Brasil espera relação pragmática com Trump

Donald Trump será o primeiro presidente americano com antecedentes criminais, mas sua eleição deve adiar ou mesmo anular os casos contra ele na justiça. Aparentemente as acusações seriam suficientes para acabar com a carreira de qualquer político, mas em suas mãos tornaram-se argumento para uma arrecadação de fundos ainda maior e uma fonte de combustível para a raiva de seus eleitores contra o sistema. A intensidade de sua campanha alimentou-se da ideia de que sua liberdade poderia estar em jogo. Ele foi indiciado não apenas uma, mas duas vezes por conspirar para anular a eleição de 2020. Foi considerado responsável por abuso sexual e difamação e por inflar seu patrimônio líquido. Foi acusado de lidar mal com segredos de segurança nacional e obstrução. E foi considerado culpado pelo pagamento de suborno para silenciar uma estrela pornô na campanha de 2016. A decisão dos eleitores de devolvê-lo à Casa Branca ameaça todo o esforço da justiça para que ele seja punido. (New York Times)

O republicano enfrenta acusações em tribunais estaduais e federais. Sua estratégia jurídica de atrasar o andamento dos processos provou-se bem-sucedida. Além disso, os presidentes americanos têm o poder de perdoar quaisquer acusações criminais federais, e alguns juristas acreditam que isso também inclui o autoperdão. (Guardian)

Espera-se uma caça às bruxas assim que Trump pisar na Casa Branca, em 2025. Várias vezes ele admitiu que planeja demitir o procurador especial Jack Smith e encerrar os processos federais que enfrenta por tentar anular as eleições de 2020 e manusear irregularmente documentos confidenciais. Segundo fontes, Smith estava em negociações ativas ontem com o Departamento de Justiça sobre como encerrar os casos federais contra o republicano. (CNN)

Em seu primeiro discurso após o fechamento das urnas, Kamala Harris reconheceu a derrota. “O resultado desta eleição não é o que queríamos, não é pelo que lutamos, não é pelo que votamos. Mas a luz da promessa da América sempre brilhará enquanto não desistirmos”, disse a uma plateia de apoiadores na Universidade de Howard, onde estudou. Mais cedo, telefonou para o republicano e o parabenizou. Em seu discurso, disse que se dispôs a ajudar em uma transferência pacífica de poder. “Um princípio fundamental da democracia americana é que quando perdemos uma eleição, aceitamos os resultados”, afirmou, aludindo à recusa de Trump em reconhecer a derrota no pleito de 2020. Aos apoiadores, disse que “às vezes a luta demora um pouco, o importante é nunca desistir”. (ABC News)

O presidente Joe Biden também falou ao telefone com Trump, parabenizando-o pela vitória e convidando-o para um encontro. “O presidente Biden expressou seu compromisso em garantir uma transição suave e enfatizou a importância de trabalhar para unir o país”, afirmou a Casa Branca em nota. Biden fará um discurso hoje sobre a transição e os resultados eleitorais. (Politico)

Embora Trump seja visto pela esquerda brasileira como uma ameaça à democracia – e apesar de o presidente Lula ter manifestado sua preferência pela candidata derrotada, Kamala –, deve ser pragmática a relação do governo petista com a sua administração. Lula parabenizou o republicano pela vitória pouco após ela se confirmar. “A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo”, postou Lula em suas redes sociais. Mais tarde, afirmou em entrevista à Rede TV!, cuja íntegra será veiculada neste domingo, que espera que Trump estabeleça uma relação civilizada com o Brasil. (CNN Brasil)

Assessor especial da Presidência, Celso Amorim afirmou que o governo Lula vai trabalhar “para ter uma relação normal” com Trump. “Eu sempre lembro o exemplo do (George W.) Bush. O presidente Lula condenou de maneira muito veemente a invasão ao Iraque, e nem por isso nós deixamos de ter uma boa relação. O presidente Bush veio aqui duas vezes, o Lula foi lá duas vezes, em visitas bilaterais”, disse. “A minha impressão é que o presidente Trump, embora tendo visões diferentes das nossas em vários campos, eu acho que ele respeita as lideranças que são fortes e representativas do povo. E é isso que a gente quer que haja.” (Valor)

Apesar da torcida pública por Kamala, o governo estava ciente das chances de vitória de Trump. E organizou uma missão diplomática aos EUA em setembro para encontros de aproximação com pessoas ligadas a Trump e Kamala. Um dos principais pontos de preocupação é o nível de acesso ao entorno de Trump que aliados de Bolsonaro têm, como o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). No Itamaraty, o diagnóstico é que o futuro da relação bilateral vai depender do quão ideológica será a política externa republicana. Não se sabe ainda se Trump recompensará a lealdade da família Bolsonaro com um tratamento hostil a Lula. Diplomatas acreditam que os interesses econômicos tendem a criar bases para o relacionamento. (Folha)

Susan B. Glasser: “Eleger Trump pela segunda vez é uma revelação desastrosa sobre o que os Estados Unidos realmente são, em oposição ao país que tantos esperavam que pudesse ser. Sua vitória foi o pior cenário possível — que um criminoso condenado, um mentiroso crônico que administrou mal uma pandemia mortal que acontece uma vez em um século, que tentou anular a última eleição e desencadeou uma multidão violenta no Capitólio do país, que chama a América de ‘uma lata de lixo para o mundo’ e que ameaça retaliar seus inimigos políticos poderia vencer — e, mesmo assim, aconteceu”. (New Yorker)

Maureen Dowd: “Agora precisamos compreender o insondável: todas as coisas misóginas, racistas, grosseiras e antidemocráticas que ele disse e fez não negam seu apelo a milhões de eleitores. Esta foi uma batalha épica dos sexos. Kamala encerrou sua campanha com Beyoncé, Oprah e Lady Gaga. Trump e Vance, no ecossistema dos manos, terminaram com o abraço de Joe Rogan. (…) O presidente Biden merece muita culpa. Ele foi egoísta e vaidoso. Você sabe que ele está sentado em casa, polindo sua própria lista de inimigos e dizendo a Jill que ele poderia ter derrotado Trump e que tirá-lo da corrida foi uma bobagem. Apertem os cintos. Será uma América turbulenta”. (New York Times)

Yascha Mounk: “Trump tem sido, desde sua entrada na política, a ponta de lança de uma internacional populista. E, portanto, sua capacidade de regressar da morte política, reconquistando a Casa Branca, mesmo depois de sua recusa a aceitar o resultado das eleições de 2020 o ter tornado aparentemente radioativo, deveria servir como um forte aviso às forças moderadas em outras partes do mundo”.

Meio em vídeo. Trump não venceu por desinformação. Não venceu por alguma artimanha russa. Não houve qualquer conspiração. Os eleitores que votaram nele sabiam exatamente no que estavam votando. Ele foi presidente por quatro anos. E o escolheram para presidir os Estados Unidos. Por quê? Descubra no Ponto de Partida, com Pedro Doria. (YouTube)

Mais Meio em vídeo. O cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, é o convidado desta quinta-feira do Central Meio, que esmiúça os impactos no mundo da eleição de Donald Trump. Hoje, ao vivo, às 12h45. (YouTube)

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