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— Os editores.

Edição de Sábado: O futuro das democracias digitais

Há uma característica importante no processo eleitoral que levou Jair Bolsonaro à presidência: é o de que sua campanha foi opaca. Distribuídas via grupos de WhatsApp, as mensagens eram discretamente construídas para grupos específicos. Evangélicos viram um Bolsonaro, ruralistas outro, a periferia preocupada com segurança um terceiro. Esta é apenas a superfície dos desafios que o digital traz para a malha democrática. A distinção entre ciberespaço e o mundo real está diminuindo. E este é o tema de Future Politics (Amazon), um ensaio do advogado britânico Jamie Susskind, que zanzando entre os campi de Oxford e Harvard, nos dois lados do Atlântico, mergulhou nos problemas que estamos apenas começando a compreender.

O filósofo John Stuart Mill propunha um conceito para explicar como funciona o debate numa democracia liberal: é o mercado de ideias. Cada ideia nova, assim como qualquer outro produto, é exposta nas vitrines do debate público. Se for atraente, vai chamar a atenção de muita gente. Quanto mais gente se debruça sobre ela, mais é questionada, completada, testada. Más ideias somem porque não chamaram a atenção ou porque foram derrubadas com argumentos. As melhores ideias são as que ficam. É por isso que censura prévia é incompatível com democracia: ideias, não importa quão atrozes, precisam ver a luz do dia. Só assim, num ambiente no qual todas têm a oportunidade de serem testadas, temos a certeza de que as melhores resistirão.

Uma tecnologia que permite a ideias circularem em apenas alguns grupos é, portanto, antidemocrática. Se ideias influenciam numa eleição, todos deveríamos ter acesso a elas. Quando jogamos algoritmos na equação, segue o raciocínio de Susskind, a coisa se complica. Quando é um software que decide o que cada um lerá — como ocorre na linha do tempo do Facebook ou na busca do Google —, há uma peça desconhecida orientando a condução do debate público e interferindo no fluxo de informação. É direito da sociedade compreender os critérios destes algoritmos. Eles exercem um papel importante demais para que se permita que sejam segredos comerciais.

Não é exatamente por regulação governamental que Jamie Susskind argumenta. É por transparência. Tanto os algoritmos utilizados pelo Estado, quanto os de empresas privadas, se têm o poder de influir na vida de indivíduos ou comunidade, devem estar disponíveis para escrutínio público.

Mas uma democracia digital, por mais acidentada que esteja seu início, susceptível a populistas e demagogos, não precisa ser uma distopia. Na verdade, o uso de algoritmos pode melhorar a qualidade da representação popular.

A Amazon, conforme o indivíduo compra livros nela, se torna cada vez mais capaz de indicar novas leituras. O Facebook aos poucos sugere amigos com mais precisão e recomenda leituras ao gosto do freguês. E estamos apenas no início: a união entre inteligência artificial e big data é capaz de nos compreender intimamente e, a partir disto, nos fazer sugestões de toda espécie.

É justamente por isso que uma forma mais direta de democracia pode ser possível. Imagine-se, por exemplo, uma pauta difícil como a da Reforma da Previdência. Hoje ela é decidida pelo Congresso, até porque seus meandros são particularmente complexos. Mas se todo eleitor tivesse um assistente digital capaz de analisar propostas e sugerir votos de acordo com o interesse de cada pessoa, isto mudaria. Não é um algoritmo que vota pelo eleitor. É um que analisa uma determinada medida e apresenta prós e contras para a vida específica de cada um.

Algoritmos podem, também, participar da gestão pública. Distribuir verbas com mais eficiência, perceber antecipadamente crises por vir. A tecnologia existirá, caberá a todos nós decidirmos o quanto ela participará da experiência democrática.

O grande debate das democracias, no século 20, é um que ainda vivemos a todo dia. O quanto nossa vida coletiva é controlada pelo mercado, e o quanto é controlada pelo Estado. O grande debate deste século 21 será outro: o quanto, e como, permitiremos que inteligência artificial influencie em nossa vida pessoal e na da sociedade.

Não importa que decisão tomemos, de um ponto não vamos escapar: transparência sobre como funcionam algoritmos é fundamental. Este é o debate de agora. Eleições opacas não podem mais acontecer.

Em tempo: a Fast Company deste mês publica um capítulo do livro de Susskind. Em inglês.

Democracias funcionam?

Trecho de Can Democracy Work? (Amazon) — A Democracia Funciona? — de James Miller.

James Miller: “Temos visto a eleição de demagogos que apelam aos impulsos viscerais dos cidadãos comuns, assim como o surgimento de partidos políticos hostis às elites — mesmo enquanto estas elites se mantêm no poder e uma minoria muito rica fique cada vez mais rica e isolada das agruras diárias de 99% da população. Por isso, não surpreende que estejamos testemunhando, em quase todos os países, uma série de protestos nos quais massas de pessoas se unem para exigir sua parte nas instituições democráticas. Estas revoltas contra quem está no poder são essenciais para a vitalidade e a viabilidade de democracias modernas — mesmo que (e precisamente porque) desafiem o status quo de forma destrutiva. Há boas razões para se preocupar com o que produz a população no exercício de seus direitos. Revoltas democráticas, assim como eleições, podem gerar resultados perversos. Mas apesar dos riscos óbvios, tanto Rousseau quanto Jefferson lembravam de uma máxima relevante para justificar sua fé no povo: Malo periculosam, libertatem quam quietam servitutem. ‘Prefiro uma liberdade perigosa do que uma servidão pacífica.’ É um lema preciso para estes tempos difíceis.”

O fantasma de Elena Ferrante

“Às vezes ela era tão forte. Eu não sei. Ainda estou tentando juntar tudo. É muito difícil. Foi como trabalhar com um fantasma.” Quem diz é Saverio Constanzo, o diretor de 43 anos da série da HBO A Amiga Genial (trailer). Seu fantasma é Elena Ferrante, a autora pseudônima dos quatro amados romances da Série Napolitana (Amazon), que começam a ser adaptados para a televisão. A primeira vez que ambos se cruzaram foi em 2007, quando ela lançou para ele um desafio: planejar durante seis meses uma adaptação de outro livro seu, A Filha Perdida (Amazon), que agradasse a ambos. Não deu certo. Ele era jovem. Em nove anos, Constanzo amadureceu e se tornou um dos mais jovens e desafiadores autores do cinema italiano, e recebeu com surpresa a notícia de que ele era um dos poucos diretores que Ferrante sugeriu para uma adaptação para a televisão de seu romance mais famosoHoje, fala dela com deferência. Mas a verdade é que mais de vinte anos depois de seu primeiro livro, ninguém sabe quem está por trás do nome de Elena Ferrante. Merve Emre, professora de inglês na Universidade de Oxford, correspondeu-se com ela por dois meses. “Ela respondeu a perguntas que eu não tinha perguntado e ignorou as que eu tinha. Uma entrevista também é uma colaboração, embora, como todas as colaborações com Ferrante, seja desequilibrada”. Em 18 de novembro a série estreia na televisão. Merve tentou encontrar nos primeiros episódios um pouco da autora. Segundo ela, a trama é um testemunho de sua indefinição. “É uma abertura da gaiola de Ferrante, um convite para se juntar a ela nas sombras”. (New York Times)

Galeria: Um ensaio fotográfico de Nápoles seguindo os passos de Lila e Lenú, as protagonistas da obra de Elena Ferrante.

Migrantes de El Salvador

Galeria: uma coluna de migrantes deixou El Salvador a caminho dos Estados Unidos. Um fotógrafo da National Geographic os acompanhou.

Outra Galeria: a norueguesa Sara Teigen mistura fotografia e desenhos em sua arte.

Uma Terceira Galeria: Jono Rotman registra a Mongrel Mob, uma gangue de motociclistas neozelandeses.

E essa semana, os links mais clicados na edição do Meio foram:

1. Instagram: Um pouco de humor oposicionista: o Instagram Bolsominions Arrependidos.

2. Instagram: O momento em que Bolsonaro soube de sua vitória.

3. Congresso em Foco: Seguidores de Bolsonaro divulgam lista e pedem boicote a celebridades e jornalista.

4. Youtube: O Vox tenta explicar Bolsonaro para os estrangeiros.

5. Cervejas pelo Jornalismo: Contribuir com jornalismo de qualidade, muitas vezes, custa não mais que uma cerveja por mês.

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