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Dono da Gradiente fala sobre “complexo de vira-lata” na disputa jurídica com a Apple

A briga da brasileira Gradiente contra a gigante americana Apple pelo uso da marca iphone completa uma década. o empresário Eugênio Staub, presidente do conselho da Gradiente, resolveu conceder uma entrevista exclusiva à Folha e, pela primeira vez, para falar publicamente sobre o seu sentimento em relação ao caso. O que mais o aborrece, revelou, é perceber que a maior parte das pessoas que ouviu falar do litígio, incluindo alguns de seus amigos, o questionou se a Gradiente estaria tentando se aproveitar do nome do aparelho que revolucionou o mercado de celulares pelas mãos de Steve Jobs. “Tem um complexo de vira-lata, né? Você já ouviu falar? Nelson Rodrigues, há 70 anos, escreveu sobre isso. A pessoa olha para a história e diz: ‘A Gradiente é brasileira, então, isso é golpe, né?'”

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Ele mostrou  que sua empresa já usava o nome iphone desde o ano 2000, portanto, sete anos antes de a Apple lançar o iPhone —com P maiúsculo. O empresário mostrou impressões de reportagens antigas em papel, publicadas no ano 2000, que citavam o iphone da Gradiente em meio ao noticiário dos primórdios da internet pelo celular.

Staub ainda guarda os folhetos, amarelados, que apresentavam as grandes novidades oferecidas pelo aparelho ao consumidor daquela época: “Fazer reservas de passagens aéreas e hotéis, realizar transações bancárias e compras são apenas o começo dessa revolução”. “Em 2000, quando introduzimos este telefone no mercado, vendemos 30 mil em poucos meses às operadoras e ao comércio”, diz Staub, apontando para o aparelho usado. Quando a disputa começou, mais de uma década depois, a Gradiente não tinha guardado sequer uma unidade do modelo antigo, segundo ele. “Não tínhamos amostra no estoque. Este aqui eu consegui comprar [de segunda mão] no Mercado Livre”, diz.

A Gradiente defende que submeteu a marca ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) no próprio ano 2000 e obteve o registro em 2008. A Apple lançou o iPhone primeiro nos EUA, em 2007. No Brasil, o aparelho só passou a ser vendido em 2008.

O conflito começou a partir de 2012, quando a Gradiente resolveu relançar uma família de celulares inteligentes com o nome iphone. A Apple reagiu apresentando ação para pedir a nulidade do registro da marca Gradiente iphone no INPI. Após idas e vindas na Justiça, com tentativa frustrada de solução amigável e decisões favoráveis à Apple, o caso aguarda julgamento no plenário físico do Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o empresário, as lições do caso deveriam servir de exemplo para valorizar a capacidade de criação brasileira.”O país não reconhece muitas de suas inovações. Se eu perguntar aos meus netos quem são os grandes inventores do Brasil, talvez citem Santos Dumont. Mas não vão se lembrar do padre Landell de Moura, que inventou o rádio. Tem Casimiro Montenegro Filho, que criou o Centro Técnico de Aeronáutica. São heróis não reconhecidos”, afirma.

Enquanto aguarda a definição judicial, a Gradiente, que no fim do século passado atingiu seu apogeu no mercado brasileiro de eletrônicos, aposta agora no avanço da energia solar. Em 2023, a empresa encerrou seu processo de recuperação judicial e agora quer se expandir na prestação de serviços, com integração de sistemas de geração de energia. (Folha)

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