Venezuela se desmonta

O Congresso da Venezuela foi dissolvido e, entre hoje e amanhã, será substituído por uma Assembleia Nacional Constituinte inteiramente controlada pelo presidente Nicolás Maduro. A oposição — que controlava a Assembleia — se recusou a participar da eleição, que ocorreu no domingo. Pelo menos 14 pessoas morreram ao longo de um dia marcado por confrontos com a polícia e milícias bolivarianas. Segundo dados oficiais, num universo de 19,5 milhões de eleitores, votaram 8 milhões de pessoas. (A oposição contesta o número.) Argentina, Peru, Canadá, Colômbia, Panamá e Estados Unidos já anunciaram que não reconhecerão o processo. O Itamaraty não declarou o que fará, mas pediu que o governo Maduro não insista na ação. Um plebiscito convocado pelo Legislativo e realizado contra a vontade do Executivo, no dia 16 último, terminou com 98% (dos 7,4 milhões que votaram) declarando-se contra a Constituinte. O quórum não incluiu eleitores governistas, que assim como os oposicionistas ontem, boicotaram o pleito. O resultado imediato é que Maduro assume o controle dos três Poderes na Venezuela. Confrontos políticos já deixaram 113 mortos no país desde abril. (Globo)

No Brasil, os partidos de esquerda defendem a Constituinte de Maduro. Em artigo publicado na Folha, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, acusa a oposição de desestabilizar o país. Entrevistado pelo El País, o presidente do PSOL, Luiz Araújo, seguiu a mesma linha. Internacionalmente, a Human Rights Watch condenou a tentativa de reformar a Constituição. “O mais provável é que seja o primeiro passo para instalação de uma longa ditadura”, afirmou a ONG. O Carter Center, reconhecido pelo acompanhamento de eleições, não tem mais trabalhado no país, que considera estar em violação dos direitos de liberdade pessoal.

Adriana Carranca: “O que o passado nos informa de pertinente e útil neste momento é que existe uma saída pacífica para a crise atual. ‘E o momento de negociá-la é agora, antes que os confrontos descendam em uma espiral de violência ainda maior até uma guerra civil’, disse-me em conversa por telefone o cofundador do Programa de Negociação da Universidade de Harvard, William Ury, que participou da árdua missão diplomática para colocar governo e oposição na mesa de negociações em 2003. Mais de cem mortos em confrontos desde abril sugerem que o prognóstico não é exagerado.” (Globo)

Lourival Sant’Anna: “A realidade vem causando uma erosão no apoio popular ao chavismo. O governo está tão consciente disso que, depois da derrota na eleição para a Assembleia Nacional de dezembro de 2015, nunca mais permitiu eleições nos moldes de uma pessoa, um voto, atropelando o calendário das eleições estaduais e municipais e o direito ao referendo revogatório do mandato presidencial.” (Estadão)

Clóvis Rossi: “Nicolás Maduro só fez acentuar os defeitos do modelo econômico chavista e o estímulo à corrupção, a ponto de a revista The Economist, no número que está nas bancas, inventar o neologismo ‘thugocracy’ (governo de gângsters) para definir o regime venezuelano. É essa aberração que tenta se consolidar a partir deste domingo. Se conseguir, a América do Sul volta a ter uma ditadura depois que desapareceu a safra anterior, nos anos 1980/90. Triste, ainda mais que a Venezuela foi dos poucos países da região a escapar das ditaduras que a infestaram.” (Folha)

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Termina hoje o recesso parlamentar, abrindo espaço para que o plenário da Câmara se posicione a respeito da denúncia contra o presidente Michel Temer. O voto deve ocorrer na quarta. 207 deputados declaram que votarão para que o Supremo tenha liberdade para fazer o julgamento, 160 estão do lado oposto. Se o Planalto chegar a 172, a denúncia morre.

O voto será aberto quando dois terços dos deputados estiverem presentes. Rede e PSOL só vão ao plenário se os governistas entrarem em peso, conta Bernardo Mello Franco. O objetivo é forçar governistas a votarem, ao invés de se esconderem na abstenção. O PT quer estar presente. Segundo a ex-deputado Luciana Genro, o partido apenas finge ser contra Temer. Sua estratégia, na verdade, é manter um Temer enfraquecido no poder até o último dia. (Folha)

Aliás... antes de passar o cargo a sua sucessora, Rodrigo Janot vai decidir se denuncia ou não os governadores Geraldo Alckmin, Luiz Fernando Pezão, Paulo Hartung e Flávio Dino. (Folha)

Ligado ao empresário Guilherme Leal, da Natura, o movimento Acredito lançou manifesto de princípios: quer renovar o Congresso, combater desigualdade assim como ir além da “disputa simplista entre Estado grande e mínimo”. Espera apoiar 30 candidatos a deputado em diversos partidos.

O jurista Modesto Carvalhosa se lançou candidato em caso de eleição indireta para a presidência perante um afastamento de Temer, num protesto pequeno na Avenida Paulista.

O deputado Jair Bolsonaro se filiou ao Partido Ecológico Nacional, que deverá mudar de nome para lançá-lo à presidência. Será Patriotas ou Prona. (Gazeta do Povo)

E um pouco de humor... Ouça Temer Balança, em cima de música do Barão Vermelho. A letra é de André Arruda e Plínio Profeta, Rocknaldo Simões canta.

Cultura

Uma das mais notáveis atrizes do cinema francês, Jeanne Moreau foi encontrada morta em casa, informou agora pela manhã a agência France Presse. Tinha 89 anos, 60 dos quais dedicados ao cinema. Explodiu com seu papel em Jules e Jim, de François Truffaut, e estrelou mais de cem filmes. Moreau teve uma carreira ímpar e serviu de atriz principal a alguns dos maiores cineastas do século 20, incluindo papéis em títulos como Ascensor para o Cadafalso e Trinta Anos esta Noite (Louis Malle), O Processo (Orson Welles), A Noite (Michelangelo Antonioni), O Último Magnata (Elia Kazan), além do brasileiro Joana Francesa (Cacá Diegues).

Da escritora Conceição Evaristo: “Vamos continuar afirmando que subalterno pode falar. Se a gente pensa que o espaço da literatura, da criação literária, do discurso literário é um espaço de revelação, de identificação nacional, a nossa identificação não pode mais ficar fora da literatura brasileira.” Dita ontem, a fala da autora negra de 70 anos ecoou o tom desta Flip, que deve ser lembrada como a edição da diversidade — negros e negras foram 30% dos escritores e, pela primeira vez nos 15 anos do festival, as mulheres foram maioria. (Folha)

A grande estrela desta ano, porém, não estava no programa. A professora aposentada Diva Guimarães, de 77 anos, surgiu da plateia e roubou a cena ao apresentar emocionante depoimento sobre uma vida marcada pelo racismo. O Globo a perfilou, e na internet, o vídeo de sua fala passou de 9 milhões de visualizações.   

Apesar da louvável diversidade, o festival sofreu com “falta de entrosamento ou incompatibilidade de perfis entre debatedores em parte das mesas”, na avaliação da Folha. Já o Globo, indicou como ponto negativo as cadeiras vazias na maioria dos debates no auditório montado dentro da Igreja Matriz de Paraty.

Quanto às vendas de livros... o destaque foi outra vez para as autoras negras. Das dez obras mais vendidas durante o festival, oito são assinadas por negros (cinco mulheres, três homens). 

E o homenageado desta edição, Lima Barreto, será retratado em filme. Dirigido por Luiz Pilar e previsto para 2018, Lima Barreto, ao Terceiro Dia terá Luís Miranda no papel do protagonista. (Globo)

Em Nova York, um musical começa anunciando ao público que, em caso de impeachment do presidente, o espetáculo será cancelado, e o dinheiro dos ingressos, devolvido. Donald Trump é o mote da comédia off Broadway, que, segundo o El País, aos poucos ganhou atenção, elogios da crítica especializada e, enfim, virou um fenômeno no circuito alternativo da cidade.

Em tempo: o musical costuma ser atualizado de acordo com notícias, anúncios e afins do governo Trump. Ou seja, muda muito.

 

Galeria: fotos inéditas de David Bowie aos 20 anos, em 1967, quando posou para a capa de seu primeiro álbum. O ensaio, porém, não emplacou e ficou escondido (até agora).

“Quando tinha 24 ou 25 anos, me apaixonei profundamente por alguém. E me parecia correto deixar tudo. Simplesmente ir embora e viver com ele.” Lady Di confessa a paixão num vídeo caseiro dos anos 1990, um dos muitos que formam o documentário Diana: In Her Own Words. O filme já foi exibido nos EUA em 2004 e tem até versões no YouTube. Mas nunca, jamais, foi ao ar na TV britânica. Agora, quando dão-se 20 anos da morte da princesa, o Channel 4 garante que, sim, vai exibi-lo ao Reino Unido, no próximo domingo. (Estadão)

Enquanto isso… O irmão de Diana tenta barrar a exibição do filme.

Vídeo: veja o trailer do polêmico documentário.

Viver

Em ato no Congresso agora pela manhã, a Anistia Internacional lançará uma campanha contra projetos que podem violar direitos humanos, em tramitação na Câmara ou no Senado. Segundo Jurema Werneck, diretora executiva do órgão no Brasil, “várias emendas, se aprovadas, colocam em risco as vidas de milhões de pessoas — especialmente aquelas que já sofrem discriminação”. Ela se refere, como conta o Estadão, a projetos que tratam da redução da maioridade penal, da demarcação de terras indígenas, da proibição do aborto, entre vários outros.

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O primeiro lote esgotou em questão de horas. O segundo também durou pouco. O terceiro, previsto para quinta passada, não chegou. Segundo a Folha, a maconha sumiu das farmácias do Uruguai, tão grande passou a ser a demanda desde a liberação da venda da erva em farmácias. Em quase dez dias, de acordo com o jornal, o número de inscritos interessados no produto aumentou em mais de 75%.

Na Carolina do Norte, há um youtuber de 45 anos de idade cujos vídeos são exclusivamente dedicados a seu macaco de estimação, batizado Boo. O repórter da New Yorker chegou a ele pesquisando por vídeos para encorajar seu filho pequeno a comer mais. Intrigado, clicou num vídeo de Pete Moss, e viu Boo — comendo de um tudo, de pizza e batata frita a melancia. O youtuber registra o macaco o tempo todo, são inseparáveis. “Ter Boo não é como ter um bicho de estimação. É um estilo de vida”, disse à revista.

Galeria: no Guardian, colagens de flores em gatos (ou de gatos em flores, ao gosto do freguês) — um tipo de arte, diga-se, altamente recomendável para tratar o mau humor típico das segundas-feiras.

Cotidiano Digital

Para ler com calma: A turma do YouPix foi a Los Angeles conhecer quem está mergulhado no desafio de produzir conteúdo em vídeo, digital e rentável. O grupo conversou com gente de empresas de longa história como a Disney e novas, como o Buzzfeed. Há um relatório no ar com o resumo (PDF mediante inscrição). Entre as lições está a convicção de que a produção tem de ser barata, rápida e a equipe, mínima. Cada vez mais, marcas substituem publicidade tradicional por conteúdo feito dentro de casa. E há imensas oportunidades dentro de nichos.

Hackers reunidos na Defcon, a principal reunião anual da trupe, se impuseram o desafio de testar a segurança de urnas eletrônicas. Conseguiram burlar várias delas. Um dos modelos quebrados pertence à Diebold, mesma fabricante das urnas utilizadas pelo TSE no Brasil.

Aliás... Diego Aranha, da Unicamp, escreveu uma sequência de tweets avaliando a urna eletrônica brasileira e relatando testes dos quais participou. Vulnerabilidades foram encontradas em três edições de testes permitidos pelo TSE.

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