Edição de Sábado: Quando o velho Ruy tornou o Brasil multilateral

Quando desembarcou do navio Araguaia na cidade francesa de Cherbourg, no dia 8 de junho de 1907, Ruy Barbosa tinha plena consciência da dificuldade do trabalho à frente. O que não tinha como saber era o tamanho do feito que realizaria nos quatro meses seguintes. Ao longo da última semana, muito se falou a respeito da tradição multilateral da diplomacia brasileira. Se esta é uma tradição com marco fundador, foi ali, naqueles meses, costurada um discurso após o outro, de conversa em conversa, pelo velho Ruy.

O artigo em inglês da Wikipedia sobre a Segunda Conferência de Haia se inicia assim, e dá resumo: “A delegação brasileira foi liderada por Ruy Barbosa, cuja contribuição é vista por analistas hoje como a primeira defesa do princípio de igualdade legal das nações.”

Ruy não era para ter ido. Não era diplomata e sim jurista, político. O Brasil tinha pelo menos dois grandes diplomatas. O chanceler, Barão do Rio Branco, e o embaixador em Washington, Joaquim Nabuco. Aos 57 anos, baixo, franzino e careca, já tinha seu inconfundível e farto bigode muito branco. Rio Branco queria ter mandado Nabuco a Haia, mas os jornais fizeram imensa pressão para que Ruy representasse o Brasil. Como saída, o ministro propôs enviá-los ambos. “Um ministério de águias”, explicou, tentando tornar a tese palatável para os dois. “Por mais que deseje dar a Ruy essa prova de amizade e confiança”, lhe escreveu dos EUA Nabuco, “não posso ir a Haia como segundo e ele só poderá ir como primeiro.” Eram de fato amigos, os dois. E grandes demais para que tivessem uma relação hierárquica. Diplomacia não se faz sem que esteja claro quem tem a palavra final.

Foi um período de muita tensão e vários conflitos, aquele dos primeiros anos do século 20. As grandes nações estavam em plena expansão imperial, havia uma corrida armamentista em curso com imensos avanços tecnológicos. A cada ano parecia sair um canhão mais potente, fosse por disparar mais tiros em sequência, fosse pelo poder de lançamento. Até ali, 1907, já haviam ocorrido três guerras. O Levante dos Boxers, na China, a Guerra dos Boêres, na África do Sul, e a Guerra Russo Japonesa. Já se haviam enfrentado, portanto, ou lado a lado ou uns contra os outros, os exércitos de Japão, Rússia, Império Britânico, França, Estados Unidos, Império Alemão, Itália, Império Austro-Húngaro e China. O Brasil mesmo vivera, entre 1899 e 1903, sua pequena guerra imperialista, no Acre. Nada fazia parecer que as hostilidades cessariam. E a sombra de que algo mais sério, algo muito maior, poderia vir era real. Como de fato veio, em 1914.

A Segunda Conferência de Haia foi ideia de Theodore Roosevelt, presidente dos EUA, e convocada pelo czar Nikolai II, da Rússia. Seu objetivo não era evitar guerras, mas ao menos definir suas regras. Pela história, ficou lembrada como Conferência de Paz. Na primeira, das Américas só haviam ido EUA e México. Para esta, vinham mais 16, incluindo o Brasil. Tinha motivo: Roosevelt encampava a Doutria Monroe. América para os americanos. Que nenhum país europeu se metesse no território que Washington considerasse seu. E Nabuco não era embaixador lá à toa. O Brasil já entendia que o país do norte se tornava rapidamente uma potência. Era importante que a relação fosse boa, era importante evitar que se tornasse uma relação submissa. Submissão era o que os americanos esperavam das delegações de seu hemisfério.

Naquele ambiente de homens altos e ciosos de seus impérios, baixinho e franzino Ruy Barbosa não causava qualquer impressão. O comitê no qual o puseram, portanto, era de menor importância. Não foi discutir os limites para declaração de guerra, as regras para acordos de paz, direitos e deveres de nações neutras. Não: o Brasil ia debater sobre se era legal ou não apreender navios mercantes de nações inimigas durante guerra. Era uma discussão menor e sua conclusão já estava pronta. Um tribunal no qual só as nações com grande Marinha Mercante teriam assento seria formado para decidir caso a caso. Ruy interveio: por quê? Joseph Choate, o representante americano, entre surpreso e incrédulo escolheu ser irônico. Quantas vezes, afinal, a Marinha Mercante brasileira havia perdido um navio em guerra? Ou, simplesmente, por que o Brasil estava se metendo nisso?

Mas não era sobre navios apreendidos que Ruy Barbosa de fato falava. Era sobre um princípio jurídico, um jeito novo de ver o mundo. “Os Estados, tão diversos na extensão, na riqueza, na força, tinham entre eles um ponto de comensurabilidade moral”, lembraria depois o velho político. “É a soberania nacional. Sobre esse ponto, sua igualdade jurídica estabelecer-se-ia de uma maneira inquebrantável.” Ruy tinha disso: uma cabeça moderníssima, criativa, à frente mesmo de seu tempo. E, no entanto, escrevia e falava num português que até em seu tempo soava já arcaico. Mas o que ele estava dizendo era simples. Qualquer sistema jurídico internacional tinha de partir do princípio de que todos os países são iguais, têm igual direito a sua soberania, não importa quanto poder ou dinheiro tenha.

Não é como se pensava diplomacia. Na leitura americana do tempo, e mesmo de alguns analistas ainda hoje, Ruy Barbosa estava usando de uma tática de obstrução do debate. Quando, lentamente, foi costurando naqueles meses uma aliança primeiro entre os outros países latino-americanos e, depois, entre os outros países que não eram potências, pareceu aos impérios que a tática de obstrução dera certo. E, de fato, a discussão emperrou.

Foi só com a formação da ONU, já depois da Segunda Guerra, que o princípio defendido por Ruy se tornou óbvio, um princípio essencial da maneira como se entende o mundo. Ali, porque usou multilateralismo, porque costurou uma aliança entre muitos contra os grandes, a diplomacia brasileira teve sua primeira grande vitória internacional. Ruy, evidentemente, não trabalhou sozinho. Correspondeu-se o tempo todo, num frenético trocar de telegramas, com Nabuco e Rio Branco. Combinavam, discutiam, pensavam juntos. Mas a cada dia quando se sentava à mesa com seus pares, representantes dos outros países, era ele quem precisava argumentar e convencer. Carregou para o resto da vida o apelido ‘Águia de Haia’. Foi dado por Rio Branco muito antes de ele partir do Brasil, mais como ferramenta para envaidecê-lo para que concordasse em dividir o espaço com Joaquim Nabuco. Tornou-se merecido após o encerramento dos debates.

Oswaldo Aranha e a ONU

Em vídeo, um outro momento. Presidindo a Assembleia Geral da ONU, o brasileiro Oswaldo Aranha organiza o voto que levou à criação do Estado de Israel. Uma decisão conjunta, voto a voto, com peso igual, de todas as nações presentes ao colegiado. Descendente de Ruy. Por conta de Aranha, é até hoje o Brasil que abre anualmente a conferência da ONU.

A corrida pelo aprendizado de máquinas é na verdade uma corrida por dados

Existe um ditado que todo mundo repete nos círculos que estudam inteligência artificial: Quem que possui mais dados, vence. Artigo publicado ontem na MIT Sloan Management Review explica em mais detalhes o que está por trás dessa afirmação. Não é um artigo de tecnologia, mas de gestão: como empresas que queiram usar aprendizado de máquina como vantagem competitiva devem encarar o problema. Parte de um ponto simples. Estes algoritmos estão se tornando commodities. São muitas as bibliotecas de código aberto e já se proliferam serviços de inteligência artificial, como o Tensor Flow do Google, à disposição de quem quiser usá-los, na nuvem. O que faz diferença no resultado, portanto, não é o código. São as bases de dados proprietárias que cada um consegue juntar. Não são poucas as empresas que investem pesado na tecnologia só para que descubram, ali adiante, não ter dados de qualidade e com relevância suficientes para alimentar a máquina. Computadores precisam de um volume imenso destes dados para conseguirem aprender. E não adianta se basear naqueles aos quais todos têm acesso. Dizem que o software vai engolir o mundo. A verdade é que esse software, antes, precisa ser alimentado com informação exclusiva.

Assista: Primeira lição do famoso curso de Machine Learning ministrado em Stanford por Andrew Ng — O que é aprendizado de máquina?

Lidando com contatos feitos em um congresso

Você acaba de voltar de um congresso com uma pilha de cartões de visita. Como aproveitar ao máximo esses novos relacionamentos profissionais? A Harvard Business Review oferece algumas dicas. Antes de tudo é importante registrar os novos contatos em algum tipo de sistema o mais rápido possível. Pode ser a lista de contatos do email, uma planilha, pode ser um sistema mais sofisticado. O importante é que seja algo que dê para usar no dia a dia.

Isto feito, divida os contatos em 3 grupos: O primeiro inclui aquelas pessoas que você acha interessante manter no radar mas com as quais não há oportunidade de negócio para o curto prazo. Esses devem ser adicionados logo no LinkedIn ou em alguma outra rede que faça sentido profissional. Vão ver seus posts e você verá o que estão publicando. O segundo grupo é aquele com quem há oportunidades imediatas de negócio, para estes faça contato direto logo em seguida ao evento e agende uma conversa telefônica, ou reunião, para avançar.

Por fim, há um terceiro. São pessoas com quem não há oportunidades óbvias, mas de alguma forma interessa um relacionamento profundo. Aí entra a necessidade de criar uma rotina de encontros. Um almoço, um jantar, ou mesmo algum outro evento social. O objetivo é alimentar um contato e torná-lo duradouro.

E os mais clicados da semana:

1. Youtube: Epic Battle Simulator - 20 mil Jedis contra 3 mil Tiranossauros.

2. Galeria: Os vencedores do prêmio Travel Photographer of the Year.

3. Youtube: Mother of all Demos - A demonstração, em 1968, do que veio a ser a nosso atual mundo digital.

4. The Sun: Nova política da Netflix no set de Black Mirror, é proibido olhar alguém por mais do que cinco segundos.

5. The Intercept: Uma narrativa interativa sobre o auge e a queda da fação carioca Amigos dos Amigos.

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