Solimões volta a virar deserto na Amazônia

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Trechos do rio Solimões, na região de Tefé, no Amazonas, voltaram a virar deserto pela segunda vez em consequência das secas extremas. Moradores Terra Indígena Porto Praia de Baixo, e nos lagos conectados ao rio, sofrem com a seca e dizem que a crise deste ano é mais severa que a do anos passado por ter sido antecipada em um mês e por obrigar a ancoragem dos barcos pequenos a uma distância ainda maior do portinho da aldeia. O desaparecimento do rio significou o fim da atividade extensiva de pesca dos chamados peixes lisos, como são chamadas espécies sem escamas, como surubim, caparari e dourada. Poucos se dispõem ou têm recursos para contornar as ilhas do outro lado dos bancos de areia que se formam, e seguir em jornadas até lagos, poços e trechos de rio com alguma fartura de peixes, segundo reportagem da Folha de S.Paulo.

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O dinheiro com a venda desses peixes permitia uma subsistência confortável até o fim do ano. Famílias conseguiam ganhar até R$ 6 mil com a atividade, o que garantia o pagamento das despesas até o início da cheia. Com o desaparecimento do rio, indígenas kokamas, tikunas e mayorunas venderam o material de pesca.

Morte de botos

Com a estiagem, botos voltaram a ser encontrados mortos em rios amazônicos. Na última quarta-feira, após se depararem com a carcaça de um filhote de boto na margem arenosa, exposta do lago Tefé, pesquisadores passaram a medir a temperatura da água. Essa temperatura vem subindo à medida que o nível do lago diminui. Na seca de 2023, mais de 200 botos ameaçados de extinção morreram no lago Tefé, que fica na cidade de mesmo nome no Amazonas. A causa detectada foi a alta temperatura da água. “Nós temos encontrado vários animais mortos. Na semana passada, nós tivemos uma média de um por dia”, afirma Miriam Marmontel, chefe do projeto de pesquisa em mamíferos aquáticos amazônicos no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. “Nós não estamos ainda associando com a mudança de temperatura da água, a temperatura excessiva, mas à exacerbação da proximidade entre as populações humanas, principalmente pescadores e os animais”, acrescentou.

Com os braços dos grandes rios da bacia amazônica secando, o lago conectado ao rio Solimões encolheu, deixando menos espaço para os botos em seu habitat favorito. Além disso, o maior canal do lago, com 2 metros de profundidade e 100 metros de largura, é usado para o tráfego de vários tipos de embarcações, de canoas a balsas. Dois botos foram mortos por atropelamento de barcos nas águas rasas do local. “Ninguém imaginaria que essa seca chegaria tão rápido assim, nem imaginamos que ela superaria a seca do ano passado”, disse o pescador Clodomar Lima.

Embora a morte de botos não esteja nem próxima à vista em 2023, a temporada de seca ainda tem pelo menos mais um mês, e o nível dos rios continua caindo, o que preocupa os pesquisadores e as comunidades ribeirinhas. “A água é tudo para nós, ela é parte do nosso dia a dia. A água é o nosso meio de transporte, para todos os que moram nas casas flutuantes. Sem a água nós não somos ninguém”, lamentou o pescador. (Folha)

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