Análises: com ‘pibão’, governo perde chance de fazer ajuste com economia embalada
Alvaro Gribel: “Os números mostram que o governo perdeu uma grande oportunidade de anunciar um ajuste fiscal sólido e crível, em um bom momento da economia. Como diz o ditado popular, ‘é melhor consertar o telhado quando não está chovendo’. Se por um lado houve aumento da taxa de investimento, que subiu de 16,4%, no terceiro trimestre de 2023, para 17,6%, por outro, houve uma nova queda na taxa de poupança, a terceira seguida nessa comparação anual: saiu de 15,4% para 14,9%. Esse é o menor patamar desde 2019 e acende um forte sinal de alerta. Como o setor público permanece aumentando o consumo, e também há estímulos ao consumo das famílias, a economia queima a taxa de poupança, o que drena recursos para o financiamento de longo prazo dos investimentos. Por isso, o ajuste fiscal é tão importante, não só para reequilibrar as contas públicas, mas para ‘liberar’ poupança para o setor privado”. (Estadão)
Sergio Lamucci: “A economia brasileira perdeu um pouco de fôlego no terceiro trimestre de 2024, mas ainda cresceu a uma taxa expressiva. O cenário para frente, porém, tornou-se bem mais nebuloso. As incertezas em relação às contas públicas têm contribuído para a alta do dólar, negociado acima de R$ 6, e para o aumento dos juros de longo prazo, na casa de 7% ao ano, descontada a inflação. A incerteza fiscal e o aumento expressivo dos juros tendem a afetar especialmente o investimento, que vem em trajetória de recuperação, além de encarecer o crédito para as famílias. No quarto trimestre, já é esperada uma desaceleração adicional do PIB – o consenso dos economistas ouvidos pelo Valor aponta para uma alta de 0,3% em relação ao terceiro”. (Valor)
Vinicius Torres Freire: “Neste ano de 2024, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e do PIB (renda) per capita será o maior desde 2011, excetuada a recuperação de 2021, sobre o tombo da epidemia, que não conta. O PIB per capita também será o maior desde o pico de 2013. Os anos de 2022 a 2024 serão também o melhor triênio desde 2013. O Brasil parou de apenas despiorar e voltou a ficar mais rico, na média. A economia vai manter tal ritmo nos próximos dois anos? Sob quais condições? 2025 pode não ser o 2015 de ajuste ruim e de choque, do início da Grande Recessão e dos desastres subsequentes. Mas não convém pagar para ver. Fernando Haddad, como quase prometeu, precisa vir com mais medidas de conserto em 2025. Desta vez, com apoio de Lula”. (Folha)