Fernandes enviou carta golpista a Freire Gomes, mas medo de Bolsonaro abafou punição
Na primeira semana de novembro de 2022, o general da reserva Mário Fernandes, que está preso e integra a lista de 37 indiciados pela Polícia Federal por golpismo, rompeu os protocolos militares e enviou uma carta ao então comandante do Exército, general Freire Gomes, além de repassá-lo a diversos generais da cúpula do Exército no fim do governo de Jair Bolsonaro (PL). Três deles relataram ter recebido do próprio Fernandes os dez parágrafos em que pressionava por um golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder. Fernandes redigiu a carta às vésperas de o Ministério da Defesa divulgar o resultado da fiscalização no sistema eletrônico de votação.
O general da reserva diz que o povo não concordava com a “manobra jurídica que anulou a condenação do Sr LULA” e que o elegeu “por meio de um Sistema Eletrônico vulnerável, não transparente e totalmente fraudável”. E demonstrava preocupação com o esvaziamento dos acampamentos golpistas em frente aos quarteis do Exército. “É agora ou nunca mais, COMANDANTE, temos que agir! E não existe motivação maior do que a proteção e o futuro desta Grande Nação e de seus filhos… Os nossos filhos!”, conclui a carta. Freire Gomes tinha relação de amizade com Fernandes, mas se irritou com a carta. E disse a interlocutores que até pensava em prender Fernandes, mas acabou recuando por considerar que a reação de Bolsonaro seria inesperada.
Os militares envolvidos na fiscalização do sistema eleitoral não encontraram nem mesmo indícios de fraudes, mas se apegaram a minúcias do processo eleitoral para dizer que não confirmavam fraudes nem atestavam a lisura do processo. A PF diz que o relatório do Ministério da Defesa, associado à nota divulgada pela pasta em que não atestava a regularidade do processo eleitoral, foi a forma encontrada pelo governo para permitir a “continuidade dos atos planejados pela organização criminosa”. (Folha)