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Edição de Sábado

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Edição de Sábado: Eu, pornô

Ontem enviei um desenho em tamanho real da minha amada e peço que a copie com o maior cuidado e a transforme em realidade. Preste atenção nas dimensões de sua cabeça e pescoço, à caixa torácica, à anca e aos membros. Atente-se com carinho aos contornos do corpo, à linha do pescoço, às costas, à curva da barriga. Permita que meus sentidos se deleitem nos lugares onde as camadas de gordura ou músculo cedem a uma cobertura de pele mais fina. {...} O ponto de tudo isso, para mim, é uma experiência em que eu possa me abraçar.

Edição de Sábado: O Estado sou eu!

Maior, melhor, incrível, magnífico, histórico, sem precedentes, extraordinário, fantástico. É vasto o vocabulário de superlativos e adjetivos do ex e próximo presidente dos Estados Unidos, Donald J. Trump. Essas e muitas outras expressões autocongratulatórias figuraram em seu discurso da vitória, na noite de terça-feira, dia 5 de novembro. Foi mesmo uma vitória notável. Condenado e conhecido, ainda assim ele varreu os sete estados-pêndulo e, na fúria de seu triunfo, garantiu maioria no Senado e deve levar a Câmara para o seu lado também. Trump começou sua fala com a afirmação de que o seu movimento, o Maga, ou Make America Great Again, “francamente”, deve ser “o maior movimento político de todos os tempos”. Não mencionou o Partido Republicano uma única vez. Nem precisaria. Trump já tragou o que um dia foi um partido para seu movimento — que, como ele e todos a seu redor sabem, é ele mesmo. Permitiu que orbitassem em torno de si, naquele palco, algumas figuras, presencial ou nominalmente: JD Vance, seu vice; Elon Musk, seu fiador; Dana White e Joe Rogan, seus brothers. E encerrou os vinte e tantos minutos de fala com o que jurou que será seu lema: “Promessas feitas, promessas mantidas”.

Edição de Sábado: Se Trump perder

George Washington, primeiro presidente dos Estados Unidos, foi eleito duas vezes sem candidato adversário. Mas, desde 1796, quando John Adams derrotou Thomas Jefferson, as eleições presidenciais no país despertavam uma e somente uma pergunta: quem vencerá? Uma guerra civil e dois conflitos mundiais não impediram que os pleitos de 1864, 1918 e 1944 transcorressem normalmente, e mesmo a polêmica eleição de 2000 foi encerrada dentro dos ritos democráticos. Tudo mudou em 2020, quando, derrotado nas urnas, o presidente Donald Trump tentou manobrar para mudar o resultado, culminando com uma inimaginável invasão do Capitólio por uma turba em 6 de janeiro do ano seguinte, a fim de evitar que o Congresso homologasse a vitória de Joe Biden.

Edição de Sábado: Que esquerda é essa?

Pouco mais de uma semana depois do primeiro turno, Fernando Haddad, o ministro da Fazenda de Lula, sentou-se diante da jornalista Monica Bergamo para uma longa entrevista e, com a sobriedade habitual, tentou justificar o resultado ruim das urnas para a esquerda enquanto o governo federal apresenta bons números na economia. Haddad carrega em si quase todo o dilema — e talvez parte das respostas — que vive seu campo ideológico. É, ao mesmo tempo, alguém que acredita em muitas ideias basilares do pensamento fundador da esquerda, mas que busca atualizá-las para os tempos modernos. Não é um exercício fácil. Os que são mais apegados a diretrizes tradicionais acusam essa postura do ministro de ser atucanada, quase uma traição.

Edição de Sábado: A Maratona de João

Foto: Sérgio Lima/Poder 360

No início, a oposição na Câmara Municipal de Recife sabia como irritar o prefeito João Campos. Apelava regularmente ao apelido de “príncipe”. A alcunha não agradava o herdeiro de Eduardo Campos, membro da dinastia política que remonta ao bisavô do prefeito, Miguel Arraes, governador de Pernambuco por três mandatos, deputado federal, estadual e que também já sentou na cadeira ocupada hoje pelo neto no Palácio Capibaribe, sede do governo municipal. A linhagem política cruza fronteiras. Da região do Crato, no Ceará, veio Bárbara de Alencar, heroína da Revolução Pernambucana e da Confederação do Equador, primeira mulher presa política do Brasil. A irmã dela, Inácia Pereira de Alencar, era tataravó de Arraes.

Edição de Sábado: Por dentro das pesquisas

Sexta-feira à noite, dois dias antes da eleição. Pablo Marçal (PRTB), candidato à prefeitura de São Paulo, posta em sua conta no Instagram um laudo com uma suposta internação de Guilherme Boulos (PSOL) por uso de drogas. Àquela altura, os dois candidatos e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) seguiam em um empate tríplice nas pesquisas de intenção de votos. O tiro saiu pela culatra. Os desmentidos sobre o laudo começaram a aparecer pouco tempo depois de o post ser publicado. Parecia jogo dos 7 erros. Boulos aparecia em fotos e vídeos na data em que estava internado, o número do RG do candidato do PSOL estava com um número a mais, o nome da clínica estava errado, havia erros gramaticais, o médico nunca havia trabalhado naquela clínica, a filha desse médico, morto em 2022, afirmou que aquela não era a assinatura dele. Nesta semana, o óbvio foi atestado pela perícia: o laudo era falso. O estrago estava feito.

Edição de Sábado: Que direita é essa?

Era mais um voo entre Brasília e São Paulo e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, havia passado o dia na capital, resolvendo problemas de dinheiro para a reta final da campanha. Ao desembarcar, retornou as ligações e procurou encarar com maior tranquilidade os conflitos que tem sido chamado a resolver. Valdemar é um deão da direita brasileira. Deputado do Centrão conservador por seis mandatos, sobrevivente de escândalos variados, político profissional — atualmente, é sob sua batuta que se orquestra a reorganização do campo ideológico que o bolsonarismo ao mesmo tempo agregou e inflamou. O embate mais comum é entre a turma radical, influente nas redes sociais e boa de voto, e as lideranças tradicionais do partido, representantes da ala fisiológica. Esses são os mais habituados a operar os recursos que irrigam os municípios e abastecem o que deve vir a ser uma vitória vistosa da direita nas eleições municipais. “A questão dos recursos, essa sim, é uma coisa difícil de resolver. Tem que colocar dinheiro aqui e ali e acompanhar de perto, senão dá problema mesmo”, disse Valdemar ao Meio, mal disfarçando que ter verba demais não é exatamente uma adversidade.

Edição de Sábado: Apostando a própria vida

É sábado de sol no Rio de Janeiro e, às 10h, o Centro está às moscas. Na Rua Acre, onde casarões da cidade velha se espremem entre prédios comerciais com pichações na fachada, as lojas estão fechadas e os antigos sobrados, vazios. Mas no quarto andar do edifício Jequitibá, número 47, há uma sala tão cheia de gente que faltam cadeiras para todos. Muitos permanecem em pé durante as três horas de reunião dos Jogadores Anônimos (JA). Em silêncio, 64 pessoas ouvem Raíssa. A história dela e de outros membros do grupo (em itálico e com nomes fictícios em respeito ao anonimato) revelam o lado mais obscuro do mundo das apostas online.

Edição de Sábado: Órfãos do feminicídio

Aos 49 anos, no dia 14 de janeiro de 2017, Ana Janete Flores foi uma das 1.133 mulheres vítimas de feminicídio no Brasil naquele ano. Ao ser morta pelo marido com um tiro no rosto, ela deixou dois filhos, William Flores Nunes, então com 23 anos, e Jonathas Flores Nunes, com 34. O pai, um policial reformado de 59 anos, suicidou-se* logo depois. O crime aconteceu em Pelotas, na região Sul do Rio Grande do Sul, enquanto os pais viajavam. Os filhos, que estavam na Região Metropolitana de Porto Alegre, foram acordados na madrugada.

Edição de Sábado: Fogo e cortinas de fumaça

O ar de São Paulo estava irrespirável nesta semana. Na sexta-feira, pelo quinto dia seguido, a capital registrava a pior qualidade do ar entre as grandes cidades do mundo, de acordo com a plataforma suíça IQAir. Claro, existe a poluição natural de uma cidade por onde circulam diariamente cerca de 6 milhões de veículos a combustão e que é afetada pela produção industrial. Mas quem viu o céu da cidade nos últimos dias sabe que alguma coisa está fora da ordem. Ou talvez alinhada a uma nova ordem, regida pelos eventos climáticos extremos, previstos pela ciência há décadas e largamente negligenciados pelos governos mundo afora.

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