Nesta edição extra de sábado, o Meio mergulha na decisão do TSE que absolveu a chapa Dilma-Temer de 2014. Busca os símbolos que estavam nela e as melhores análises publicadas pela imprensa. — Os editores.

Edição Extra: o significado do TSE

O TSE liberou Dilma Rousseff e Michel Temer da cassação de sua chapa conjunta por 4 votos a 3. O placar já estava mais ou menos consolidado, e repercutia na imprensa, desde o início da semana. Mas o roteiro, não. Em pelo menos três momentos, ministros que votaram a favor do presidente demonstraram sentir a pressão de ir contra as provas.

Na quinta-feira, Admar Gonzaga investiu contra o relator Herman Benjamin, elevando repentinamente o tom da voz. “Não adianta fazer discurso para a plateia para constranger seus colegas. Isso não vai funcionar. Vossa Excelência está com aura de relator, querendo constranger seus colegas. Não vai conseguir.”

Já na sexta, foi a vez de Gilmar Mendes. Durante a manhã, Benjamin expressou em seu voto que considerava existir uma relação entre o dinheiro obtido na campanha de Dilma e Temer em 2010 e o utilizado no financiamento da reeleição, em 2014. Como Gonzaga foi advogado da chapa no pleito inicial, o procurador eleitoral Nicolao Dino pediu que o ministro fosse impedido de votar no caso. O presidente do TSE de presto acusou o MP de querer pegar de surpresa a corte. “Rejeito liminarmente o pedido e acho que o Ministério Público tem que se pautar pelo princípio da lealdade processual”, disse exaltado. “Não se pode agir coagindo o tribunal.” Segundo Jorge Bastos Moreno, do Globo, nos bastidores Gilmar chegou a berrar com Dino, chegando próximo de agredi-lo. “Você deveria ter mais escrúpulos!”

O momento mais singular, porém, foi protagonizado por Napoleão Nunes Maia. Sem paletó e gravata, nervoso, seu filho ultrapassou correndo o detector de metais do prédio e tentou entrar no plenário, quando foi barrado por seguranças. Às mãos, tinha um envelope fechado. A notícia correu rápido. “Um site altamente dinâmico e consultado no Brasil publicou que um homem misterioso, portando um envelope, tentou forçar a entrada”, disse em plenário o ministro antes de votar. “Desejo que esta pessoa sofra em si ou na sua família o que me fez passar”, continuou, referindo-se ao jornalista. “Era simplesmente um envelope com fotos de uma criança.” Conforme falava, se irritava mais. “Que sobre ele desabe a ira do profeta”, seguiu, balançando o dedo para a platéia reunida na corte. “Eu vou fazer com um gesto a ira do profeta” — e, com a mão espalmada, indicou que desejava a degola do repórter. Em vídeo.

Vídeo: os melhores momentos de Herman Benjamin.

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Alan Gripp: “Na era Lava-Jato, há inúmeros exemplos de suspeitos flagrados tentando buscar meios para controlar a maior operação de combate à corrupção da história do país. O resultado do julgamento que livrou Temer da guilhotina, e principalmente o seu enredo, torna legítimo supor que finalmente tal controle foi alcançado. O julgamento histórico expôs ao país representantes de dois Brasis: o magistrado que tentou desesperadamente convencer seus pares de que laranja é laranja e o que trocou de camisa sem nenhum pudor, quando o que defendia ontem passou hoje a não atender aos seus.” (Globo)

Oscar Vilhena Vieira: “Desde o primeiro momento pairou uma forte dúvida sobre a possibilidade de um julgamento imparcial. O fato de que o presidente pôde nomear, para um curto período na Corte, dois advogados que iriam julgar o seu mandato levantou suspeitas sobre a integridade do pleito. Como ficou bem demonstrado pelo ministro Herman Benjamin, houve uma forte alteração da postura do ministro Gilmar Mendes no que se refere ao estabelecimento escopo do processo, que coincidiu com a mudança daquele que passou a ocupar o Palácio do Planalto. Como se a identidade do réu, e não a regra da lei, é que devesse determinar o desfecho do caso.” (Folha)

João Domingos: “Durante quatro dias, os brasileiros acompanharam como nunca as notícias que chegavam do TSE. Talvez não esperassem a cassação da chapa Dilma-Temer. Dava para perceber, nas ruas, que a sociedade esperava pelo menos que o TSE tomasse conhecimento de que a Operação Lava Jato existe. E que ela é que tem se tornado o motor do País nos últimos tempos. Como a Lava Jato foi desconhecida, embora citada o tempo todo, talvez o resultado do julgamento deixe na população aquele sentimento de frustração, algo parecido com os 7 a 1 da Alemanha no Brasil.” (Estadão)

Carlos Melo: “Que tipo de batatas colherá Michel Temer desta vitória, que tipo de satisfação sentirá Gilmar Mendes? O presidente não conquista a paz; o juiz perde a fleugma. O dia seguinte destas lutas promete novas batalhas; o anel que o presidente oferecia ao país era vidro e se quebrou; encanto que não se refaz. São tantos cacos cortantes, agora, que não colam; que não há mais conserto. Já no início da semana, tucanos terão que encarar a História: aderem definitivamente à companhia de teatro ou rejeitam o roteiro que lhes reserva o papel de anão moral?”

Marcelo Coelho: “Para quem se frustrou com esse resultado, cabe uma pergunta. Caso Dilma não tivesse sofrido impeachment, e seu mandato estivesse sendo decidido agora, será que não haveria gente chamando de golpe uma cassação pelo TSE? Outra pergunta, de sentido inverso: quem votaria a favor de Dilma nesse hipotético julgamento?” (Folha)

Demétrio Magnoli: “Quatro juízes lavaram dinheiro sujo. A sentença do TSE de absolvição da chapa Dilma/Temer equivale a uma declaração de que, no Brasil, fica legalizado o desvio em massa de recursos públicos para financiamento de campanha eleitoral. Por meio do gesto asqueroso, o tribunal adia o cortejo fúnebre do governo Temer.” (Folha)

Thais Herédia: ”‘Onde não há governabilidade, há volatilidade’, me disse o economista de uma grande consultoria brasileira. Perguntei em seguida: e cadê a volatilidade? ‘Pois é...não tem’, respondeu. Então cadê a governabilidade? ‘Na equipe econômica, são eles que estão tocando o país’, completou a fonte ouvida pelo blog. Sobre a governabilidade como a conhecemos e esperamos, com o presidente Michel Temer é que ela não está. Afinal, o balança-mais-não-cai de seu mandato tem resistido para além da compreensão comum. A visão de uma ‘governabilidade paralela’ faz sentido e explica a calmaria no mercado financeiro.”

Suely Caldas: “O que será do Brasil nos próximos 18 meses? Nos anos 1980, foi uma década inteira perdida; na era Dilma, mais cinco anos. E agora? Justamente no momento em que surgem pálidos sinais de recuperação econômica, mais um ano e meio perdido?” (Estadão)

Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, o público que mais se manifestou nas redes em favor do relator Herman Benjamin foi o ligado ao antipetismo. Apesar de manifestações ‘Fora, Temer’, a esquerda manteve-se quieta no debate online.

O TSE custa, aos cofres públicos, R$ 5,4 milhões por dia. (Estadão)

E por fim... Trecho pinçado de uma matéria do UOL, numa fala de André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos: “Do ponto de vista do mercado, a verdade é que hoje tanto faz se o Temer cair ou não. O que importava era a reforma da Previdência e, desde as delações da JBS, ninguém sério acredita mais que seja possível aprovar o pacote proposto, mesmo com todas as concessões. Um eventual presidente ‘tampão’ tampouco vai conseguir entregar a reforma da Previdência. A tendência macroeconômica é que, com a economia estagnada, a inflação siga em em forte queda e, com isso, os juros vão continuar caindo de forma expressiva. Neste cenário, tanto faz se explodir uma bomba em Brasília.”

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