Brasil em chamas
Era por volta das 16h, ontem, quando soldados do Exército brasileiro começaram a cercar o Palácio do Planalto e o do Itamaraty. Então os ministros da Defesa, Raul Jungman, e da Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, apareceram perante os jornalistas para dar explicações. “Atendendo à solicitação do senhor presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, mas também levando em conta que uma manifestação prevista como pacífica degringolou em violência, vandalismo e desrespeito”, disse Jungman, “o senhor presidente da República decretou, repito, por solicitação do senhor presidente da Câmara, uma ação de garantia da lei e da ordem. Neste instante, tropas federais já se encontram aqui neste palácio.” O decreto, publicado em edição extraordinária do Diário Oficial, exige a presença de tropas na Esplanada dos Ministérios até 31 de maio. Maia, que na terça-feira declarava emocionado fidelidade a Temer, foi o primeiro a reagir. “O decreto, com validade até o dia 31, é um excesso.” E completou: “O ministro da Defesa veio a público dizendo que tinha sido por pedido meu. Não é verdade.” Na sequência, Renan Calheiros. “Beira à insensatez fazer isso no momento em que o país pega fogo, beira à irresponsabilidade.” E, aí, o ministro do STF Marco Aurélio Mello. “Espero que essa notícia não seja verdadeira.”
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, também falou. “Acredito que a polícia deva ter ainda a capacidade de preservar a ordem”, comentou. “As Forças Armadas estão empenhadas na preservação da democracia, na observância da Constituição e no perfeito funcionamento das instituições nacionais, a quem cabe encontrar o caminho para a solução dessa crise.” Após as críticas, Temer avalia revogar o decreto. (Estadão)
O protesto que motivou a decisão foi violento. Todos os prédios da Esplanada dos Ministérios terminaram evacuados. Um auditório do Ministério da Agricultura foi invadido por manifestantes, os retratos de ex-ministros arrancados das paredes e, depois, o salão incendiado. Houve focos de incêndios também nos ministérios da Fazenda e do Planejamento. Os manifestantes avançaram contra o Congresso e foram contidos pela polícia com força.
O repórter fotográfico André Coelho registrou o momento em que dois PMs atiraram com armas de fogo contra os manifestantes na Esplanada dos Ministérios. Um homem passou por cirurgia no Hospital de Base com tiro no ombro — não é certo de quem foi vítima. (Globo)
Há tensão no ar. Dentro da Câmara, no Plenário, deputados de governo e oposição se agrediram — uns tentando votar, outros na luta para obstruir qualquer voto. Quando circulou a notícia de que Temer convocara as tropas, no entanto, os parlamentares de oposição decidiram deixar o recinto em protesto. Aproveitando-se da ausência repentina, a mesa tocou a aprovar num relâmpago a renovação de inúmeras medidas provisórias: passaram sete.
O clima pesado não se limitou a Brasília. No centro do Rio, funcionários públicos que se manifestavam entraram em conflito com a polícia. A Assembleia Legislativa aprovou o aumento da contribuição previdenciária para os servidores, diminuindo o salário líquido. É uma das condições impostas pelo governo federal em troca de ajuda para sanar as dívidas do estado.
O ministro Moreira Franco, um dos raros lugares-tenentes de Temer ainda no cargo, conversou com Raymundo Costa, do Valor. “Acho uma precipitação já criar um ambiente de fato consumado de renúncia. Isso não existe. As condições políticas caracterizam evidentemente isso como uma precipitação.” E aí continuou, cogitando a sucessão indireta: “A hipótese de qualquer um de fora do Congresso está afastada. Eleição é maioria. A maioria é da Câmara.” Detalhe: Moreira é sogro de Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Que assumiria a presidência interinamente. Que é candidato não-declarado a presidente permanente.
Muita gente no Planalto estranhou o tom do ministro. Acham que ele prepara a candidatura do genro.
Enquanto isso... Em reunião na casa da senadora Kátia Abreu, que terminou quarta-feira durante a madrugada, um grupo de senadores concluiu que os ex-presidentes Lula, Fernando Henrique e José Sarney devem ser envolvidos na articulação para escolha do substituto de Temer. Entre os presentes estavam Renan Calheiros, Eduardo Braga e José Maranhão, do PMDB, Lindbergh Farias e Paulo Paim, do PT, e Armando Monteiro, do PTB. Apontam o nome, cada vez mais onipresente quando se fala de convergência PMDB-PSDB-PT, de Nelson Jobim. Mas falta combinar com a maioria citada por Moreira. O baixo clero da Câmara.
Nada é simples. De um lado, senadores petistas articulam. Do outro, Lula disse a aliados que, na oposição, o PT não terá força para influenciar na sucessão de Temer pela via indireta. Só entra no debate no caso de um nome de centro aparecer. Dirigentes consideram que a aparição do nome de Jobim no jogo de especulações não é sério. Apenas arma para seduzir o PT. (Folha)
Noutro ponto do Distrito Federal, os caciques tucanos tiveram de enfrentar a pressão dos deputados do partido, quase todos bem mais jovens. “O PSDB não pode morrer abraçado a Temer”, reclamou um. O presidente interino da legenda, Tasso Jereissati, pedia calma. Os diretórios de Rio e Rio Grande do Sul pediram oficialmente a saída do governo. O paulista seguia o mesmo caminho quando foi segurado pelo governador Geraldo Alckmin. O controle é tênue. (Estadão)
A candidatura de Jobim, porém, não é certa. André Esteves, fundador do BTG Pactual, resiste. O banqueiro passou 24 dias preso em Bangu, no Rio, por conta da Lava Jato. E Jobim é sócio do BTG. O medo de Esteves, revelam Julia Duailibi e Malu Gaspar da Piauí, é que uma ida do ex-ministro de Lula e FH para o Planalto traga o banco novamente para o centro do picadeiro. Há rumores de que Esteves prepara uma delação premiada.
Terminou ontem o prazo para lançamento de candidatos ao comando da Procuradoria-Geral da República. Oito se apresentaram. O atual, Rodrigo Janot, não tentará o terceiro mandato.
Em tempo: segundo o último censo do IBGE, existem 189 homens chamados Joesley no Brasil. 21 deles moram em Goiás. Ou, agora, 20.
Brasília: O Menor Espetáculo Da Terra
Tony de Marco
Viver
O prefeito paulistano João Doria pediu à Justiça autorização para internar dependentes de drogas à força. É mais um passo controverso dentre as ações na cracolândia. Ouvido pela Folha, Dartiu Xavier, psiquiatra da Escola Paulista de Medicina que trata dependentes químicos há 28 anos, classificou a proposta como “loucura do ponto de vista médico, para não falar na afronta aos direitos humanos”. Já o Ministério Público definiu-a como uma “caçada humana”, segundo o Estadão.
A secretária de Direitos Humanos da prefeitura, por sua vez, chamou de “desastrosa” a operação de domingo. Em seguida, Patrícia Bezerra (PSDB) entregou o cargo. Antes, autorizou que cerca de 60 pessoas ocupassem o auditório da secretaria. São membros de coletivos e movimentos sociais que atuam na cracolândia.
A zika chegou ao Brasil em 2013. Circulava pelo país, pois, dois anos antes de o primeiro caso da doença ser registrado, em maio de 2015. Um estudo divulgado ontem pela Nature traçou sua rota pelas Américas a partir da análise de 110 genomas do vírus. A zika chegou vinda da Polinésia Francesa e, então, se dispersou pelo nordeste, seguindo depois para outros países das Américas do Sul e Central e, de lá, para a Flórida. (Globo)
Nova pesquisa anuncia ter respondido, em definitivo, a inquietante dúvida: por que flamingos dormem numa perna só? Já se acreditou que era uma forma de regular a temperatura do corpo, ou que, alternando entre uma e outra perna, reduziam a fadiga. No recente estudo, surge uma terceira hipótese, que, reconheça-se, é zero surpreendente - não, os flamingos, infelizmente, não dormem numa só perna pois apreciam a beleza do equilíbrio, ou porque querem se exibir perante outros pássaros. Aquela performance toda é só para economizar energia.
Cultura
Dança das cadeiras no Ministério da Cultura: depois do pedido de exoneração feito por Roberto Freire, o cineasta João Batista de Andrade terá de assumir a pasta. Andrade, que era até então secretário-executivo no MinC, havia sido convidado pelo próprio Freire para assumir a Ancine. (Globo)
A julgar pelo trailer, as batalhas, tão aguardadas pelos espectadores de Game of Thrones, podem, enfim, acontecer na sétima temporada, que reestreia em julho, na HBO. Veja o vídeo.
Já a Netflix intensifica as ações de marketing em torno de House of Cards, que volta ao ar no dia 30. Contratou agora o ex-fotógrafo oficial de Obama, Pete Souza, para “seguir” o personagem Frank Underwood (Kevin Spacey) em sua campanha presidencial (fictícia, claro) pela ruas de Washington.
Muito antes de ser uma das maiores poetas americanas, Emily Dickinson vivia metida entre plantas. Aos 9 anos, já estudava botânica e, aos 12, ajudava a mãe no jardim. Na adolescência, Dickinson fez seu próprio herbário, publicação entre a poesia e a ciência, digitalizada por Harvard e aberta na internet. A poeta coletou as 424 flores do livro e as dispôs nas páginas com sensibilidade e ritmo, feito versos de um poema.
Falando em plantas... conheça alguns jardins criados por artistas, do impressionista Claude Monet ao minimalista Sol LeWitt.
Cotidiano Digital
Num momento de crises políticas no mundo, a Wired provoca: uma inteligência artificial funcionaria como presidente? Se a ideia parece absurda, não custa lembrar que, não faz muito, o conceito de um computador dirigindo o carro também era. Os problemas por resolver não são triviais. Os partidos políticos seriam representados por inteligências artificiais distintas? Os eleitores votariam em uma lista de prioridades para o software executar? Um hacker poderia provocar uma ditadura? O papel da inteligência artificial do governo, maior ou menor, é um tema que começará a surgir lentamente.
E por falar em inteligência artificial, o software AlphaGo venceu nesta madrugada o segundo jogo e, portanto, a melhor de três contra o mestre Ke Jie, maior jogador de Go do mundo.
A Softbank pôs US$ 100 milhões na brasileira 99, concorrente do Uber. O aporte de capital, feito por um dos maiores investidores japoneses em startups, faz parte do mesmo ciclo aberto em janeiro em que a Didi Chuxing, a Uber chinesa, colocou outros US$ 100 milhões. É a maior rodada de investimentos já conquistada por uma startup brasileira. A empresa diz que vai usar o dinheiro para expandir seu serviço de caronas, 99POP, que cresceu 25 vezes nos últimos 5 meses. (Estadão)