Edição de Sábado: O Guia Meio para Ficar em Casa

Em sua última edição, a revista britânica The Economist abriu com uma análise que dá conta do vulto que é a pandemia provocada pelo novo coronavírus. Ao compreender, fica nítido porque é tão importante que fiquemos em casa. Todos. A incubação do vírus, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, varia entre um e 14 dias — o mais comum é que, entre contágio e eclosão dos primeiros sintomas, tenham corrido cinco dias. É isto que mais dificulta a ação de autoridades e a compreensão da gravidade por parte das pessoas. Quem vemos adoecer agora contraiu o vírus há uma ou duas semanas. Os governadores que, na semana de 8 a 14, saíram fechando escolas e instituindo a quarentena preventiva pareceram exagerar porque nada tinha cara de ser tão grave. No entanto, praticamente todos os casos novos que estamos vendo são de quem contraiu este vírus SARS-CoV-2 antes de as restrições serem impostas.

É pior: as estatísticas são fictícias. Até 80% dos que contraem o vírus não desenvolvem sintomas ou os têm de forma muito leve, como se fosse uma gripe. Porque é preciso impedir sobrecarga nos hospitais, o protocolo tanto da OMS quanto do Ministério da Saúde recomenda que quem percebe os primeiros sintomas de COVID-19 deve ficar em casa. Por conta, o número de pessoas que faz o teste e recebe resultado positivo é muito menor do que o de infectados no mundo real. Só uma entre cada cinco pessoas com a doença precisa de cuidados hospitalares. Para não sobrecarregar o sistema, é importante que os outros quatro fiquem quietos, sem contaminar ninguém e deixando o corpo descansar. Quem desenvolve os sintomas — febre, tosse seca, fôlego curto — deve, portanto, entrar em contato com um médico, por telefone, para se informar. São médicos que podem avaliar se os sintomas são tais que recomendem uma internação. Em geral, isto ocorre quando a febre é alta — mais de 37,5°C para adultos — ou a dificuldade de respirar é importante. Só que não é uma regra geral, varia de acordo com a região e o momento da epidemia.

Tendo sintomas, ligue para um médico. Com ou sem sintomas, beba muita água. Água deixa o muco mais fluído, o que ajuda na eliminação de vírus.

Cada país terá suas dificuldades. Após ter compreendido a gravidade da epidemia, a China estabeleceu uma quarentena rígida — o que é mais fácil numa ditadura. A Itália, assim como Brasil, são mostras de como em democracias latinas a imposição é mais difícil. Mas é a única forma de diminuir o ritmo de contágio para não sobrecarregar hospitais. Países com sistemas públicos centralizados de saúde, como Brasil e Reino Unido, largam com vantagem. É mais fácil distribuir recursos e lidar com custos. Nos EUA, onde a rede é privada e o sistema de financiamento, complexo, o debate a respeito de quem paga se instaura e a alocação de médicos e equipamentos, de acordo com a necessidade, é difícil de fazer.

Mas há uma dificuldade que ainda é muito difícil calcular: o impacto econômico. Porque a quarentena exige que a economia pare. Possivelmente, a crise de 2007-09 foi pequena perto da que virá.

E há um último ponto a observar. Após a crise da primeira década deste século, ascendeu no mundo um novo grupo de líderes com duas características. Desconfiam da globalização e desconfiam de especialistas. Em parte, é sintoma daquela crise, relacionada à globalização e causada por ditos especialistas. Um naco do eleitorado saiu dali desconfiado de ambos. Mas uma pandemia é uma crise global e, por sua complexidade, é justamente em especialistas que devemos confiar. Em epidemiologistas e em médicos, agora, em economistas ali na frente. Sem coordenação mundial, sem reforço dos laços entre nações e facilitação do fluxo de informação e tecnologias, o resultado será pior.

Um resultado pior tem um sentido muito claro: mais gente vai morrer.

E tudo começa aqui: ficando em casa. Para nós, brasileiros, sociais como somos, será algo que devemos aprender. Pois aprendamos.

Cuidados com a saúde mental

Imagens de ruas e pontos turísticos desertos se tornaram comuns pelo mundo. No Brasil, estão começando aos poucos: empresas liberando os seus funcionários ou adotando home office, alunos sem aulas. Ficar em casa é um privilégio ao qual grande parte dos brasileiros não tem acesso. Mesmo assim, com serviços fechando e eventos sendo cancelados, encontros sociais se tornarão raros. Isso pode impactar diretamente na saúde mental. Foi o que ocorreu durante as quarentenas da primeira SARS, a síndrome respiratória aguda, em 2002. Houve efeitos psicológicos: na região afetada, 29% apresentaram sintomas de estresse pós-traumático, enquanto 31% tiveram depressão depois do isolamento.

Agora é diferente, a tecnologia conta a nosso favor. Psicólogos e terapeutas recomendam se comunicar ainda mais com amigos e familiares por vídeos e mensagens. Já está acontecendo: chamadas por WhatsApp ao redor do mundo já dobraram e ultrapassaram o pico anual tradicional da véspera de Ano Novo.

Interagir no mundo virtual pode ajudar também. Pesquisas mostram que as pessoas que usam as mídias sociais ativamente, enviando mensagens, deixando comentários ou conversando em bate-papos em grupo relatam ser mais felizes do que aquelas que simplesmente rolam seus feeds, absorvendo notícias.

Aliás... Se atualizar sobre as notícias é importante para entender (e aceitar) a situação. Mas deve-se restringir para apenas uma ou duas vezes por dia para não ficar ainda mais ansioso e, por conta, disseminar fake news. É uma questão de civismo, agora. Não repasse nada de muito alarmante que não venha de fonte solidamente confiável.

Monja Coen: “É hora de ler, estudar, fazer escolhas adequadas, refletir, falar menos, estar mais presente. Um momento belíssimo de desenvolver a compaixão e a sabedoria. Não é o que você gostaria de fazer, mas o que deve ser feito. Santo Agostinho dizia que a liberdade é você fazer até o que não gostaria de fazer. Somos livres e, por isso, ficamos em casa, para o bem de todos. Podemos, de longe, apreciar a vida, ver as árvores, ouvir os pássaros. Estar com sua família, com você mesma. Aprecie.”

Os chineses, primeiros a lidar com o isolamento, encontraram calmaria escrevendo diários de quarentena.

Mais 12 dicas de um psicólogo para ajudar a cuidar da saúde mental.

Um curso online da Monja Coen e uma plataforma online de aconselhamento psicológico para os dias em casa.

Para manter o corpo em forma

Exercitar o corpo também ajuda na saúde mental. Pesquisas para missões espaciais apontam que atividades físicas podem neutralizar os efeitos negativos do confinamento. Vinte minutos por dia já ajudam a melhorar o humor através da liberação de endorfinas, além de reduzir a sensação de tensão que pode vir ao ficar no mesmo espaço sozinho ou com outras pessoas. O Colégio Americano de Medicina Esportiva (ACSM) publicou um grande guia sobre como se manter ativo durante o confinamento. Além de informação, há recomendações de exercícios para pessoas com diferentes perfis, dicas de como organizar uma mini academia em casa, e até mesmo exercícios para relaxar.

Do guia: “Para todos nós, sejamos jovens ou idosos, manter uma atividade física regular é importante para se manter saudável. A prática de atividade física de intensidade moderada está associada a uma melhoria do sistema imunológico. Se exercitar de forma regular ajuda também a reduzir a sensação de estresse e ansiedade que muitos de nós estamos sentindo por conta da pandemia de Covid-19. Nosso guia de atividade física para americanos recomenda de 150 a 300 minutos por semana de exercícios físicos aeróbicos e duas sessões semanais de de treinamento muscular. Encaixe em 2, 5, 10 ou 20 minutos, da forma que melhor funcionar para você. Todo minuto de atividade física conta.”

O mestrando em ciências fisiológicas Lucas Monteiro, da UFFRJ, fez um infográfico em português com um resumo das principais recomendações da ACSM.

Para quem precisa de um professor incentivando, o personal trainer Bruno D'Orleans, professor de uma série de celebridades cariocas, tem feito lives com aulas diárias em seu perfil no Instagram. As aulas passadas estão arquivadas no seu canal do Youtube.

Três vídeos de exercícios de seis minutos para fazer em casa. E aulas gratuitas de um personal.

O New York Times também publicou seu guia, com 6 coisas que você pode fazer para manter a forma.

E, para quem quer um treino mais puxado, Arnold Schwarzenegger publicou no Reddit sua rotina de treino doméstico.

Como lidar com o home office

Hoje, 43% das empresas brasileiras já adotam home office devido ao coronavírus. Manter a rotina é a principal dica para quem está se adaptando à vida em casa. Agarrar-se a hábitos (novos e antigos) é um jeito eficaz de lidar com o momento de mudanças. E fica mais fácil também voltar à vida normal depois deste período. Todos os grupos conseguem: ratos de academia podem recorrer a aplicativos para continuar treinando. Professores podem transferir aulas presenciais para as redes sociais. Bandas podem seguir ensaiando por videoconferência. E até amigos podem se encontrar online.

Para quem está trabalhando de casa, é importante criar um espaço de trabalho definitivo com boa iluminação. Não necessariamente precisa ser uma área isolada, pode ser um canto na sala ou em uma mesa. “Ter um espaço dedicado fornece a você um local para que, quando você esteja lá, saiba que está trabalhando e, quando não estiver, fique descolado de todas as outras responsabilidades”, escreve o jornalista Edwin Heathcote. Com um local definido também fica mais fácil delimitar barreiras para não ser interrompido, caso não esteja sozinho em casa.

A armadilha do home office é ultrapassar o tempo de sua jornada típica de trabalho. Em casa, é fácil se distrair, por isso é importante manter a mesma rotina do escritório. Almoçar no mesmo horário e fazer pausas com a mesma frequência e duração. Esses intervalos também podem ser usados para conversar com colegas ou amigos, como normalmente faria. A interação é importante para não se sentir isolado. Reuniões por videoconferência e chats online ajudam nessa comunicação, além de organizar o dia a dia e também registrar o horário de trabalho.

Aliás... Usar plataformas de comunicação específicas para o trabalho, em vez de usar WhatsApp, por exemplo, são importantes para separar a vida pessoal da profissional.

Conheça algumas ferramentas para equipes remotas. Aqui no Meio, onde já trabalhamos remotamente desde o início, damos preferência ao Slack, que oferece muitas opções em sua forma gratuita. Permite troca de arquivos, chats em canais públicos e privados, existe em versões para iOS e Android, para Windows e Mac, e se integra com outros serviços como DropBox e Google Drive.

Trabalhar ou não de pijamas? A quem defenda se vestir como se estivesse no escritório, outros preferem mais conforto. Barbara Pachter, autora de The Essentials of Business Etiquette (Amazon), recomenda a quem está começando no home office que se vista como se estivesse no escritório. Ajuda a dar alguma estrutura ao dia. E, conforme vai se ajustando, o código de vestuário pode ficar mais flexível.

Para os pais, o home office implica em mais um fator: trabalhar com crianças em casa. É importante tentar manter a mesma rotina e não como se estivessem de férias. Da mesma forma que adultos precisam criar uma agenda para este período, as crianças também precisam de previsibilidade.

Mas, claro, que com mais tempo livre, os pais não devem se estressar com as crianças usando mais dispositivos tecnológicos. Aplicativos, jogos online e streaming podem ser grandes aliados para mantê-las entretidas, enquanto trabalham. Uma dica é combinar as tarefas que demandam mais atenção e produtividade com atividades que as crianças possam fazer sozinhas.

Para quem está sem ideias de como manter as crianças pequenas entretidas, alguns perfis nas redes sociais que ensinam atividades manuais e até câmeras em tempo real em zoológicos. O PlayKids App ainda liberou desenhos animados que tratam de higiene pessoal.

Como lidar com as crianças em casa

Vale uma atenção especial para com as crianças. E começa por explorar a criatividade, um dos fatores mais importantes no desenvolvimento infantil. Que tal aproveitar esses dias para aprender técnicas de desenho, criação de personagens, narrativas e até mesmo técnicas de lettering? Pois é, a Faber-Castell liberou gratuitamente todos os cursos de sua plataforma de ensino online.

Outra oportunidade é aproveitar esses dias para desenvolver nas crianças o hábito de leitura. A Folha selecionou 5 livros digitais gratuitos para serem apresentados à garotada.

E por falar em livros... A plataforma de audiobooks Auti, disponibilizou gratuitamente 10 clássicos infantis para as crianças curtirem ouvindo.

Para passar o tempo em quarentena

Para muitos, quarentena significa mais tempo livre. Para tentar escapar do tédio, selecionamos alguns conteúdos.

O New York Times montou uma lista com filmes, séries, podcasts, livros, música, jogos e até receitas para o período.

A Amazon Brasil liberou vários e-books, com clássicos, como Os sertões.

A Folha selecionou 10 livros para colocar a leitura em dia.

E para quem quer aproveitar para experimentar um audiobook, a Storytel ainda está oferecendo 30 dias de teste gratuitos para assinantes do Meio.

Um guia do G1 de museus com visitas virtuais, shows online a games e conteúdos infantis.

Para fãs de teatro e apresentações, o Metropolitan Opera, de Nova York, está disponibilizando online seus concertos. E o Living Room Concerts traz artistas da Broadway em gravações caseiras cantando músicas das peças.

O The Verge fez uma lista de games gratuitos ou em promoção.

E uma lista do Nexo de plataformas de streaming que estão liberando o acesso ao catálogo.

Já o Vulture separou suas indicações do que assistir em streaming de acordo com 4 perfis diferente de gosto.

O tempo de quarentena também pode ser preenchido com aprendizados:

A Perestroika liberou o Clip, seu curso sobre colaboração, pensamento em rede e interdependência. A plataforma online ProEnem criou uma nova turma aberta, pela manhã, com transmissão pelo YouTube.

Mais 40 cursos gratuitos de programação e tecnologia.

Um curso de inglês da UNESP. A UFRGS e a FGV também têm cada uma mais de 55 cursos online gratuitos.

E para estudantes, o Adobe está dando acesso gratuito à sua Creative Cloud.

E os mais clicados, dessa primeira semana de confinamento.

1. NY Times: Como desinfectar seu telefone.

2. Estadão: Gráfico interativo que compara a evolução dos casos de Covid-19 no Brasil com outros países do mundo.

3. Morning Brew: Guia completo para os dias de reclusão.

4. Poder360: Imigrante haitiano interpela Bolsonaro no Alvorada.

5. Atlantic: Galeria – Vida nos tempos de coronavírus.

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