“Não existe bloqueio em mais nenhuma rodovia do país”, afirmou na tarde de ontem o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. “Temos algumas concentrações em alguns lugares”. Não poucas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, o número subiu de segunda para terça-feira e chegou a 616 pontos — três rodovias, no entanto, seguiam totalmente bloqueadas. Na noite de ontem, oito aeroportos administrados pela Infraero continuavam sem combustível. Mais de 270 voos já foram cancelados desde o início da greve dos caminhoneiros. Os postos pelo país começaram a receber combustível — em São Paulo, de 10% a 12% dos estabelecimentos foram abastecidos, enquanto no Rio cerca de 15% receberam combustível. A pior fase, ao que parece, passou e muito aos poucos a vida começa a se normalizar. A estimativa é de que demore ao menos uma semana para que o cotidiano retome seu passo.
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A greve dos caminhoneiros entra, hoje, em seu nono dia. Ontem à noite, um pequeno grupo de manifestantes interrompeu o trânsito próximo à Praça dos Três Poderes, obrigando o presidente a tomar um helicóptero para ir ao aeroporto. Neste período, a Petrobras perdeu R$ 126 bilhões em valor de mercado e caiu de primeira para quarta maior empresa do país. Em alguns grupos de WhatsApp, corria ontem, forte, o boato de que uma intervenção militar estava à beira de acontecer. Mais cedo, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, José da Fonseca Lopes, afirmou que em vários bloqueios os profissionais são impedidos de voltar ao trabalho. “O pessoal quer voltar, mas eles têm medo porque estão sendo ameaçados de forma violenta”, afirmou. Já se iniciou, mas de forma precária, o reabastecimento de insumos hospitalares, comida e combustível das grandes cidades. Por enquanto, só de escolta.
O presidente Michel Temer capitulou por completo. Em pronunciamento ontem à noite, transmitido pela TV quando o Fantástico mal começara, anunciou um corte de 46 centavos por litro do Diesel cobrado direto na bomba. O preço, garantido por 60 dias, se dará pela suspensão de Cide e PIS/Cofins. O governo federal também determinou pedágio menor, pois deixarão de ser cobrados os eixos suspensos — quando os caminhões fazem viagens de retorno vazios. O Planalto ainda estabelecerá uma tabela nacional com valores mínimos de frete e garantiu uma reserva de 30% do mercado da Companhia Nacional de Abastecimento para os caminhoneiros autônomos. Ao todo, as concessões custarão R$ 10 bilhões ao país, em grande parte para poupar prejuízos à Petrobras. Políticos da base aliada se queixam da política de preços da estatal, que mantém o combustível flutuando de acordo com o valor internacional do petróleo e do câmbio.
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Foram sete horas de negociação para que, enfim, o governo costurasse um acordo de trégua com os caminhoneiros. Se for cumprido o combinado, a greve está suspensa por quinze dias. Nove das 11 entidades à mesa aceitaram a proposta do Executivo, que congelou o preço do diesel por 30 dias, mantendo o desconto de 10% prometido pela Petrobras na quarta-feira. Mas o dia ainda é incerto. “Assumimos o compromisso e vamos repassar ainda hoje, na íntegra, para todos eles. Mas é a categoria que vai dizer se isso foi suficiente ou não”, disse na saída Dilmar Bueno, da CNTA. Não é o único. “Acho que podem não aceitar”, informou outro sindicalista. (Estadão)