WhatsApp e Telegram: o caos eleitoral invisível que desafia o Brasil em 2026

Passar 71 dias monitorando mensagens de conteúdo político-eleitoral em mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram do Brasil é entender que esses espaços digitais são, ao mesmo tempo, absolutamente gigantescos e incontroláveis. Consistem num universo semi-paralelo em que a Justiça Eleitoral não tem qualquer poder, onde a troca de acusações — sem provas — impera impunemente, e onde a violência física vira piada. Para 2026, é importante mobilizar quem faz campanha política, organiza pleitos e luta contra a desinformação a prestar muito, mas muito mais atenção nesses aplicativos.

E, para dar a dimensão do problema que temos pela frente, vamos usar apenas os dados relativos à disputa eleitoral da cidade de São Paulo. Segundo monitoramento da Palver, ferramenta que a Lupa usa para entregar a newsletter Ebulição, entre os dias 16 de agosto e 25 de outubro de 2024 (ontem), circularam por grupos públicos de WhatsApp e Telegram do Brasil mais de 78 mil mensagens únicas citando pelo menos um dos candidatos à Prefeitura da capital paulista. Isso dá uma média de 1,1 mil mensagens diferentes sendo criadas e disseminadas nos aplicativos mais famosos do Brasil por cada dia de campanha. São 45 conteúdos por hora.

Com os pés fincados no mais duro realismo, é preciso reconhecer que o Brasil não tem jornalista, fact-checker, marqueteiro, analista político ou mesmo juiz eleitoral suficiente para dar conta de acompanhar tudo isso. Muito menos de localizar conteúdos problemáticos e intervir.

Se somarmos aos números de São Paulo todas as mensagens político-eleitorais das mais de 5,5 mil cidades brasileiras que não estão computados na conta anterior, passaríamos ao patamar das centenas de conteúdos únicos sobre política e eleição por segundo. Algo tão avassaladoramente colossal que chega a ser difícil de imaginar.

Mas antes de cair na mais pura angústia, um leitor mais ponderado pode dizer que o que realmente importa são as mensagens que viralizam. E ele/ela está certo(a). Então vamos a elas, usando como régua o sinal de seta dupla que a Meta (dona do WhatsApp) aplica em conteúdos que foram encaminhados com grande frequência dentro da plataforma. Desde o início da campanha eleitoral, segundo a Palver, São Paulo teve 679 mensagens ultravirais. Quase dez conteúdos diferentes por dia. Também não é fácil.

E pior: um mergulho nessas 679 mensagens confirma que o problema não é só o volume, mas também a qualidade do que se lê nesse app.

No ranking dos dez conteúdos mais virais entre os ultravirais, quatro são sobre a cadeirada que José Luiz Datena (PSDB) deu em Pablo Marçal (PRTB). Todos quatro são piadas, memes ou trocadilhos sobre o episódio — um dos mais violentos já vistos na política eleitoral brasileira recente.

Três são sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não é candidato a nada em 2024. E os três conteúdos promovem, com pitadas de ódio, a narrativa de que Lula (‘Lularápio’) deveria estar preso por corrupção e encarna o que há de pior na nação, o fantasma do “comunismo”.

Duas mensagens ultravirais associam  sem provas – o grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) a candidatos em campanha, e a última mistura política com religião.

Se o ranking se estende às vinte mensagens mais compartilhadas na lista das mais virais, chegamos ao território que reúne o falso atestado de saúde apresentado contra Guilherme Boulos (PSOL) e as deepfakes de Tabata Amaral (PSB) seminua.

Um pouco mais abaixo na lista, estão conteúdos vetados pela Justiça Eleitoral, como cortes de Marçal e dicas sobre como driblar a suspensão dos perfis do candidato. Absolutamente nada entre as mensagens ultravirais tem a ver com projetos ou planos para a cidade (no caso, de São Paulo). É como se, no universo semi-paralelo do WhatsApp, o que menos importasse em plena eleição municipal fosse justamente ela: a cidade. Em 2026, o debate precisa ser o país. Temos dois anos para calibrar essa conversa.

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