O Meio na CES: A China chegou

Na CES, o stand da Huawei é um dos maiores no pavilhão central — o mesmo onde estão as grandes marcas tradicionais como Microsoft, IBM, Intel, Qualcomm ou Sony. No ano passado, havia inúmeros executivos da companhia chinesa, incluindo o CEO. Em 2019, o que há são técnicos, vendedores de olho nas cadeias varejistas, e a turma de relações públicas, em busca de jornalistas. Querem se divulgar. Logo ao lado, outra grande chinesa é a Hisense. O destaque da sua área é uma maquete de campo de futebol onde bonecos com os uniformes da Inter de Milão e do Juventus estão expostos. Não faz qualquer sentido tanto destaque para uma maquete dum esporte que o público americano em geral ignora. Ou faz. Os celulares da Huawei, também apresentados com pompa e glória, tampouco são vendidos nos EUA. Os chineses vieram à feira deste ano. Mas é para falar com o resto do mundo.

Este é um conflito cuja resolução é imprevisível. Mas as marcas tecnológicas que usaremos daqui a dez anos serão determinadas por ela.

Desde que Meng Wanzhou, herdeira do CEO da Huawei Ren Zhengfei, foi presa no Canadá, a disputa comercial entre EUA e China ficou ainda mais tensa. Diplomacia, assim, se tornou o assunto dominante na edição deste ano. Mas o debate sobre diplomacia e barreiras comerciais traz lá suas sutilezas.

É o caso da Apple. Há uma semana, o CEO Tim Cook anunciou previsões ruins para as vendas de iPhones no primeiro trimestre. De acordo com ele, o problema tem a ver com a queda de vendas na China, resultado das barreiras comerciais levantadas por Donald Trump e correspondidas por Xi Jinping. Os chineses concordam que ficou mais difícil, mesmo, para os americanos venderem em seu imenso mercado. Mas apresentam um segundo argumento, paralelo: os iPhones são mais caros. E são inferiores.

Quem vê a linha Mate 20, da Huawei, fica tentado a concordar. É a única outra fabricante do mundo capaz de fazer telas curvas e com brilho intenso que nem as da Samsung. Os Mate 20 — nos modelos Mate 20, Mate 20 Pro e Mate 20 X — têm não duas, mas três câmeras traseiras, capazes de tirar fotos muitos superiores às dos iPhones, e em nível de competitividade com Samsung Galaxy e Google Pixel. O maior deles, Mate 20 X, é um celular rápido, feito para jogos sofisticados e pesadamente gráficos. Como um console portátil. E mesmo seu smartphone mais barato, o Nova 4, tem uma tela que ocupa todo o corpo do celular. O que era o máximo do máximo em 2017, na China já está no bolso da massa: a câmera de selfie é só um discreto circulo, sem moldura. É o tipo do aparelho que, num amplo mercado de smartphones mais baratos como o brasileiro, seria muito atraente.

A mensagem dos chineses é exatamente esta: alcançaram americanos, sul-coreanos e japoneses. Estão criando tecnologia com a mesma qualidade de engenharia e, como são eles mesmos que fabricam os dos outros, como a complexa logística de fornecedores de peças está concentrada mesmo por lá, têm condições de cobrar muito menos do que todo o mundo.

É tentador dizer que o discurso de um presidente como Donald Trump é simplesmente reacionário. Um presidente protecionista, coisa atípica para os Estados Unidos. Alguém que quer trazer de volta fábricas num tempo em que a economia se voltou para o serviço. Mas, mesmo que sua solução tenha mão pesada, o diagnóstico do problema está correto. Os americanos terceirizaram a produção para China há trinta anos. Agora, os chineses controlam a produção e estão em par de igualdade na execução. O desafio é real. Mesmo que o protecionismo não resolva.

Em novembro último, In Hsieh, da Agência Promoção de Internet China Brasil anunciou que a Alibaba, principal empresa de e-commerce do País do Centro, vai se instalar no Brasil. A Huawei não divulga datas, mas tem planos de competir no mercado de smartphones brasileiro. Um leque novo de marcas aparecerá em nossas vidas, e chegará com preços competitivos. Mostraremos TVs Hisense com o mesmo orgulho mostramos as de Samsung e Sony; celulares Huawei como os de Apple e Samsung; compraremos na Alibaba como quem vai ao MercadoLivre ou Americanas.com ou mesmo Amazon.

Como terminará esta briga, não sabemos. Mas, em 2029, muitos dos aparelhos que teremos em nossas casas, e que ostentaremos como a fina flor do avanço tecnológico, terão marcas que não fazem parte de nosso cotidiano, hoje.

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