Edição de Sábado: Quando o digital reinventa a censura

Dentre as democracias ocidentais, os EUA são atípicos por conta da Primeira Emenda à Constituição. Nenhum outro país protege tanto a liberdade de expressão quanto eles. Lá, não há equivalente à ilegalidade do racismo no Brasil, ou da propaganda nazista, na Europa. O que impera é uma noção radical que nasce do conceito liberal do mercado de ideias. Todas as pessoas têm o direito de lançar em público suas ideias com liberdade, para que sejam expostas a contra-argumentos, ganhem ou não aceitação na sociedade, e possam, por fim, se impor. Evita-se ao máximo, portanto, que a liberdade de expressão seja coibida na raiz. Mas é possível que a internet tenha tornado a Primeira Emenda, e daí o conceito que temos hoje de liberdade de expressão, obsoleto. Tim Wu, professor de Direito na Universidade de Columbia, sugere que algo assim aconteceu. Ele é um dos dois maiores especialistas americanos em Direito digital.

O ponto chave é o seguinte: pensado por juristas ao longo dos séculos 19 e 20, o discurso protegido pela Primeira Emenda parte do princípio de que há escassez de ideias e, portanto, que elas devem ser protegidas. No tempo da internet, não há mais escassez de ideias. O que há é escassez de atenção. E, na prática, isto quer dizer que a maneira de censurar mudou. O governo chinês não coíbe posts que lhe incomodam — acompanha para deixar que morram. Na rede, censura chama mais atenção para a mensagem do que o ostracismo. O Kremlin tem uma tropa de ataque aos críticos. Alguns são pagos, muitos são voluntários. Donald Trump adotou a tática: lança seus seguidores nas redes contra críticos pontuais. Um deles, pinçado como exemplo por Wu, recebeu da tropa uma imagem editada com seus filhos num forno, Trump sorrindo fora em uniforme nazista. Sua mulher foi enxurrada de vídeos pornográficos pesados. A tropa intimida, confisca a atenção de quem fala, e assim cala. Na Turquia, táticas semelhantes vêm sendo usadas.

A nova censura usa de três técnicas sem nunca calar a mensagem, mas confiscando a atenção. O exército de seguidores ataca pessoalmente e em quantidade quem diz o que incomoda. O objetivo é intimidar e desmoralizar. Usa-se também o flood: encher de outros assuntos um ambiente até soterrar o que foi publicado. E, por fim, seja por bots ou por pessoas, uma onda de notícias falsas e propaganda gera confusão entre o que é fato e o que não é.

Se a maneira de censurar mudou, sugere Wu, talvez seja hora de repensar as leis que proíbem censura. Ampliar, por exemplo, a punição a quem se junta a uma matilha para atacar uma pessoa pelo que disse. Ou começar a tratar plataformas online — Google, Twitter, Facebook — como veículos jornalísticos. Para além dos EUA, há um debate novo surgindo. Liberdade de expressão, assim como sua censura, já não funcionam mais como outrora.

Como está a economia do mundo 10 anos depois da crise de 2008?

O dólar chegou, esta semana, a seu ponto mais alto na história do Real. Pela natureza da tensão eleitoral que vivemos, é natural que no dia a dia se aponte para as muitas incertezas do pleito para encontrar um culpado. Mas não é só isso. Há um movimento da economia global desfavorável aos países emergentes. Num artigo publicado no site do Fórum Mundial, Zhu Ning, vice-reitor do Instituto de Pesquisa Financeira da Universidade de Tsinghua, uma das mais prestigiadas da China, pergunta se o mundo não se aproxima de uma nova crise de endividamento. As crise de 1998 e 2008, ele lembra, se encaixam nos ciclos de alta e baixa dos juros americanos. A barra pesada enfrentada por Turquia e Venezuela nos últimos meses serve de alerta. Na avaliação de Zhu, se a história recente é guia, há três riscos diferentes que países como o Brasil podem esperar.

O primeiro é a fuga de capitais. Investidores estrangeiros tiram o que estava aqui e levam de volta para os EUA. Nesta, o preços dos ativos, das coisas que uma nação tem, ficam instáveis — e isso piora as taxas de endividamento. Por fim, a moeda local começa a perder o valor.

Não quer dizer que vá acontecer. As mesmas crises de 1998 e 2008 fizeram com que muitos países emergentes melhorassem a gestão de suas economias, as contas estão equilibradas e as reservas são volumosas. De qualquer forma, o alerta é do professor, é preciso ir atrás fazer com que a força de trabalho aumente sua produtividade. Tecnologia e treinamento. Só assim se livram da dependência de criar dívidas para crescer.

Em vídeo: Warren Buffet explica a crise de 2008, elogia a agilidade, firmeza e seriedade com que o governo americano agiu, mas reconhece que alguns dos culpados saíram dela sem serem tocados. No fim, o capitalismo é um sistema de incentivos e penalidades. Se ninguém paga o preço por criar uma crise, comportamento de risco continua.

Para ler: Michael Lewis escreveu A Grande Aposta (Amazon), livro que conta a história de 2008. Virou filme (trailer).

E... O Quartz lista os 10 riscos que podem deflagrar a próxima grande crise.

Os novos estereótipos de gênero — e como eles afetam crianças e adolescentes

Cada vez mais cedo garotas são informadas de que podem ser o que quiserem. E entenderam o recado. Elas estão aproveitando oportunidades que não existiam para gerações anteriores — em ciência, matemática, esportes e liderança. Mas e os garotos? Eles podem, de alguma maneira, ter sido deixados de fora da conversa sobre igualdade de gênero? Novas pesquisas mostram que as garotas afirmam se sentir mais empoderadas — exceto quando se trata do julgamento pela sua aparência. Mas os meninos ainda sentem que precisam ser fortes, atléticos e inabaláveis. (New York Times)

Enquanto isso... Estudantes estão travando uma guerra contra os ‘dress codes’ sexistas e racistas em colégios. E estão ganhando. Mais e mais escolas ouvem os protestos de pais e alunos, e adotam diretrizes que refletem uma nova compreensão do que constitui roupas ‘apropriadas’.

Ted Talk: Como criar garotas desbravadoras.

Por um pouco de delicadeza

Por um pouco de delicadeza: Bianca Mól se assina Garota Desdobrável e conta histórias infantis em vídeos no YouTube os quais dirige, escreve, narra e ilustra.

Galeria

Galeria: Uma história visual do Fusca.

E para fechar, os links mais clicados da semana no Meio.

1. Uma girafa em meio à neve, na África do Sul.

2. BBC: USP entre as universidades favoritas das empresas.

3. O ranking completo das universidades com maior empregabilidade do mundo.

4. O Globo: Como girafas, elefantes e antílopes foram parar no meio da neve.

5. O conflito entre uma senhora e Boi, sua vizinha por 60 anos.

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