Análise: o jogo político por trás da escolha de Dino e Gonet

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Igor Gielow: “Os quase dois meses tomados para indicar Flávio Dino para o STF e Paulo Gonet para a PGR enervaram muitos aliados do petista, que tem adotado o padrão em suas decisões como forma de analisar o contexto político e deixar os nomes especulados expostos ao bombardeio usual de denúncias, insinuações e pressões. Como disse um ministro do Supremo ao comentar a indicação final, a montanha acabou por parir um rato, mas um roedor com o couro já curtido. E demonstra como Lula percebe o Supremo como o palco principal da política brasileira, papel que a corte tem abraçado com gosto. Para críticos, há ativismo judicial inadequado, do excesso de declarações públicas dos ministros às dúvidas sobre o alcance e os procedimentos do inquérito das fake news. Já defensores do Supremo apontam que, sem a posição firme personificada na dupla Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, a turbulência institucional patrocinada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia ter saído dos trilhos e ameaçado de fato a democracia brasileira”. (Folha)

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Maria Cristina Fernandes: “A negociação para a aprovação de Dino no Senado é subproduto de um pacote de acordos em torno dos quais Lula vem trabalhando com a cúpula do Senado para equacionar a questão fiscal. Presidente do Congresso, é Pacheco quem pauta os vetos presidenciais – e Lula acabou de fazer um que é considerado crucial para o Ministério da Fazenda, o das desonerações – além de conduzir a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias e do Orçamento. O pacote de acordos inclui ainda a federalização de estatais mineiras, a construção do palanque lulista em Minas em torno de Pacheco e o licenciamento da pesquisa para a exploração do pré-sal na Foz do Amazonas. Se o acordo em torno das decisões monocráticas selou o destino de Dino, também pode ter facilitado a indicação do subprocurador-geral. Não que Gonet tenha dificuldades de ser aceito. Pelo contrário. Passa bem tanto no Centrão, que vê nele um perfil que joga na retranca, quanto na bancada bolsonarista, pelas posições conservadoras em costumes.” (Valor)

Bela Megale:Dois fatores foram decisivos para a escolha do presidente, segundo membros do governo e interlocutores de Lula no Judiciário. O primeiro diz respeito aos padrinhos de Gonet, os ministros Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, que pesaram a favor de seu nome. Como o petista não conhecia nenhum dos cotados para o posto, Lula colocou na balança os apoiadores que afiançaram Gonet e que poderão ser cobrados pelo presidente após sua nomeação. O segundo ponto foi que, depois de se reunir com quatro cotados, Lula avaliou que Gonet mostrou maior capacidade de ter ascensão e liderança sobre o Ministério Público Federal. Para o petista e seu entorno, especialmente após a Lava-Jato, esse fator é importante para que a PGR ‘não atrapalhe a governabilidade’ do presidente”. (Globo)

Vera Rosa: “Na avaliação de senadores e deputados do PT, o sentimento no partido é de que Lula ignorou o seu próprio partido ao tomar a decisão não apenas porque confia em Dino, mas também para contemplar os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes. No diagnóstico da cúpula petista, Lula está dando três ‘trancos’ no partido com suas decisões, um atrás do outro. O primeiro deles está na escolha de Dino para o STF. O segundo é deixar [o secretário-executivo Ricardo] Capelli, considerado um desafeto da legenda, como interino no Ministério da Justiça. O terceiro é que uma importante ala do PT já trabalhava para apaziguar o descontentamento provocado pela indicação de Paulo Gonet como procurador-geral da República, no lugar de Augusto Aras, na expectativa de que Lula ‘compensasse’ o partido e indicasse Jorge Messias para a cadeira antes ocupada por Rosa Weber no STF. Não foi o que ocorreu”. (Estadão)

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