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Enquanto terminava seu mais recente romance, intitulado “Baumgartner”, em dezembro passado, o escritor Paul Auster descobriu um câncer. Aos 76 anos de idade, o norte-americano, autor de best-sellers como “O Livro das Ilusões”, “A Noite do Oráculo” e “A Música do Acaso”, conta, em entrevista ao The Guardian, como escrever seu novo livro em meio a dramas pessoais o surpreendeu. “Quando alguém central em sua vida morre, uma parte de você também morre. Não é simples, você nunca supera. Você aprende a viver com isso”, supõe.

A obra tem como protagonista Sy Baumgartner, um renomado escritor e professor de Filosofia da Universidade de Princeton, em Nova Jersey, prestes a se aposentar. A vida de Baumgartner sempre foi marcada pelo amor por Anna, sua esposa falecida nove anos antes em um trágico acidente de natação. Desde então, ele luta para superar a ausência dela e a saudade que sente. O livro narra a história de amor de 40 anos entre as duas personagens desde o momento em que se conheceram em 1968 até a morte de Anna. Para lidar com a solidão, Sy começa a ler os textos autobiográficos da mulher para descobrir se suas memórias coincidem com as dela. “Por que nos lembramos de certos momentos de nossas vidas e esquecemos completamente de outros? Do que são feitas nossas histórias pessoais?”. Ao responder esses questionamentos nas 208 páginas de “Baumgartner”, Paul Auster estreia em um novo tipo de literatura. “Eu queria experimentar escrever um conto, algo que eu quase não fiz em minha carreira”, explica o autor. “4321” e “Burning Boy” (romance de 2017, finalista do Prêmio Booker) têm mais de 1 mil páginas cada, e sua biografia, escrita por Stephen Crane em 2021, tem 800 páginas.

Nos últimos dois anos, o escritor, tal qual o protagonista do novo livro, também passou por eventos traumáticos. Primeiro, uma terrível tragédia familiar resultou na morte de sua neta recém-nascida, enquanto estava sob os cuidados de seu filho, Daniel Auster, que morreu meses após, aos 44 anos, de overdose. Em março deste ano, a esposa de Auster, a escritora Siri Hustvedt, revelou que Auster estava em tratamento contra o câncer (que achavam ser sintomas de covid prolongada) e que o casal estava agora vivendo no que ela chamou de “cancerland”. “Prefiro viver. Leve-me para onde quiser. E tenho seguido esse caminho desde então”, diz Auster.

A Companhia das Letras comprou os direitos do livro, o 18° romance de autoria de Auster. O projeto apresenta o autor “no auge de sua mestria criativa e estilística”, conforme descrito pela editora. “Baumgartner” será publicado no Brasil no início de 2024. (The Guardian, UOL, Globo e Metrópoles)