Prezadas leitoras, caros leitores —
Larry Diamond, um dos mais influentes cientistas políticos do mundo, estuda a democracia, formula algumas de suas premissas mais fundamentais e milita por ela globalmente. Testemunhou in loco, de forma crítica, a tentativa fracassada dos Estados Unidos de, pós-guerra, estabelecer um regime democrático no Iraque. O professor de Stanford conhece a teoria e a prática dos desafios das democracias como pouquíssimos acadêmicos.
Em entrevista ao Meio, Diamond, cocriador do Journal of Democracy, não hesita em decretar: a responsabilidade de solucionar a crise na Venezuela repousa grandemente no colo do presidente Lula. É tarefa dos líderes da esquerda democrática assegurar que a autodeterminação do povo venezuelano — e não de seu ditador — seja cumprida. A íntegra dessa conversa com Diamond sobre recessão democrática e os caminhos para virar essa curva estará na Edição de Sábado, exclusiva para assinantes premium.
Ampliando a parceria do Meio com a Lupa, Cristina Tardáguila, que tem acompanhado o monitoramento de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram com foco nas eleições municipais, escreve sobre como vídeos inusitados e criativos que circulam nesses grupos fazem mais sucesso do que conteúdo de debates ou entrevistas com candidatos.
Saindo da política, fomos a Petrópolis visitar a mais nova fábrica brasileira de discos de vinil para entender como se dá o renascimento dessa tecnologia.
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— Os editores.
Barroso mantém liminar de Dino e acirra crise com Congresso
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Roberto Barroso, negou pedido dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para que cassasse a liminar de Flávio Dino sobre emendas. O ministro suspendeu na quarta-feira todas as emendas impositivas apresentadas por deputados e senadores e congelou a liberação de recursos até que o Congresso edite regras que garantam transparência e rastreabilidade. O pedido do Legislativo era apoiado por dez partidos e sua recusa aprofunda a crise entre os dois Poderes. A liminar de Dino está agora em julgamento no plenário virtual, e já há dois votos para que seja mantida: o do próprio relator e do ministro André Mendonça. Os integrantes do Supremo têm até 23h59 de hoje para votar, mas, caso algum deles peça vista, o caso será levado ao plenário físico, o que deve prolongar o atraso da decisão e acirrar ainda mais a crise. (Globo)
E a onda de choque não deve ficar só entre Legislativo e Judiciário. Embora o PT tenha apoiado o recurso contra a liminar, há no Congresso a convicção de que há interferência direta do Executivo na decisão de Dino, que era ministro da Justiça antes de ser indicado ao Supremo pelo presidente Lula. E a vingança está a caminho. Parlamentares estudam uma PEC para restringir quem pode apresentar ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs), muito usadas para questionar decisões legislativas e obrigar todos os ministros do governo a apresentarem bimestralmente prestações de contas de suas pastas. (Folha)
Frente ao cenário de acirramento entre Legislativo e Judiciário, o jurista Oscar Vilhena diz que é hora de cada Poder “voltar para a casinha”. “Acho que a gente está em um momento de embate muito forte. O caso Alexandre vulnerabiliza o Supremo. Já o caso Dino vulnerabiliza o Congresso. A melhor forma de solucionar não é um grande acordo, mas sim, cada Poder voltando para sua casinha”, diz Vilhena, diretor e professor da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. (Meio)
A suspensão das emendas impositivas afeta a disputa pelo comando da Câmara. Nos bastidores, contam Eduardo Gayer e Vera Rosa, a avaliação é de que, se Lira conseguir reverter a ofensiva, será consagrado como guardião do poder sobre o Orçamento. E ganha força para emplacar o sucessor, em fevereiro. Mas, se o plenário do STF apoiar Dino, Lira perde esse trunfo. (Estadão)
Um dia antes do início da campanha eleitoral nos municípios, o Senado aprovou ontem em dois turnos a chamada PEC da Anistia, que perdoa dívidas tributárias de mais de cinco anos dos partidos políticos e permite o refinanciamento de outras multas. Apenas o Novo foi contra a proposta. Além das multas e do refinanciamento, o texto muda as cotas para candidatos negros já na eleição deste ano, fixando em 30% o repasse mínimo da verba dos fundos eleitorais e de campanha para essas candidaturas, o que é visto por especialistas como uma redução. (UOL)
Meio em vídeo. O que Pablo Marçal oferece ao eleitor não é um debate alternativo, sofisticado ou disruptivo em relação ao que existe na política. O que ele oferece é um deserto de ideias embalado em grosseria, gritaria e xingamento. E isso não tem nada de novo. Confira o que pensa Mariliz Pereira Jorge no De Tédio A Gente Não Morre. (YouTube)
Grupos públicos de WhatsApp e Telegram focados na política do Rio foram palco de duas campanhas de desinformação nesta semana. Críticos de Eduardo Paes (PSD) coordenaram uma ofensiva para relembrar seu suposto envolvimento na Lava Jato. Simultaneamente, apoiadores de Alexandre Ramagem (PL) divulgaram vídeo distorcendo pesquisas como forma de sugerir que o delegado está em alta. Em São Paulo, viralizaram as críticas pessoais. No X, Pablo Marçal (PRTB) recebeu o “troféu Padre Kelmon de 2024” pelo destempero no debate da Band. Tabata Amaral (PSB) foi criticada por suposto “desespero” ao tentar impugnar candidatura do rival. Assine a Ebulição, da Lupa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem, em entrevista a uma rádio do Paraná, que ainda não reconhece a vitória de Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas e sugeriu a realização de uma consulta popular no país. “Ainda não [reconheço o resultado]. Ele sabe que está devendo umas explicações para a sociedade, para o mundo. Ele sabe disso”, afirmou, ressaltando que aguarda a decisão da Justiça venezuelana. “Eu quero o resultado”, disse. Segundo o brasileiro, o resultado foi apresentado entre “confusões”, e o ideal seria uma nova votação, supervisionada por órgãos suprapartidários. “Se ele [Maduro] tiver bom senso, poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe até convocar novas eleições, estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário que participe todo mundo e deixar que entrem olheiros do mundo inteiro. O que eu não posso é ser precipitado e tomar uma decisão.” Pouco depois, o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, reiterou ao Senado a posição brasileira de não reconhecer o pleito venezuelano enquanto as atas eleitorais não forem apresentadas. (UOL)
A proposta de Lula provocou confusão nos Estados Unidos. Perguntado em uma entrevista se apoiava uma nova eleição na Venezuela, o presidente Joe Biden respondeu laconicamente: “Sim”. Minutos depois, porém, o Conselho de Segurança Nacional emitiu nota dizendo que não era bem assim. “O presidente estava falando sobre o absurdo de Maduro e seus representantes não terem esclarecido as eleições de 28 de julho”, disse o documento. A posição oficial dos EUA é de que Edmundo González Urrutia venceu as eleições. Nos bastidores, o comentário é de que Biden não entendeu a pergunta. (Politico)
Já o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que tem tratado do tema diretamente com Lula, também defendeu uma nova votação. “Levantamento de todas as sanções contra a Venezuela. Anistia geral nacional e internacional. Garantias totais para a ação política. Governo transitório de coabitação. Novas eleições livres”, listou em uma publicação no X. (Globo)
Maduro, porém, se opôs. “Rejeito absolutamente que os EUA estejam tentando se tornar a autoridade eleitoral da Venezuela”, disse Maduro à TV estatal. “Biden deu uma opinião intervencionista sobre as questões internas da Venezuela. Meia hora depois eles a desmentiram.” (CNN Brasil)
A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, chamou a ideia de “falta de respeito”. “Eu pergunto: vamos para uma segunda eleição e, se não gostarem do resultado, iremos para uma terceira? Quarta? Quinta? Até que o presidente Nicolás Maduro goste dos resultados? Vocês aceitariam isso em seus países, que, se o resultado não for satisfatório, repitam a eleição?”, indagou. (g1)
Viver
A Suécia confirmou o primeiro caso do tipo mais grave de Mpox, a variante chamada Clado I, que levou a Organização Mundial da Saúde a emitir o mais alto nível de alerta. É a primeira vez que a variante, associada a casos mais graves e a um maior número de mortes, é detectada fora da África. O paciente diagnosticado havia viajado para uma região africana onde o vírus está em circulação. (Washington Post)
No Brasil, o governo está negociando com a Organização Pan-americana de Saúde a aquisição de 25 mil doses de vacina contra a Mpox. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que a vacinação não será em massa, apenas em casos excepcionais e grupos muito vulneráveis. (Folha)
Imagens de um leão-marinho, um polvo em um saco plástico e um peixe-jack em uma medusa estão entre as finalistas do concurso Ocean Photographer of the Year, que destaca a beleza e a fragilidade dos oceanos. Um total de 105 fotos foram selecionadas entre as mais de 15 mil enviadas. No ano passado, o vencedor geral foi Jialing Cai, com uma foto de um náutilo de papel à noite. Os vencedores deste ano serão anunciados em 12 de setembro, e as fotos serão exibidas no Australian National Maritime Museum a partir de 28 de novembro. (CNN)
Meio em vídeo. Pedro Doria e Cora Rónai recebem o escritor, jornalista e professor Fabrício Carpinejar. Na entrevista, a primeira de duas partes, eles falam sobre como a percepção que a sociedade tem do luto normalmente está equivocada. (YouTube)
Cultura
Um novo relatório do Sundance Institute e da WIF (antiga Women in Film) revela que o número de séries com equidade de gênero caiu 8,5% em comparação ao ano passado e 20% desde o pico em 2020/2021. Apesar disso, produções que priorizaram a equidade foram bem-sucedidas no Emmy deste ano. O relatório faz parte do ReFrame Emmy Voter Guide 2024, que destaca as produções com equilíbrio de gênero premiadas com o ReFrame Stamp. O selo reconhece contratações equilibradas e demonstra que todas as produções podem alcançar essa equidade, independentemente do tema ou do gênero do criador ou do elenco principal. (Variety)
Três meses após a enchente, o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), em Porto Alegre, informou que cerca de 4 mil obras, que representam quase 70% do acervo de 5,8 mil peças, foram afetadas. Os danos variam desde as que foram diretamente atingidas pela água até as que tiveram problemas causados pela umidade no interior do prédio. A maior parte dos itens afetados pertence ao acervo em papel, incluindo cerca de 300 fotografias, 1.000 desenhos e 2.400 gravuras. Além disso, aproximadamente 100 pinturas, 70 esculturas e 150 obras de técnicas mistas também sofreram danos. A instituição, mantida pela Secretaria de Cultura do estado, afirmou que as peças estão em processo de recuperação. O museu permanece fechado e sem previsão de reabertura. (GZH)
Morreu na quarta-feira à noite, aos 94 anos, a atriz Gena Rowlands. Com sete décadas de carreira, protagonizou filmes como Uma Mulher sob Influência, de seu marido John Cassavetes, no qual escreveu seu nome como uma das grandes estrelas de Hollywood como Mabel Longhetti. Em junho, seu filho Nick Cassavetes, que a dirigiu em The Notebook, compartilhou que a vencedora de três Emmys e indicada ao Oscar duas vezes havia sido diagnosticada com Alzheimer. Em novembro de 2015, ela ganhou um Oscar honorário. (Variety)
Cotidiano Digital
A Meta anunciou que desativou sua ferramenta de pesquisas em redes sociais CrowdTangle, muito usada por jornalistas para verificar o tipo de conteúdo difundido nas plataformas. A ferramenta virou motivo de constrangimento na empresa após reportagens mostrarem, com base em seus dados, que o Facebook dava preferência à distribuição de conteúdo conservador. Parlamentares dos EUA chegaram a pedir que o CrowdTangle fosse mantido até as eleições de novembro, mas a Meta foi irredutível, alegando que o recurso “não fornecia um retrato representativo” do que estava acontecendo em suas plataformas. (The Information)
Já o chatbot Grok, do X, agora permite que o usuário crie imagens a partir de prompts de texto, mas o lançamento da ferramenta parece tão caótico quanto todo o resto da rede social de Elon Musk. Os assinantes premium do X, que têm acesso ao Grok, estão postando de tudo na rede. E o Grok parece não ter filtro. Seus usuários já criaram imagens como Barack Obama cheirando cocaína e Donald Trump com uma mulher grávida que lembra Kamala Harris. Como teste, a equipe do site The Verge conseguiu criar imagens como Trump usando um uniforme nazista e Taylor Swift de lingerie. (The Verge)
Desde ontem está disponível no Brasil a ferramenta do Google Visões Gerais criadas por IA. O recurso, chamado internacionalmente de AI Overviews, utiliza inteligência artificial generativa para resumir conteúdos e fornecer respostas diretamente na página de busca, sem a necessidade de clicar em links. O lançamento marca uma mudança significativa no modelo de busca tradicional do Google, com resumos e informações apresentadas diretamente na tela de resultados. A novidade, que foi testada no Brasil em junho, também está sendo lançada em outros países, como Reino Unido, Índia e México. (Estadão)
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