O Meio na CES: A voz vai nos salvar dos celulares

O primeiro smartphone de fato, o iPhone inicial, foi lançado em 2007. Nos anos seguintes, a categoria explodiu e se tornou nossa ferramenta digital dominante. Não só faz parte da vida como determina nosso rimo cotidiano. Echo, a primeira caixa de som inteligente, foi lançado pela Amazon na virada de 2014 para 15. Teve uma recepção inicial tímida. Foi só no início. Ainda não há números oficiais, mais o cheiro é de que, em finais de dezembro, 41% das residências americanas já tinham uma caixa destas. Está virando mainstream. Se alguém quiser imaginar como será nossa relação com tecnologia em princípios de 2029, esta é uma aposta que já se mostra fácil de fazer: conversaremos muito com nossas máquinas.

É que voz, o Vale do Silício se convenceu, é o antídoto para a irritação que os usuários começam a demonstrar por seus celulares. Esta é uma onda crescente que preocupa muitos executivos. As pessoas usam os pequenos paralelepípedos pretos com suas telas hipercoloridas. Mas cada vez mais se ressentem do tempo que gastam com eles.

(Home, a caixa de som inteligente do Google, será lançada no Brasil este ano. 2019. Quem comprou no exterior já pode conversar com ela em português. Basta configurar no app.)

A presença da Amazon é tímida, aqui em Las Vegas, cidade que recebe anualmente a CES, principal feira internacional de tecnologia de consumo. A do Google, não. E o produto que o Google alardeia por toda parte — nos vagões do monorail, nos outdoors e fachadas de hotéis, e de um canto ao outro do centro de convenções onde a feira é realizada — é o Assistant. Sua Assistente de Voz. Está dizendo para todo mundo: é seu produto mais importante.

A parte de exposição de produtos da CES ainda estava sendo montada, na segunda-feira. Mas as conferências ocorriam a pleno vapor. Nenhuma gerou tantas filas, e deixou tanta gente de fora da grande sala onde ocorreu, quanto a apresentação da pesquisa The Smart Audio Report, realizada pela consultoria Edison para a NPR, Rádio Pública Nacional americana.

Pois é: 8% dos americanos ganharam uma caixa de som inteligente de Natal. É muita gente.

O Smart Audio Report é uma pesquisa complexa pois entrou nela etnografia. Antropólogos foram às casas das pessoas para compreender o convívio com a tecnologia. No link, há vídeos destas entrevistas. “Quem interage por voz se encanta”, contou Tom Webster, responsável pelo estudo. “As pessoas ainda se impressionam com o fato de as máquinas entenderem os comandos por voz. Todos nos sentimos culpados por usarmos demais nossos celulares, principalmente quando os filhos estão perto. A voz muda isso.” Muitos dos motivos que nos fazem lançar mão do celular a toda hora podem ser resolvidos por comando de voz. Só que a experiência digital, quando interagimos pela voz, é muito diferente. Primeiro, porque é comunitária. 47% das pessoas pesquisadas contam que a interação com suas caixas ocorre quando há outras pessoas presentes. Outras 43% dizem que, de vez em quando, o fazem em companhia. É para pedir uma música, para ouvir uma notícia. No celular só quem está com a cara na tela vive a experiência. Na caixa é diferente — todos participam, comentam o que ouvem. Com frequência, não só adultos, mas também as crianças criam uma relação com a tecnologia.

A imagem é evidente: assistentes de voz recriam o rádio dos anos 1940, quando a experiência da família ao redor de uma caixa de som era corriqueira e íntima. É uma tecnologia que agrega. Faz, portanto, com que o digital deixe de ser pessoal para se tornar comunitário. Diferentemente do vídeo, mexe também com a imaginação. E produz uma relação nova, sem fricções, com tecnologia. Os comandos são simples: ligue a luz, diga as notícias de política, toque Beatles. 38% dos compradores de smartspeakers dizem que o fazem na esperança de diminuir sua dependência em relação às telas.

Outra pesquisa, esta voltada para hábitos de consumo e realizada pela GfK MRI, aponta para a mesma pista: os produtos que dirigiram o crescimento do digital nos últimos dez anos estão entrando numa onda de baixa. É o celular. E nada cresce tão rápido quanto voz. O pulo do gato ocorrerá, apostam as consultoras da GfK, no momento em que a voz chegar ao carro. E várias das montadoras, aqui na CES, prometem isto para já. É quando mais gente criará o hábito de pedir, falando com delicadeza, coisas a suas máquinas.

Ninguém diria, em 2007, que hoje seríamos todos, conjuntamente, em todas as classes sociais, dependentes dos smartphones. Talvez não esteja óbvio agora. Daqui a dez anos, conversar com nossas máquinas será rotina. Se tudo der certo, é este o caminho que a tecnologia seguirá para nos ressocializar.

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