Edição de Sábado: Como a China operou seu Milagre

Há um novo superpoder no mundo: é a China. É o país que tem mais proprietários de casas próprias. Onde há mais usuários da internet, mais pessoas com diploma universitário. Dependendo de quem conta, é também onde há mais bilionários. E, no entanto, em 1994, quando Fernando Henrique chegava à presidência, o PIB brasileiro era de US$ 850 bilhões e, o chinês, US$ 863 bilhões. Crescemos muito, desde então. De acordo com o Banco Mundial, fechamos 2017 com US$ 2 trilhões de PIB. A China, com US$ 12,2 trilhões. As economias dos dois países descolaram em 1996 para nunca mais se encontrarem. Mudaram de liga.

Gráfico: Compare os PIBs dos dois países ao longo do tempo.

Voltamos a falar de China porque o novo governo brasileiro lhe é hostil. Esta semana, o New York Times publicou uma série de reportagens sobre o que ocorreu ali.

Uma das características do imenso crescimento chinês é que ele desafia inúmeros pressupostos da ciência política. O principal é o de que mobilidade social e crescimento econômico estável levam, inevitavelmente, a uma liberalização da sociedade. Pois a China inventou algo novo. Tem, hoje, a população mais otimista do mundo. A perspectiva de que o filho do pobre pode ascender e chegar à classe média ou mesmo além é real. Só que há um pacto não escrito: ninguém se mete em política. Ali, no século 21, mobilidade social é um pacto em prol da ditadura.

Mas o curioso é que este crescimento não foi tão meticulosamente planejado como parece quando visto de longe. Após a morte de Mao Zedong, o homem que em 1949 fez da China comunista, o país estava empacado. Porque, afinal, o regime, com seu controle meticuloso do Estado sobre a economia, dera errado. Em 1984, três quartos da população ainda viviam em pobreza extrema. E foi neste ano que se permitiu uma mudança ligeira. Como experiência: as fábricas ainda deveriam entregar suas quotas obrigatórias de produto ao preço determinado por Beijing. Mas aquilo que sobrasse poderia ser vendido onde os gestores quisessem, por quanto decidissem cobrar.

Em setembro último, ao completar 69 anos da tomada de poder, a China ultrapassou a União Soviética torando-se a mais longeva potência comunista da história. E, diferentemente de Moscou, encontrou um caminho de crescimento econômico real. A população aumentou. No entanto, hoje, apenas 1% vive em pobreza extrema.

A conferência de 1984, a das fábricas, foi realizada na cidade de Moganshan, a 200 quilômetros de Xangai. Os homens ali, jovens porém doutrinados dentro do PC, tinham a missão de imaginar algo diferente. Não entendiam nada de fábricas, de dinheiro, e lhes foi dada a delicadíssima missão de arriscar sem assustar os senhores do partido. O projeto deu certo. Um daqueles homens veio, depois, a presidir por 15 anos o Banco Central. Outro terminou fundando a primeira bolsa de valores. Um terceiro, Wang Quishan, especialista em agricultura, hoje é o vice-presidente, número dois abaixo de Xi Jinping. Foi na tentativa e erro, mas sua geração reinventou o país. Nas palavras do Times, aquela conferência transformou homens de partido em capitalistas. Os responsáveis pela revolução econômica chinesa são, atualmente, a elite política da nação.

Para eles, o erro de Mikhail Gorbachev foi o de tentar promover a abertura política da União Soviética. Deveria ter feito outra coisa: manter a política fechada, abrir a economia. A fórmula chinesa, aliás, é até mais complexa do que isto: manteve a economia comunista planejada intacta, permitiu o surgimento e o crescimento de uma economia de mercado bem devagar, até o ponto em que ela ficou tão grande que tornou obsoleto o modelo anterior. Uma experiência cheia de cautelas. Durante muito tempo, o Estado permaneceu dono das terras, permitindo que os agricultores vendessem o que cultivavam. Milton Friedman chegou a afirmar que o modelo adotado só tornaria o país mais corrupto e ineficiente. A previsão não se concretizou. E, em paralelo, investiu-se pesadamente em educação. Quando a geração de novas pessoas extremamente bem educadas chegou, na virada do século, a economia estava pronta para o segundo boom. O Brasil, nem ninguém mais no mundo, teve qualquer chance.

Hoje, a China é o país que mais forma engenheiros e cientistas de exatas do mundo. O país tem o plano de levar um homem à Lua. Vai demorar. Mas suas ambições terrenas são mais imediatas: um grande projeto de infraestrutura para Ásia e África, um Plano Marshall maior, que vai criar novos mercados, fazer crescer países muito pobres e, assim, criar uma zona de influência e dependência, em todo o planeta, talvez maior do que a americana.

A briga está só começando.

Campeonato mundial de xadrez atrai as atenções da rede

Desde 1997, quando o Deep Blue derrotou Garry Kasparov, que uma disputa de xadrez não atrai tantas atenções na rede. Na época, a IBM promoveu uma das primeiras transmissões ao vivo de esporte pela internet, e milhares de pessoas assistiram em tempo real a revanche, em que finalmente, um computador acabou com o domínio humano no tabuleiro. A série de partidas foi tão comentada que chegou a ganhar um documentário de 17 minutos produzido apresentado pelo estatístico Nate Silver, editor do FiveThirtyEight.

Agora, a briga é pelo título mundial. Se enfrentam o atual campeão, o norueguês Magnus Carlsen, contra o desafiante ítalo-americano Fabiano Caruana. Carlsen tem 29 anos, ganhou o título de Grande Mestre com 13, e mantém o título desde 2013. Caruana também é um prodígio do jogo, tendo atingido o título de Grande Mestre com 14. Desde 9 de novembro os dois já jogaram 10 partidas, todas terminando num empate. Faltam os dois últimos jogos da melhor de 12, antes de o torneio ir para a fase de tie-break, em que o tempo do relógio para cada jogador é reduzido tornando o jogo uma blitz. A pressão em cima de ambos está chegando a níveis extremos e qualquer erro pode ser fatal. Se tiver mais um empate, qualquer resultado na última partida pode tirar o título de Carlsen. Já Caruana pode se tornar o primeiro campeão mundial americano desde que Bobby Fischer perdeu o título em 1975, ao se recusar a enfrentar o russo Anatoli Karpov.

Sim: um jogo de xadrez pode ser emocionante.

Hoje, sábado, às 13h começa o jogo 11. Existem diversas formas de acompanhar: uma das melhores é pelo tabuleiro dinâmico do site Chess.com. Os movimentos atualizam na tela a cada jogada e quem assiste pode controlar os movimentos, avançando ou recuando, repetindo qualquer jogada desde o começo da partida.

No YouTube, o canal Chess24 transmite com comentários ao vivo do Grande Mestre russo Alexander Grischuk.

Via Twitter são impagáveis os comentários da também Grande Mestre Susan Polgar, que comenta com diagramas no Chess Daily News.

Se der empate mais uma vez, o jogo de segunda-feira, também às 13h, vira mata-mata.

O segundo disco de Baco Exu do Blues

Incensado pela crítica, Esú (Spotify) foi considerado um dos melhores discos de 2017 e pôs Baco Exu do Blues na primeira linha do rap brasileiro. Agora, ele dá o passo seguinte com seu segundo disco, Bluesman (Spotify), lançado ontem. “Em Bluesman, queria fazer um disco de blues mas sem tocar blues, um disco feito pelo sentimento do blues. Sem me prender a gêneros. A gente não faz rap, samba, blues, rock. A gente faz música”, disse Baco. O repertório é formado por nove músicas inéditas. Há uma composição intitulada B.B. King, nome artístico do lendário bluesman norte-americano Riley Ben King, morto em 2015. Outra se chama Me desculpa Jay-Z, em alusão ao rapper norte-americano. E há Girassóis de Van Gogh, composto por Baco a partir das sensações que teve ao ver a tela Doze girassóis numa jarra, do pintor holandês. No fim, a mensagem é clara: para o rapper da Bahia, tudo é blues — ou pode ser. (Globo)

Luccas Oliveira, na crítica do Globo: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades, Baco sabe. Por isso, para o novo capítulo dessa história, ele perseguiu o algo mais. Bluesman pode não sugerir um hit instantâneo como Te amo disgraça nem trazer o impacto da novidade, mas evidencia uma maturidade artística — mantendo a urgência que o marca e trazendo versatilidade rítmica numa produção mais caprichada. Perto de completar 23 anos, o baiano que quer ser sempre vanguardista mantém sua essência e vai além.”

Em entrevista à Rolling Stone, Baco falou sobre sua carreira e trajetória: “As pessoas tiveram que me engolir. Esú veio e foi indicado a melhor disco do ano. Um ano depois, eu estava ganhando dois prêmios Multishow. Com Esú, provei o quão bom posso ser. Bluesman nasce sobre sentir a música, mais do que me mostrar como escritor, porque isso eu já fiz. Quero, com esse disco, quebrar o gênero musical.”

Já para a Vice, falou da inspiração para cada uma das músicas do novo álbum.

O disco também vem acompanhado de um curta-metragem da música Bluesman. Assista.

E esses foram os links que mais leitores do Meio clicaram essa semana:

1. Poder 360: Infográfico (atualizado) da formação dos ministérios do governo Bolsonaro.

2. Guardian: Um teste, quão populista você é?

3. AdoroCinema: 10 curiosidades sobre o Mickey, que fez 90 anos essa semana.

4. Nexo: Outro teste, o que você sabe sobre as religiões de matriz africana?

5. O Globo: Merval Pereira sobre a audiência de Lula com a Juíza Gabriela Hardt

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