteúdo consumido será em vídeo mas, para trazer mais gente online, é fundamental que se incentive a criação de conteúdo nas línguas de cada povo. É a principal lição deste novo bilhão de usuários que está desenhando a nova rede.

“No fim, nossa estratégia tem de passar por outros três pontos”, conta Josh Woodwards, responsável pelos produtos do NBU. “O primeiro é acesso. Temos de descobrir como baratear e levar a estas pessoas conexões rápidas. Daí vêm os aparelhos, principalmente celulares. Como fazer com que smartphones de US$ 35, US$ 50, sejam rápidos e eficientes? Por fim, plataformas.” Ou seja: os espaços comandados por voz, os espaços com muito vídeo.

O que amarra a estratégia é a preocupação com privacidade. É onde entra a preocupação com mulheres. A garantia de que o que fazem é realmente privado, que sua imagem não vai circular, que seus interesses não serão usados por homens contra elas, que a internet seja realmente segura, é essencial para que lhes seja atraente. Porque, quando elas entram online, o que criam com a informação que recebem vai, inclusive, ampliar a riqueza do mundo.

A internet do futuro criada por quem está entrando agora: voz, vídeo, vernáculo. Barata. Rápida. E segura.

Encontrou algum problema no site? Entre em contato.

Já é assinante premium? Clique aqui.

Este é um conteúdo Premium do Meio.

Escolha um dos nossos planos para ter acesso!

Premium

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 180 por R$ 150 no Plano Anual

Premium + Cursos

  • News do Meio mais cedo
  • Edição de Sábado
  • Descontos nos Cursos do Meio
  • 3 dispositivos
  • Acesso ao acervo de Cursos do Meio*
ou

De R$ 840 por R$ 700 no Plano Anual

*Acesso a todos os cursos publicados até o semestre anterior a data de aquisição do plano. Não inclui cursos em andamento.

Quer saber mais sobre os benefícios da assinatura Premium? Clique aqui.