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‘Baby’ é um filme de buscas e descobertas

João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro, em ‘Baby’. Divulgação

Um jovem abandonado pela família no coração de São Paulo busca sobreviver e conhece um homem que oferece acolhimento em uma relação conturbada. Essa é a história de Baby, premiado filme de Marcelo Caetano, que chega ao circuito nacional dos cinemas em 9 de janeiro. O drama tem no elenco principal Ricardo Teodoro, João Pedro Mariano, Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer, Luiz Bertazzo e Marcelo Varzea.

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Ao sair de uma casa de recuperação de menores infratores, Wellington (João Pedro Mariano) tenta voltar para casa, quando descobre que sua família foi embora para o interior de São Paulo, sem deixar notícias. Sem ter onde morar, vai a um cinema pornô, onde conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa, que lhe oferece moradia e aconselhamento, enquanto o ensina a sobreviver. Conforme vão se conhecendo, nutrem uma relação íntima e conflituosa.

Baby é o segundo longa dirigido por Marcelo Caetano, que estreou com Corpo Elétrico, vencedor na categoria filme brasileiro do APCA de 2017. Se em seu primeiro longa a relação intensa e casual entre dois homens se desenrola com conflitos mínimos, a nova trama é marcada por um relacionamento conturbado entre os protagonistas. Para trazer a relação íntima entre eles, o diretor trabalha com planos bastante fechados na maior parte do tempo, dando mais tensão aos diálogos e construindo o clima de maior intimidade entre os personagens, como o toque que acolhe e aproxima emocionalmente. Caetano busca suprir com enquadramentos mais fechados a falta de elementos do roteiro que enriqueçam a trama, que fica refém das conversas muito dependentes de onde está Wellington, fio condutor de toda a história.

O filme é sobre afetos e suas nuances. Em como se deixar levar pela confiança no outro. Mas também é sobre conhecimento e auto descoberta. Enquanto Wellington se envolve com seus parceiros, cada um dá o que tem à sua maneira. O ciúme marcado de Ronaldo, que é revezado com o cuidado, a preocupação e o carinho. Os bens, as frustrações e um quê de liberdade de Alexandre.

Também é sobre abandono e as tentativas de recuperar o amor. É por isso que ele busca sua família, especialmente sua mãe. E que Ronaldo e Wellington se procuram mutuamente, sendo quase levados por um campo que gravita entre eles. Enquanto se conhecem, Wellington vai se desnudando para Ronaldo em todos os sentidos. Não só ao retirar a roupa, mas também as camadas de intenções, desejos e necessidades, que em alguns momentos culminam em outros conflitos. Ao contar a própria história enquanto mostra cicatrizes pelo corpo, também vai contando as cicatrizes da alma.

Aliás, a química entre os atores é fundamental para sustentar a narrativa até o fim. Ricardo Teodoro faz jus ao prêmio de ator revelação recebido no Festival de Cannes 2024 com sua interpretação densa de Ronaldo, um garoto de programa que complementa a renda com o tráfico de drogas. O personagem tem um perfil que costura uma doçura mascarada pela postura de um homem duro e vigoroso, reforçado pela atividade mais atlética que exerce no enredo.

João Pedro Mariano é muito competente em construir o amadurecimento no processo pelo qual passa Wellington na trajetória de sua vida. Recém-saído de um sistema para jovens infratores, ele passa por momentos difíceis sem moradia ou família, seguido por pequenos relacionamentos conturbados no começo da vida adulta, enquanto tenta sobreviver. Ou resistir. Vivendo no Centro da capital paulista com seus amigos LGBTQIA+, passa por uma série de violências ao longo da vida, desde o bullying na escola até as agressões físicas e a violência policial. Por acaso, seu pai também era PM.

O filme faz um bom trabalho de iluminação e tratamento das cores, mas o que incomoda na fotografia é o excesso de planos fechados, que acaba prejudicando a qualidade de algumas cenas, bem como a dinâmica dos diálogos. Com mais planos médios e abertos, não só seria possível aproveitar melhor os momentos vibrantes trazidos no filme com a performance do grupo LGBTQIA+ em um ônibus, como também daria mais respiro entre as cenas.

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