Edição de Sábado: No Mundo das Democracias Iliberais

Tudo indica que o Brasil elegerá Jair Bolsonaro seu presidente, amanhã. Salvo uma virada espetacular de Fernando Haddad, leremos muito a palavra fascismo nas próximas semanas. Mas talvez seja a hora de trazer outro termo à mesa: ‘democracia iliberal’.

O termo é impreciso. Já foi usado, nos últimos anos, para descrever regimes que em essência eram ditaduras, como o governo de Hosny Mubarak, no Egito, que embora tivesse eleições eram daquelas em que o governante é reeleito com mais de 90% dos votos.

Mais recentemente, porém, vem sendo usado aqui e ali para governos nos quais os problemas são mais sutis.

Esta semana, por exemplo, o diplomata israelense Shany Mor sugeriu que seu país está à beira de se tornar uma democracia iliberal. Lá, a coalizão de direita eleita em 2009 venceu seu terceiro pleito seguido em 2015. Nunca ocorreu algo assim na história de Israel. A população tem medo. A noção de que poderia perder a eleição seguinte sempre serviu de freio aos ímpetos mais belicistas da direita. Ao mesmo tempo, a expectativa de vencer a próxima sempre deu ânimo à esquerda. E nesta se alternavam. Pois algo está mudando nos ânimos. Enquanto o governo se mostra cada vez mais arrogante, a esquerda perde ânimo de luta. Mor acredita que, se vencer a quarta em 2019, o governo perderá de vez qualquer um dos seus freios e agirá como deseja ignorando os debates no parlamento. Nada terá mudado na estrutura da democracia israelense — mas os freios e contrabalanços políticos terão se perdido.

É uma democracia iliberal. Há democracia real e formal. Mas algo transforma o tecido da relação entre os Poderes a ponto de afetar sua independência. No caso israelense, o gabinete — o Executivo — faz o que deseja, e o Parlamento se torna pró-forma.

Os EUA correm risco similar, mas por outro mecanismo. O presidente Donald Trump tornou o Partido Republicano refém. Comunicando-se diretamente com seus eleitores mais fiéis, uns 20% do total, via Twitter, Trump mantem seu partido acuado. Deputados e senadores precisam contar com seu apoio para se reeleger. Sempre que ameaçam discordar do Executivo, recebem uma enxurrada de mensagens via internet dos eleitores que o presidente mandou. Assim, perdem a capacidade de agir com independência. Se submetem. E, novamente, o Parlamento, embora formalmente constituído, deixa de ser um Poder com capacidade de agir.

A expectativa para as eleições parlamentares de novembro é de que os Democratas conquistarão a maioria, ao menos, da Câmara. Hoje, ambas as Casas estão nas mãos dos governistas. Neste sentido, uma democracia mais sólida como a americana consegue neutralizar o jogo de um presidente autoritário. O Partido Democrata, afinal, não precisa daqueles eleitores sobre os quais Trump tem influência.

O que nos traz de volta ao Brasil e a um possível governo Jair Bolsonaro. A pergunta pertinente é: o que pode fazer um presidente com traços autoritários que, no discurso, demonstra desdém para o sistema democrático?

A fórmula de Trump está dada. Bolsonaro tem amplo acesso a um naco relevante do eleitorado via redes sociais. Do WhatsApp às Lives. Ele não precisa encerrar esta conversa percebida como íntima no momento que chegar ao Planalto. Trump continuou no Twitter após parar na Casa Branca. E, assim como Trump, Bolsonaro poderá usar o contato direto e de resultado imediato com uma parcela do eleitorado para pressionar uma parte relevante do Congresso Nacional.

Com Dilma e com Temer, o Congresso tinha — e usou — o poder de chantagear o presidente. Dependendo de como governe Bolsonaro, ao menos durante o tempo, isto pode mudar e o Poder Legislativo se tornar demasiadamente submisso ao Executivo.

Uma democracia iliberal.

Debatendo democracias iliberais

Em abril, o Council of Foreign Relations, em Nova York, realizou um debate a respeito de democracias iliberais. Está todo transcrito no site. O trecho a seguir é de Michael Abramowitz, presidente da Freedom House, uma ong que mede o nível de liberdade em cada país do mundo.

Michael Abramowitz: “Sempre me perguntam: a democracia está em crise? Posso argumentar que sim. Se vemos as notas que a Freedom House dá anualmente a cada país, e fazemos isso há 50 anos, dá para perceber que atravessamos uma recessão democrática. São já 12 anos consecutivos nos quais democracia, direitos políticos e liberdades civis estão diminuindo no mundo. Em 2017, 70 países diminuíram suas notas e menos de metade disso subiram. Em alguns casos, países importantes perderam nota. O país que deteriorou mais nos últimos dez anos foi a Turquia, um exemplo perfeito de democracia iliberal. Há 15 anos, ela estava próxima de se tornar membro da União Europeia. Não tinha uma democracia perfeita, mas vinha melhorando. Agora é o país que mais prende jornalistas no mundo. Poderíamos incluir nesta lista a Polônia e a Hungria. Ainda são países livres, pelos nossos critérios, mas realmente decaindo de forma dramática.”

Inteligência artificial para detectar terremotos

Muitos dólares e carreiras científicas inteiras foram dedicados a prever onde e quando ocorrerá o próximo grande terremoto. Mas, ao contrário da previsão do tempo, que melhorou significativamente com o uso de satélites melhores e modelos matemáticos mais poderosos, a previsão de terremotos se viu diante de repetidas falhas. Alguns dos terremotos mais destrutivos do mundo — o da China em 2008, do Haiti em 2010 e do Japão em 2011, por exemplo — ocorreram em áreas consideradas relativamente seguras pelos mapas de risco sísmico. Agora, com a ajuda da inteligência artificial, um número crescente de cientistas afirma que mudanças na maneira de analisar grandes quantidades de dados sísmicos podem ajudá-los a entender melhor os terremotos, prever como se comportarão e fornecer alertas antecipados mais rápidos e precisos. (New York Times)

Aliás... Em 1755, Lisboa foi devastada por um terremoto seguido de tsunami e incêndios. Foi uma das maiores tragédias da história — a estimativa do número de mortos varia de 10 mil a 100 mil. E a devastação, que abriu caminho para a modernização da capital portuguesa, também provocou impacto na filosofia e teologia do século 18. Assista, em vídeo, o documentário da TV portuguesa RTP.

Os geneticistas perguntas: quantas subespécies de tigres existem?

Enquanto isso... Geneticistas têm outro desafio: classificar as subespécies de tigres. Isso porque menos de 4.000 deles permanecem em estado selvagem, e reclassificá-los para fazer a contabilidade correta de espécies pode ajudar ajudar a salvá-los da extinção. Enquanto alguns cientistas querem dividi-los em duas subespécies, outros estudos mostram que pode haver seis subdivisões. "Se você acha que todos os tigres são geneticamente homogêneos, você pode dizer que se você perder o tigre de Amur, você ainda tem o tigre de Bengala e tudo bem, porque eles são muito semelhantes. Mas isso não está certo, porque sabemos que os tigres não são todos iguais”, diz Shu-Jin Luo, geneticista da Universidade de Pequim.

E você já viu filhotes de tigres nadando pela primeira vez? Assista.

Esses aqui, foram os links que mais fizeram sucesso essa semana no Meio.

1. Youtube: Enquanto isso, Cabo Daciolo relaxa, do seu jeito, em Jerusalém.

2. Youtube: Frases de Bolsonaro, na boca de crianças.

3. Guardian: Naufrágio encontrado na Grécia é o navio intacto mais antigo já encontrado no mundo.

4. Youtube: Especialista em audio-visual mostra fortes indícios de que o suposto vídeo de Doria é um deepfake.

5. BBC: Por que Pando, um dos maiores organismos vivos do mundo, está morrendo.

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