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Com posse de Trump, imigrantes vivem clima de incerteza nos Estados Unidos

A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, que ocorre nesta segunda-feira, tem gerado um clima de incerteza entre imigrantes, inclusive brasileiros, com situação irregular no país ou mesmo os que já obtiveram visto de permanência. Entre as promessas do republicano está a de fazer a maior deportação da história do país e de restringir alguns tipos de vistos a cidadãos estrangeiros. Reportagem da Folha ouviu estrangeiros nos Estados Unidos, associações de apoio a refugiados e asilados, e aponta que o medo de cruzar com o serviço de imigração cresceu.

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Há associações que estudam retomar serviços usados no passado para alertar em tempo real sobre a proximidade dos agentes do governo. “Tem gente dentro de casa que não quer abrir a porta porque tem medo de que seja o ICE [Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas, em inglês]. Eles pedem os documentos e, em vários casos, a pessoa é deportada”, disse uma das entrevistadas.

Em seu primeiro mandato, Trump dificultou a permanência temporária ao exigir que o imigrante apresentasse o pedido de asilo no país natal para ter acesso à categoria nos EUA. Esse tipo de visto continua na mira do republicano, que afirma haver abusos nas solicitações —embora não haja evidências que sustentem essa afirmação.

Segundo ela, já houve situações, sobretudo no primeiro mandato do republicano, em que agentes do ICE chegaram a locais de trabalho com imigrantes para fazerem detenções e, depois, deportações.

Pesquisa da Pew Research Center divulgada em julho passado aponta que, em 2022, eram cerca de 11 milhões os imigrantes em situação irregular no país. Desse total, 230 mil saíram do Brasil —um salto em relação à década passada. Em 2012, havia por volta de 100 mil brasileiros em situação irregular nos EUA.

A grande maioria dos imigrantes não legalizados é proveniente do México: 4 milhões. Há um volume alto de pessoas que saem de países das Américas do Sul e Central em busca do sonho americano. El Salvador, país de origem de Juan, tinha 730 mil imigrantes em situação irregular nos EUA em 2022.

Associações e igrejas que trabalham com refugiados e asilados têm promovido palestras na tentativa de combater o medo com informação. Uma dirigente da Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos (Lulac, na sigla em inglês), por exemplo, tem atuado para informar haitianos em Ohio sobre as garantias que eles têm caso sejam refugiados —status da maior parte deles.

O advogado Felipe Alexandre, sócio da ALFA Alexandre Law Firm & Associates, tem sido acionado para dar palestras e explicar como os imigrantes devem proceder para tentar se regularizar. “A eleição trouxe uma certa ansiedade para as pessoas. Quem vai ter que estar bem preocupada é a pessoa completamente ilegal, que nunca fez nenhuma solicitação e que tem antecedentes criminais ou ordem de deportação”, explica.

Apesar do clima, há também um grupo de brasileiros mais esperançosos, que apoiam Trump e acreditam que ele vai mirar apenas imigrantes que tenham cometido crimes.

Décio Dassoler abriu uma empresa de construção nos Estados Unidos mesmo sem estar legal no país. Ao contrário do temor pela promessa de deportações de Trump, ele diz que está otimista. “A economia no mandato dele foi ótima e beneficiou a área de construção.” Agora, diz esperar situação semelhante. “Zero medo. Eu já vi muita gente deportada, mas alguma coisa errada fizeram. É sempre gente que tem antecedentes criminais. Na minha cabeça, eles vão atrás desse povo primeiro, e é muita gente. Estou tranquilo em relação a isso porque eles [os americanos] precisam da gente. E não é pouco”, diz.

Segundo o American Immigration Council, um grupo de defesa dos imigrantes, custaria US$ 315 bilhões (R$ 1,8 trilhão) para prender, deter e deportar todos os 13,3 milhões que vivem nos EUA ilegalmente ou sob um status temporário revogável. (Folha)

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