Com Lira e Padilha à mesa, reunião sobre pacote foi ‘tranquila’
Conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a reunião com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), colocou na mesma mesa na noite de quarta-feira dois personagens políticos declaradamente “desafetos”: Lira e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha.
Desta vez, no entanto, o clima entre os dois foi diferente, segundo Padilha. Ao chegar para a entrevista coletiva no Planalto na manhã de quinta-feira, Padilha comentou em conversa com o Meio: “Nunca tive uma reunião tão tranquila”, ideia que foi corroborada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante a entrevista, se dizendo confiante de que agora, com uma “agenda legislativa mais leve”, ele acredita que as mudanças vão ser discutidas e aprovadas pelo Congresso ao longo de 2025 para começarem a valer em 2026.
A sinalização de um diálogo possível entre Lira e Padilha indica para o governo que o momento político para a apresentação do pacote não poderia ser mais propício. Lira está de saída da Câmara, mas deve conseguir eleger seu sucessor, o deputado Hugo Motta, do Republicanos da Paraíba, com apoio do governo.
Além disso, esse clima ameno corrobora outra sensação existente no Planalto: a de que as notícias sobre a tentativa de golpe arquitetada por Jair Bolsonaro (PL) acabaram com uma costumeira ameaça que rondava a relação do governo com o Legislativo de que o Centrão, liderado por Lira, estivesse o tempo todo prestes a se unir com o bolsonarismo e impor derrotas ao governo. “Eles vão mesmo se aliar a extrema-direita, mesmo depois do relatório da PF?”, questionou um auxiliar do Palácio ao comentar o assunto.
‘Desafetos’
Lira e Padilha tiveram relação tensa desde o início do governo. No segundo semestre de 2023, os dois já não se falavam. O ápice do desgaste entre os dois ocorreu em abril deste ano, quando o presidente da Câmara chamou Padilha de “incompetente” e se referiu ao petista como um “desafeto”.
Os ataques ocorreram no contexto da prisão do deputado Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle Franco, a vereadora do PSOL assassinada no centro do Rio de Janeiro, em março de 2018. Lira ficou irritado com a notícia de que o ministro teria se articulado com deputados para que a prisão de Brazão fosse mantida com o aval da Câmara. Lira também acusava o governo de estar divulgando a informação de que ele teria articulado movimento para revogar a prisão de Brazão. Na época, Padilha retrucou postando nas redes sociais um vídeo que demonstrava que ele era elogiado pelo presidente Lula, ou seja, por quem interessava.
Antes desse episódio, Lira já havia feito chegar a Lula que considerava Padilha incompetente e descumpridor de acordos e promessas de nomeações em estatais e liberações de emendas e que por isso, não havia condições de o ministro continuar no cargo. Diante da impossibilidade de diálogo entre os dois, o governo precisou inclusive escalar outros ministros para fazer a interlocução com Lira, em alguns momentos, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, em outros, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.