Era manhã ainda, em 25 de agosto, 1961, quando o presidente Jânio Quadros chegou ao Palácio do Planalto. Vinha de um desfile militar, por conta do Dia do Soldado. Acompanhavam-no o secretário particular, José Aparecido de Oliveira, os chefes das Casa Civil e Militar, Francisco Quintanilha e o general Pedro Geraldo, além de Oscar Pedroso Horta, seu ministro da Justiça. Galgaram rápido os lances de escada até o gabinete principal, que ainda hoje se localiza no terceiro andar do Planalto. Aparecido e Pedroso estavam tensos. Haviam virado a noite indo do apartamento de um para o do outro, entre conversas e telefonemas, numa busca desesperada por sentido. Eles sabiam sobre o que seria a conversa.
O presidente Jair Bolsonaro sancionou, enfim, a lei que estabelece uma Renda Básica Emergencial. É o auxílio de R$ 600 ao mês, pagos por três meses, aos trabalhadores informais. O dinheiro deverá alcançar 54 milhões de brasileiros a um custo aproximado de R$ 98 bilhões. No máximo duas pessoas por família poderão receber o valor e, em famílias nas quais não há pai, mães poderão receber em dobro. Os primeiros beneficiados pela RBE serão aqueles que já estão na lista do Bolsa Família e os do Cadastro Único. Mas demorou. Um conjunto de técnicos do Ministério da Economia resistiu a permitir que o dinheiro fosse liberado. Compreendiam que, sem uma Emenda Constitucional, a ação pudesse ser interpretada como uma pedalada fiscal, o que abriria caminho para um processo de impeachment. De acordo com Cristiana Lôbo, a resistência dos técnicos se manteve mesmo quando o ministro Alexandre Moraes, do Supremo, pôs em escrito um parecer que defendia a flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal. Precisaram ser ignorados. (G1)
O presidente Jair Bolsonaro voltou ontem à cadeia nacional de rádio e TV para fazer seu quarto pronunciamento sobre a crise do coronavírus. O tom foi outro, recuou do confronto. “Minha preocupação sempre foi salvar vidas”, afirmou. “Tanto as que perderemos pela pandemia como aquelas que serão atingidas pelo desemprego, violência e fome.” Bolsonaro não fez defesa enfática da política de isolamento vertical, — em que apenas os mais vulneráveis à Covid-19 ficam em casa —, na qual vinha insistindo. Mas também não abraçou a horizontal, prática adotada em boa parte do mundo e defendida tanto pela Organização Mundial de Saúde quanto seu próprio Ministério da Saúde. Insistiu, porém, no apelo que, ele acredita, o permite alcançar as camadas mais pobres da população. “Não me valho dessas palavras para negar a importância das medidas de prevenção e controle da pandemia, mas para mostrar que, da mesma forma, precisamos pensar nos mais vulneráveis. Essa tem sido a minha preocupação desde o princípio. O que será do camelô, do ambulante, do vendedor de churrasquinho, da diarista, do ajudante de pedreiro, do caminhoneiro e dos outros autônomos, com quem venho mantendo contato durante toda minha vida pública?” (G1)
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A imprensa foi tomada de surpresa, ontem, com mudanças no rito da entrevista coletiva diária do Ministério da Saúde a respeito do curso da pandemia no país. No meio da tarde, foi transferida para o Palácio do Planalto, passou a ser dirigida pelo ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto, e a contar com o alto-escalão da Esplanada — Onyx Lorenzoni (Cidadania), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), André Luiz de Almeida Mendonça (Advogado-Geral da União), além de Luiz Henrique Mandetta, da Saúde. Oficialmente, a mudança se deu porque a crise é séria, multidisciplinar, e portanto envolve o trabalho de todos. Mas, nos bastidores, o argumento é outro. “Só tem um governo”, disse um ministro a Natuza Nery. “E, queiram ou não, é o governo Bolsonaro.” É uma tentativa de tirar os holofotes de Mandetta. “Não tem ‘governo do Ministério da Saúde’.” Mas a divisão permanece. “Mantenho as recomendações dos estados”, afirmou Mandetta. “A gente deve manter o máximo grau de distanciamento social.” (G1)
O presidente Jair Bolsonaro achou por bem deixar o Alvorada, cedo no domingo, para passear por um mercado aglomerado de Ceilândia, cidade satélite de Brasília. Depois, seguiu para Taguatinga, também nas proximidades do Plano Piloto, e depois Sobradinho. Em ambos os lugares, insistiu em duas mensagens. “A hidroxicloroquina está dando certo em tudo quanto é lugar”, afirmou. Ainda em testes, e não recomendado para uso generalizado sequer pelo Ministério da Saúde, é uma das drogas exploradas para tratamento do novo coronavírus. “Esse isolamento horizontal”, seguiu, “se continuar assim, com a brutal quantidade de desemprego que teremos pela frente, teremos um problema seríssimo que vai levar anos para recuperar.” O presidente tem em mãos pesquisas internas, de acordo com apuração do Poder 360, que sugerem apoio nas camadas mais humildes da população, que temem a falta de receita por conta da quarentena. (Poder 360)