Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Bolsonaro, Maia, Ciro, Boulos, Joaquim… A dança começa
Com a janela de filiações partidárias abertas aos parlamentares, começou também a dança das pré-candidaturas. Hoje, o DEM lançará Rodrigo Maia. Ele sai tentando se posicionar na centro-direita. “Há um caminho que rejeita a polarização entre PT e PSDB”, disse em entrevista à Folha. “A rejeição ao PSDB, e o Alckmin é vítima disso, inviabiliza sua vitória.” Chamou a emenda da reeleição de câncer e parte do princípio que Temer é candidato. “É um direito legítimo dele”, diz. “O governo tinha o projeto de fazer a transição, se mudou esse projeto, é um direito que tem.”
Enquanto isso... Um boneco inflável do deputado Jair Bolsonaro batendo continência, alguns metros de altura, apareceu, ontem, no gramado em frente ao Congresso Nacional. Era o PSL celebrando o momento em que o pré-candidato à presidência se filiava à legenda. “Temos em torno de 170 estatais no Brasil”, disse a seus novos companheiros de partido. “Um terço pode, na primeira semana, não é ser privatizada. É ser extinta.” O público gritava ‘mito’ e ‘messias’, alusão a seu sobrenome. Posicionou-se a favor de repensar a política de armas. “As ditaduras apenas se concretizam depois de um programa de desarmamento, como foi feito no governo FHC até o governo Lula.” Entrou na questão do casamento gay. “Está na Constituição o casamento entre homem e mulher. Se duas mulheres resolvem morar junto, que sejam felizes, mas casamento está na Constituição.” Discurso, por vezes, agressivo. “Só tem uma maneira de nossa bandeira ficar vermelha. Com meu sangue.”
Não apenas centro-direita e direita se mexem. Tentando encontrar um lugar entre esquerda e centro-esquerda, Ciro Gomes foi entrevistado pelo Poder360. “Todo e qualquer campo de petróleo que foi vendido a partir do golpe será expropriado com as devidas indenizações”, afirmou. Propõe modernização das leis trabalhistas. “No caso da terceirização, não voltaremos à regra anterior.” Defende, também, uma reforma da previdência e propõe que as regras variem de acordo com a região.
Mas nem tudo é simples... No PSOL, com a filiação do líder do MTST Guilherme Boulos mirando a disputa pelo Planalto, implantou-se o caos. Ontem à noite, no Rio, ele se juntou a Plínio Sampaio Jr, Nildo Ouriques e Hamilton de Assis num debate pela disputa da candidatura. A oposição interna usa o slogan ‘Lula, tire as mãos do PSOL’. Sugere que, com a bênção do ex-presidente, Boulos é um candidato que favorece a articulação pró-PT.
E Joaquim Barbosa se queixa. O ex-ministro do Supremo é pressionado pelo PSB a se filiar. Mas não lhe garante a candidatura, caso se junte à sigla. Ele não quer o desgaste da disputa interna.
Para ler com calma: Do professor Marcos Nobre. “Durante todo um mês, a partir de 7 de março, deputados podem trocar de partido sem punição. Para preservar seu poder, as cúpulas partidárias precisam não perder deputados e senadores. Para tentar ampliá-lo, precisam conquistar novos. As cúpulas decidem quem vai constar e não em suas candidaturas. Decidem quanto cada candidatura receberá do fundo partidário. Decidem, em suma, quem tem chances de se eleger. Com o financiamento quase que exclusivamente público das campanhas, o poder das cúpulas chegou a seu ponto máximo na última década. Não por acaso, coincide com o momento de maior fragilidade do sistema político desde o fim da ditadura. Para sobreviver a uma crise que se ameaçava terminal, a resposta do sistema foi concentrar poder. Esta será uma eleição de máquinas partidárias. Como talvez nenhuma outra antes. Em um país movido a paradoxos, é uma eleição de máquinas que coincide com uma rejeição generalizada ao modo de funcionamento do sistema político. Mas os paradoxos não mostram apenas e uma vez mais a extraordinária capacidade de adaptação de um sistema quando se trata de sua própria sobrevivência. A agudeza da crise deixou claro para o próprio sistema que ele vai ter de mudar para sobreviver. Mesmo que seja para que tudo fique mais ou menos da mesma maneira.” Um texto denso que não para aí.
E segue a pressão: um grupo de criminalistas quer que a OAB peça formalmente à presidente do Supremo que reabra o debate sobre prisões em segunda instância. Entre eles, os defensores de Lula. (Folha)
Só que, segundo Merval Pereira, a presidente está disposta a aguentar o tranco da pressão. (Globo)
O Congresso aprovou ontem, véspera do Dia Internacional da Mulher, um pacote de projetos. A Câmara aumentou a pena prevista para estupro coletivo e tipificou o crime de divulgação de imagens de violência sexual. Também passa a ser crime a importunação sexual, casos de homens que se masturbam no transporte público, por exemplo. No Senado, foram aprovados três propostas que criminalizam práticas como a divulgação de mensagens misóginas na internet, a ‘vingança pornográfica’, e o descumprimento de medidas protetivas determinadas pela Lei Maria da Penha. (Folha)
E por falar... De um total de 192 países, o Brasil ocupa a 152ª posição no ranking de representatividade feminina na Câmara dos Deputados. É o pior desempenho da América do Sul. (Globo)
Rodrigo Rocha Loures, a um ponto homem de confiança de Michel Temer, já foi filmado correndo com uma mala de R$ 500 mil. E agora está em pânico. Segundo o Radar, é porque o ministro Luís Roberto Barroso quebrou o sigilo de todos os emails que trocou nos períodos como deputado e assessor do presidente.
Um perfil falso atacava consistentemente, com fake news, um blogueiro da cidade de Atibaia, no interior de São Paulo. Ele entrou com um processo, a Justiça pediu ao Facebook que revelasse a origem. Os ataques partiram de um computador no escritório compartilhado pelos deputados estadual Edmir Chedid e federal Herculano Passos. (Estadão)
Viver
Doze mulheres morrem assassinadas todos os dias, em média, no Brasil. Em 2017, foram 4.473 homicídios dolosos, 946 deles feminicídios, crimes de ódio motivados pela condição de gênero — quando mulheres morrem por serem mulheres. O levantamento é do G1 e considerou os dados oficiais dos estados relativos ao ano passado.
No Brasil, elas estudam mais e recebem menos do que homens. O salário mensal é 23,5% menor. Ocupam também menos cargos de liderança, 37,8%. E a realidade é ainda mais desigual quando se trata de mulheres negras e pardas. Os dados são do IBGE. (Globo)
Ainda assim, o número de famílias chefiadas por mulheres mais que dobrou entre 2001 e 2015. Foi de 14 milhões para quase 30 milhões. Antes, era comum que o crescimento se desse por conta das famílias de uma pessoa só, com ou sem filhos, geralmente a mulher que foi abandonada pelo marido. Mas o novo levantamento do IBGE mostrou que entre casais com filhos, o número de mulheres chefes passou de 1 milhão, em 2001, para 6,8 milhões, em 2015. Na prática, em vez de chefiarem a família por necessidade, as mulheres estão sendo reconhecidas como pessoas de referência dentro de seus lares. (Globo)
Uma pena que elas ainda dediquem 73% mais tempo do que homens aos afazeres domésticos. Gastam 18 horas semanais, enquanto eles gastam 10. (Globo)
Frida Kahlo virou Barbie. Lançada em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, a nova coleção da Mattel, “Barbie Mulheres Inspiradoras”, tem 14 mulheres que se destacaram em suas áreas de conhecimento. Além da artista mexicana, a aviadora Amelia Earhart e a física e cientista da NASA Katherine Johnson também vão virar bonecas.
E por falar em grandes mulheres... El País e Mundo Estranho contam eu seus sites as trajetórias de mulheres que mudaram a ciência e a história. No jornal hispano-brasileiro, a história de Ada Lovelace, a primeira programadora da história, e de Valentina Tereshkova, a primeira mulher no espaço. E na página da revista, a história de Isabel, a rainha de Castela que unificou a Espanha, e da guerreira Joana D'Arc, que liderou milhares de soldados e ajudou a reerguer a França.
E a lista de cidades brasileiras que terão atos da Greve Internacional de Mulheres hoje.
Cultura
Estreia hoje, no canal Brasil, a série Rio de Topless. Produzida e apresentada pela jornalista Ana Paula Nogueira, discute o que acontece no momento em que mulheres decidem tirar a parte de cima do biquíni nas praias cariocas. Dá polícia, a opressão dos olhares — e também abre um debate sobre liberdade. Afinal, por que os homens podem? De Leila Diniz à própria Ana Paula, é um passeio pela história da liberdade do corpo através das mulheres cariocas. Às 21h. Trechos: Uma conversa sobre Leila Diniz; O Toplessaço; e Os Loucos Anos 80.
E por falar... Rita Lee canta Todas As Mulheres do Mundo, no Spotify e no YouTube.
Morreu ontem, aos 29 anos, o escritor carioca Victor Heringer. Seu romance Glória (Amazon) venceu o Jabuti de 2012. O seguinte, O Amor dos Homens Avulsos (Amazon), chegou em segundo, no prêmio, em 2016.
O dono do sucesso Despacito virá pela primeira vez ao Brasil, em maio. Luis Fonsi vai se apresentar em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.
Chega ao mercado no próximo mês uma nova editora de livros infantis. A Estrela, fabricante de brinquedos, decidiu entrar no mercado editorial. Lançará os dez primeiros títulos em abril. A ideia é que o mundo da literatura interaja com o dos brinquedos. A coleção dedicada à literatura de cordel, por exemplo, acompanha material para pintar e carimbar, lembrando a técnica de xilogravura. E a série sobre folclore vem com um quebra-cabeça. Os escritores e ilustradores selecionados serão brasileiros. (Folha)
Tem uma turma buscando financiamento coletivo para trazer a exposição Queermuseu — aquela censurada em Porto Alegre — para o Parque Lage, no Rio. Precisam de R$ 690 mil. Metade do valor já foi levantado.
Cotidiano Digital
Os principais desenvolvedores de programas para as plataformas Microsoft receberam, ontem, uma versão beta de Windows ML. É uma base de inteligência artificial que permitirá análise de dados em tempo real. Permite organizar fotos automaticamente, ou arquivos. Ou identificar com agilidade vírus que ameaçam o computador. Reconhecimento de fala. Compreensão, por parte do computador, do que ele vê pela câmera. As aplicações são inúmeras. E esta base estará já implementada na próxima atualização do Windows 10.
Aliás... O novo notebook da Microsoft, Surface Pro LTE, que entrou ontem em pré-venda, é leve, tem tela de toque e permite o encaixe de um chip 4G. Ou seja: dispensa WiFi para acesso à rede.
Alexa, a assistente da Amazon, deu para rir. Sem ser provocada. Do nada. Filmaram. Aquele aparelhinho ali do lado. Rindo. De repente. Como se estivesse vivo. “Estamos cientes e trabalhando num conserto”, informa a empresa.
