Edição de Sábado: Começou a guerra do streaming

Entre o final deste ano e o início do próximo, explodirá o streaming no mundo. Um único número pode explicar o movimento: 60% dos americanos abandonaram a TV por assinatura e abraçaram o streaming. Entre agora e março, entram no ar três serviços ambiciosos que podem se mostrar uma dor de cabeça para a Netflix. Apple TV+, Disney+ e HBO Max. Para as três companhias, a entrada no streaming representa uma aposta alta e traz imensas dificuldades. E, em cada uma, o propósito de entrada e o que esperam alcançar é distinto.

Das três, nenhuma vive mais as dificuldades de transferência do modelo antigo, dos canais a cabo, para o novo — assista o que quiser, quando quiser — do que a HBO Max. Apesar do nome do tradicional canal, este é o produto de streaming da Warner Media, que nasce do quase centenário estúdio Warner Bros. E, desde já, provoca confusão com outros dois produtos de streaming que já existem no mercado e continuarão a existir. HBO Go e HBO Now.

Pois é.

Todo mundo que assina via uma operadora de TV por assinatura os canais HBO tem direito, lá nos EUA, a acessar a programação do canal pelo produto HBO Go. Quem não paga por cabo ou antena, por sua vez, pode assinar o mesmo conteúdo se utilizando da HBO Now.

Go nasceu primeiro. A fonte de financiamento da HBO está no que lhe pagam as operadoras de TV por assinatura. Sua primeira experiência com streaming foi, por isto, vinculando a esta assinatura. Desta forma, não melindrava os grandes clientes. Quem pagava pelo serviço tradicional também podia acessar por um app. Mas, conforme a pirataria de séries como Game of Thrones crescia e o número de assinantes diminuía, a empresa decidiu lançar enfim seu app de streaming, que podia ser assinado de forma avulsa.

HBO Now tem um problema: o app é ruim, o software que rege os servidores é pior. Além disto, há inúmeros contratos de venda do produto — com Apple, com Hulu e outros distribuidores de streaming. E assim a Warner tem nas mãos um problema de marketing de marca. De branding. HBO a identifica com cinema na tevê e boas séries. Então faz sentido, para seu produto de streaming, usar HBO e não Warner.

Mas daí ocorrem dois problemas.

Um, técnico. Porque a plataforma é ruim, é necessário migrar tudo para um novo tipo de servidor. Migrar tudo quer dizer que os apps que usuários usam para assistir têm de ser reescritos do zero. Quando HBO Now está num celular, é menos crítico, pois os updates em geral são automáticos. Mas quando está numa smart tv é diferente. Muitos assinantes não entendem estes processos de atualização. Não vêem uma smart tv pelo que ela é — mais um tipo de computador dentro de casa. Para estes é uma questão de ligar a televisão, buscar o ícone do aplicativo e pronto. Se houvesse uma troca de plataforma, eles se veriam repentinamente sem o produto pelo qual pagam.

Não foram poucos, no Brasil, nos EUA e alhures, os assinantes do serviço de streaming que ficaram na mão, sem poder assistir no momento exato da estreia, quando um novo episódio de Game of Thrones vinha. É mostra desta dificuldade técnica.

O outro problema é jurídico. Muitos terceiros intermedeiam a assinatura de HBO Now. Esta mudança técnica e de característica do produto exige que os contratos sejam mexidos. Um pesadelo.

A HBO foi improvisando sua entrada no mundo do streaming e, para não melindrar parceiros que eram muito importantes comercialmente, se viu com dois produtos distintos. Quando a Warner, sua holding, fez pesquisas e concluiu que a melhor maneira de fazer um grande serviço de streaming seria utilizando a marca HBO, a confusão se instalou. E assim nasce o terceiro streaming naquela árvore — HBO Max.

E HBO Max será vendido, nos EUA, por US$ 14,99, o mesmo valor de HBO Now. Terá todo o conteúdo do segundo e mais muito do que a Warner produziu para cinema e tevê ao longo do tempo. Do ponto de vista técnico, a plataforma se baseia naquela desenvolvida por uma startup que a companhia adquiriu em 2015. Tem o básico do que se espera: controles de conteúdo para pais, inteligência artificial que recomende o que o usuário pode gostar. O plano é fazer com que as 8 milhões de pessoas que assinam HBO Now no país migrem para HBO Max. Irão descobrindo aos poucos sua existência, até o momento em que será possível matar os serviços anteriores.

Dentro da bagunça há mostra de como a transição digital pode ser difícil quando não planejada. HBO Max deverá chegar ao Brasil em 2021.

E a Disney?

A Disney, mais ou menos com a mesma idade da Warner, é o exemplo contrário. De uma companhia que planejou cautelosamente seu processo de transformação digital. É uma das grandes empresas hollywoodianas, por um lado, mas cuidou também, nos últimos anos, de assumir o controle de um nicho. Além de toda produção icônica que leva o selo principal, é também dona de outras duas marcas. Os super-heróis da Marvel e Guerra nas Estrelas.

Este conjunto, no mundo do streaming, é fundamental no universo infanto-juvenil.

Uma coisa é assinar Netflix. Outra é sair assinando uma penca de serviços de streaming. Uma hora o cliente fará sua seleção. Quem tem crianças e adolescentes em casa não tem opção e se verá obrigado a incluir no pacote Disney+.

Não só a aglutinação de marcas foi inteligente como o processo foi, culturalmente difícil. Nos anos 1980, a Disney desenvolveu uma estratégia de negócios apelidada Disney Vault. O cofre Disney. Seus longas-metragens de animação são preciosos e muito variados. Dos clássicos como Branca de Neve, Bela Adormecida e Cinderela a contemporâneos como Frozen. Para não falar de filmes sem princesas — Pinóquio, Robin Hood, 101 Dálmatas, Bernardo e Bianca. Quando surgiu o videocassete, a Disney foi gerenciando os lançamentos. Dois, no máximo três filmes lançados por ano. Dentre eles, sempre um clássico. Sabia que o longa seria muito assistido por crianças que cresceriam, e aquela mídia física se perderia. Porque os filmes eram lançados e logo retirados do mercado, gerava escassez. Cada um dos grandes clássicos foi relançado em VHS, DVD, BluRay, para logo sumir. Quem comprou, teve, quem não comprou, perdeu. Pais compraram em massa. E, assim, se tornaram escassos os clássicos.

Disney+, pela lógica do streaming, desmontará a estratégia do Vault. Quem assina poderá assistir a qualquer longa do estúdio, quando desejar. A mudança vale a pena, pois representa um fluxo de caixa contínuo por dinheiro de assinantes. Assim, se transforma digitalmente uma empresa secular.

Sobra a Apple

Havia canais com o selo Disney, mas o estúdio fundado por Walter Elias nunca foi dependente de acordos com distribuidores de cabo como a HBO. E o comando da empresa agiu com inteligência estratégica que a Warner não teve. Desta forma, Disney+ entra no mercado sólida, com uma única oferta que é fácil de explicar: Marvel, Star Wars, Disney e National Geographic numa única assinatura de US$ 7 ao mês. A Warner precisará explicar que atende no streaming pelo nome HBO e, daí, passar a mensagem sobre como se diferencia de Now e Go.

Com a Apple não tem nada disso. Não é um estúdio. É uma empresa que fabrica hardware. Será, diga-se, um distribuidor de HBO Max e de Disney+, como já é de Netflix. Quem tem em casa um iPhone, um iPad ou uma Apple TV poderá assinar os produtos.

Ocorre que há uma transformação do consumidor de hardware. Se ele mudava no máximo a cada dois anos de celular, não mais. A evolução das gerações de um aparelho para o outro é cada vez mais discreta, os preços aumentaram, e por isso faz sentido trocar de aparelho de forma mais espaçada — três ou quatro anos.

Cada um dos milhões de usuários destes aparelhos digitais, porém, estão pagando mais e mais pela assinatura de serviços. Um Dropbox aqui, para ter espaço de disco na nuvem. Um Spotify ali para ter música quando quer. Serviços de notícias. O fabricante do hardware tem uma oportunidade. Ele decide a que produtos para assinatura seus usuários serão mais ou menos expostos. É possível costurar acordos para compartilhar um percentual da assinatura de cada um destes serviços. Mas não há nenhum motivo para a Apple não oferecer também o seu pacote. Já oferecia espaço de disco em nuvem, música — agora chega o streaming de filmes e séries.

É similar à estratégia da Amazon. Seu objetivo principal não é concorrer com Hollywood — ou com a Netflix. A Amazon vende o serviço Prime, que garante entregas rápidas. Em troca, mesmo que não compre nada, o consumidor tem o compromisso de dar ao site um valor por mês. Música e streaming de filmes e séries servem como incentivo para manter aquele dinheiro fixo fluindo de trinta em trinta dias. A arma da Amazon para vender este pacote é ser a loja virtual que todo mundo frequenta. A arma da Apple para vender um pacote similar que garanta um fluxo mensal de assinaturas é o controle que tem sobre sua plataforma. Milhões usam devices da empresa, portanto milhões serão expostos à oportunidade. E assinarão.

Pois é

HBO Max, Disney+ e Apple TV+ tomaram uma decisão. Diferentemente da Netflix, lançarão suas séries um episódio por semana. A vantagem é que vai gerando expectativa e cada temporada termina com um grand finale. É tentar trazer para o streaming a fórmula do cabo. Ou do cinema seriado dos anos 1930.

O mundo mudou também no audiovisual. A briga só está começando.

Estreias Disney+

O Disney+ será o lar das produções feitas sob as maiores marcas da Disney — Marvel Studios, LucasFilm, Pixar e National Geographic —, bem como o das produções clássicas da empresa, onde se encaixam as animações e filmes como Mary Poppins e Abracadabra — que ganhará uma continuação para o serviço. As 30 temporadas de Os Simpsons também estarão por lá. O Disney+, o serviço de streaming da Disney, já tem previsão para chegar ao Brasil: novembro de 2020. A estreia por aqui acontece com um ano de atraso em relação ao lançamento norte-americano, que acontece já no próximo dia 12. De acordo com a Disney, ainda não há acordos de licenciamento em vigor para conteúdos originais como The Mandalorian, série do universo Star Wars, e a versão live-action de A Dama e o Vagabundo. Outros filmes e séries, no entanto, serão disponibilizados por meio de um acordo com o Amazon Prime Video, que se estenderá até setembro de 2020. Por meio dele, o público poderá assistir produções como Capitã Marvel, Vingadores: Ultimato, How I Met Your Mother e The Walking Dead.

Netflix Próximas estreias

Uma lista de dramas na Netflix. The Crown estreia 17 de novembro e já foi renovada para 4ª temporada. 13 Reasons Why também foi renovada para 4ª temporada, estreia em 2020. Lost in Space  estreia 24 de dezembro de 2019. Anne With an E  foi renovada para a 3 ª temporada, estreia janeiro de 2020. The End of the F *** ing World estreia em novembro de 2019. A 3ª temporada de The Last Kingdom, sem data de lançamento, também foi confirmada. The Umbrella Academy para a 2ª temporada, com previsão para 2020. Sex Education também foi renovada para 2ª temporada, com previsão de retorno para 2020. O Mundo Sombrio de Sabrina também confirmou sua 3ª parte. E Lucifer foi renovada para 5ª e última temporada. Estreia em 2020. No ano que vem destaque para Boneca Russa e The Society. A 4ª temporada de Stranger Things estreia em 2021.

HBO Max estreias

O serviço de streaming HBO Max foi anunciado e reunirá conteúdo das emissoras HBO, TNT, TBS, Turner Classic Movies (TCM) e CW, dos canais de animação Cartoon Network, Rooster Teeth, Adult Swim e Crunchyroll, e também todo o line-up da Warner Bros, incluindo New Line, Looney Tunes, CNN e DC. Ainda em cartaz ao redor do mundo e maior bilheteria da história entre filmes com censura para maiores de 18 anos, Coringa fará parte do catálogo da HBO Max em 2020, quando o filme está previsto para ser lançado em home video. Todas as produções do DCEU, como O Homem de Aço, Mulher-Maravilha, Liga da Justiça e Aquaman também estarão disponíveis para os assinantes. Já Greg Berlanti foi anunciado como o showrunner de Lanterna Verde, série que, segundo o roteirista, será a maior já produzida pela DC. Berlanti também comandará a antologia Strange Aventures, inspirada em contos retratados na revista de mesmo nome, também pela DC. Elizabeth Banks, diretora de As Panteras, será a responsável por desenvolver a nova série, que mostrará personagens em um internato dedicado a crianças com habilidades especiais que se tornarão grandes lendas do Universo DC.Com seus direitos de straming atualmente vinculados à Hulu, South Park migrará suas 23 temporadas para a HBO Max a partir de julho de 2020. Daí para frente, a animação terá novos episódios na nova casa no dia seguinte à transmissão original no Comedy Central, mantendo o acordo atual com a Hulu. Outras estreias.

O mundo enlouqueceu e o sistema está quebrado

O mundo enlouqueceu e o sistema está quebrado. Esse é o título de um post feito essa semana no LinkedIn por Ray Dalio, que vem a ser o fundador do maior fundo de hedge do mundo. Dalio não é o típico operador de mercado. Ele apostou desde cedo em pesadas análises de dados para identificar tendências de longo prazo nas quais apostar. É também conhecido por praticar em sua empresa uma filosofia de gestão em que prega transparência radical no relacionamento no escritório, em que todos falam abertamente na frente uns dos outros o que pensam e o que discordam de seus colegas. Em seu post, Dalio se mostra extremamente preocupado com o efeito do excesso de liquidez na economia mundial e alerta que estamos à beira de uma grande mudança de paradigma. Leia no original, ou na tradução para o português feita pelo pessoal do Brazil Journal:

Ray Dalio: “O dinheiro está de graça para aqueles que tem crédito na praça porque os investidores que estão dando dinheiro a eles estão dispostos a receber de volta menos do que colocam. A razão pela qual esse dinheiro que está sendo empurrado nos investidores não está impulsionando significativamente nem o crescimento nem a inflação é porque os investidores que o recebem querem investir, e não gastá-lo. Isso está criando uma dinâmica de 'empurrar a corda' que já aconteceu muitas vezes na história (embora não em nossas vidas). Como resultado dessa dinâmica, os preços dos ativos financeiros subiram bastante e os retornos futuros esperados diminuíram, enquanto o crescimento econômico e a inflação permanecem lentos.”

Enquanto isso, continua... “há grandes déficits públicos que, ainda devem aumentar substancialmente, o que exigirá que os governos emitam mais dívida em enormes quantidades. De onde virá o dinheiro para comprar esses títulos e financiar esses déficits? Quase certamente virá dos bancos centrais, que comprarão essa dívida imprimindo mais dinheiro. Ao mesmo tempo, os vencimentos de pagamentos de pensões e assistência médica se aproximam cada vez mais, enquanto muitos fundos que são obrigados a pagá-los não têm dinheiro suficiente para cumprir suas obrigações. Os beneficiários são normalmente professores e outros funcionários do Estado que já estão sendo pressionados por cortes no orçamento. É improvável que eles aceitem um corte nos seus benefícios silenciosamente.”

Pois é... isso irá exacerbar a batalha do fosso da renda.“Imprimir dinheiro é o caminho mais fácil, porque é a maneira mais escondida de transferir riqueza e tende a elevar os preços dos ativos. O grande risco desse caminho é que ele ameaça a viabilidade das três principais moedas de reserva (dólar, euro e iene) como depósitos de riqueza. Esse conjunto de circunstâncias é insustentável e certamente não pode mais ser promovido como tem sido desde 2008. É por isso que acredito que o mundo está se aproximando de uma grande mudança de paradigma.”

Para quem quer conhecer melhor Ray Dalio, a New Yorker publicou um extenso perfil em uma edição de 2011.

Vale também assistir a Dalio explicar neste Ted Talk de 2017 como funciona sua filosofia de transparência radical.

Nove maneiras de transforçar espaços

Alguns cantos são realmente muito pequenos para fazer qualquer coisa, mas a maioria pode ser usada se você quiser pensar um pouco fora da caixa. Basta pouco de criatividade num fim de semana. Confira nove maneiras de transformar esses espaços.

E por fim, os mais clicados de uma semana mais do que confusa:

1. Fast Company: Os 10 livros que CEOs lêem e relêem.

2. Globoplay: A live de Bolsonaro segundo o Zorra Total.

3. O valor do seu imposto: Uma calculadora para saber quanto cada um paga de impostos.

4. Forbes: Como manter o foco na reta final do ano.

5. El País: Alimentos que fazem mal para a saúde também fazem mal ao meio ambiente.

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