Meio

O Exército abriu uma licitação de R$ 5,1 milhões para aquisição de internet via satélite com exigências que somente a Starlink consegue atender. O edital divulgado pelo Comando Militar da Amazônia define proposta de internet via satélite de baixa órbita com velocidade mínima de 80 megabits de download, 20 megabits de upload e latência, a velocidade de envio de pacotes de dados, não superior a 100 milissegundos. Apesar de outras operadoras conseguirem alcançar tal velocidade, apenas a companhia de Elon Musk consegue atingir a latência exigida. Uma das empresas chegou a questionar a Força, se poderia apresentar uma proposta com taxa maior que a prevista, mas a solicitação foi recusada.

Segundo especialistas, o edital elimina a concorrência de maneira injustificada. “Para o dia a dia de uma empresa ou de um órgão público, a diferença da latência de 100 [milissegundos] para 200 faz pouca ou nenhuma diferença”, afirma Fabro Steibel, diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade. Ele ainda ressalta a falta de segurança de usar serviços estrangeiros em assuntos militares. “Quando você coloca internet em determinado local, você dá informação para o operador do sistema. Ele vai ver onde está a presença militar, onde está a fragata da Marinha que usa Starlink, quando determinado local está desassistido”, complementa.

“De fato, o [serviço] da Starlink, no Brasil, tem bastante qualidade”, avalia Rodolfo Avelino, professor de engenharia do Insper e representante do Comitê Gestor da Internet. Para ele, mesmo com uma qualidade superior do serviço, não justifica a limitação dos requisitos apresentados na publicação. “Questões de Estado, como nesse edital, deveriam fomentar mais empreendimentos brasileiros e não criar uma situação em que vai ser beneficiada uma empresa de fora e que os recursos não ficarão no nosso território.” Em nota, o Exército disse que os parâmetros foram definidos após realizar pesquisas de mercado e verificar as suas necessidades operacionais. (Folha)