O futuro do trabalho
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As coisas começam a ficar estranhas em nossa história. Melhor clicar aqui se você não leu os episódios anteriores.
Valentina cai de joelhos no chão, óculos partido em dois nas mãos. Ela tenta gritar desesperada, mas nenhum som sai da sua boca. Atordoada, se encolhe no chão em posição fetal.
“Sem óculos, sem conexão…como encontrar Lis? Como voltar pra casa? Como ir ao show dos Koalas Lobitos?”
“Valentina? Você precisa de ajuda?” — A senhorinha de roupa preta de couro e tachinhas de metal se aproxima dela. — “Quer meu telefone para chamar alguém?”
A garota se levanta em um pulo. “Sim, por favor, me passe o seu celular. Preciso de um Supra urgente.” A tiazinha punk lhe entrega um trambolho vermelho com um gancho pendurado por uma corda enrolada. Em sua base, um disco de plástico traz números de zero a nove dentro de buracos circulares.
“Mas isso não é um celular! Que negócio é esse?” — Valentina irritada joga o telefone para o lado e se vira para sair do barzinho dos offbits. Sua saída é interrompida pelo garoto de camisa colorida, chinelos e longos cabelos presos por uma bandana. “Calma, bicho. Não seja baixo astral. Vem comigo ouvir um som da pesada e relaxar.” Ele a puxa para perto de um gramofone que toca um ragtime. Valentina solta sua mão e corre novamente para a saída. Dá de cara com Lorde Gentleman.
“Já se vai, cara Valentina? Quer que eu lhe chame um táxi?”
“Sim! Por favor, me chame um Supra. Quero ir pra casa!” — suplica a menina atordoada.
“Tílburi!” Grita o dândi. Imediatamente uma carruagem vira a esquina e para em sua frente. Valentina olha espantada para os cavalos. “Mas… mas” — ela olha confusa para Lorde Gentleman que veste uma armadura reluzente.
“Mia senhor, non queredes que vos retraia!” — diz o cavaleiro ajoelhado enquanto Valentina se afasta de volta à caverna. “Caverna? De onde veio essa caverna?” — ela se pergunta. Da escuridão, grunhidos incompreensíveis respondem cada vez mais perto. Valentina cai de joelhos e volta a sua posição fetal inicial.
“Valentina? É você?” — A garota olha temerosamente para cima e vê um rosto rechonchudo, careca, com olhos pequenos que a fitam preocupados.
“LIS!” — Ela grita e dá um forte abraço na amiga.
Inglaterra, 1810. A primeira Revolução Industrial avança literalmente a pleno vapor, ‘disruptando’ o trabalho de tecelões, moleiros e artesãos que de uma hora para outra viram seus empregos serem precarizados, sendo substituídos por máquinas muito mais produtivas. Com o pseudônimo Ned Ludd, homens, mulheres e homens vestidos de mulher quebravam máquinas e incendiavam fábricas para protestar contra as novas condições de trabalho. Ficaram conhecidos como luditas.
Corta para 200 e poucos anos depois. A Quarta Revolução Industrial avança movida a IoT (Internet das Coisas), Inteligência Artificial e 5G. Já falamos nesta série sobre todas as vantagens que a nova rede ultrarrápida irá trazer. Mas será que ela não trará desvantagens? Alguém perde com o avanço da tecnologia? Seremos substituídos por máquinas e inteligências artificiais? Teremos todos que virar programadores para conseguir um emprego no futuro? Veremos pela TV neoluditas agindo nas ruas?
Segundo estudos do Progressive Policy Institute (PPI), think tank fundado pelo Partido Democrata americano, não há motivo para pegarmos em martelos e tochas. Sua previsão é de que a tecnologia 5G crie milhões de novas vagas até 2034, não apenas de empregos ‘cognitivos’ como desenvolvedores de software, mas também ‘físico-cognitivos’, onde o trabalhador precisa botar a mão na massa e não apenas sentar em frente a uma tela. O trabalho blue collar, — empregos que não exigem extensa formação educacional — não vai desaparecer, ele só vai evoluir. Robôs vão necessitar de manutenção, drones vão precisar de operadores e carros autônomos de mecânicos e martelinho de ouro. Além disso, o 5G trará produtividades a setores que vinham patinando em termos de inovação como construção e agricultura.
Educação como oxigênio
“O desafio da transição entre os novos empregos que serão criados e os empregos atuais que irão desaparecer é mundial”, diz Sergio Fasce, Chief Learning Officer da Nokia. “É fundamental existir uma grande colaboração entre governo, instituições de educação e empresas privadas para que as pessoas aproveitem as novas oportunidades.”
É consenso entre os especialistas que a chave para evitar problemas nessa transição está na educação. Falo muito de oxigenação”, diz Michel Lent, sócio e CMO do Banco Modal. “A educação vai deixar de ser uma coisa para qual você dedica um tempo da sua vida e depois para. Ela vai ser como o oxigênio. Você vai precisar estar o tempo inteiro buscando fontes de informação e fontes de oxigenação daquilo que faz no dia a dia. Nossa tarefa vai ser descobrir como organizo a minha rotina — seja eu o CEO de uma companhia ou o analista que acabou de entrar — para garantir que esse fluxo de inspiração continue chegando para a gente de alguma forma.”
Escola do Futuro
Para Fasce, as mudanças que o 5G irá causar no sistema educacional irão acelerar essa capacitação profissional dos trabalhadores do futuro. “Acredito que essa tecnologia vai democratizar a educação, porque será mais fácil para um estudante frequentar uma universidade à distância”, diz ele. “Creio que a educação será um ambiente misto, unindo aulas presenciais, videoaulas como as que temos hoje e experiências em Realidade Aumentada e Realidade Virtual.” Fasce reforça a importância das experiências virtuais na educação. “Estudantes poderão ter a experiência virtual de fazer uma atividade ou de trabalhar em uma empresa antes de ter seu primeiro emprego.”
Como preparar as crianças de hoje para um mercado de trabalho que vai lhes exigir habilidades que não sabemos muito bem quais serão? Que tipo de conhecimento elas devem receber para garantir seu sucesso profissional em um mundo hiperconectado? “Acho que um bom conhecimento da tecnologia 5G e as possibilidades que ela abre é fundamental”, diz Fasce. “Existem vários conhecimentos técnicos que serão importantes como ciência de dados, inteligência artificial, robótica, cibersegurança. Mas existem áreas não diretamente ligadas a tecnologia muito importantes também, como Design Thinking, uma metodologia para solução de problemas que lida com inteligência emocional e que permite colocar o cliente no centro daquilo que fazemos.”