Dia de isolamento, terror e música à beira do vulcão

Do sombrio livro O Senhor das Moscas à tolinha série de TV A Ilha dos Birutas, o comportamento de um grupo humano apartado da sociedade é tema recorrente na arte. E é o mote de um dos destaques das estreias de hoje nos cinemas, o luso-brasileiro Sobreviventes, último filme do cineasta José Barahona, que morreu em novembro do ano passado. Com roteiro do diretor e de escritor José Eduardo Agualusa, o longa retrata um naufrágio no século 19 que deixa isolados numa ilha fidalgos portugueses e escravizados africanos. Tendo de lutar pela sobrevivência, o grupo se verá dividido entre estabelecer novas relações sociais e se ater às regras da “civilização”.
Ater-se a regras nunca foi o forte do lendário grupo inglês Pink Floyd em sua trajetória de banda psicodélica ultra underground a ídolo de multidões. A transição entre essas duas fases pode ser (re)vista com o lançamento de Pink Floyd at Pompeii – MCMLXXII, versão em 4K e com som remasterizado do show/documentário de 1972 dirigido por Adrian Maben. A parte ao vivo foi filmada em outubro de 1971 no anfiteatro de Pompeia, cidade italiana arrasada por uma erupção do Vesúvio no ano 79 da era atual. O repertório mistura músicas do álbum Meddle, incluindo os 23 minutos de Echoes, e material anterior, da fase mais psicodélica do quarteto. Paralelamente, há filmagens feitas no estúdio de Abbey Road, em Londres, durante as gravações do que viria a ser The Dark Side of the Moon, opus magna que já vendeu até hoje 45 milhões de cópias em todo o mundo. O filme é um bálsamo para quem sofre nesta época de música cada vez mais enlatada e descartável.
Se o chocante episódio mais recente de The Last of Us não surpreendeu quem já havia jogado o videogame, o mesmo não pode ser dito de Until Dawn: Noite de Terror, que basicamente só preserva o nome, o clima do jogo que o inspira e um personagem, o Dr Hill, vivido por Peter Stromare. A premissa inicial é semelhante: um ano depois do desaparecimento de uma jovem, o irmão dela reúne seus amigos na casa isolada no vale em que ela sumiu. Um a um eles vão enfrentando perigos e morrendo. A diferença é que, no filme, eles não ficam mortos. Voltam em um looping aterrorizante que só será quebrado caso sobrevivam até o amanhecer.
Em O Contador 2, Ben Affleck volta à pele de Christian Wolff, um homem sem habilidades sociais devido ao autismo, treinado em combate pelo pai militar e com um talento sobre-humano com números. Pena que ele o use para lavar dinheiro de organizações criminosas, uma das quais tem de enfrentar no filme original. Na continuação, ele é recrutado pela agente do governo que o perseguia para resolver o assassinato de seu antigo chefe. Resta saber se esse cruzamento de Rain Man e Rambo vai dar conta dos perigos.
Ação também não falta no brasileiro Serra das Almas, de Lírio Ferreira. Duas jornalistas que investigam a ação de criminosos no interior de Pernambuco são sequestradas por uma quadrilha envolvida em um roubo de joias. Criminosos, reféns, os moradores da casa onde o bando se refugia e um completo estranho vão mergulhar numa espiral de violência e loucura.
Também ambientado no Nordeste, mas com uma pegada bem mais leve, Betânia, de Marcelo Botta, conta a história de uma mulher que fica viúva aos 65 anos. Seus filhos querem que ela volte a viver com a família na beira do parque nacional dos Lençóis Maranhenses, mas ela tem outros planos.
De Portugal vem Clandestina, de Maria Mire, baseado no livro Memórias de Uma Falsificadora – A Luta na Clandestinidade pela Liberdade em Portugal, da professora e ilustradora Margarida Tengarrinha (1928-2023), militante comunista que forjava documentos para opositores da ditadura fascista que dominou seu país até a década de 1970. Formalmente um documentário, o longa dá uma ambientação contemporânea à luta de Margarida.
Em seus curtos 26 anos de vida, o sambista Noel Rosa (1910-1937) deixou marcas profundas na música brasileira e em Vila Isabel, bairro da Zona Norte carioca onde viveu, cantou e morreu. É lá que a cineasta Joana Nin vai buscar a inspiração e as histórias do documentário Noel Rosa – Um Espírito Circulante.
E para as crianças (mas não só elas) há Looney Tunes – O Filme: O Dia que a Terra Explodiu, no qual Gaguinho e Patolino têm de salvar o planeta de um ataque alienígena. Ou seja, estamos lascados.
Confira a programação completa nos cinemas da sua cidade. (AdoroCinema)