Edição de Sábado: Meta sem filtros
Mark Zuckerberg vestia uma corrente dourada, camiseta preta e um relógio de US$ 900 mil ao gravar um vídeo no qual anunciou mudanças profundas na forma como a Meta lida com desinformação em suas plataformas.
Pelo tamanho e escala da Meta, o anúncio de que o maior conglomerado de redes sociais do mundo vai encerrar seu programa de checagem terceirizada de fatos, inicialmente nos EUA, pode ter implicações profundas na forma como 3 bilhões de usuários diários ativos interagem no Instagram, no Facebook e no Threads — inclusive no Brasil.
A ideia da Meta é substituir essas checagens, inicialmente nos EUA, por um modelo que utiliza verificações feitas pelos próprios usuários, similar ao que faz o X (antigo Twitter) com suas Notas da Comunidade.
Embora seja um modelo interessante de colaboração entre pessoas, é também um sistema que deveria ser, no máximo, complementar à checagem profissionalizada feita por jornalistas, considerando que estudos mostram resultados bastante limitados no combate à desinformação (quando conseguem comprovar alguma correlação).
Quando o programa de checagem começou, lá em 2016, logo após a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, a Meta estava sob fogo por causa do caso Cambridge Analytica. Nesse escândalo, informações de mais de 50 milhões de usuários do Facebook foram utilizadas sem autorização para fazer propaganda política. A empresa fazia parte da campanha do então candidato à presidência dos EUA, Donald Trump.
A Meta foi condenada múltiplas vezes pelo caso e estabeleceu o programa de checagem de fatos como tentativa de recuperar os danos de imagem que sofreu, além de reestabelecer parte da confiança perdida com público e autoridades americanas. O programa já dura 8 anos, e foi frequentemente renovado e publicizado pela Meta como um bom modelo.
Não é por menos, então, que jornalistas e especialistas em desinformação do mundo inteiro viram com decepção os comentários mais recentes de Zuckerberg, acusando a imprensa profissional de promover censura e pesar a mão contra liberdade de expressão. “Os checadores de fatos simplesmente foram muito enviesados politicamente e destruíram mais confiança do que criaram”, disse o bilionário.
Por trás desse comentário está um certo ranço com o jornalismo, que nunca pegou leve com ele nem com a Meta. A empresa, que sempre buscou se posicionar como uma força do bem que conecta pessoas e promove boa informação, sempre se viu nos holofotes da imprensa por conta de problemas, gerando uma publicidade negativa. Um bom exemplo são os chamados Facebook Papers — vazamentos de estudos internos da empresa mostrando questões como saúde mental de adolescentes e falhas em lidar com conteúdos tóxicos que geraram grande repercussão mundial em 2021 (quando a empresa ainda se chamava Facebook).
Seja como for, as declarações inflamadas de Zuckerberg tensionaram ao máximo a corda que une a Meta aos checadores, colocando em dúvida um dos maiores financiamentos à checagem de fatos que complementam orçamentos de centenas organizações de todo o mundo, e arriscando desfazer anos de trabalho para limpar a plataforma de seus conteúdos desinformativos mais virais.
Uma carta assinada por 30 agências de checagem de todo o mundo, de Nigéria e Iraque à Ucrânia e Brasil, buscou desmentir essas declarações politicamente carregadas de Zuckerberg, explicando claramente como funciona o programa e quão rigorosa foi a seleção para escolher organizações capacitadas a fazer o trabalho.
“Seus comentários sugerem que os verificadores de fatos foram responsáveis pela censura, embora a Meta nunca tenha dado a eles a capacidade ou a autoridade para remover conteúdos ou contas. Alguns usuários frequentemente culpavam e assediavam os checadores pelas ações da Meta. Seus comentários recentes, sem dúvida, alimentarão essas percepções”, disse a carta.
“Se a Meta decidir encerrar o programa mundialmente, haverá danos reais em muitos lugares”, disseram os checadores.
Da construção ao desmonte
O programa de checagem, que começou no Facebook, foi expandido para o Instagram em 2019 e para o Threads em 2024. A ideia por trás era a de fornecer uma avaliação de especialistas de fora da empresa, tirando um pouco do ônus de moderação de desinformação de suas costas.
Durante o período, a empresa de Mark Zuckerberg fechou contratos com mais de 200 organizações, que são independentes e precisam ser certificadas pela Rede Internacional de Verificação de Fatos (IFCN), do Instituto Poynter, uma organização sem fins lucrativos.
No Brasil, as agências certificadas pelo IFCN são: Aos Fatos, Estadão Verifica, Lupa e UOL Confere. Nos EUA, há 10 agências certificadas: AFP, Check Your Fact, FactCheck.org, Lead Stories, PolitiFact, Science Feedback, Reuters Fact Check, TelevisaUnivision, The Dispatch e USA Today. Veja aqui a lista de checadores parceiros da Meta no mundo inteiro.
Segundo a Business Insider, os contratos com os parceiros dos EUA serão encerrados em março deste ano, embora os pagamentos estejam garantidos até agosto. A Meta vai observar primeiro os efeitos do encerramento de seu programa terceirizado de checagem nos EUA antes de decidir o que fará em outros países.
O novo chefe de políticas públicas da Meta, Joel Kaplan, disse que o novo sistema de checagem feita pelos próprios usuários vai “levar tempo” para ser estruturado.
Segundo post no blog da Meta, quando os checadores classificam uma notícia como falsa, a plataforma reduz o alcance orgânico do conteúdo em cerca de 80%. Sem os verificadores profissionais, a ideia é que os próprios usuários decidam o que é ou não desinformação.
No vídeo gravado sobre as mudanças, Zuckerberg diz que esse novo sistema reduzirá o julgamento tendencioso de fatos. Mas, ao site da Poynter, especialistas dizem que, na prática, o recurso encontrará uma grande dificuldade quando depender que pessoas de diferentes ideologias cheguem a um consenso. Como resultado, a desinformação sobre política ou outros tópicos controversos muitas vezes não é controlada, como já vemos no X.
Um artigo de pesquisadores das Universidades de Illinois e Rochester, de novembro de 2024, concluiu que o recurso de checagem pública usado pelo X e citado por Zuckerberg aumenta a probabilidade de retração voluntária de posts falsos pelos autores. A pesquisa indica que esse efeito é principalmente impulsionado pela reação observável dos usuários que interagiram com a informação falsa, e não pela influência presumida sobre usuários passivos.
Mas, ao mesmo tempo, o próprio estudo questiona se a verificação realizada pela comunidade pode ser considerada confiável, contextualizada e ter credibilidade, especialmente por não terem experiência necessária para fazer isso — além de potencial manipulação da pontuação de uma checagem.
Já um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Luxemburgo e Oxford, de 2023, não encontrou evidências de que as Notas de Comunidade no X tenham reduzido o engajamento com posts enganosos. E uma investigação da Wired em 2023 apontou que o sistema de Notas de Comunidade no X pode ser vulnerável a manipulações coordenadas e a brigas internas de voluntários.
A reportagem da Wired mostrou como esse recurso é vulnerável a interesses de certos grupos, chegando até a entrevistar um colaborador do X que coordena com outros voluntários para dar notas a checagens que acham boas ou ruins, aplicando o poder de mostrá-las ou de se certificar de que permaneçam escondidas dos outros usuários da plataforma.
De acordo com o Poynter Institute, de 122 mil Notas de Comunidade feitas até meados de 2023 no X, menos de 10% haviam sido publicizadas na plataforma.
Como bem mostrou o Aos Fatos, a ineficiência do sistema foi explorada por certos grupos para uso político, também em 2023, inclusive para incluir comentários transfóbicos e classificar posts verdadeiros como falsos.
O tamanho do risco
Para se entender o tamanho do risco, convém lembrar que, no fim de 2021, a própria empresa divulgou que removeu mais de 1 milhão de posts, stories e comentários de suas plataformas por desinformação sobre Covid-19, apenas no Brasil. Já em 2022, 600 mil postagens sobre eleições presidenciais brasileiras foram removidas por incitação à violência e discurso de ódio.
Mas, mais do que alterações profundas de abordagem, o anúncio sinalizou um alinhamento (oportunista) entre o jovem CEO bilionário e o novo governo americano liderado pelo presidente-eleito Donald Trump, que assumirá o cargo em 20 de janeiro. É essa harmonia de diferentes poderes (tecnologia de massa + política) que, no fundo, assusta ainda mais uma comunidade de jornalistas e especialistas em desinformação.
Zuckerberg acusou governos e a imprensa tradicional de pressionarem por “censura” de opiniões em suas redes. Ele só se esqueceu de explicar que é a Meta que controla a tecnologia e as regras de seu próprio programa contra desinformação, e que jornalistas parceiros não possuem poder nem para derrubar posts nem aplicar rótulos.
A “censura”, portanto, só podia ser aplicada pela própria empresa, mesmo que a partir de feedbacks gerados por profissionais terceirizados. Além disso, em boa parte dos casos, eram os sistemas da própria Meta que selecionavam conteúdo para ser avaliado por checadores, principalmente a partir de métricas de viralização de conteúdo estabelecidas e priorizadas pela empresa.
Os mais recentes comentários de Zuckerberg são uma notável mudança de posicionamento em relação à postura anterior da Meta. Até poucos meses atrás, a empresa mostrava certo orgulho em patrocinar esse tipo de iniciativa, que conta com mais de 200 parceiros em 115 países.
Essa nova rota do bilionário não acontece por acaso. A eleição de Trump nos EUA, em novembro de 2024, mostrou que agora é mais cômodo para as grandes empresas de tecnologia se aliarem a movimentos conservadores, que tendem a ser muito persistentes em suas pautas de liberdade de expressão e desregulamentação.
Com movimentos regulatórios sobre plataformas acontecendo em muitos países e regiões, como Canadá, Austrália e até no Brasil, as empresas querem agora se aliar àqueles que as deixarão correr com a rédea solta.
É importante notar que grandes empresas de tecnologia, especialmente Google, Amazon, Apple, passaram por quatro anos de muitos atritos regulatórios nos Estados Unidos durante o governo Joe Biden, assim como na Europa, com o início de regulações de serviços digitais que colocam as grandes plataformas em um lugar de maior escrutínio e conformidade. A Meta, em menor escala, também passou por pressões do governo Biden para que moderasse conteúdos anti-vacina durante a pandemia de Covid-19, algo que Zuckerberg aparentemente não conseguiu superar.
Com a rapidez de desenvolvimento de grandes modelos de linguagem (LLMs), essas grandes empresas temem que o governo possa interferir demais em suas iniciativas para acelerar a implementação de ferramentas de inteligência artificial para consumidores. O regulador de mercados dos EUA, a FTC, deixou claro durante o governo Biden que tinha toda intenção de ir atrás do poder de mercado dessas empresas.
Ironicamente, tanto Trump quanto seu vice-presidente-eleito, JD Vance, fizeram muitas críticas às Big Techs e seus executivos na campanha presidencial de 2024, inclusive clamando por regulação. Trump chegou a fazer ameaças claras a Zuckerberg: “Estamos observando-o de perto e se ele fizer algo ilegal desta vez, passará o resto da vida na prisão — assim como outros que trapacearem na eleição presidencial de 2024”, disse o presidente-eleito em agosto de 2024.
Desde então, Zuckerberg parece ter mudado — obviamente atento ao calendário eleitoral — e assumido uma postura muito mais amigável em relação aos duros discursos intervencionistas de Trump. Se não se pode enfrentá-los, junte-se a eles.
Muito dessa aproximação veio na forma de afagos verbais, mudanças de políticas internas da Meta e, claro, dinheiro. Zuckerberg pessoalmente doou US$1 milhão para o fundo de cerimônia de posse de Trump, junto a outros grandes nomes de tecnologia como Sam Altman (OpenAi) e Jeff Bezos (Amazon).
Quaisquer que sejam as novas direções que a Meta (e, nesse sentido, outras grandes empresas de tecnologia) vá tomar em relação a moderação e desinformação, é seguro presumir que agora a empresa está jogando com os conservadores.
Como bem disse o advogado e diretor do InternetLab, Francisco Brito Cruz, em entrevista ao Intercept Brasil, a Meta não ganha nada atualmente ao tentar agradar a imprensa e a base política mais progressista nos EUA. O Partido Republicano, conservador em essência, controla o Congresso, é maioria na Suprema Corte e prepara uma onda de mudanças estruturais assim que assumir a Presidência. “O peso do pragmatismo é alto e quem paga o pato são os usuários, em especial de geografias e grupos marginalizados”, disse o advogado.
Para Zuckerberg, apenas começou sua jornada no trumpismo.
Vídeo generativo vive evolução exponencial
Quanta informação o ser humano produz diariamente? Em 1925, contando livros, jornais impressos, programas de rádio e filmes sendo produzidos, estima-se que era algo entre 2 a 3 terabytes por dia. A estimativa para 2025 é de exorbitantes 463 exabytes (ou 463 milhões de terabytes) por dia. Nos últimos 100 anos, a humanidade passou a produzir cerca de 230 milhões de vezes mais informação a cada dia — considerando como informação dados em qualquer formato, criados e distribuídos em qualquer meio.
Mais da metade (53,72%) da informação que circula diariamente na internet é consumida em formato de vídeo. Diariamente, o YouTube recebe 720 mil novas horas de conteúdo, equivalentes a cerca de 5 mil terabytes. Vídeos dominam o consumo de mídia no Facebook, no TikTok e no Snapchat, e geram até dez vezes mais engajamento e interação no Instagram e no X, plataformas originalmente voltadas para fotos e para texto, respectivamente.
Por mais impressionantes que esses números possam parecer, essa quantidade diária de informação em breve vai parecer irrisória. A era digital vem acelerando o compasso da produção de informação e, em breve, toda a produção humana será eclipsada por uma quantidade infinita de informação gerada por inteligência artificial (IA), que vai inundar servidores, mídias sociais e redes de forma avassaladora.
Imagens sintéticas vêm confundindo nossa percepção de realidade, sendo cada vez mais difíceis de identificar. Vídeos sintéticos são o próximo passo lógico, e será imenso o impacto que terão na produção audiovisual, no entretenimento, nas redes sociais e em diversos setores da sociedade e de nossas vidas.
Longe se vão os primeiros dias de 2023, em que vídeos sintéticos ainda eram um caos generativo fora de controle, em que objetos sumiam e ressurgiam aleatoriamente, pessoas ganhavam novos membros e carros se fundiam em movimentos impossíveis, em uma forma de surrealismo visual que poderá se tornar arte cult daqui a alguns anos.
A maior parte dos desafios das ferramentas de vídeo de IA passava, e ainda passa, pelo nível de controle oferecido. Nesse contexto, a Runway lançou o modelo Gen1, de transformação de vídeo-para-vídeo, em fevereiro de 2023, e em seguida lançou o revolucionário Gen-2, de texto e imagem para vídeo, em março. Embora impressionante à época, o Gen-2 recorria excessivamente à interpolação para conseguir gerações mais longas, e normalmente seus vídeos pareciam estar em câmera lenta. Ao longo do ano, eles adicionaram ferramentas de controle de câmera, de movimento e de estilo, além da capacidade de estender as gerações por mais 8 segundos por vez, chegando a mais de 30 segundos totais por take.
As ferramentas de controle que a Runway lançou nessa época ajudaram a mostrar que havia muito mais formas de controlar uma geração do que um simples prompt, e seguem orientando a indústria até hoje.
Quando o modelo SORA, da OpenAI, foi anunciado em fevereiro de 2024, as primeiras reações foram de espanto pelo realismo e pela qualidade das imagens produzidas. Naquele momento, a única forma de controle possível para o SORA ainda era o prompt, que podia ser extenso e detalhado, mas jamais entregaria exatamente tudo que era pedido.
Finalmente lançado em dezembro de 2024, o SORA evoluiu e permite a geração de vídeos a partir de textos, imagens ou outros vídeos, tem opções de estilos e uma ferramenta de storyboard para a geração de sequências de vídeos como parte de uma mesma história. E, sim, mesmo após tanta espera, o SORA ainda é muito impressionante — e caro.
Já a Runway lançou o Gen-3 em junho de 2024, com outro nível de qualidade, capaz de gerar vídeos a partir de textos, imagens ou vídeos. O modelo superou sua tendência de câmera lenta e veio ganhando recursos avançados ao longo do ano, como controle de câmera, expansão de vídeos, extensão de vídeos, uma versão turbo extremamente rápida e até mesmo a capacidade de incorporar a performance facial, de fala e sincronia labial de um vídeo real na geração de um vídeo de IA, com uma ferramenta chamada Act-One.
Nesse meio tempo, a China entrou de forma extremamente competitiva no espaço, com empresas como Kuaishou e Hailuo lançando seus respectivos serviços Kling e Minimax. A Kuaishou é uma concorrente do Tik-Tok e por isso tem acesso a uma vasta base de dados de vídeo para treinamento. O Kling foi lançado em junho de 2024, e seu modelo 1.0 já teve dois upgrades desde então, o 1.5 em setembro e, mais recentemente, o 1.6, em dezembro. Além das atualizações de modelo, o serviço também passou a oferecer resolução de FullHD e controles de câmera e movimento, como a Runway.
Mas o Kling tem outras surpresas: ele permite ao usuário treinar um personagem consistente, a partir de vídeos, e depois do treinamento se torna capaz de gerar vídeos daquele personagem em qualquer situação. Além disso, ele permite experimentar e trocar diferentes vestimentas em um mesmo personagem estático, para em seguida dar vida a ele em vídeo.
Embora mais recente e com menos recursos de controle, o Minimax impressiona pela qualidade. Recentemente, lançou um novo modelo, especializado em gerar animações 2D — um estilo de animação que os outros modelos ainda não lidam tão bem. E nesta última semana, lançou um novo recurso de consistência de personagens em vídeo, a partir de uma imagem de rosto.
Big techs
As gigantes de tecnologia Adobe, Meta e Google jamais iriam ficar de fora dessa arena — e as três já exibiram e estão lançando ou integrando seus modelos de geração de vídeo ao longo deste ano.
O Google lançou, por enquanto apenas nos EUA, o modelo VEO 2 da Deepmind, que parece estar bem à frente em qualidade e resolução de imagem (4K), duração (até dois minutos) e aderência aos prompts — embora, por questões de segurança, quem tem acesso só pode gerar vídeos de 720p e em cenas de até 8 segundos. Essa liderança em termos de qualidade certamente está relacionada à qualidade da base de vídeos do Youtube — a maior do mundo.
A Meta anunciou seu MovieGen em outubro de 2024, mas ainda não tornou a ferramenta pública, igualmente por questões de segurança. Seu modelo está entre os mais impressionantes, e se destaca dos outros também pela capacidade de editar vídeos usando apenas texto, algo inimaginável até pouco tempo atrás. Em seus planos, está integrar a ferramenta ao Instagram e ao Whatsapp.
E a Adobe lançou seu modelo Firefly em outubro, e vem integrando a capacidade de geração e extensão de vídeos em seus softwares. Ela se posiciona de forma distinta da concorrência, garantindo que seus modelos foram treinados apenas com dados e imagens sobre os quais ela tinha licenças e direitos.
Embora a geração artificial de vídeos ainda esteja longe de ser perfeita, entramos em 2025 com diversas ferramentas já cruzando ou prestes a cruzar a barreira do “vale do estranhamento” — o chamado uncanny valley. Esse feito, por si só representa um avanço enorme, que a indústria do 3D tenta há décadas superar sem sucesso — a capacidade de criar pessoas artificiais nos mínimos detalhes e movimentos, de forma indistinguível de uma pessoa real.
A combinação dessas duas tecnologias, IA e 3D, pode inclusive ser uma das grandes tendências do ano. Usar uma animação em 3D como base e aplicar uma segunda passagem de vídeo-para-vídeo usando IA parece ser uma receita promissora para se chegar ao mesmo tempo ao controle de cena, cinematografia e movimento desejado por diretores e produtores audiovisuais, e atravessar o “vale do estranhamento” de uma vez por todas.
A competição dos modelos de geração de vídeo por IA mal começou, e já parece atingir velocidade de escape. Entre novos atores e gigantes da tecnologia, existem diversos pesos-pesados bem posicionados. As preocupações éticas e de segurança começam a se tornar cada vez mais presentes, e importantes, à medida em que a qualidade das ferramentas sintéticas torna o conteúdo de vídeo generativo mais difícil de distinguir da própria realidade. As implicações dessa tecnologia para a sociedade contemporânea são imensas, e as potenciais consequências, enormes — para o bem e para o mal. Uma coisa é certa: esse vai ser o ano do vídeo de IA.
Processos contra golpistas devem acelerar neste ano
O ato realizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira para lembrar os dois anos do 8 de janeiro levou apenas 1,2 mil pessoas à Praça dos Três Poderes. O flop não foi apenas de público. A cerimônia foi marcada pela ausência dos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que mandaram representantes.
Em seu discurso, Lula minimizou as ausências ao dizer que “um ato em defesa da democracia brasileira, mesmo que tiver um só cara, uma só pessoa em uma praça pública, num palanque falando em democracia já é o suficiente para a gente acreditar que a democracia vai reinar nesse país.” E destacou ainda a presença dos militares na cerimônia, dizendo ser possível ter as Forças Armadas “voltadas para o propósito de defender a soberania nacional”.
Para o cientista político Claudio Couto, da FGV, de todos os ausentes, o que tem a postura mais ambígua em relação ao governo é Lira. Por conta do processo sucessório na Câmara, o alagoano tenta equilibrar todos os pratos, tentando fazer uma certa composição com o executivo "mesmo que volta e meia bote a faca no pescoço do governo para poder extorquir o executivo e extrair um pouco mais de benefícios para si e para aqueles que o sustentam dentro da Câmara dos Deputados, ao mesmo tempo faz uma média também com a oposição bolsonarista".
Independentemente do ato em si, este é um ano em que os diferentes processos relativos à trama golpista e aos atos do 8 de janeiro devem ter andamento célere. Para Couto, no ano passado nós tivemos um tempo de calmaria, sobretudo em relação à publicidade das investigações, para respeitar o período eleitoral e não causar ruído durante as eleições.
Mesmo assim, a avaliação é de que os trabalhos da polícia federal avançaram bastante. “Tudo aquilo que tem sido revelado e apresentado como evidência, os vários materiais coletados nos celulares, os documentos que foram colhidos, tudo isso dá muita robustez às provas e à investigação e daí consequentemente ao processo que venha depois disso.” E acrescenta que a mesma cautela deve ser observada neste ano, mas que há uma preocupação de que os processos caminhem para a conclusão antes de entrarmos no ciclo eleitoral de 2026.
Em relação às ações golpistas de 8 de janeiro de 2023, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a abertura de sete inquéritos. São ações separadas em quatro núcleos de investigação sobre os executores, incitadores, financiadores e autoridades. Desses sete inquéritos, um contra a deputada Clarissa Tércio (PP-PE), foi arquivado a pedido da própria PGR, por não enxergar elementos que apontassem a participação da deputada nos atos.
Outros dois, contra os deputados André Fernandes (PL-CE) e Silvia Waiãpi (PL-AP), têm pedidos de arquivamento feitos pela PGR, que devem ser analisados pelo tribunal. Nos outros quatro, prosseguem as investigações, entre elas está a que analisa o papel do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, nos atos golpistas.
Também já chegou ao STF a ação penal contra a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal e o ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, por omissão na segurança da Esplanada e da Praça dos Três Poderes. Ela já passou da fase de instrução e deve ter o julgamento ainda neste ano.
Em dezembro, a PGR também denunciou o primeiro réu acusado de financiar os atos. O acusado, cujo nome não foi revelado, mora em Londrina, no Paraná, e pagou R$ 59,2 mil pelo fretamento de quatro ônibus para transportar 108 pessoas para Brasília, além de ter participado da organização e recrutamento de golpistas. Há ainda os mais de 1,4 mil processos contra as pessoas que perpetraram os atos golpistas.
Além dos processos relativos ao 8 de janeiro, há o inquérito que apura a tentativa de golpe em 2022. No relatório que indiciou 40 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu candidato a vice Walter Braga Netto, a PF afirma que os acusados atuaram para criar um ambiente propício à ruptura institucional que levou à invasão e depredação do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal nos atos golpistas.
Claudio Couto acredita que a PGR vai dar celeridade à apresentação da denúncia e diz que muito provavelmente podemos ter a acusação sendo feita logo após a volta do recesso do judiciário, que terminou nesta semana. “Aí depende mais de o Supremo realmente priorizar esse caso para ser julgado. E acho que é um caso que merece prioridade, por conta justamente de ser muito sensível. Você não pode ficar cozinhando esse negócio em banho-maria, não só pelo caso do processo eleitoral em 2026, mas pelo ambiente que vai se produzindo se você fica procrastinando essa história”, diz.
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